Gata Negra #37: Distrações fatais 7/7
Manhattan em crise! No último episódio, Gata Negra, Ms. Marvel e Mulher-Aranha se unem para impedir que o Camaleão, escoltado por Bumerangue e pelas Fêmeas Fatais, consiga a peça que falta para a produção de uma bomba capaz de destruir Nova York! Prenda a respiração e comece a ler! Ação do começo ao fim!
Mansão Hardy
Sentada sobre uma parte do muro que protege a mansão onde viveu praticamente toda a sua vida, Felicia observa como o jardim continua sendo bem cuidado pela mãe, Lydia Hardy. E através de uma janela, acionando a opção de zoom da lente, a vê na biblioteca, mexendo em alguns discos de vinil, enquanto a outra mão porta um copo arredondado.
A própria mãe deveria ser a primeira a apoiar a filha em qualquer situação, pensava Felicia, enquanto mudava o grupo de canções do seu iPod. Dessa vez não seriam as músicas eletrônicas, com mais de 200 batidas por minuto, ou a canção descompassada, que embalavam sua vida de gatuna.
Era o mesmo processo que, costumeiramente, Lydia fazia à noite. Ouvir um LP com canções dos anos 60, 70, às vezes 90, acompanhado por algumas doses de conhaque aquecidas ali, na lareira mesmo. Todo dia igual, à espera do marido, ou como em anos depois, à espera da filha.
E matando a saudade da época em que o cheiro da bebida a inebriava quando menina, Felicia escuta agora, jazz.
“Tá. Norah Jones. Ritmo antigo com uma nova roupagem. Nem deve ser comparado ao clássico que mamãe ouve, mas...”
O vento frio lhe tocava o pescoço e uma parte do busto, desnudos do uniforme preto de plumas brancas.
“Jazz dá uma vontade danada de se apaixonar!”
Assim ela lembrou do pai. Da mãe.
De John. Charles.
Flash Thompson.
“Será que ele já saiu do hospital?”
E do Homem-Aranha.
Peter Parker.
Arrepios.
Uma dor fina no coração.
Uma lágrima que ela não fez questão de enxugar.
O tempo estava fechando. Típico prenúncio para uma batalha final.
Apartamento de Felicia Hardy
Três mulheres com roupas íntimas deitadas numa grande cama, e no meio delas, cartas de baralho.
Ao redor?
A Gata Negra não teve coragem de arrumar a bagunça feita pelo seu “eterno amor”, o Homem-Aranha. Para ela, manter a destruição era um importante passo para deixar de pensar nele. Afinal, ele acabou com outras expectativas.
Isso era motivo de piadinhas feitas por suas novas “colegas de quarto”, Julia e Carol.
Mesmo assim, ela insistia em dizer para as amigas que odiava ele.
- Sempre teve alguém. Nunca fui boa o suficiente.
- Não é verdade, Felicia. Você é linda. – diz Julia.
- Eu sou tudo o que qualquer homem deseja e mulher inveja. – replica Felicia.
Risos.
- E pra piorar, ainda sou rica!
Um breve silêncio.
- Por que ele não me ama?
Um pouco mais de silêncio.
- A gente não deveria treinar pro encontro com o Camaleão? – pergunta Carol.
- Não sei se preciso disso. O Camaleão e o Bumerangue fizeram muita maldade comigo, estou preparada para acabar com eles. – respondeu Julia.
- Peraí! Não quero acabar com a sua alegria, amiga, mas o Camaleão é meu. Ele matou uma conhecida minha e me fez de palhaça. Ninguém faz Felicia Hardy de palhaça!
Outros risos.
- Se Julia vai pegar o Bumerangue e você vai pegar o Camaleão... eu vou pegar quem?
- Faz tempo que você não pega ninguém, né Carol? – diz Felicia.
- Que tal Sutton? – pergunta Julia.
As três dão gargalhadas e Carol arremessa um travesseiro em Felicia. Felicia joga outro em Julia. Julia faz o mesmo, com Carol. Os gritinhos histéricos e risos não são escutados, e mesmo se fossem, não importariam. Aquilo era do que elas precisavam, simplesmente porque elas nem imaginam o que ainda vai acontecer.
Esconderijo do Camaleão
Camaleão observa uma foto antiga, bastante familiar. Ele e um ‘caçador’, na selva. Por alguns minutos ele ignorou todas aquelas pessoas na sala. Ele sentia ódio, um desejo de vingança imensurável.
A tentativa frustrada de matar o secretário-geral da ONU o deixa mais trêmulo ainda. Por isso ele decidiu ampliar os ataques contra Nova York. Primeiro, explosões simultâneas em diversas partes da cidade, depois, o fim de Manhattan com a bomba nitro-nuclear.
