Pular para o conteúdo principal

Gata Negra #35: Distrações fatais 5/7

Gata Negra #35: Distrações fatais 5/7

Cada vez mais próximo de concluir o plano. Cada vez mais próxima de descobrir a verdade. O Camaleão e a Gata Negra realizam as últimas ações, ignorando todas as consequências. Tudo isso para realizar um outro poderoso ataque contra a cidade mais importante do mundo.  

Atenas, Grécia

Depois de sobrevoarem por parte da África e Europa, Felicia, e os agentes federais Glass e Sun desembarcam numa base norte-americana no país do Olimpo.    

Depois das apresentações formais aos responsáveis pelo posto, os três estavam alojados em um dos aposentos.   

- Felicia, sabemos que você precisa terminar este serviço sozinha, mas temos ordens superiores para acompanhar esse seu trabalho.   

- Ordens? De quem?   

- Langley – diz o agente Sun, enquanto entrega uma bolsa para Felicia.   

- Nossa... parece então que essa minha missão é muito mais importante do que eu imaginava.   

- Não apenas por isso. Depois que o agente John foi assassinado por terroristas, o FBI adotou medidas mais drásticas.   

- Com razão. Só que eu não entendo uma coisa: por que acompanhar o trabalho de Michelle?   

- Não apenas o dela – diz Glass.   

- Olha, Felicia, estamos pensando em algo muito mais perigoso. Você conhece o Camaleão?   

- Mas é claro! Velho inimigo meu. Que tem ele?   

- Não sei se você ficou por dentro, mas ele tentou assassinar o então secretário-geral da ONU, Kofi Anan. [1]   

- Como assim? Eu não imaginava que esse cara sem personalidade estava indo mais fundo na própria loucura.   

- Nós temos algumas suspeitas...   

- Sim, sobre ele e algum contato dentro do FBI.   

- Acham que Michelle...   

- É apenas suposição. Como te dissemos antes, ela está diferente. Não apenas nas ações.   

- É – interrompe Sun – fisicamente também. Outro dia ela chegou com dores nas costas.   

- Engraçado. Uma coisa nada a ver me veio à cabeça.   

- Conte, pode ser uma pista.   

- Não creio, mas é que a Mulher-Aranha me procurou e ela estava com curativos nas costas.   

- Bom, o Camaleão foi baleado nas costas enquanto fugia da frustrada tentativa de assassinato, sequestro, sei lá mais o quê.   

- Peraí, vocês estão achando que o Camaleão está se passando pela Mulher-Aranha? Isso é loucura!   

- Por que loucura, Felicia?   

- Ele não é tão bom ator assim. Não seria mais fácil ele se passar por Michelle?   

Os agentes se olham, pensativos.   

- Não. – respondem juntos.   

- Só porque Michelle é uma federal? Nem venham. Mulher-Aranha é heroína, gente! Não é fácil ficar se passando por uma pessoa pública, com poderes e...   

- Felicia, são apenas suposições. O FBI está de olho.   

- Daqui a pouco vocês vão dizer que o Camaleão também está se passando por mim.   

- Isso sim seria impossível.   

Os três dão risada.   

- Nem vou perguntar o motivo!   

- Mudando de assunto... Você precisa tomar um banho, trocar essa roupa e comer algo. Estamos te esperando lá fora. Mesmo você não querendo que a gente te acompanhe.   

Felicia beija a palma da mão e assopra na direção dos agentes, que, sorridentes, saem do aposento.   

“Camaleão, Michelle, Julia... eu?”   

Nova York

Carol e Julia pararam num local inusitado para conversar sobre Felicia. No topo do Empire States. Mesmo elas não sabendo que este foi o local do reencontro da ladra com seu eterno amor, o Homem-Aranha, depois de uma outra investida do Tarântula. [2]

- É praticamente impossível, Carol.   

- Deve ter alguma pista, Julia. Você não lembra de nada?   

- Apenas de dentro do local. Do prédio, na verdade. Mas não era um edifício habitacional, e também não era na zona industrial.   

- Ele nunca disse nada que pudesse ser uma dica?   

- Nunca.   

- E quando ele te libertou, onde vocês estavam?   

- Naquela maldita ponte.   

Julia aponta para a ponte do Brooklin.   

- Pode ser perto dali.   

- Já viu a quantidade de construções daquela região? Já disse, é praticamente impossível.   

