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Gata Negra #07 - Volta ao crime 2/2

Gata Negra #07 - Volta ao crime 2/2

Na eletrizante conclusão, a gata finalmente consegue realizar seu maior sonho - e não, não estamos falando de reatar com um certo aracnídeo...


Sul de Manhattan, manhã

“Pois bem, eis o prédio onde se localiza o escritório do advogado… Do advogado que pode arruinar a vida de Wilson Fisk, o Rei do Crime. Vejamos… A movimentação externa não será comprometedora quando for entrar pela janela…”

Felicia continua a observar cada detalhe. Vez ou outra, utiliza os níveis de aproximação da nova lente. Sente algo diferente. Pode ser medo das futuras consequências, ou a satisfação ao descobrir a vantagem da nova e seu efeito, superior à antiga. Deduz que à noite encontrará menos movimento, já que, possivelmente, os departamentos funcionem em horário comercial. Bancos, lojas de conveniências e gente, muita gente. Resolve ir a um café, próximo ao edifício. Enquanto caminha, compra um jornal, como todas as manhãs.

“Pedido realizado. Vamos ver o que há de excitante nesse jornal… Mas… Aqui diz que a cientista Christina McGee está investindo em um projeto… “Estudo sobre alteração hormonal em organismos geneticamente alterados. Conforme dados levantados pela cientista Christina McGee, da Universidade Empire States, os efeitos de uma alteração induzida na cadeia genética podem levar a distúrbios neurais e hormonais. “É como uma corrente de dominós empilhados, mas nem todos caem”, declarou a Dra. McGee. “As alterações genéticas forçadas podem causar labirintite crônica, epilepsia ou até mesmo esterilizar o objeto, devido à alteração hormonal.” Quando questionada sobre o tipo de experimento que poderia causar essa alteração, a Dra. McGee foi enfática: “Muito tem se falado sobre a tecnologia de clonagem para gerar bebês perfeitos. Logo teremos experimento visando bebês com super-poderes específicos. Os efeitos aparentes não vão compensar a desestruturação genética, com ciclos vitais completamente diferentes de uma pessoa normal. Quando se força o DNA de uma pessoa para que ele aceite algo tão complexo quanto esses “poderes”, corremos o risco de repetir erros da ciência de séculos atrás, quando tecidos anômalos eram enxertados em gatos, por exemplo.” Ela deve estar trancada dia e noite naquele laboratório. Peter, então é essa a mulher que escolheu? Nem tem tempo para você. Eu sim, já que o Homem-Aranha trabalha mais do que o Peter Parker. E eu, como a Gata Negra, teria muito mais contato…”

Seus pensamentos são interrompidos com a chegada do café. Felicia agradece e termina de ler a matéria. Anota o endereço. Universidade Empire States. Pausa. Recorda que foi levada pelo Aranha para um laboratório depois de sofrer o atentado do Tarântula. Será que esse laboratório teria sido o da própria Tina? Não contendo a raiva, Felicia rasga o jornal. As pessoas olham, curiosas. Pega uma quantia e deixa na mesa, saindo sem mesmo ter usufruído do que pediu. As folhas do jornal rasgadas, pareciam segui-la enquanto se retirava do estabelecimento.

Cat’s Eye, tarde

Já reposta e mais tranquila, Felicia brinca com Ônix usando uma bola de lã. É difícil descobrir quem se diverte mais…

- Vamos, Ônix! Onde está a sua agilidade felina?

Ônix não se move. Seus olhos miram a porta. O corpo, arqueado e os pêlos arrepiados. Felicia percebe a reação do animal e levanta. Ajeita-se e abre a porta. Susto.

- Rei do Crime? Touro? O que querem aqui?

- Deu para conversar sozinha agora, Felicia?

- Eu estava conversando com Ônix. E isso não importa. O que quer?

- Bom, ainda preferia que estivesse falando sozinha…

- Com certeza não veio aqui para opinar sobre minhas manias…

- Ardilosa como sempre… Vim apenas relembrar de que o prazo é até amanhã de manhã. Nem um segundo a mais.