- Mas ainda falta uma peça! – diz, em voz alta, interrompendo as ações dos que estavam no mesmo ambiente.
- Qual foi, chefe? – pergunta Bumerangue.
- Amanhã eu vou resolver meu problema com a Gata Negra e explodir a cidade. Ela que não ouse me desafiar ou me trair.
- Fica frio, Camaleão – diz Nocaute – Com as Fêmeas Fatais ela não terá vez.
- Ouvi isso outro dia, e o que ganhei foi mais uma derrota.
- Ela está sozinha, não é? Então!?
- Ela está com a Mulher-Aranha. Outro ser aracnídeo para me infernizar. Só que dessa vez vamos matar as duas! Ou melhor, as três. Nem Rachel vai sobreviver!
Camaleão dá uma gargalhada.
***
- Boas notícias, finalmente?
- O corpo foi identificado.
- E...
- Estamos tentando a extradição.
- Traslado.
- Isso.
- Ele não podia ter morrido. Até meu ex-marido não gostou de saber disso.
- Algo deve ter fugido do controle dele.
- O que está insinuando?
- Amor. Ele se apaixonou.
- Por isso morreu?
- Provavelmente.
- Isso não faz parte do regulamento.
- Essas coisas acontecem.
- Acontecem para me prejudicar. Enterre o corpo sem honras ou glórias.
- Na cidade natal dele?
- Em qualquer lugar. Prepare para iniciar a segunda parte do plano. Outra perda irreparável, e a sua cabeça vai rolar também.
FBI
O chefe Sutton, anda de um lado para o outro, analisando mapas do Porto de NY. Carol falou com ele sobre o encontro com o Camaleão, e em troca exigiu sigilo e nenhuma ação, para evitar maiores danos.
“Eu não posso ficar de braços cruzados. Essa é uma batalha minha também”, pensa, enquanto risca alguns traços nos mapas, tentando ver como seria melhor para uma investida, mesmo contrariado a ordem da ex-Vingadora.
Costa Oeste
Mais um dia de expediente que chega ao fim. Cansada, sem esconder isso dos colegas, Tina caminha em direção ao elevador, retirando o jaleco. Ela deixa sua pasta cair, abaixa, pega, e ao se levantar por ver a porta do elevador abrindo, toma um susto, ao enxergar que quem está dentro é o novo responsável pela limpeza: Eddie Brock.
Ele sorri, prendendo a porta, para que Tina entre. Meio receosa, ela o faz, e se encosta numa das quinas do elevador.
- Vai negar mais um convite? Temos que combinar os horários da limpeza, doutora.
- Sabe o que é, Sr. Brock, é que eu estou atrasada, tenho uns...
- Nada. Vamos tomar um café. Eu estou sendo cobrado pelos superiores sobre o seu laboratório.
- Tá se metendo em confusão, é?
- Por sua causa.
Tina não esconde o sorriso.
- Tá legal.
Ao finalizar a frase, o elevador treme. A luz pisca várias vezes, até apagar. Não se sente mais o movimento para baixo.
- Que beleza, estamos presos.
Tina se aproxima de Eddie.
- Odeio lugares escuros e abafados. Será que vai demorar pra gente sair?
- Relaxa – diz Eddie, enquanto aperta uns botões de emergência e de alarme – A gente pode conversar aqui mesmo. E não se preocupe, soube que este elevador é muito seguro. Não há riscos dele cair ou...
A luz fria de emergência acende.
- Viu só? – completou Eddie.
O interfone do elevador toca. Eddie pega. Fala algumas coisas enquanto Tina o observa atentamente. Ele desliga.
- Boas notícias, Sr. Brock?
- Depende do nosso ponto de vista. Nos deram 30 minutos pra que a assistência técnica nos tire daqui. Vamos sentar e conversar.
Tina sorri mais uma vez. Coloca o jaleco no chão e senta sobre ele. Eddie faz mesmo movimento, ficando próximo a ela.
Apartamento de Felicia Hardy, dia seguinte
Fim de tarde. Para as três amigas, em poucas horas suas vidas mudariam drasticamente. Para melhor, ou para pior.
Deitada na cama, sozinha, Felicia não tirava os olhos do teto.
Na cozinha, Julia prepara um café, sem esconder as mãos nervosas, afinal, hoje todo o desespero pode acabar, e ela pode ter a filha de volta aos seus braços.
Saindo, voando, pela varanda, Carol vai na direção do FBI, tratar dos últimos detalhes com Sutton. Ela precisa, mais do que nunca, provar que é capaz de ajudar. E de salvar.
Ainda o mesmo teto. Felicia, melhor do que ninguém, sabe que esta noite será uma das mais especiais de toda a sua vida.
“Minha liberdade.”
Com a ajuda das novas amigas, sabe que não será tão complicado assim.
“Minha tranqüilidade.”
