Gata Negra #39: Futuro Incerto
Finalmente a verdade revelada! O que Felicia descobre de tão importante que vai mudar – drasticamente – a vida dela e a do Homem-Aranha? O Gatotem - estátua do felino - chega à mansão Hardy trazendo novas consequências para a ladra... E pra piorar... um novo confronto com Venom! Liguem o som nas alturas e acompanhem essa edição imperdível da Gata Negra!
Costa Oeste
As três amigas finalmente estavam juntas outra vez. Um momento cordial, sem inimigos ou missões. Era um reencontro, para celebrar toda a tragédia que envolveu Felicia e as novas amigas.
Brincadeiras a parte, estar junta delas era o que Felicia realmente precisava. Ela voltou a se sentir só, sua cabeça está confusa com as descobertas recentes, e para piorar, não sabe o que fazer com o soro do Duende Verde.
Fora as dores, incômodos e outros mal-estares que vez ou outra a assombravam.
“Deve ser coisa do poder do azar... Sempre me falaram dessas consequências, mas eu nunca dei ouvidos...”
Só que era hora de esquecer os problemas. Felicia, Carol e Julia caminhavam sorridentes, conversando sobre coisas banais, nada de Camaleão, Bumerangue ou Fêmeas Fatais...
- Mas Sun é uma graça! – diz Carol.
- Eu prefiro Glass. Ele parece ter mais estilo... – retruca Julia.
- Vocês duas aí, tratem de se comportar. Eles são meus!
- Nossa, que mulher possessiva!
- Gulosa!
Mais risos, que eram intercalados com as respostas bem-humoradas das cantadas que elas recebiam pelas badaladas ruas californianas.
Elas decidem entrar num restaurante, ao escutarem uma cantoria desafinada. Karaokê.
Lá dentro, cantam alegremente ‘grandes clássicos’ da música pop internacional, como Ops... I did it again, Like a Virgin, Thriller...
Alguns homens se aproximam do trio, mas rapidamente são descartados. Elas querem se divertir juntas, não namoro, sexo ou seja lá o que for. Elas precisam estar juntas para expelir a adrenalina que sobrou do último combate em Nova York. [1].
Enquanto Carol e Julia brigavam pelo microfone, Felicia apertava a medalha presa na nova coleira. Parecia que a tequila começava a fazer efeito.
Assim ela se lembrou de Charles. E foi percebendo que não era tão independente assim. Que ela precisa de carinho, de alguém que cuide dela. Que a ame.
“Mas eu não dou chance...”
A expressão de Felicia foi mudando. Tristeza. A cabeça começou a balanças levemente, como se ela não tivesse mais força para deixá-la ereta.
“Não posso estar bêbada... três doses só?”
Do palco, Julia e Carol correram ao ver que a amiga tinha acabado de desmaiar e bater a testa na mesa.
Laboratório Oscorp, Costa Oeste
Do lado de fora do laboratório, Christina McGee, ainda assustada com a presença de Mulher-Aranha, Miss Marvel e Gata Negra, não consegue concluir uns exames.
- Vocês heroínas não se expõem muito andando com uma ladra?
- Desculpa, mas foi o seu nome que Felicia disse.
- Eu já a encontrei antes e não foi nada agradável [2]. Ela me deixou desesperada. Ela é louca!
- Se ela fosse louca, eu estaria ajudando? – falou Carol.
Tina abaixou a cabeça.
- Eu saí de Nova York justamente para evitar esse tipo de contato... contato com esse tipo de gente! Achei que eu tinha me livrado dessa aí...
- Você deve ser a melhor opção, justamente por ser famosa como – mexe em algumas anotações – metabióloga, não é?
- Pois é. Ela precisa de ajuda. Há tempos vem se queixando de dores, tonturas...
- Olha Mulher-Aranha, quando Felicia me procurou, ela me contou sobre umas pesquisas e sobre um poder que ela diz ter recebido. Uma vez eu trabalhei em algo similar e disse que ela teria graves consequências por causa da, digamos, radiação sofrida. Ela não me ouviu e ainda me prejudicou.