- Eu sei, Rei. Estou me preparando!

- Brincando com o gato?

- Essa é a minha forma. Algo mais?

- Sim. Estudou o sistema de segurança e a planta do prédio e do escritório?

- Pode apostar. Nada sairá errado, mesmo se você interferir contra. Coisa que garanto que não acontecerá…

- De fato, é bem inteligente, Felicia.

- Se não se importa, preciso continuar minha preparação.

- Como quiser, Felicia. Só vim confirmar nosso trato.

- Como entregarei as provas? 

- Não se preocupe. Na hora exata, saberá.

- Tudo bem, podem sair.

- Não tente bancar a esperta. 

- Digo o mesmo…

- Certo. Trabalho realizado, poderes garantidos.

- Espero poder confiar…

- Eu também. Até mais gatinho. Até breve, Felicia.

“Que raiva! Parece que me pressiona, mas não me sentirei assim. Nessa madrugada terei que fazer algo que, de uma certa forma, vai contra minhas promessas. Porém, trabalho é trabalho. Acho melhor deixar a brincadeira com Ônix para depois e ir reforçar o sistema de segurança na minha memória…”.

Felicia atira a bola de lã e Ônix logo se enrosca nos fios. Senta frente ao computador. A cada setor estudado, fecha os olhos. Parece imaginar a ação. Recordando de quando era a mais procurada das ladras. Sabendo que se algo saísse errado, não terá perdão. Da justiça, do pai, do Homem-Aranha.

Sul de Manhattan, madrugada

“Os brincos são compensadores de equilíbrio que atuam no ouvido interno. Realmente são maravilhosos! Sem os poderes nunca senti tanta facilidade para cair em pé. Essa opção da lente também é sensacional. Intensificadora de luz… Fora outras que ainda não descobri!”

Não há muito movimento externo e muitos andares do edifício parecem vazios. Gata se prepara para atirar o gancho quando nota algo antes despercebido e que não constava na “ajuda” do Rei. A caixa de energia. Seus cabelos platinados escondem o sorriso assim que percebe a caixa. Com uma acrobacia, já está em pleno ar, ignorando a gravidade que insiste em levá-la de encontro ao chão. Dispara o gancho, que rapidamente se prende. Está mais veloz e seguro. Chega na caixa. Não há ninguém por perto. Ativa as unhas com uma rápida flexão. Breve reflexo das garras. Com uma rápida investida, quebra a proteção e o quadro é mostrado. 

“Hum, corta ferro… Será que algo mais?

Assim que a tampa cai, fazendo barulho ao tocar no chão, Gata depara-se com um amontoado de chaves e fios. Para e pensa que a lente bem que poderia servir para algo nesse momento. Sem pestanejar, encaixou as unhas. Respirou fundo e puxou, causando um grande curto-circuito.

“Tenho pouco tempo até o gerador ser acionado… Pouparei cuidados… É Rei! A sua “ajuda” não foi tão importante assim…”

Gata Negra atira o gancho e confirma que está seguro. Começa a escalar e logo está na janela do escritório. Lembra que o cofre está atrás de um grande quadro valioso, o qual ela rapidamente identifica.

“Será que ainda tenho prática para abrir janelas? Essa não está emperrada, mas está tran… Nem está trancada! O Rei deve ter arrumado uma maneira de facilitar meu trabalho. Ah, Wilson Fisk… Essa história está muito mal contada… Não me convenceu ao explicar o por quê de ter me contratado.”

Ao penetrar no recinto, não se sente incomodada com as câmeras, alarmes, enfim, tudo o que pudesse complicar a vida da detetive regenerada que estava recordando da época de ladra. Calmamente retira o pesado quadro. Um manto de seda preto cobria o cofre. Delicadamente o levantou e teve uma surpresa.