Embolado a isso, outras perguntas a assombram.
“O que farei depois disso? Como vou devolver as peças roubadas? Por que me sinto estranha?”
Porto de NY
Horas antes do Camaleão receber a última peça que falta pra concluir seu plano e, em troca, entregar Rachel. Ou melhor, matar.
Ele, Bumerangue e as quatro Fêmeas Fatais estão no local plantando bombas e instalando armadilhas.
- Não pode dar nada errado! – grita o chefe dessa curiosa equipe – Bumerangue, já colocou explosivos em outras partes da cidade? Por garantia, preciso de distrações... de distrações fatais!
- Fica na boa, chefe. Seu funcionário do mês deixou tudo como o ordenado. Só falta dar a ordem pra explodir outros prédios!
- Inclusive as embaixadas do Peru, Bahrein e Grécia?
- Sim.
- Maravilha! Agora, vamos iniciar o ensaio e esperar, aqui mesmo, a hora da vitória!
Esconderijo do Camaleão
Porta abaixo. Dois homens entram, com coletes a prova de balas, e armas de médio porte nas mãos. Do lado de fora, outros homens aguardam a ordem para invadir.
- Todo mundo preso...?
Os dois homens olham ao redor e não encontram ninguém.
- Cacete, Sun, está vazio.
- Chegamos tarde, Glass. – diz, fazendo um sinal para que os outros homens entrem.
- Vamos voltar?
- Não. Vamos procurar pistas. Vasculhem tudo, tâmo deflagrando a operação ‘Quem não tem colírio usa óculos escuros’!
Os agentes Sun e Glass riem, enquanto os outros federais se separam por dentro da casa.
- Rapaz, aquela Ms. Marvel realmente detona! A mulher sabe tudo! A dica foi certeira... Pudera, com aquelas referências...
- Inclusive aquele raio amarelo, hipnótico, que desce até... Mas eu ainda prefiro a Mulher-Aranha... quanta classe!
- Ficaria preso fácil, fácil, naquela teia...
- Só que nós dois sabemos que a nossa preferida é...
Os dois juntos dizem: A Gata Negra! E dispensamos comentários!
Mais risos.
Uma voz vinda de um quarto chama os queridos agentes, que, esperançosos, vão para o aposento. Parece que alguém achou algo.
Apartamento de Felicia Hardy
Sacada. Chuva. Noite. Frio.
Nem os relâmpagos desviam o olhar para aquelas três mulheres de uniformes negros.
Gata Negra com uma mão na cintura e a outra ajeitando a ‘coleira’. Mulher-Aranha com uma mão alisando o cabelo e a outra pousando sobre a coxa. Ms. Marvel com as mãos cerradas, rente ao busto.
- Muito bem, queridas amigas, hora das Ox-Genadas entrarem em ação!
Julia e Carol se olham, rindo.
- Que é isso, Felicia?
- O nome da nossa equipe, ora! Alguém tem alguma sugestão melhor?
As amigas continuam rindo.
- Não! Quanto senso de humor num momento de tensão!
- Na certa ela aprendeu com algum namoradinho...
Felicia agora sorri.
- Obrigada, meninas, por esse apoio. Sei que sem vocês não conseguiria, mas...
- Deixa esse discurso pra depois.
- Concordo. Vamos detonar aqueles terroristazinhos!
- Não esqueçam do plano, ok!
- Ok, isca-líder das Ox-Genadas! – fala Carol, ao tempo em que levanta voo na direção do Porto.
- Ok, ok, loura-mor! Nos falamos! – Julia dispara teias psíquicas e parte atrás de Carol.
- Ai, ai, meninas... Bom, agora não tem pra onde correr. Vai dar tudo certo. Sempre dá.
Ruído do gancho sendo disparado. Pra trás, só aqueles sonhos...
Porto de Nova York, galpão 8
Nada diferente de quando o Camaleão chegou, cedo, com Bumerangue, Nocaute, Rajada Mental, Chibata e Sanguinária. As mesmas posições, estratégias e acertos. No galpão 8, nada de móveis, estruturas metálicas, coisas que pudessem ser usadas como armas pelas duas visitantes.
Desta vez, o assassino contratado pelo Camaleão não estava acompanhando o chefe e as Fêmeas Fatais. Ele estava retornando da última ronda para verificar que todos os detonadores estavam intactos, por causa do vento e da chuva.
Antes de entrar, ele olhou para trás e viu Felicia caminhando, lentamente, sozinha. Ele arremessou um bumerangue de luz, como que indicando o caminho que ela deveria seguir.
Meyer corre ao encontro do Camaleão.
- Ela taí, chefe.
- Acompanhada?
- Só.
- Deve estar armando alguma coisa. Fêmeas Fatais, aos seus postos. Bumerangue, traga Rachel. Feche a porta.
