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Gata Negra #51: Nascimento e Partida

Gata Negra #51: Nascimento e Partida

Nasce o filho de Felicia Hardy e Peter Parker! A vida da ladra se torna mais complicada quando começa a suspeitar de uma pessoa muito próxima a ela... Carol e Julia vão para uma missão no Canadá, deixando uma Gata Negra desprotegida! E mais um esclarecimento para piorar toda a situação...

S.H.I.E.L.D., Metrópolis

CTI, corredor hospitalar.  

Os últimos meses não foram tão gratificantes para Felicia Hardy. Tampouco, relembrar esses fatos que a deixaram mais conturbada do que o de costume.   

Não apenas uma gravidez de risco – indesejada? – ou as recentes descobertas sobre o próprio passado, envolvendo ninguém mais, ninguém menos, do que a maior inspiração da sua vida: seu pai.   

Nesse tempo que se passou, Felicia ficou alternando internações, exames e outros processos de saúde com o isolamento. Não mais saía para nada.   

E isso a deixava desesperada; ela não gosta de ser domesticada. E ela sentia falta de Ben Reilly, um consolo para matar as saudades que sente por Peter Parker.   

Não mais realizava, sequer, tarefas internas. Contrariando as ordens dadas por Nick Fury, quando a “convidou” para ingressas ao corpo de agentes da S.H.I.E.L.D..   

Poucas eram as vezes que Carol e Julia podiam passar algum tempo com a ladra. Psicólogos afirmavam que Felicia não estava em condições de manter contato com vigilantes; isso instigaria sua vontade de fugir, podendo, até mesmo, ocasionar um aborto inesperado.   

Mas hoje, quando Felicia comemora seu sétimo mês de gestação, houve uma pequena celebração no seu quarto daquele corredor onde está a unidade hospitalar da S.H.I.E.L.D..   

Balões, bolos, música alegre e os agentes mais próximos entregavam presentes coloridos, de várias cores; Felicia só quer saber o sexo do bebê quando nascer.   

Quando ficou sozinha novamente naquela CTI, pôs-se a alisar a barriga e conversar com a criança que carregava no ventre. Palavras carinhosas e de um futuro lindo, mágico, ao lado do pai, como uma verdadeira família feliz.   

Mas ela sabe que isso e impossível. Ela sabe que Peter está com alguém nesse momento. Sabe que ele nunca teve peito para encarar um relacionamento com um mulher tão independente assim. Só que ela nem imagina o que vai acontecer quando ele descobrir que é pai, e que Felicia omitiu esse fato por quase... um ano!   

“Na verdade eu imagino sim. Vamos discutir, brigar, talvez até sair no tapa de novo. Eu vou tentar me explicar, El vai dizer que sempre tenho uma desculpa pras coisas que faço, pode até insinuar que eu quis dar o golpe da barriga... Vai me ofender mais e... e...”   

- Surpresa! – gritam Carol e Julia, na mesma hora, que entram no quarto carregando diversas caixas, de vários tamanhos.   

Felicia sorri e se senta na cama.   

- Rachel te mandou desenhos...  

- Como está, amiga?  

- Precisa mesmo responder?  

- Ah, Felicia, relaxa!  

- Relaxa, Carol? Estou criando raízes aqui. Devo ter perdido toda a minha elasticidade, agilidade, por ficar encravada nessa cama de hospital!  

- Me deem notícias, pelo amor de Deus! Como está o Aranha? O que está acontecendo lá fora?  

- Olha, amiga...  

- Felicia – Hicks, que carrega um laptop – Você sabe que está proibida de obter informações externas, não? Inclusive, de acessar os arquivos, usar computadores...   

As três se olham, debochando.   

- Nem posso saber do tempo? A previsão, oras. Se faz sol, frio...?  

- Já disse que não.  

- Tá. As meninas trouxeram presentes. Esse computador é para meu neném?   

Hicks, com cara feia, coloca o laptop na mesa.   

- Julia, Carol, preciso falar com vocês. Agora. – e sai do quarto.   

As duas se aproximam.   

- Felicia, promete que vai ficar bem!  

- São só mais alguns dias, amiga.  

- Parecem uma eternidade...  

- A gente vai ver o que Hicks quer e retorna pra conversar, ok?  

- Ô...   

Julia e Carol saem, deixando uma Felicia perplexa. Uma Felicia sem aquele brilho nos olhos. Sem aquele sorriso destruidor de lares estampado na face. Sem... alegria.   

Sala de Comunicações, S.H.I.E.L.D.

Carol e Julia entram na sala e se sentam ao lado de Hicks, que analisa alguns mapas holográficos que surgem como se saíssem do monitor instalado na tampa de vidro da mesa.   