“Rei do Crime! O cofre é eletrônico! E se eu não tivesse descoberto a caixa de energia? Como abriria esse cofre, já que não recebi a senha? Há algo errado nessa história…”

Gata Negra, confusa, precisa ser rápida, pois o gerador já deveria estar começando a reacender as luzes e acionando todo o sistema de segurança. Estava com os olhos fechados. Uma gota do suor escorria por sua testa, perdendo-se nos marcantes lábios. Ao abri-los, a cor dos olhos de gato da lente estava amarela. Enxergava como se tivesse num dia ensolarado. Respira fundo e puxa a maçaneta, abrindo, finalmente, o cofre. 

“Ao menos essas lentes estão funcionando como o Rei disse… Nossa, quantos envelopes! Tenho que lembrar o brasão que estaria estampado, como o exemplo que estava no disquete…”

Gata não podia ver, mas as luzes estavam voltando. Iniciava no último andar e ia descendo, um a um, mas sempre após todo o andar estar iluminado.

“Eis o tão sonhado envelope! Deixe-me conferir… Uau, quantos papéis… Tudo registrado, timbrado. Realmente, o senhor está encrencado, Rei do Crime!”

Gata então coloca de volta os envelopes que não interessavam no cofre, mas seus olhos brilharam ao ver uma caixa preta, com um detalhe prata nas laterais. Não se conteve…

“É uma caixa de jóias… Não Felicia, não pense nisso! Você tem dinheiro para comprar quantas dessa quiser… Mas, meu dinheiro não compra a adrenalina percorrendo minhas veias ao roubar uma… Ah, já estou roubando mesmo, então vou aproveitar e levá-la comigo. Só espero que a dona não sinta falta… da jóia, pois a caixa ficará aqui, para contar histórias…!”

Depois de guardar o colar na gargantilha, Gata Negra coloca o envelope dentro da roupa. Fecha o cofre e assim que pendura o quadro, o corredor recebe a carga de energia vindo do gerador e é iluminado. Gata se agacha atrás da cadeira do advogado e respira. Fecha os olhos e recorda da câmera em frente à mesa. Se ela levantar, é filmada. Logo, a sala é meio iluminada. Abre os olhos. As lentes ainda estão amarelas. Relembra das anotações do Rei. Há um momento em que a câmera pára e filma a porta, por onde entram e saem as pessoas. É nesse momento que ela tem que fugir. 

“Tenho que morder a língua… Disse que a “ajuda” do Rei não foi útil… Pois é ela que está me salvando agora… Vamos, câmera, mire à porta! Mas não posso esquecer do sensor de som. O mínimo ruído e tudo dispara! Só tenho uma única chance assim que saltar… e a hora é essa!”

Gata pula em direção da janela. Não há vento. Não há iluminação perfeita. Ao menos para quem não tem as lentes que ela usa… Com os braços estirados, prepara para atirar o gancho. A boca aberta, mas um grito silencioso. A expressão de vontade para sair daquele lugar que só trouxe momentos de recordações. Um salto perfeito. Atravessou a janela e ao cair, disparou a arma. Deu uma volta e logo já estava em pé, no parapeito. A cena da Gata na janela, tendo seus cabelos e o novo uniforme refletidos pela Lua, era capaz de deixar qualquer ser vivo incrédulo. Alguns diriam que era a visão do Éden. Outros, o demônio, o pecado em forma de mulher. Gata fecha a janela e dispara o gancho. Mas dessa vez, para o terraço do prédio.

 “Agora é só entre eu e você Felicia. Não foi bonito o que fez… Roubar um colar de diamantes…! Eu sei que não deveria ter roubado, mas recordei tanto da época em que era uma caótica, que precisei fazer para não enlouquecer… Deus… Espero ser perdoada pelo que fiz! Concluí minha parte e agora vou receber meus poderes de volta. Serei a Gata Negra outra vez. Meus trabalhos serão mais interessantes… O que estou fazendo? Tenho que procurar a Christina McGee para que ela me diga o que pode acontecer comigo, quando o Rei for reimplantar os poderes em mim. Mesmo ainda restando um pouco dessa mutação em meu corpo, posso sofrer algo sério. Não é bom arriscar. Bom, melhor deixar a conversa com o meu eu interior para outra ocasião e procurar a namorada do Peter. Que ironia…”

Universidade Empire States, mesma madrugada

Gata, depois de se balançar pelos arranha-céus, finalmente encontra-se na Universidade. A luz do laboratório está acesa. A lente aproxima a visão e ela vê Tina  de costas para a janela, absorta em suas pesquisas. 