A chuva aumenta. Os relâmpagos, também.
Ao Felicia abrir a pesada armação que fechava o galpão, uma trovoada amplia o som, criando uma ilusão de temor em todos os presentes.
Cada passo dado é seguido por raios. Felicia, séria, ativa as garras e morde o canto do lábio inferior esquerdo.
Camaleão se aproxima. Atrás dele está Bumerangue segurando Rachel, acorrentada e chorosa.
- E eu que cheguei a duvidar de sua capacidade... Bom te ver, Gata Negra.
- Posso dizer o mesmo, apesar de estar acostumada a te ver como mulher!
Camaleão saca uma pistola.
- Engraçado... uma pessoa com problemas de personalidade... se vestindo de mulher... Você foi abusado na infância?
- Suas piadas não vão me irritar, desista. Mas tenho que abaixar a cabeça, você é uma ótima funcionaria. Burra, mas sempre se dá bem.
- Tá, não quero bater boca, Camá. Onde está Rachel?
- Onde está a última parte do seu trabalho?
- Aqui – Felicia estira as mãos e mostra, em cada uma, uma parte da cítala espartana.
Os olhos do inimigo brilham através do disfarce na face. As mãos dele tremem. Ele vê, em pensamentos, seu plano dando certo. Manhattan afundando. Ele triunfando.
- Me dê, Gata.
- Rachel primeiro.
- Você não está em condições de exigir nada.
- A gente poderia ficar a noite toda aqui com essa conversa mole.
- Tenho todo o tempo do mundo, ao contrário da criança.
O sorriso some da cara de Felicia.
- Quais garantias tenho, Camá?
- Nenhuma. Você me dá as peças e eu te entrego a menina.
A Gata recolhe a cítala.
- Muito bem, você escolheu – ele se vira pro comparsa – Pode matar.
Bumerangue saca uma arma do mesmo codinome, mas é interrompido pela ladra.
- Tá bom, Camaleão. Tome minha parte.
Felicia arremessa uma cítala, que rola até chegar aos pés do terrorista.
- E a outra?
- Depois de libertar Rachel.
Camaleão limpa as mangas do paletó antes de se abaixar para pegar a cítala.
- Sabe, Gata, eu também desconfiava que você poderia me trair num desses trabalhos. Seja roubando um colar num desfile de modas, seja naquelas escavações na Ilha Elefantina, seja no Museu da SJA. Mas eu te juro que não imaginava que você fosse me trair logo agora, no final. Bumerangue!
O capataz puxa Rachel pelas correntes e a leva para outro galpão.
- Você veio com Mulher-Aranha! Achou que podia me enganar?
- Do que está falando?
- Não se faça de cínica! Você não cumpriu com sua parte no combinado. Agora... não vou cumprir com a minha!
- Eu sei que o que você mais quer é desvendar o conteúdo dessa cítala, Camaleão, mas para isso você precisa da <b>outra</b> parte.
- Não tente me enganar!
- Se você insistir em abrir a cítala sem a outra parte, a o conteúdo vai ser destruído através de um sistema interno de segurança.
- Me entregue a outra parte então.
- Se me der Rachel...
- Então espero que você esteja pronta para isso!
Uma parede do galpão é derrubada. Quatro mulheres entram na área interna.
- Ora, ora, ora... minhas antigas amigas! Querem apanhar de novo?
- Pode ser – diz Nocaute – Só que se você estiver sozinha, como diz, nem vai perceber que morreu!
FBI
Na sala da gerência, Carol e Sutton estão sentados, analisando o material encontrado pelos agentes Sun e Glass, e pelas informações trazidas antes pela heroína.
- O esquema agora é outro, Sutton. Há bombas instaladas pela cidade, e no Porto!
- Vai nos ajudar de novo?
- Não sei, chefe. Felicia pode precisar de ajuda, e realmente eu tenho que ajudá-la. Além do que eu acredito que seus homens são capazes de diminuir a destruição ao máximo.
- Concordo, até porque você já tinha me falado dessa ajuda à Gata Negra. O que vai fazer agora?
- Vou ao Porto.
- Minha equipe...
- Não por agora, chefe. Foi o combinado com o Camaleão. Sem federais, ninguém mais além de Felicia.
- Olha, Carol, eu respeito você, mas...
- Não piore as coisas, Sutton. Você tem uma cidade para proteger. Deixa que eu e as outras cuidamos do Porto e dos inimigos.
- Desculpe, mas ao menos Sun e Glass eu vou enviar para lá.
- Como quiser, mas que eles não atrapalhem.
Carol sai voando pela janela, e Sutton, e seus federais especiais, se preparam para desabilitar as bombas espalhadas por Nova York.