- Nós sabemos o quanto ela é cabeça-dura.
- Mesmo assim precisamos da sua ajuda.
- Quero deixar claro que não estou fazendo isso por ela... nem por vocês duas. É que não quero ver outra pessoa explodindo.
Carol e Julia se olham, tensas.
Enquanto Tina retira sangue de Felicia, mexe nos aparelhos e tubos de ensaio, as ex-Vingadoras montam uma espécie de guarda na janela e na porta, para que ninguém as interrompa.
O tempo vai passando, Tina imprime resultados, enxuga a testa já suada. Felicia segue deitada na cama, com a respiração cadenciada e a mesma expressão séria.
Ms. Marvel e Mulher-Aranha fazem sinal de que vão dar uma volta e saem pela janela, até mesmo para deixar Tina mais a vontade para trabalhar.
Se a cientista fosse rancorosa, ela pensaria numa forma para se vingar de Felicia. Seus olhos brilham e um sorriso macabro se faz em sua face. Daí ela desperta. Ela não é uma pessoa má. Ela não quer estragar a vida dela logo agora que está redescobrindo o amor.
“Pobre Felicia”, é o que ela pensa. “Não vai resistir por muito tempo”.
O sinal da impressora a desperta, e enquanto pega o papel, sem ler, muda algumas configurações dos aparelhos presos à cama.
- Eu tenho inveja de você, Felicia. Não por você ser quem é. Mas por você ter quem eu quis. Tá na cara de que Peter é caidinho por você. Aliás, que homem, em sã consciência, na face da Terra, não ia te querer? Mulher sabe reconhecer que...
Sua voz desaparece quando ela começa a ler o resultado que está em sua mão esquerda.
- Não pode ser...!
Alguém bate na porta. Tina treme. As batidas ficam mais fortes. Ela cobre o corpo de Felicia com o lençol e vai para a porta.
- Tina! Abra!
A cientista abre a porta e não se controla quando vê Eddie Brock.
- Que houve?
- Nada amor... é que... é que eu estou terminando uma coisa aqui...
- Você está bem?
- Claro...
- Deixa eu entrar.
- Não!
- Não?
- Por favor, me entenda... esse projeto é algo em fase de testes... se alguém o vir aqui pode nos prejudicar.
Eddie olha desconfiado.
- Tudo bem. Mas não esqueça de que temos uma festa pra ir hoje.
- Eu passo na sua casa e a gente vai junto.
- Não se atrase.
Tina bate a porta. Seu coração parece estar saindo pela boca. Sua respiração é dura e rápida. Ela encosta a cabeça na parede e tenta relaxar.
Ela volta para onde está Felicia e se assusta: ela está em pé, se alongando.
- Felicia! Volte pra cama!
- Tina! Bom te ver de novo!
- Você não pode fazer nenhum esforço.
- Tsc... Já apanhei muito, sei qual o meu limite.
- Mas agora você tem que pensar no seu filho!
Felicia para.
- Meu o quê?
- Filho, oras. Parece que nem sabia...
- Não, é que eu...
- Você está correndo risco de morte, Felicia. Essa sua gravidez está comprometida por causa dos seus genes latentes.
- Eu... quer dizer... eu e meu filho podemos morrer?
- Por qualquer coisa.
Felicia continua estática.
- Me deixa sozinha um pouco, Tina.
A cientista consente e sai, afirmando que voltará em breve.
Felicia põe a mão no abdome e caminha lentamente até a cama, onde senta.
“Grávida...?”
Os olhos dela se enchem de lágrimas. Todo seu corpo parece estar com câimbra.
“Como isso foi acontecer... eu sempre fui precavida e...”
Hora de relembrar dos seus parceiros. Na verdade, os mais recentes.
Charles.
“Descartado...”
E a única pessoa com quem Felicia não se “preocupava” muito: Peter Parker. O Homem-Aranha.