“Não posso perder tempo. Verei a opinião da cientista e entrarei em contato com o Rei do Crime… Hora da diversão!”

O gancho encaixa-se no prédio da Universidade e logo a Gata posiciona-se na janela. Pernas cruzadas, para o lado de fora e os braços sobre as coxas.

- Conhece o ditado “nunca deve ficar de costas para a porta?” Aqui em Nova York é diferente. Nunca deve ficar de costas para a janela… Olá Tina!

- O que…? AHHHHHHHHHH!!!!!!! FELICIA????

- Nas horas de folga, sim!

- O que você está fazendo aqui? Como…?

- Como entrei? Já disse, pela janela!

- Mas… O que você quer? A uma hora dessas? Por que…?

- Bom, estava passeando e vi a luz acesa… Resolvi fazer uma visita!

- Isso é a sua ideia de “visita social”?

- Depende de quem eu visite…

- Ok, Felicia… Se está pensando em fazer alguma bobagem… Eu sei me cuidar! 

- Ahahahah! Atirando tubos de ensaio?

- Engraçadinha. O que você quer?

- Li sua matéria hoje… Parabéns! Mas garanto que saí mais vezes no jornal do que você… Ahahahah! Sem hostilidades, ok?

- Hmmmm… Interessada em ciências?

- Mais no que fez com os pobres gatinhos…

- Ah, não se preocupe com isso. Não usamos animais como cobaias aqui. Bom, EU poderia usar uma certa gata…

Gata ativa as unhas, uma a uma até completar as cinco e faz um pequeno estrago na janela. 

- Experimente! 

- Olha, não sei o que você tem em mente, mas… Achei que você não quisesse hostilidades.

- Direto ao assunto. Tina, então há efeitos colaterais no momento da “mutação”?

- Bom… Dependendo das causas da mutação. A mutação em si é efeito colateral de um fator “x”. Mas, se o indivíduo não possui esse fator “x” de mutação, os resultados podem ser desastrosos.

- Então, e se for uma ampliação de um poder latente? Efeitos mais “suaves”?

- De jeito nenhum. Se o catalisador da mutação for artificial, os efeitos colaterais são sempre perigosos.

- Isso não é bom… Digo, não é bom para os felinos que vocês usam como cobaias!

- Já disse que não usamos esse tipo de cobaia. Os experimentos são simulados. O que pode significar que talvez eu esteja errada e não haja efeitos colaterais. É uma chance pequena, mas é possível.

- Bom, se houvesse, digamos, que algum desses gatos já portassem uma leve alteração e recebesse essa carga maior… Haveria maiores riscos?

- De 0 a 10? 11. É muito perigoso. De qualquer forma, é como forçar a natureza. Isso sempre acaba mal. Certa vez, eu tentei reativar os poderes de Wally West, o Flash, de forma artificial. Ele atravessou o país em dois segundos e explodiu. 

- Incrível… Mas será que você não fez nada de errado?

- Fiz: tentei repetir um evento em laboratório usando um ser humano no teste. Isso é um grande erro. Quase custou a vida dele. É loucura colocar uma pessoa numa situação dessas.

- Mas não se preocupava ao sacrificar explodindo os gatinhos… Esse tubo de ensaio contém o que?

- Nitroglicerina. Vai um gole? Escuta, Felicia… Nós realmente não fazemos o tipo de experiência que você está pensando. O risco é muito grande, não compensa as perdas. 

- De uma certa forma, você me ajudou… Coisa que não imaginava! 

- Bom… Se precisar de mais alguma coisa… Mas posso saber por que o interesse? 

- Você é uma cientista ou uma detetive? Digamos que a gata aqui está buscando um grande rato… Ou uma aranha…

- Aranha? Do que você…?

- Tina, já imaginou se o Homem-Aranha entrasse aqui?