Porto de NY
Como nos velhos tempos: uma roda, e a Gata Negra, o alvo, no meio dela. Bumerangue levou Rachel para o galpão 2, para que fique em segurança até que o plano do Camaleão seja concluído. Ali também tem uma bomba.
- Cadê sua alegria, Gata? – pergunta Nocaute.
- E a sua companheira? – questiona Camaleão – Ela vai aparecer logo ou vai esperar que você entre em coma?
- Se preocupe com isso não, miserável! – Mulher-Aranha surge se balançando numa teia, passa por entre a roda e pega Felicia, parando, com ela, longe dos inimigos. – Tenho tempo e energia de sobra pra acabar com você!
- Ei, amiga, não esquece do que combinamos!
Felicia e Julia se preparam para o ataque. Os cinco vilões caminham na direção delas.
- Camaleão, nunca vou te perdoar pelo que me fez!
- Isso é apenas o começo!
- Quer saber – Felicia olha para Julia – Segura as meninas que eu vou à forra com o Camaleão!
- Eu não sei se dou conta...
- Dá sim. Basta lembrar todo o sofrimento que você passou!
Felicia corre e inicia uma sequência de saltos mortais. Ela relembra de um campeonato universitário, onde ficou em segundo lugar.
“Nunca engoli aquela prata...!”
Cada vez que seus dedos tocam o chão, um novo impulso e um novo giro no ar. Seus pés caem firmes no solo, movimentos que deixam todos no galpão boquiabertos.
Chibata tenta enlaçar a ladra, em vão. Com sucesso, ela alcança o Camaleão, e antes de concluir o salto, cai sobre ele, com as pernas sobre os ombros do terrorista.
Para ganhar tempo e aproveitar o elemento surpresa, Julia lança teias psíquicas e consegue deixar Rajada Mental e Sanguinária impotentes. Nocaute se aproxima da aliada da gatuna.
- Aposto que você não consegue prender as quatro de vez! – e acerta um soco no estômago da Mulher-Aranha.
Julia desliza alguns metros, mas não perde a concentração. Chibata estala os chicotes e consegue prender uma mão da Mulher-Aranha.
- Toda sua, Nocaute!
A Fêmea Fatal corre, com o braço direito estirado.
Manhattan
As explosões começam. Todas sincronizadas, em diversas partes da ilha, justamente para impedir, ou apenas atrapalhar, qualquer tentativa de desarmamento. O problema é que o Camaleão não esperava que os locais exatos das bombas fossem descobertos, e o chefe Sutton, com uma renomada equipe, se esforça para minimizar os estragos.
No caminho para o Porto, uma explosão interrompe o voo de Ms. Marvel. Varandas de um edifício em construção a atingem. Ela recebe o peso até o chão, de onde consegue se livrar dos escombros.
Carol ouve gritos aterrorizantes.
Raios amarelos esfarelam o concreto e ela retira os homens que trabalhavam como seguranças daquele local.
- Estão bem?
Resposta positiva.
- Eu não posso fazer muita coisa aqui...
Ouve mais gritos.
- Me perdoa, Felicia. Segura as pontas por aí que vou me atrasar um pouco!
Porto, galpão 8
Sentada sobre o peito do Camaleão, Felicia inicia uma serie de golpes com as garras sobre o rosto dele, descontrolada.
- Ninguém faz a Gata Negra de palhaça!
O sangue já respinga sobre as luvas brancas da gatuna.
- Nunca vou te perdoar, imbecil! Eu quase morri por causa de uma mentira sua! Prejudiquei amigos, fiz outros de otário, vi gente morrendo... Tudo isso por uma insanidade sua! Agora você vai ver que...
Enquanto Felicia alternava arranhões com o poderoso Diamante 5 nas garras e dizia tudo aquilo que lhe estava entalado, Mulher-Aranha perdia o controle sobre as Fêmeas Fatais ao receber um gancho no queixo, e dessa vez voa muitos metros.
Nocaute faz um sinal para Sanguinária, que entende o recado. Ela pula até Felicia.
Chibata prende Julia com seu armamento, Rajada Mental busca algo que possa usar como arma, e Nocaute cruza os braços.
- Muito fraca você, Mulher-Aranha. Quase quanto o Homem-Aranha!
Rajada Mental recolhe, telepaticamente, o que sobrou da porta derrubada com a entrada triunfal do grupo feminino e faz com que atinjam Julia.
Do outro lado, Sanguinária, com os braços cruzados como um ‘x’ atinge as costas de Felicia.
Grito.
Por reflexo ela vira o corpo e as garras da mão direita atingem o busto da vilã.
- Reze para que não fiquem marcas! – Um novo salto e os dedos apertam o pescoço de Sanguinária. As duas saem rolando pelo piso frio do galpão.
Julia, encostada na parede, amarrada, recebe um novo soco de Nocaute. Ela não resiste e vomita. E cai, ajoelhada.