“Ele nunca foi promíscuo... Sempre naquela vidinha certinha, apaixonado...”
Um riso discreto.
“Vou ter um filho do Aranha... Meu Deus!”
Felicidade ou desespero?
Carol e Julia entram no laboratório pela janela. As duas se chocam ao ver o estado de Felicia.
- Que foi, amiga?
- Me tirem daqui urgente. Tenho que voltar para Nova York!
Minutos depois...
Tina entra no laboratório e não encontra ninguém. Nem um recado. Vestígios. Nada. Seu coração volta a se encher de dor. Ela imagina que o filho seja de Peter. Não tem uma razão aparente...
Ela pega a papelada com os resultados dos exames e coloca numa máquina para que sejam destruídos.
A porta do laboratório é derrubada.
- Eddie? O quê...?
- O que a Gata Negra fazia aqui com duas ex-Vingadoras?
- Nada! Eu a conheci em...
- Não minta pra nós!
O simbionte negro toma o corpo de Eddie, fazendo com que Tina chore de medo.
- MONSTRO!!!
- Não nos trate assim. Nós dormimos juntos!
- O que... você quer?
- Nós viemos atrás de uma resposta, mas achamos outra... muito melhor!
A língua de Venom passa pelo rosto de Tina.
- Não me machuque, por favor!
- Me diga o que Felicia fazia aqui!
- Nada... era...
Ossos quebrados. Venom apertava as mãos de Tina com uma força absurda.
- Diga, para que não te matemos!
- Ela... AAAAAIIIII! Ela está grávida!
- Grávida?
- Sim! Por favor, me largaaaiii!
Venom arremessa a cientista contra a parede, que cai desmaiada.
- Quer dizer então que vamos ser... titios?
Mansão Hardy, Nova York
O quarto gigante. A cama gigante. O espelho gigante. As fotos gigantes nas paredes. A vida de princesa que ela sempre renegou – não fosse o fato de gostar do luxo. Com ela, sentadas, Carol e Julia.
- Você vai falar pro Aranha?
- Não sei.
- Ele é o pai, Felicia.
- Mas ele não pode imaginar. Eu sempre fui um alvo fácil pros inimigos dele... imagina se algum deles descobre que ele tem um filho?
- Você tem que entender que, além de um dos maiores heróis do mundo, ele tem uma outra vida.
- Ele nunca trocou a máscara aracnídea pela vida normal. Nem comigo, nem com a esposa dele.
- Felicia! Ele é casado? Você se envolveu com um homem casado?
- Julia, a minha história com ele aconteceu antes desse casamento. Eu me apaixonei por ele. Enlouqueci por ele. Fui internada por ele.
- Ainda o ama?
- Eu estar grávida dele responde sua pergunta.
- Você engravidou pra fazer com que ele...
- Pro inferno, Carol.
Silencio repentino.
- Desculpa, amiga. Tou desesperada! Eu não sabia que tava grávida. Nós dois estamos brigados. Imagina a confusão que vai ser quando ele souber.
- Você acha que esconder é a melhor opção?
- Até decidir o que fazer, sim.
- Felicia... você já parou pra pensar que ele pode estar numa situação desanimadora, e receber a notícia de que é pai pode ajudá-lo?
- Ele pode pensar que fiz de propósito. Eu sempre tenho alguma culpa nas minhas ações que interferem na vida dele, Julia.
- Por mais que a gente fale, Felicia, você quem vai tomar a decisão.
- Eu sei. E agradeço por vocês estarem aqui. Não sei o que seria da minha vida sem minhas únicas amigas.
Lydia abre a porta do quarto.
- O Halloween chegou mais cedo?
- Mamãe! Respeite minhas amigas!
- Felicia, estamos indo. Preciso pegar Rachel e...
- E eu vou acompanhar a Mulher-Aranha. Você vai ficar bem sozinha?
- Não está vendo que eu, a mãe dela, estou aqui?