- O que o Homem-Aranha viria fazer aqui? Bom… Depois de você, não me surpreenderia com mais nada…

- Que humor… Por isso mesmo! Mas… E como vão as coisas entre você e o Peter?

- Ora… Tudo bem. Ótimo. Maravilha… E você? Como está? 

- Muito trabalho… Assim como você. Mas garanto que os meus são muito mais emocionantes… Quer dar um passeio comigo?

“Posso te largar pelo caminho… Uma altura de onde não sobrasse nada de você quando caísse em solo…” 

- Nem morta! Tenho um monte de coisas para fazer aqui ainda!

- Pensei que me achasse barbeira… Sabe, você e o Peter se parecem… Formam um belo casal. Não em torno da beleza… Mas nas semelhanças psicológicas.

- Eu… Felicia, não quero inimizade com você. Mas eu e o Peter temos algumas coisas em comum, sim. Mas você… Bom, deixa para lá.

- Bom, tenho muito mais do que você pode imaginar!

- Prefiro não descobrir suas intimidades.

Está tarde… Ainda tenho umas coisas para resolver. Sabe como é… Cliente importante é sempre um problema.

- Sei, sei… escuta, Felicia. Eu falei sério. Não quero inimizade. O Peter parece se importar muito com você e… Olha, se quiser conversar…

- Você poderia me dar um pouco de cianureto?

- Cianureto?

- Arrã! Ahahaha! Sim, cianureto… Um bom explosivo, correto?

- Hmmm… Onde já ouvi esse "arrã" antes? Bom, se quiser um explosivo que corroa metais, é melhor usar percloreto de ferro.

- Está vendo isso? – ativa as unhas e perfura uma base de bronze como se fosse faca na manteiga – Esse é o meu agente corrosivo.

- Hmmm… Impressionante. Mas não funciona em polímeros de densidade variável…

- Quer experimentar e conferir, tirando suas próprias conclusões? É feito de um material ainda em testes, chamado de Diamante 5. Já testei em bronze, ferro, carne…

- Carne??????

- Sim… Tive que preparar a comida do meu gato, Ônix. Não achava a faca, foi na unha mesmo! Ou achou que corto pescoços?  Ainda não usei as novas garras em combate, infelizmente…

- Prefiro nem descobrir. Eu também tenho um gato…

- Um gato? Quem diria…

- É. Eu… gosto de animais.

- Ahahaha… Aranhas agradam à você?

- Aranhas? Não! Esses bichos são horripilantes! Por que a pergunta? É a segunda vez que você menciona aranhas…

- É porque fui ajudada pelo Homem-Aranha aqui mesmo… Tive que receber um antídoto de um veneno… Aqui mesmo ele me curou… Por isso as lembranças. O Peter viva querendo me trazer para cá… Ai, ai…

- É mesmo? Que interessante… (bem nojenta)

- Bom, pena que não contarei os detalhes de nossas vindas aqui… (com um tom arrogante)

- Como se eu quisesse saber. (empinando o nariz)

- Sem hostilidades, Tina!

- Tá, Me desculpe… É que… Olha, eu não sou de achar mulher bonita, mas você é linda! Eu… me sinto ameaçada.

- Não se preocupe. Sei qual o meu lugar. Uma coisa que sei é sobre RESPEITO. Meu trabalho é mais importante do que ex namorados e mulheres inseguras. Somos diferentes nisso, não?

- Quando eu olho para você, fico pensando no que Peter viu em mim…

- Ahahaha! Quer que eu responda? Ou prefere descobrir sozinha? Ou perguntar diretamente para ele?

- Deixa pra lá.

- Tina, tenho que ir, mas quero dizer uma coisa. Apesar de tudo, obrigada pela ajuda. Saiba que tem um crédito comigo. Se precisar de ajuda, não se contenha e me procure. Farei questão de ajudá-la.

- O- k. Eu… Disponha. Se precisar de algo…

Tina olha pra trás, assustada e percebe que Felicia a deixou falando sozinha. Rapidamente, pega o telefone e liga pro Peter. Gata, sorridente, volta a se balançar pelos prédios. Acha que está ciente do perigo que corre ao receber seus poderes novamente. Acredita que vai valer a pena. 