- Então vamos ter que colocar a segunda parte do plano em ação.   

FBI, NY

Ao sair do carro, o Camaleão já estava na forma de Michelle, e, ao entrar em um dos prédios mais seguros dos Estados Unidos, recebe olhares desconfiados.   

O criminoso passa por todos os sistemas de vigilância até chegar à sala da agente por quem ele se passa.   

Assim que senta e liga o computador, um homem encosta-se à porta.   

- Michelle, o chefe quer te ver.   

- Pergunta se tem que ser agora. Estou esperando um contato que...   

- Ele quer te ver agora.  

O Camaleão pega algumas anotações sobre a mesa e segue o agente.   

Em menos de três minutos eles já estão na sala do chefe Sutton.   

- Michelle, como anda o trabalho com Felicia?   

- Recebi um contato dela, senhor. Em breve ela retorna.   

- Eu ainda não entendi qual o papel da Gata Negra nisso.   

- Já a usamos uma vez, com John, lembra? Confie em mim. Assim que ela retornar, o que não deve estar muito longe, o senhor vai me agradecer.   

- Meio dispendiosa essa ação, não acha? Mas por se tratar de você, uma agente exemplar, vou dar esse crédito.   

- Não vai se arrepender, senhor. Posso?   

- Claro.   

O Camaleão sai da sala às pressas. Sutton se volta para um agente.   

- Quero acompanhamento 24 horas, entendeu? Ela não me convenceu. Por isso vou dar espaço. Quero que ela respire bastante, pra se entregar o mais breve possível.   

Na sala de Michelle...   

- Ele está desconfiado. Preciso pensar rápido e Felicia tem que voltar logo. Não sei por quanto tempo mais vou conseguir enganá-lo.   

O celular dele toca.   

- Não quero que ligue pra este número, idiota. Como? O Conselho? Estou indo.   

Encostado na cadeira, o aspirante a terrorista brinca com o aparelho de telefone.   

Biblioteca Nacional, Atenas

Assim que chegou a este mundo dos livros, Felicia buscou informações com a idosa e conhecedora responsável pela ordenação dos títulos. Não é muito comum que turistas venham pesquisar sobre a Escola Atomista, mas nada como um disfarce à altura.   

Os óculos teimavam em escorregar pelo nariz e o cabelo repartido para o lado direito teimava em querer mudar de penteado.   

Agora, sentada em uma das diversas mesas de madeira de lei, Felicia passava rapidamente, porém com atenção, as folhas daquele grande livro amarelado.   

“A Escola Atomista se originou no norte da Grécia, em Ábdera, representativa cidade da Trácia. Desconhecida ao que parece de Platão, é citada como respeitável entre as doutrinas do seu primeiro representante, Leucipo, e seu sucessor. Demócrito. Deveríamos tratar ao fundador como um pré-socrático e ao seu mais ilustre representante como um socrático. Entretanto, as notícias que nos chegaram da Escola Atomista tratam suas doutrinas como corpus, atribuído globalmente aos seus seguidores.”   

Felicia já estava sem os óculos quando deu aquela risada interna deliciosa. Mas ela deixou escapar um ruído quando ouviu, de um grupo de experientes arqueólogos, numa mesa ao lado, uma história que mexeu com seus pensamentos de criança.   

- É uma lenda, meus caros. O Gatotem não existe. Como pode haver uma estátua de um felino, toda em ouro, diamantes, rubis, e demais pedras preciosas?   

- Acredite! E ela está no porto de Pireu!   

“Aqui?”   

- Acabou de chegar da África!   

- Sou cético. Preciso ver primeiro.   

Felicia fecha o grosso livro e sai correndo da Biblioteca. Lá fora, seus amigos de ternos escuros a esperam.   

- Que foi? Parece que viu um passarinho verde!   

- Na verdade eu vi um gato dourado.   

- Essas pessoas se apaixonam por qualquer besteira que veem, não é?   

- Relaxa e me leva pra Ábdera. E, quando voltarmos, o FBI vai realizar uma ‘batida’ no porto.   

- Ei, não é nossa jurisdição, Felicia, precisamos de...   

Atenas, Porto de Pireu

Diversos homens descarregam caixas de madeira oriundas de uma embarcação recém-chegada do continente africano.   