Carol e Julia abraçam Felicia e dizem, ao pé do ouvido, que no dia seguinte, bem cedo, voltariam, e saem pela janela.
- Mamãe, precisamos conversar.
As duas caminham pelo grande jardim da mansão, distantes uma da outra.
- Quero falar sobre uma coisa...
- Se for pela forma como eu tratei suas amigas...
- Não é isso. Quer dizer... não agora.
- Ah bom, porque você bem sabe que eu não gosto de pessoas mascaradas.
- Sabe... eu ainda me lembro de quando eu, você e papai ficávamos horas aqui nessa grama verde... rolando... correndo...
- Toda noite olho pro jardim e vejo essa mesma cena.
- Sinto saudades dele, mamãe. Muitas.
- Eu também...
As duas se aproximam um pouco.
- Vai ser uma pena que ele não vai acompanhar essas brincadeiras na grama outra vez.
- Você está grande pra isso, Felicia.
- Sim, eu sei. Mas não seu neto.
Lydia olha para Felicia.
- O que está querendo dizer?
- Que em breve você vai ter que rolar pela grama com outra criança. Tudo bem que papai não vai estar aqui e... – Lydia abraça Felicia e começa a chorar.
- Meu Deus!
- Estou grávida, mamãe.
Lydia solta o corpo de Felicia lentamente.
- Minha filha, pelo amor de Deus... de... de quem é esse filho?
“Sem rodeios. Nunca houve cerimônia nas nossas conversas, né?”
- Dele mesmo, mamãe.
Lydia chora, cruzando os braços.
- Mamãe...
- Que se dane. É meu neto e não vou deixar que o Homem-Aranha chegue perto dele! Nunca! Espere aí que vou mandar preparar uma coisa para você...
Satisfeita, apesar dos pesares, Felicia, agora sozinha, caminha pelo jardim. Cada cantinho, uma lembrança. Até que se depara com uma estátua.
“Já chegou?”
O Gatotem, roubado em uma das suas viagens [3]. Agora ela admira a peça e descobre que não é a que pensava ter roubado. Em vez de ser de ouro e ter pedras preciosas cravadas, é como se fosse um animal empalhado.
Seus pêlos no corpo se arrepiam. Um vento frio na nuca. Ela encara nos olhos da estátua. Fixamente. Por alguns minutos...
Os olhos brilham. Os dela e os da peça. Um clarão emanado pela imagem a cega, e ela cai ao chão.
Lower Manhattan, Nova York
Venom perambula pela cidade em busca de uma pessoa. Na verdade, na lista dele contam várias pessoas. Quem ele encontrar primeiro terá a sorte grande. Se for Felicia, ele a matará. Se for o Aranha, também, mas vai fazê-lo sofrer por saber que não irá conhecer o próprio filho.
Esconderijo na zona industrial
Carol e Julia combinaram de se encontrar com Felicia exatamente no local onde ela ficou algum tempo, justamente pra tentar encorajá-la a contar sobre o filho para o Homem-Aranha.
Foi nesse quarto que Felicia e Peter dormiram juntos e que tudo aconteceu. Mas foi neste mesmo quarto que ela o deixou, por ter que realizar uma tarefa ao mando do Camaleão [4].
Felicia disse que ia demorar de chegar porque precisava comprar umas coisas. Ela não contou pras amigas o que aconteceu na noite anterior, com o Gatotem.
Lá vai ela, de sapato, calça baixa, top pra mostrar a leve barriga, jaqueta aberta, rabo-de-cavalo e Ray-Ban no rosto, desfilando pela avenida mais cara de Nova York.
Admirando o prazer capitalista, matando a saudade de gastar, e se perguntando se a vidinha de socialite que seus pais desejavam pra ela realmente não seria a melhor coisa que ela deveria ter vivido.
E numa pequena venda numa esquina qualquer, Felicia viu algo que mexeu com suas emoções: um isqueiro idêntico ao que Charles portava. Não resistiu e comprou.