“Ela é uma boa pessoa… Um pouco insegura. Pudera, com Felicia Hardy não há concorrência! Mas, como ela mesma perguntou, o que será que Peter achou de interessante nela? Ahahaha! Ela deve estar louca atrás do Peter. Vai contar que estive lá e que conversamos… Ele virá me encontrar querendo explicações. Mas não sei se fiz algo de errado…! Bom, preciso ir para a Cat’s Eye fazer uma cópia dessas provas. Tenho que ter cuidado, afinal de contas, estou tratando com o Rei do Crime…”

Cat’s Eye, madrugada

Já no escritório, Felicia, ainda com o uniforme, digitaliza as provas contra o Rei do Crime. De uma certa forma, é uma garantia, já que não há confiança. 

“Essa é a última folha… Pena que não tive tempo, ainda, para ler esses papéis… É bom eu passar para o disquete, nunca se sabe o que pode acontecer…”

Terminado o processo de digitalização e armazenamento das provas no disquete, Felicia desliga o computador e aproxima-se da janela. Seu gato logo a acompanha. Com as mãos encostadas no vidro, pensa, no que fez. Recorda da estrela. Coincidência? Ilusão? Não se sabe. Mas seus olhos ainda estão tristes. Pôde ver o amor entre Tina e Peter. Alguém bate e Felicia desperta. Já imagina quem seja. Ônix é levado para o outro cômodo. Felicia retira a máscara e abre a porta. Wilson Fisk, Touro e dois homens. Os mesmos de outra hora.

- Vejo que ainda está com a “farda” de trabalho… Mas não posso negar que está bastante atraente, Felicia!

- Poupe-me de elogios, Rei. 

- Vim buscar as provas…

- Apenas as provas?

- E você também…

- Infelizmente recusarei seu convite para sair. Não misturo relacionamentos profissionais com pessoais…

- É por isso que está sozinha até hoje, gatinha!

- Minha vida sentimental não está em pauta. 

- Entregue-me as provas. 

- Sim, mas depois de ter recebido meus poderes!

- Já esperava por essa resposta. Sei que o que contém nesse envelope são os papéis certos…

- Honro com meus compromissos.

- Eu também. Podemos ir?

- Espere.

Felicia vai ao cômodo e se despede de Ônix. Nota um ar inquieto do felino. Veste o sobretudo e retorna à sala.

- Sinceramente, ainda prefiro te ver sem esse sobretudo…

- Sinceramente eu prefiro nem te ver, Wilson Fisk!

Os dois homens seguram Felicia pelos braços. Ela retira as mãos dos capangas e afirma que não é prisioneira e que nem merece ser tratada daquela maneira. O Rei sorri e ordena que os capangas desçam primeiro façam a guarda. Ninguém pode ver Felicia Hardy e Wilson Fisk juntos.           

Laboratórios Wilson Fisk

Enquanto caminham, a conversa não surge com facilidade. A apreensão é mútua. Há um certo desconformo entre a convidada e o anfitrião. Poucas luzes acesas mostram a diversidade tecnológica. O Rei aponta uma sala, na qual foram criados o gancho, as lentes e as garras. Andam mais alguns metros e indica uma porta.

- Bom, a partir de agora é com você. Entre e logo verá uma máquina. Grande e de cor azul. Procure os encaixes do braço, pernas e pescoço. O resto é com os cientistas.

- Não é muito educado de sua parte, mas farei o que disse. E que não saia nada errado, Rei. Senão, nada de provas. Nada de imunidade…

- Confie em mim… Tudo sairá como o combinado!

E a porta é fechada. Felicia caminha observando cada detalhe. Há muitos espelhos, provavelmente através deles o Rei e a equipe de cientistas acionariam a máquina. Respira fundo e encaixa cada parte do corpo no devido lugar.

“Falta pouco, Felicia! E… E se o Rei estiver mentindo? Se isso for uma armadilha…?