- Recebemos contatos de nossa célula no Canadá. Segundo o material, houve registro de ações alienígenas perto da região dos Grandes Lagos.  

- Ações alienígenas?  

- Correto, Carol. Nãos abemos a procedência nem o que vieram fazer; não há confirmações de atos letais, sequestros ou coletas de material... humano ou não.  

- Interessante...  

- O senhor deseja que...  

- Que você e Julia cruzem a fronteira e analisem esses dados. Aqui está a localização. – e aponta no mapa holográfico.  

- Sam Hicks, não há nenhuma equipe lá que possa realizar essa tarefa? Ou outros agentes de campo da S.H.I.E.L.D.?  

- Está me dizendo que devo fazer?  

- Não, senhor. Apenas tentei ser prática.  

- Prática? Julia, praticidade não existe na S.H.I.E.L.D. se existe uma possibilidade de uma invasão.  

- Invasão, senhor? Como disse há pouco, nem se sabe...  

- Arriscar. Esse verbo também não existe aqui.  

- Entendo, mas para que remover herois quando se tem pessoal nas cercanias...  

- Eu sou o chefe. Eu tomo as decisões.   

Carol e Julia engolem a seco.   

- Vocês embarcam em duas horas. Preparem os uniformes, passem na Central para recolher os dados e se dirijam ao terraço 3 para embarcar. Alguma dúvida?  

- Felicia vai nos guiar?  

- Não.  

- O que fazer em caso de confirmação de eminência extraterrestre?  

- Sim, devemos atacar, avisar à base, buscar reforços, analisar...  

- Entrem em contato comigo, detalhem-me a situação e, assim, tomarei as decisões cabíveis. Estão dispensadas.   

Sozinho na sala, Hicks sorri e pega um aparelho telefônico do boldo do paletó.   

- Tudo resolvido. Pode passar para a segunda parte.   

CTI, corredor hospitalar, S.H.I.E.L.D.

Os olhares de Felicia se voltam para aquele computador portátil distante poucos metros de onde está deitada.   

“Hicks deve estar bem distraído mesmo... ou então...”   

 - Felicia! – quase gritando Carol desperta uma pensativa ladra.  

- Se eu não perdi meu filho, eu perdi 4 vidas.  

- Desculpa, mas é que...  

- Nossa, amigas, por que estão com essa cara?  

- Hicks! – dizem ao mesmo tempo.  

- O que ele aprontou dessa vez?  

- Nos mandou para uma operação no Canadá!  

- Canadá? Poxa... depois do Caribe e de rondas por lugares belíssimos... cês vão pro Canadá?!   

As três não conseguem se segurar e sorriem.   

- Ele quer que realizemos uma investigação sobre traços extraterrenos que registraram na fronteira dos Estados Unidos com o Canadá, especialmente na região dos Grandes Lagos.  

- Vocês? Por que?  

- A gente também quer entender.  

- Justamente por ter equipes lá já. Ou por ter agentes da S.H.I.E.L.D. infiltrados.  

- Estão desconfiadas?  

- Pode ser impressão minha, mas parece que Hicks não nos quer por aqui.  

- Mas foi uma ordem de Nick.  

- Mas nós três sabemos que ele não mais coordena a S.H.I.E.L.D., não?  

- Só nós três sabemos. Ele continua coordenado de fachada.  

- Todos pensam que ele tá na chefia, mas na verdade...  

- Não podemos aproveitar isso?  

- Não. O coronel disse que estaria resolvendo problemas pessoais. Não sei se seria oportuno incomodá-lo com picuinhas internas.  

- Picuinhas internas? Eu continuo achando que tem algo de errado nisso tudo.  

- Como assim, Felicia?  

- Sei lá, eu também sou desconfiada, e, ultimamente ando muito mais. Tudo consequência daquelas malditas informações que recebi nos últimos meses a respeito de mim, do papai...  

- Por sinal, recebeu alguma outra?  

- Não. A última foi aquela sobre ele ter se casado por interesse, e nem quero lembrar...  

- Estranho. Você recebeu diversas mensagens praticamente seguidas... e depois meses não recebeu mais nada.  

- Será que o remetente se arrependeu? Ou morreu?  

- Não teria sido uma brincadeira de péssimo gosto?  

- Não... existem coisas que batem, como o lance do soro do super-soldado. Por isso estou, além de desconfiada, preocupada. Hicks esqueceu o laptop dele aqui.  

- Esqueceu ou “esqueceu”?  

- Isso que me questiono. Ele deixou bem claro que estou proibida de acessar qualquer tipo de meio de comunicação e, curiosamente, esquece um computador aqui. Computador esse que deve ter acesso à rede.  