Rajada Mental vai para o lado do Camaleão, que, horrorizado, contempla sua proteção facial rachada, com partes quebradas e sangue.
Muito sangue.
- Rajada Mental, tire a outra cítala das mãos da Gata Negra! – diz o terrorista, nervoso.
- Pode deixar!
Rajada Mental, voando, tem o corpo coberto por uma energia. Ela precisa pegar a peça que está escondida no uniforme de Felicia.
Ao se aproximar das duas mulheres afiadas rolando pelo chão, arremessa Sanguinária para longe, que se choca contra uma parede.
Felicia não entende o ato.
Ao ver a cena, Chibata solta um chicote que prendia Julia e atinge Rajada Mental.
- Não faça nada com ela, ouviu?
Camaleão, afastado, analisa a cítala que possui e confirma o que Felicia falou: ela não pode ser aberta, e se por força maior tentem abri-la, a mensagem se dissolve com uma mistura de vinagre e outros elementos.
Julia respira mais aliviada e se levanta. Mas se bate no corpo de Nocaute.
- Ainda não acabamos.
Rajada Mental, como um pedido de desculpas, prende novamente Julia, dessa vez, usando armações de ferro da porta do galpão, que estavam jogadas.
- Era o que eu precisava!
Nocaute segura Julia pelo pescoço.
No momento em que vai desferir o golpe, recebe uma poderosa cotovelada nas costas e desaba.
Sem entender o que aconteceu, Chibata estala os chicotes. Ms. Marvel a olha friamente.
- Que covardia.
Camaleão se desespera. Ela se comunica com Bumerangue, para que mate Rachel.
- Rajada Mental, vá até o galpão 2 e ajude Bumerangue!
Felicia, atenta, grita para que Mulher-Aranha siga a Fêmea Fatal. Julia se levanta, cambaleando, mas faz o que a Gata Negra disse.
E é Felicia quem para ao lado do Camaleão.
- Não vai ser tão fácil, Camá!
- Você? Sanguinária!
A mulher de unhas firmes investe contra a ladra. Camaleão saca uma pistola e dispara tiro contra as duas, sem se importar em quem vai acertar. Ele precisa da cítala. Está ali, ao lado dele, e ele não tem como pegar.
- Se eu morrer, Camaleão – diz, ofegante enquanto se esquiva das investidas da rival – você nunca vai ter a outra parte da cítala!
- Se você não me entregar, a criança vai morrer!
Nocaute, em pé, encara Ms. Marvel. As duas iniciam uma troca de socos e defesas. Carol sorri. Fazia tempo que ela não se sentia tão bem assim. Agora ela sabe do que Felicia tanto gozava ao pular dos telhados.
Chibata, engatinhando, se aproxima da ex-Vimgadora e enlaça as pernas dela. Nocaute agradece, desferindo-lhe um soco no rosto.
- Vamos ver como se sai no mano a mano!
Nocaute segue desferindo socos na cabeça e estômago de Ms. Marvel. Chibata cada vez mais aperta as penas dela com os chicotes.
Galpão 2
Rachel, acorrentada, grita por socorro ao ver que Bumerangue instala a bomba e os números em vermelho começam a correr em ordem decrescente.
A porta de acesso ao galpão cai. Sobre ela, uma Fêmea Fatal.
Mulher-Aranha entra e olha Bumerangue.
- Não ouse tocar em um dedo dela, Meyer.
- Bem-vinda. Quer apanhar de novo? Vamos nessa!
Rajada Mental traga um barco do mar, e o arremessa na direção de Julia. Ela salta e se prende no teto.
Ele atravessa o espaço e se choca contra uma parede.
- Rachel, fique calma! Mamãe está aqui e vai te salvar!
- Não está muito confiante? – diz Bumerangue, ao arremessar uma arma e explodir ao tocar o teto.
Julia cai no chão e rapidamente se levanta. Ela ergue os braços e uma nova lona cintilante faz-se dentro do galpão. Dentro dela, apenas os dois oponentes.
- O mesmo truque da outra vez?
O assassino dispara dois bumerangues. Um sônico e um de fumaça. Da mesma forma como quando ele a derrotou e a sequestrou.
Ele ouve tosses e gritos. E a lona psíquica começa a piscar, como se falhasse.
Galpão 8
Carol grita e diversos raios amarelos explodem do seu corpo. Os chicotes de Chibata são desintegrados, e Nocaute recebe um impacto muito forte, mas o máximo que aconteceu foi ela cair de joelhos.
- Cansei! – diz Carol, ao acertar um gancho no queixo de Nocaute, que sobe até quebrar o teto do galpão. Poucos segundos depois, ela cai pelo mesmo buraco no telhado por onde saiu.