E os encaixes se prendem. Agora ela não pode se movimentar. Tampouco acionar as unhas. Os olhos tremem. O suor escapa pela testa. Um ruído bem agudo e escutado. Um breve tremor na máquina. Luzes. Todas as captadas pelo olho humano. Um festival de brilho. Era bonito de se ver. Um grito. Felicia parecia não aguentar. Sentia cada poro do corpo sem aberto por algo afiado. Parecia que todos os vasos sanguíneos estavam estourando. Um processo lento. Quase dez minutos de extrema agonia. Até que as luzes apagam e os encaixes são abertos. Nada mais a segura.

“Onde estou… O que aconteceu comigo? Estou enjoada! Cólica! Minhas pernas… Não as sinto… Meu pescoço e meus braços… Parecem… imóveis! Como Tina previu…”

Felicia tenta caminhar mas não tem equilíbrio. Apoia-se na máquina, nos espelhos. Parece escutar risos vindos dos vidros. Cai de joelhos. Lágrimas escorrem incessantemente dos olhos. Acredita que foi traída. Está sem saber o que fazer.

“Não acredito que fui enganada! Agora, o Rei terá as provas e eu deverei morrer… Por que continuei com a ideia de reaver meus poderes? Por que aceitar isso logo do Rei? Devi ter desconfiado…”

A porta é aberta e os dois capangas do Rei invadem, fechando-a em seguida. Felicia ergue a cabeça e vê que eles vêm em sua direção. Levanta, cambaleando e encosta na máquina. Ativa as unhas e respira fundo. Se tem que morrer, por que não levar alguém com ela? 

- Muito bem! Vamos matá-la primeiro e depois transar o corpo dela!

- Nada disso, imbecil! Primeiro vamos transar e depois a gente mata!                 

- Acho que estão enganados, rapazes. Se a Gata vai morrer, levará uns com ela…

Os homens eram dotados de artes marciais. Movimentos rápidos e certeiros. Felicia estava tonta, fraca. Partem para cima da gatuna, desferindo chutes e socos. Felicia rola pelo chão. Sente um ardor na garganta. O corpo parece queimar. Lentamente e com dificuldade fica em pé. Das unhas, o breve reflexo. Da boca, o velho sorriso perigoso. Os homens continuam a investir contra Felicia, mas ela consegue esquivar de todos. Percebe que está mais rápida. Que seus reflexos estão melhores. 

- Muito bem rapazes! Olha só quem chegou para animar a festa! Abre o olho, careca! Acha que vai ser moleza? Então é bom se preparar…

E ela salta. Um belo, longo e alto salto. Os homens param. Admiram a sensualidade e agilidade de Felicia. Como são perfeitos e sincronizados os movimentos. Caí, em pé, e com as garras ativadas, abaixo do queixo, rente ao busto. Eles tremem. Estão paralisados com a imagem aterrorizadora. Rapidamente, Felicia segura um dos homens pelo pescoço. Ele implora pelo perdão, dizendo que não ia matá-la. Ela ri. Mas logo sua expressão é outra. De ira. Mas volta a gargalhar e acaba socando-lhe o nariz. O primeiro cai, desfalecido. Vira-se e procura o segundo. Está trêmulo, com uma arma apontando para ela. Momento crítico. Tenta prever algum movimento ou falha dele. Procura algo para se defender, ou uma ação que a salve. Planeja um movimento. Só tem essa chance. Ao se preparar, sente, novamente, a ardência na garganta. O homem, desesperado, arma o revólver. Ela, de joelhos novamente. Uma presa fácil. Um homem mira sua cabeça e aperta o gatilho. Dor insuportável. Felicia levanta a cabeça e vê a mão do homem estraçalhada. Levanta e sorri. Sua expressão aliviada e de surpresa. O poder do azar. Ela está com o poder do azar. Olha para o teto e tem a impressão da estrela estar passando. Delírio. Sorri singelamente e abaixa a cabeça. Agora que seus problemas vão começar…

- Meus parabéns, Felicia Hardy! Finalmente, conseguiu o que queria…

- Rei… Tentou me matar!

- Não! Isso era um teste! Confirmou que está com os poderes de volta. Agora, entregue-me as provas!