- Você falando isso... ele nos mandando para uma missão que, acredito eu, nem seja da jurisdição dele... parece que ele quer que você fique sozinha.  

- Ele deve nos achar uma má influência...   

As três dão uma gargalhada.   

- Eu vou ficar de “grilo falante” nessa operação?  

- Não...  

- Ainda bem que fui comprar presentes.  

- O que isso tem a ver, Carol?   

Carol pega uma pequena caixa, misturada com as outras, e entrega para Felicia.   

- Não sabemos o que vai acontecer. Então... tome isso – entrega um pequeno aparelho cinza, com um botão azul, no centro.   

- O que é isso?  

- Uma espécie de alarme. Se qualquer coisa estiver acontecendo com você, aperte esse botão. Receberemos um sinal e voltaremos imediatamente.  

- Você pensa em tudo, né Carol?  

- Às vezes. E em quase tudo.  

- Promete que vai ficar bem, amiga?  

- Vou tentar.  

- Promete que não vai descumprir as ordens de Hicks?  

- Tentarei.  

- Promete que não vai mexer naquele computador?  

- Isso eu não garanto.  

- Felicia...   

Suspiro.   

- Tá bom, vou tentar. E vocês, se comportem lá!   

Beijos e despedidas.   

Mais uma vez Felicia fica sozinha no quarto. Seus olhos voltam a mirar o computador. A porta de acesso ao cômodo. O computador. A porta...   

Hangar 3, S.H.I.E.L.D.

Com os uniformes negros, Ms. Marvel e Arachne embarcam na aeronave com destino ao Canadá. O piloto, já posicionado, aguarda que elas sem acomodem.   

- Por que não fomos voando?  

- Correção: por que eu não fui voando e você pegando carona?   

Risos.   

- Felicia raciocinou certo, Carol.   

Carol faz um gesto para que Julia não comente nada e aponta, em seguida, para o piloto.   

- Bom, vamos ver o que está acontecendo no país vizinho...   

CTI, corredor hospitalar, S.H.I.E.L.D.

A mão coçou. Coçou.   

O suor escorreu pela testa.   

As pernas tremeram.   

O silêncio a deixava excitada.   

Num salto ela saiu da cama e chegou ao computador de Hicks.   

“Ah, não! Se eu acessar com meu nome de usuário e senha, saberão que eu estava navegando pelos arquivos...”   

Mesmo assim ela levanta a tampa e tem uma surpresa: está conectado e um programa executado: logaritmos, dados, números e nomes que ela não compreendia.   

Em pé, com um olho na porta e outro na tela, Felicia alongou os dedos. Ruído dos ossos. E passou a digitar.   

A barriga já pesava e se batia na cadeira.   

E na sua caixa do correio eletrônico, onde ela finalmente chegou, um e-mail novo.   

Agora seu corpo todo tremulava. O suor escorria mais. A mão coçada desesperadamente. E o silêncio a deixava desesperada.   

Seu coração disparou quando começou a ler o conteúdo daquela mensagem.   

“Operação Super-Soldado. Arma VII. Modus Operandi. Blá, blá, blá, blá... O uso da fórmula secreta em doses anuais, blá, blá, blá... Injetadas em comprimidos para serem transportadas como aspirinas... blá, blá, blá... Felicia vem respondendo bem, mesmo ainda bebê, aos estímulos e à dosagem. No aniversario de um ano ela teve febre, blá, blá, blá... Aos 14 anos foi a pior crise, consequência da puberdade... blá, blá, blá... Necessário realizar exames detalhados do sangue e do DNA para confirmar alterações moleculares...”   

Felicia não termina de ler a mensagem. Ela já entendeu. Nesse e-mail, o mais recente depois de meses sem notícias, revelava que o pai dela a teria usado como cobaia num experimento para criar um novo super-soldado.   

Ela começa a juntar as peças das outras informações recebidas.   

Seu coração dispara. Sua visão fica turva.   

Cambaleando, ela chega até a cama, pega o aparelho e dispara o sinal de emergência.   

Suas pernas estão encharcadas.   

Ela grita desesperadamente.   

Começa a perder a coordenação motora, o controle sobre o corpo. Vai caindo, caindo...   

Ela vê médicos e enfermeiras entrando na sala antes de seus olhos fecharem.   

Na escuridão, ela escuta o choro de uma criança.   

***

Na próxima edição: Não apenas comemorações marcam o nascimento do filho da Gata Negra e do Homem-Aranha! O coronel Fury chega a Metrópolis para cumprir o acordo feito com Felicia! Ms. Marvel e Arachne vão para NY levar notícias para a mais nova avó de Manhattan, mas se deparam com... Venom?! E qual a relação de Hicks com as informações que chegam para a ladra? Tudo isso e muito mais em Revanches e Soluções!

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