A loura corre e segura a Fêmea Fatal remanescente, e inicia um giro ao redor de si mesma. Numa uma velocidade absurda, para, em seguida, soltar a inimiga, que se bate e quebra uma parede.
Felicia está de pé. No meio das suas pernas abertas está, estirada e desmaiada, Sanguinária. Ela caminha na direção do Camaleão.
- Acabou, não percebeu?
- Nunca! – e aciona um botão no seu cinto.
O chão do Porto começa a tremer.
Galpão 13
Dois agentes do FBI chegam a outro galpão no Porto e se surpreendem com a descoberta. Os olhos deles brilham com tanta energia que emana de dentro.
- Glass... você está vendo o mesmo que eu?
- Provavelmente, parceiro. Mas o que são essas coisas?
Eles se aproximam e analisam as peças. Um diamante com o interior cinza. Um quadro em tons de cinza. Uma pedra com inscrições egípcias. Um palmtop. Um pergaminho. O Cinturão Conversor Cósmico. Experimentos e diversos papéis.
- Precisamos reportar isso ao chefe agora mesmo!
- Deixa comigo. Você vai recolhendo o material para que...
Os agentes sentem o chão tremer.
Galpão 2
Bumerangue sorri, mesmo tendo seu rosto iluminado pela cor rosa. A Mulher-Aranha não é párea para a fumaça e os sonidos.
A feição dele vai mudando ao cerrar os olhos e buscar ela oponente. Se desespera mais ao ver que a lona está encolhendo, como se estivesse sendo fechada.
- Maldita!
Do lado de fora, Julia vai retraindo os dedos e a forma da lona se torna a forma do corpo do Camaleão.
Ele desmaiou sufocado.
E ela se volta para a filha, que grita mais ainda por causa das novas explosões.
Rajada Mental está tentando matá-la, apertando as correntes.
- Vou apenas apressar o processo... o inevitável! – diz a Fêmea Fatal.
Julia lança teias sobre a filha, e a envolve. As correntes se partem com a força mental da inimiga. A bomba explode.
- Você está tentando matar... matar... matar a minha filha?
Na mesma hora, ela cria teias que saem de dentro de Rajada, pelo nariz, ouvidos e olhos. E na cabeça, explodem a cúpula que protege o cérebro dela. A Fêmea Fatal cai. Sem vida.
Julia se aproxima da filha e vê que ela está salva, graças à teia. Em seguida, as duas fogem se balançando.
Galpão 8
No meio das chamas e do calor, Ms. Marvel ergue Nocaute pelo dorso e a arremessa contra Chibata. As duas desmaiam.
Felicia corre atrás do Camaleão, mesmo com Carol pedindo para que ela recue.
No meio do fogo e da fumaça, a Gata aciona as lentes para localizar o inimigo.
Ela continua correndo pelo Porto que arde.
Vê um vulto deitado e se assusta: Mulher-Aranha está ferida.
- Julia! Você está bem?
- Felicia... Rachel está em apuros!
- Onde ela está?
- Está... escondida... no galpão 15!
- Eu vou buscá-la!
Felicia muda de direção e corre para o galpão indicado.
No meio do caminho ela pára. Abaixa a cabeça e chora.
O Camaleão a enganou mais uma vez.
Ela olha para trás, mas não vê mais nada.
“Desgraçado. Ao menos você nunca terá a outra parte para decifrar o conteúdo da cítala...”
Ela abaixa mais o zíper frontal do seu uniforme e retira a cítala que ali estava escondida.
“Acabou...!”
Ela arremessa a peça no fogo. Uma curta chama verde surge, e a fumaça tem o mesmo tom.
Assovios.
Felicia fecha o zíper sorrindo, ao reconhecer as duas pessoas que se aproximam.
- Chegaram atrasados, garotos. A diversão já acabou.
- É sempre divertido encontrar você, Felicia.
Felicia sorri e olha para um saco escuro que Sun segura.
- Que é isso? Presentes para mim? Que bom, precisava mesmo de recompensas!
- Mais ou menos. Aqui estão algumas coisas que você vai gostar de ver.
Sun abre o saco e Felicia mexe no conteúdo.
Agora, aliviada.
- Os objetos que roubei... Ai meu Deus! Onde está o resto da minha equipe?
- Você tem uma equipe? – pergunta Glass.
- Ela tem sim. E nós estamos aqui, curtindo a vitória.
Julia caminha segurando a mão da filha, enquanto se apoia em Ms. Marvel. Felicia não resiste e corre ao encontro delas.
Chorando.
- Graças a Deus! A gente... a gente conseguiu!
- Você foi a responsável, amiga.
Rachel abraça Felicia.
- Você está bem?
- Sim, obrigada por me ajudar.
Felicia agora abraça Carol e Julia.