- Teste? Sei… Mas como trato é trato, tome!

Felicia retira as provas do uniforme e joga ao chão, próximo do Rei. Touro abaixa e as pega. Os olhos da ladra e do contratante se cruzam. Percebem a satisfação envolvida nos olhares de ambos. 

- Quer que eu acabe com ela agora, senhor Fisk?

- Como? Uma armadilha? Bem que estava desconfiada…

- Calma, Felicia. Touro apenas não gostou de ver dois dos homens nesse estado. Sairá daqui viva. Ao menos que tenha tentado me enganar…

- Se você cumpriu a sua parte, por que não faria a minha?

- Está passando bem? Noto uma indisposição de sua parte…

- Efeitos colaterais, Rei. Já esperava por isso. Uma dúvida, esses poderes são passageiros?

- Creio que não, Felicia. E não sei se o azar é controlável… E enquanto aos efeitos colaterais, vá para casa, procure descansar.

Felicia olha para o Rei e Touro. Desconfia da simpatia. As unhas, ativadas, não parecem intimidar ninguém. Ela caminha calmamente, passa pelo meio dos dois, e sem nada dizer, retira-se da sala. Touro a acompanha, com o intuito de levá-la até a saída.  

Cat’s Eye, horas depois

Depois de se balançar pelos arranha-céus, Felicia acabou chegando à UES. Pensou em entrar e conversar com Tina, mas teve uma grande desilusão. Fora ela não ser a pessoa mais confiável para desabafar, Peter Parker estava abraçando a cientista, no mínimo tranquilizando-a pela visita da Gata Negra. Sentiu uma dor no peito. Novamente, olhos tristes e lágrimas escorrendo dos olhos. A cólica e a tontura ainda não tinham passado. Parecia até, ter aumentado depois da lamentável cena. Sentiu a garganta arder. Atirou o gancho e continuou se balançando por entre os prédios, na tentativa de esquecer a imagem de Peter e Tina juntos. Era complicado. Mas a lembrança de que estava com seus poderes novamente, deixava-a feliz. Mesmo não tendo o amor do Aranha, tinha a vida de Gata Negra. Então, chegou na Cat’s Eye. Abriu a janela e entrou rapidamente. Ônix correu ao seu encontro. Os olhos do felino estavam desconfiados.

- Ônix, consegui meus poderes de volta! Meus trabalhos serão mais interessantes a partir de agora! Olha como estou mais ágil… Tina disse que poderia sentir muitas coisas e até morrer, mas há uma pequena porcentagem em que nada disso ocorra… Quem sabe não faço parte dela?

A expressão do gato enquanto olhava os movimentos de Felicia, era de reprovação. Ela não entendia por quê o felino reagiu assim. Parece que ninguém queria que reavesse os poderes. Somente ela. Volta para a janela e admira a cidade. Iluminada, um vento frio tocava-lhe suavemente o rosto, movimentando, de uma bela forma, os cabelos platinados. Dessa vez, Ônix não a acompanhou.

- Papai… Sei que não deveria ter roubado. Sei que não deveria ter traído minha promessa, mas foi por uma causa nobre. Estou com meus poderes novamente. Poderei provar, mais ainda, que não preciso de ajuda. Que sou capaz de me defender sem precisar de ninguém. Espero que entenda meu lado… Mas será que fui egoísta? Aranha… O que vai dizer quando souber que foi o Rei quem “me deu” os poderes? Outra briga? Ele parece não aceitar a ideia de me ver enfrentando pessoas para resolver meus trabalhos. Tem medo de que aconteça algo de ruim comigo. Mas agora estou mais confiante. Pode vir o Tarântula e qualquer outro inimigo dele que queira se vingar tentando me matar. A boa e velha Gata Negra está de volta. Velha nem tanto, porém… Ahahah! Uma estrela cadente! Não, deve ter sido impressão… Vou ligar o computador e iniciar a impressão das provas. Não sei o que farei com elas, mas contra o Rei sempre é bom ter um trunfo. Lentes, garras, gancho, movimentos sobre-humanos e poder do azar, também.”

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