“Talvez eu deva agora comprar coisas para meu bebê... Que nome devo dar? Escolher sozinha vai ser difícil...”
E nesse instante passou, ao lado dela, um casal empurrando um carrinho, com um recém-nascido.
Horas depois ela vai se encontrar com as amigas. Não que ela tenha se esquecido, ou estivesse fugindo. Ela queria apenas ter um momento dela.
E ela vai se jogando pelos prédios, depois, claro, de ter mandando as compras pra mansão. Saltos e pulos com cuidado, afinal, ela está grávida.
“Saudades das minhas estripulias... Minha vida nunca mais será a mesma.”
E ela chega à varanda do apartamento no bairro isolado.
Estranha o silêncio.
“Na certa estão preparando alguma surpresa para mim...”
Ao entrar na sala, se assusta ao ver Julia e Carol desacordadas e amarradas. Antes de qualquer atitude, alguém lhe puxa pelo braço e a arremessa contra a parede.
“Uhng... Não era esse tipo de surpresa que eu esperava...”
Felicia sacode a cabeça e olha para cima. Seu sangue gela. Seu corpo congela.
- Estávamos te esperando, Gata Negra.
- Ve-Venom...
- Viemos trazer seu presente do chá de bebê! – e desfere um soco. Felicia consegue se esquivar e sair rolando na direção do quarto. A mão de Venom deixa um buraco na parede.
- A gente chegou a pensar em se arrepender de ter quebrado o seu nariz, mulher.
- O que você quer comigo, Venom – grita Felicia do quarto, enquanto calça as luvas deixadas juntas com o uniforme sobre a cama.
- Você!
- Todo dia ouço isso... mas o que foi que eu te fiz?
- Um filho com o Aranha!
- Se você queria ser pai poderia conversar comigo... talvez você tivesse chances...
Felicia ganhou tempo para calçar as luvas e pensar numa estratégia. Se bem que ela sabe, no íntimo, que estratégia dentro de um apartamento não funciona contra Venom.
“O jeito vai ser entrar no jogo dele...”
Venom aparece no quarto. Felicia parte pra cima, deferindo ataques com as garras e chutando objetos do quarto para que o mantenha atrasado.
- Nós queremos vingança, Gata Negra! Vamos começar por fora, matando quem ele se preocupa. Depois, partiremos pro destino final.
- Você sempre tentou, Venom, mas nunca o derrotou. Você pode ser mais forte, mas ele é mais inteligente!
- Ao contrário de você! – Venom dispara uma teia que se prende no braço da ladra, e a puxa. Ao se aproximar rapidamente com o impulso, Felicia o atinge no rosto com as garras, mas recebe um soco no queixo, e cai novamente na sala, ao lado das amigas.
Enquanto Venom não chega, ela corta as amarras que prendem as amigas com as garras. Eddie chega e a impede, chutando suas costas. Engatinhando, Felicia volta pro quarto. Venom a segue e a segura pelos pés. Então, começa a arrastá-la.
- Cadê suas piadas, mulher?
As unhas de Felicia fazem estrago e caminhos no chão, tentando impedir que ela seja arrastada. Venom a puxa na direção da janela.
A Gata sente fortes dores abdominais. Seus olhos brilham e ela fica cega temporariamente. Sente seus músculos das pernas e braços se contraindo. A garganta arde. O teto desaba sobre Venom. Aproveitando que o inimigo está sob os escombros, Felicia corre novamente para a sala.
- Acorda, Julia! – e dá uns tapas no rosto dela – Vocês precisam sair daqui!
Mulher-Aranha abre um pouco um olho, sorri e depois a cabeça cai de novo pro lado.
“Sei que não posso derrotar Venom! E pra piorar minha situação, eu estou grávida e minhas amigas correm perigo!”
De repente Venom a pega pelo cabelo.
- Um filho com você? Uma piranhazinha, ladra... não quero isso pro meu futuro.
- Verdade... prefere um filho como o Carnificina, né?