- Bom – ainda derramando lagrimas – missão cumprida. Não é que as Ox-Genadas fizeram um ótimo trabalho?
- Ahaha! E o Camaleão?
- Fugiu. Mas por pouco tempo.
- Ele vai ficar um bom tempo sem te incomodar, Felicia. Ela sabe que agora somos três!
Carol joga Felicia para cima. Sun e Glass pedem pra que faça o mesmo com eles.
- Deixem de ser abusados – retruca Felicia – só eu posso fazer coisas loucas com vocês!
Os agentes riem esperançosos.
- E agora, Felicia? Que faremos?
- Temos que ir ao FBI. Os meninos acharam minha liberdade.
- E depois?
- Finalmente sei a resposta! Férias!
Cemitério
Agentes de terno, poucos familiares. Tempo nublado com pingos de chuva ao relento. No meio da roda das pessoas, um caixão coberto pela bandeira dos Estados Unidos recebe algumas flores. O padre faz o último sinal-da-cruz e Sutton se aproxima do religioso. Faz um breve sinal e junta as mãos fechadas.
- Honras e glórias. Ela merece, por todo o seu histórico no FBI, na luta contra o terror, por uma vida mais segura para nós, americanos. Eu jurei e retomo o juramento, de que outro federal não vai perecer perante os lunáticos que querem acabar com a vida, com a paz. Michelle era tudo o que um agente deve ser. O culpado ainda está livre. Ainda. Tentando novos ataques. Ainda. Em liberdade. Ainda. Mas vamos pegá-lo. Ninguém se aproveita de um coração bondoso e corajoso. Uma vida não pode terminar assim.
Sutton retira os óculos e seca os olhos.
- Faremos de tudo para instaurar a tranquilidade e extinguir o medo. Agora, mais do que nunca, temos motivações.
Se aproximando do enterro, Gata Negra, Ms. Marvel e Mulher-Aranha. Sutton as vê e interrompe o discurso. As três param ao lado dele. O diretor da unidade as cumprimenta.
- Não poderia deixar de agradecer pelos atos prestados por essas cidadãs decentes. Graças a elas nossos corações, mesmo tristes, estão aliviados. Especialmente a você, Felicia – aponta para a ladra – que nos surpreende a cada dia.
Felicia sorri singelamente e diz:
- O que tenho a dizer... é que apesar de tudo, sei qual o lado certo. E muitas vezes fico nele.
Em seguida ela abaixa a cabeça. Sutton dá a ordem e as homenagens começam. Tiros, cânticos. Chuva.
O caixão desce calmamente meio aos acontecimentos. As pessoas vão saindo. No final, as três amigas e Sutton permanecem observando o coveiro cobrindo o túmulo com a terra.
- Temos que falar sobre você, Felicia.
- Eu compreendo, Sutton. Estou presa?
- Estamos batalhando pela sua liberdade. Evite deslizes.
- Certas coisas não mudam, chefe. Desde minha internação eu estava convencida disso. Promessas foram quebradas. Não posso deixar de ser quem sou. As pessoas não mudam.
- Elas aprendem! – dizem Carol e Julia, ao mesmo tempo.
- Espero que a nossa relação não acabe aqui. Até mesmo porque você precisa devolver as peças que roubou.
- De forma alguma, Sutton. Sempre estarei disposta a colaborar com o FBI, apesar das minhas piadinhas e críticas. Enquanto às peças, irei sim, basta avisar quando.
O chefe sorri, se despede e vai embora.
- E agora? – pergunta Carol.
- Tenho que resolver uma coisinha mais e depois vou procurar cuidados.
- Que coisinha? Cuidados?
- Preciso encontrar um velho inimigo que está contrabandeando um soro que dá força e insanidade para quem o possuir.
- E os cuidados? – quer saber Julia.
- Estou me sentindo estranha. Venho assim desde antes de eu ir para a Grécia. Parece que se intensificou lá. Tem algo de errado comigo.
- Quer ajuda?
- Acho que vocês precisam descansar. Por que não vão para a Costa Oeste? Eu encontro vocês lá, em breve.
- Não queremos deixar você sozinha, amiga.
- Nem se preocupem. Nada pode acontecer comigo. Passei por tanta coisa que até me sinto mais confiante. Mas você, Julia, precisa levar Rachel para um lugar tranqüilo. Carol, você teve muita dose de adrenalina pós-alta. Vai com ela. Nosso confronto com o Camaleão e a equipe dele foi intenso em demasia. E as conseqüências foram drásticas...
- E você não precisa descansar?
- Sim. Assim que eu voltar de Gotham City.
***
Nas próximas edições: novidades que vão abalar – para sempre – a vida de Felicia Hardy, e as consequências que vão atingir SERIAMENTE o Homem-Aranha! E, claro, as Ox-Genadas continuam atuando juntas!
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