Sob o comando de uma mulher loura, eles descem as peças na direção de um galpão.   

- Cuidado com isso! - grita a única representante do sexo feminino naquele local cheio de estivadores suados – Se quebrarem algo vão pagar com a própria vida.   

FBI, NY

Olhos arregalados, surpresa geral. Todos os agentes do salão principal não acreditavam no que viam.   

De fato só estava faltado o tapete vermelho e a imprensa.   

Alguns agentes ensaiavam pedir autógrafos, mas “como vou abordar e para quem elas vão assinar?” era o que pensavam.   

Em pouco tempo, lá estava o chefe Sutton, acompanhado pelas ilustres visitas em uma sala fechada, com monitores nas paredes e uma mesa de vidro no centro.   

- Por favor, sentem-se.   

Quando os dois corpos ocuparam as cadeiras em couro, o homem negro, de barba e bigode, não conseguiu esconder para onde olhava: um raio amarelo e uma aranha branca, estampados nos uniformes escuros.   

- Desculpem, mas eu não estou entendo o motivo da visita.   

- Senhor Sutton – diz Carol – estamos aqui para conversar sobre um assunto comum. Comum a todo o país.   

- Segurança nacional, para sermos mais claras. – diz Julia.   

- Eu não duvido disso, tamanha vinda pessoal de vocês duas.   

- Sabemos que Felicia Hardy, a Gata Negra, está realizando trabalhos para o FBI, a mando de uma agente federal.   

- Michelle.   

- Logicamente. o senhor está sabendo dessas operações.   

- Verdade.   

- Nós estamos suspeitando desses trabalhos. Felicia estava internada num centro de reabilitação e recebeu a visita dessa agente para uma espécie de ‘tratamento experimental do Governo’, conforme a própria mãe dela nos informou quando a procuramos.   

- Eu não posso entrar em detalhes sobre os programas oficiais com vocês, mas quero que saibam que a agente Michelle está sendo vigiada. Ultimamente, percebi que as atitudes dela não condizem com o que apresentava até pouco tempo. Faltas, intolerância e, até mesmo, irresponsabilidade.   

- O que nós queremos entender é como Felicia foi parar nisso. E onde ela está.   

- Senhor, não sei se sabe, mas há uma pessoa que se passou por mim, ao sequestrar a minha filha. O Camaleão.   

O chefe abaixa a cabeça, pega um controle remoto e muda o canal de um dos monitores.   

- Nós estamos na cola dele. Não sei se ficaram sabendo do incidente desse Camaleão contra Kofi Anan. O Camaleão foi o responsável, mas ele conseguiu fugir. Baleado, mas conseguiu.   

- Então, senhor, o Camaleão, com a ajuda de Bumerangue, um assassino profissional, me deixou presa por um tempo, junto com minha filha, para que pudesse se passar por mim e obrigar Felicia a realizar trabalhos em meu nome. Algo como “faça isso que as liberto”.   

- Houve alguns roubos que chegaram ao meu conhecimento, e sinceramente, atribuo todos eles a Felicia.   

- Ela está sendo manipulada pelo Camaleão. Seja na forma da Mulher-Aranha, seja na forma de alguém daqui de dentro.   

- Senhor, esse projeto para reabilitar Felicia realmente existe? Ela faz parte desse programa, para roubar coisas que o Governo precisa?   

O chefe se levanta e muda o canal de um outro monitor.   

- Sim, existe. Como o nome, diz é experimental. A ideia de usar Felicia como cobaia surgiu da própria Michelle.   

- Não acha isso suspeito?   

- Preciso de provas, Ms. Marvel. Provas. Enquanto não tiver nada que comprove que o Camaleão está se passando por minha agente federal, eu não posso fazer nada. Inclusive, tenho homens a vigiando justamente para tentar conseguir algo.   

- E se o Camaleão não estiver se passando por ela, e sim ela estiver trabalhando com ele?   

- Mulher-Aranha, tenho anos de experiência, conheço todos que trabalham aqui muito bem. Se você que tem poderes foi sequestrada, isso não poderia ter acontecido com ela também?   

- É difícil assumir uma traição, não é? Até hoje busco a minha filha. Não tenho notícias dela há semanas. Estou apavorada!   

Carol abraça Julia.   