O oponente a joga novamente contra a parede. Ele a puxa de novo e vira o rosto dela. A língua áspera passeia pelo rosto e pescoço de Felicia.
- Uma pelos velhos tempos! - apertando Felicia forte pela parte de trás da cabeça, ele bate o rosto dela contra a parede diversas vezes. Novamente tem o nariz quebrado por Venom.
Felicia se rasteja pela casa, até chegar ao buraco feito na parede com o soco de Venom.
Ela só escuta si mesma dizendo que está grávida. Repetidamente.
“Não posso permitir que esse animal...”
Ajoelhada, fingindo estar se levantando, Felicia olha dentro da cratera e vê algo que pode ser a saída. Perigoso, afinal, ela pode não conseguir escapar.
Ao sentir a respiração de Venom se aproximando, ao conseguir sair debaixo do concreto, Felicia rompe um tubo escondido com as garras. Gás vazando.
Venom chega à sala e se assusta ao ver Felicia se levantando e correndo por algumas partes das paredes. Ao cair ela acerta um chute no inimigo, que apenas sorri.
Em seguida, ela pega no bolso de trás da calça o isqueiro e o segura sem que Venom veja.
Mãos trêmulas. Sua primeira e última chance. Sua vida... e a do filho dela, dependem desse ato.
“Dessa vez eu preciso de sorte!”
Venom, desconfiado de que Felicia prepara algo, arqueia o corpo e espinhos saem, destruindo parte do apartamento e atingindo a Gata nos braços e pernas. Ele salta sobre ela, indo pro lado da parede quebrada no começo do combate. Ele sente um cheiro estranho e olha para o buraco. Tubo quebrado e o gás vazando.
Da varanda, Felicia aciona o isqueiro e o arremessa.
Venom não consegue pegar.
O apartamento explode.
Felicia se joga e, ao começar a cair, dispara o gancho.
Inconsciente.
O gancho se prende mas logo se solta.
Com o peso, o corpo dela logo vai de encontro ao chão.
Ela cai num beco, toda ferida, sobre latas e lixo.
Três dias depois
Bip. Bip. Bip.
Barulho da aparelhagem.
Bip. Bip. Bip.
Dor de cabeça. Articulações doloridas. Pouca visão.
Bip. Bip. Bip.
Tubos para que possa respirar. Agulhas nos punhos. Vozes conhecidas.
- Deixem que eu falo com ela. Por favor, se retirem.
Bip. Bip. Bip.
- Se sente melhor, Felicia?
- Onde eu estou? Como está meu filho?
- Não se preocupe, vocês não correm perigo. Uma gravidez de três meses, reações genéticas... andou tomando overdoses de energia, Felicia?
- Não lembro de nada. Onde estou?
- Você enfrentou Venom, foi bastante machucada... Três dias de coma... Ms. Marvel e Mulher-Aranha estão bem graças a você, de uma certa forma.
- Elas estão comigo?
- Na sala ao lado.
- Estou moída. Toda quebrada.
- Você ainda tem quantas vidas?
Felicia sorri.
- Procure descansar. Amanhã, quando você estiver melhor, o Coronel Fury vai te dar as coordenadas sobre sua participação numa célula da S.H.I.E.L.D. aqui em Metrópolis.
***
Notas
[1] - Gata Negra, Mulher-Aranha e Ms. Marvel contra o Camaleão, Bumerangue e as Fêmeas Fatais! Isso e muito mais na edição 37 da Gata Negra!
[2]- Felicia, Tina e questionamentos sobre o poder do azar estão em Gata Negra #07!
[3] - O sensacional roubo do Gatotem pode ser (re)lido na edição 35 da nossa querida gatuna!
[4] - “Não foi um reencontro romântico. Muito pelo contrário. Peter e Felicia sofriam as consequências físicas dos poderes. A noite foi longa. Pouca conversa. Quase nenhum pedido de desculpas. Muito amor...” [confira os detalhes em Gata Negra #31]
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