- Calma, amiga. Vamos resgatar sua filha. Senhor, o que te pedimos é assistência. Apoio. Temos que trocar informações. O que me preocupa nisso tudo é Felicia. Ultimamente, ela tem passado por coisas difíceis, deve saber. Precisamos ajudá-la, porque ela sempre esteve à disposição para fazer o mesmo com quem precisava. Inclusive o FBI. O agente John não significa nada?   

- Eles dois tiveram um relacionamento, eu sei. Só quero que me entendam. Se Michelle trabalhar para o Camaleão ou se ela for ele, preciso ter algo consistente.   

Alguém bate à porta.    

Depois da permissão, um agente entra na sala com um papel na mão.   

- Senhor, temos a localização do esconderijo do Camaleão.   

O chefe pega o papel e lê com calma.   

- Tomem – entrega para Carol e Julia – Peguem-no e vamos acabar com isso.

Reunião do Conselho, algum lugar de NY

Camaleão, Bumerangue e os integrantes do grupo estão sentados à mesa, ansiosos com as palavras do criminoso.   

- Vou ser breve. O tempo está passando e parece que os problemas estão começando a aparecer. Preciso do dinheiro para começar os investimentos na parafernália que vai nos transformar em homens mais ricos.   

Um homem se levanta.   

- Mas você não disse que estava esperando uma resposta sobre a última peça?   

- Estava. Ela está num galpão, um lugar protegido. Agora, o dinheiro.   

Os presentes pegam os celulares e palavras como Bahamas, Bahrein, Ilhas Cayman, Cingapura, Mônaco e outros centros econômicos ecoavam pela sala.   

Ábdera, Trácia

Na Escola Atomista, Felicia chega carregando grandes e pesados livros, tentando deixar os óculos presos no local devido.   

Munida por documentos falsos conseguidos pelos agentes do FBI, ela é recepcionada pelo Professor Pletho, diretor do centro.   

- É um prazer receber uma física dos Estados Unidos, Felicity Hardesck. A propósito, preciso de alguma contribuição. Se puder me deixar algum artigo sobre nosso tema para a biblioteca, ficarei muito feliz.   

- Será um prazer! Na verdade estou ansiosa por estar no local onde surgiu a suposição de que a matéria seria constituída por átomos e vácuo.   

- Mesmo ela sendo sistematizada e continuada em Roma?   

- Isso é Lucrécio, na obra De Natura Rerum, ou simplesmente “A Natureza das Coisas”.   

- Hum. Alguma tese preferida?   

- Demócrito, afinal, “por necessidade estão determinadas todas as coisas que foram, são e serão”.   

Felicia sorri, tensa.   

- Professor, eu realmente queria ter acesso ao que há de mais remoto nessa Escola. Afinal, é a realização de um sonho!   

- Felicity, não é permitido que qualquer pessoa possa ver o nosso material, mas você tem ótimas referências, não teria como negar. Só peço que você tenha cuidado, porque o acervo é raro e antigo, e está passando por restaurações.   

- Não se preocupe, só quero ver pra poder dizer a todos. E então poderemos tomar um chá, talvez, e conversar mais sobre o determinismo ou sobre a teoria cinética dos gases.   

O professor dá risada e a leva para o Museu do Átomo, após descer uma escadaria escura e feita de pedra.   

A Escola foi erguida sobre uma caverna, que, dizem, era o local onde os pensadores debatiam a física.   

Lá embaixo, luz fria, mesas e três estudantes trabalhando nos livros e escrituras.   

Depois de uma rápida apresentação, Felicia caminha pela sala ampla, olhando os bustos dos precursores da teoria, quadros de época e experimentos.   

“Tudo muito bonito, mas o que interessa eu não vejo. O pior é que nem tem como eu perguntar sobre a cítala. Já basta eu ter decorado aquele monte de nomes, teorias e expressões...”   

Reunião do Conselho, algum lugar de NY

- Antes que perguntem, sim, a quantia é aquela combinada. Transfiram o dinheiro para esta conta que Bumerangue está entregando.   

O Camaleão vai até a janela.   

“Aqueles agentes que estavam me perseguindo não vão encontrar nada contra mim. Muito menos Rachel, aquela fedelha que está mofando no porta-malas do carro na garagem. Não vão encontrar nada. Nada!”   

Bumerangue se aproxima do Camaleão.   

- Tudo pronto, chefe, basta esperar a transferência do dinheiro.   

- Ótimo. Então – se vira para os presentes – vamos falar sério.   

Um integrante do conselho se levanta.   

- Como assim, falar sério?   

- Ora, meus caros. O destino do dinheiro de vocês.   

- Para diamantes.   

- Não, idiota. Vocês estão financiando a produção da bomba nitro-nuclear. Pequena e poderosa que eu vou usar para explodir Manhattan.   

Todos olham apavorados e começam a gritar.   

- Agora é tarde, mas nem tudo é mentira. Realmente precisei pesquisar usando todo aquele material adquirido, porque a força necessária para a detonação da bomba é a mesma utilizada para bombardear os átomos de carbono e transformar grafita em diamante.   

- Você é doente, Camaleão. E está expulso do Conselho – o homem pega o celular – Vou acabar com essa loucura agora mesmo e...   

Antes de concluir a fala, o Camaleão sacou uma pistola e acertou a cabeça daquele que se dizia presidente do Conselho.   

- Alguém mais?   

Ninguém se manifesta.   

- Que pena. Bumerangue!   

O comparsa saca dois bumerangues e os arremessa. Cada cabeça cai sobre a mesa, em cima do papel com o número da conta bancária.   

No monitor localizado na cabeceira da mesa, aparecia o dinheiro entrando na conta do Camaleão.   

- Agora, chefe, só me resta limpar essa bagunça.   

- Droga!   

- O que foi?   

- Acabei de me lembrar de uma coisa. Me preocupei tanto com Rachel que esqueci de limpar o esconderijo.   

- Não tem nada que o incrimine.   

- Talvez. Meu plano ficou lá. E os trabalhos que aquela ladra burra realizou, também.   

Museu do Átomo, Ábdera

Felicia já estava desanimada por não ter encontrado a outra parte da cítala, como ela descobriu no Bahrein.   

“Pista falsa? Não é possível! Não tem como eu ter me enganado, nem Rasool.”   

Numa pequena mesa, ao lado do busto de Sócrates, havia um baú. Felicia se aproximou e viu que os detalhes em baixo e alto relevos eram o mesmo presentes na arca do Bahrein e na cítala Espartana.   

Um sorriso.   

- Ah, Felicity, esse é o que chamamos Baú da Aliança, que, segundo contaram, faz parte de um dos grandes mistérios da vida.   

- O que tem dentro?   

- Nada.   

“Nada?”   

- Que pena. – disse em tom baixo.  

Da posição em que estava, Felicia olha ao redor da sala. Na parede, a surpresa. Um quadro chamou sua atenção. Ao se aproximar, percebeu que estavam pintados, juntos, uma pedra egípcia, alquimistas trabalhando numa cozinha, um diamante com o núcleo cinza, energia cósmica, uma cítala completa e, para seu espanto, uma explosão mais absurda que a da bomba nuclear.   

O professor avisou que precisava se retirar por pouco tempo e deixou Felicia acompanhada pelos estudantes, concentrados.   

Felicia levantou o quadro e não se conteve ao ver um buraco fundo na parede. As lentes foram acionadas e clarearam e aproximaram a visão.   

O sorriso.   

Discretamente, ela primeiro colocou a mão, e em seguida o braço, e puxou a cítala. Em seguida, guardou dentro de um livro falso, que na verdade por fora era um livro comum e pesado, mas por dentro, tinha espaço para ela guardar o que fosse necessário, e assim passar despercebida.   

Ela rapidamente botou o quadro no mesmo lugar e na mesma posição e saiu do Museu, correndo.   

Os alunos nem perceberam.   

Esconderijo do Camaleão, NY

A janela e a porta foram derrubadas de uma só vez. De um lado, a Mulher-Aranha. Do outro, Ms. Marvel.   

Preparadas para um conflito, elas estavam em posição de ataque. E quando perceberam que não havia ninguém lá dentro, abaixaram a guarda.   

- E agora, Julia?   

- São apenas três cômodos. Essa sala e duas suítes. Eu e minha filha estávamos naquele quarto. – diz, apontado.   

Carol vai até lá e Julia fica mexendo nos papéis sobre a mesa. Até que um grito interrompe a ação.   

Julia vai correndo. No fundo ela pensava que encontraria a filha. E correu não para o quanto onde esteve refém. Para o outro, o que seria do Camaleão.   

- Vê isso, Julia? Todos os trabalhos realizados a mando dele. Realizados por Felicia!   

Em cada foto ou escrito, a surpresa. O diamante-grafita roubado de Mary Jane num desfile de moda. O audacioso roubo ao Museu da Sociedade da Justiça América. A viagem à Cingapura, Egito, Inglaterra, França, Peru, Bahrein e Grécia.    

Em um papel ao lado de cada trabalho, as inicias J ou M.   

- Eu ou Michelle, Carol. Só pode ser isso.   

- Meu Deus! Felicia passou por tudo isso sozinha. Ela deve ter corrido sérios perigos. Temos que encontrá-la.   

- Antes, precisamos voltar ao FBI.   

Porto de Pireu, Atenas

Depois de mais uma armação, dessa vez auxiliada – ironicamente – pelo FBI, Felicia deixou Ábdera mais feliz por ter conseguido realizar mais um trabalho.   

Do que ela não é capaz?   

Ela não estava preocupada em usar documentos falsos e nem acredita que as autoridades da Grécia vão questionar sobre o assalto. Nem os responsáveis sabiam daquilo que estava escondido no fundo de uma caverna sob a Escola Atomista.  

Isso é o que ela pensa.   

Mas trazer os agentes até o porto foi mais complicado. Ela precisou dizer que mandaria o que veio buscar de navio para os Estados Unidos.   

Só que para isso ela teria que descobrir antes, se realmente o que ela buscava estava no porto, como escutado na biblioteca.   

O acesso não foi complicado, nada como o FBI e a ajuda da polícia local sobre uma investigação sobre envio de drogas para o país do Tio Sam através de cargas oriundas da África com passagem por este porto.   

Achar o galpão também não foi difícil, mas tinha segurança e a operação precisava ser discreta.   

Restou a Felicia invadir, no melhor estilo, e buscar a caixa correta.   

“Se eu estivesse com minhas unhas...”   

Caixa por caixa, ela finalmente encontrou o que almejava e sentiu um arrepio lhe correndo o corpo.   

Mais de dois metros. Ela nem precisou se apegar aos detalhes de que se era o verdadeiro.   

O Gatotem.   

Afinal, não deve existir outra coisa parecida.   

Ela não sabe, mas existe. Ah, existe...

A polícia local disse que estava fazendo ronda em todos os galpões e assim teve acesso à caixa indicada por Felicia, que, escondida, fez sinal para seus amigos federais.   

A caixa foi retirada sem que a segurança particular percebesse. Nada como usar de remanejamento das peças. Foi simples, mas demorado. Todo o conteúdo do galpão foi removido e levado para outro local, menos a caixa com o Gatotem, que foi levado para um navio que também partiria para a América. Endereçada à Mansão Hardy, em Nova York.   

Depois da ação, Felicia, Sun e Glass, na base, comentavam a bem-sucedida operação e planejavam a partida pro outro lado do Atlântico no dia seguinte, bem cedo.   

Tudo estava terminado, assim pensava Felicia.   

“Mas eu estou sozinha. Agora que parece ter acabado, não estou vendo motivos nem razão para nada. Não tenho expectativa de vida. Esses questionamentos voltam a me atormentar. Não sei o que vou encontrar. Não sei como o Aranha vai me receber. Ainda triste. Não entendo. Eu deveria estar feliz porque finalmente consegui ajudar alguém. Só que estou triste. Porque eu não consegui me ajudar. O que fiz não foi pra mim. Até quando vou ser assim? Cadê aquele meu egoísmo?”   

Coisas de mulher. Ela não imagina o motivo para estar tão emotiva.   

Do bolso da calça que usava em Bahrein ela pegou um pedaço de papel.   

“Rasool me disse que eu só poderia ler quando me sentisse assim. E faz muito tempo que me sinto assim.”   

Felicia desdobra o papel calmamente.   

Nele estava escrito “Não permita que a superficialidade e a aparência das coisas do mundo nos iludam e nos libertem de tudo aquilo que impede o nosso crescimento. Amém”.   

***

Notas do autor

[1] Esse texto foi publicado no antigo site Quadrim!

[2] Homem-Aranha, Gata Negra e Tarântula? Não leu ‘Rosas e Espinhos’? Então confira as edições #03, #04 e #05 da Gata, aqui no CaldeiraMundi!! 

Comentários