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Gata Negra #47: Príncipes e Generais

Gata Negra #47: Príncipes e Generais

Carol e Julia encontram manifestações estranhas no Mar dos Sargaços e salvam... Namor? Silver Sable e o Estrangeiro finalmente se reúnem com o general Lane! E Felicia descobre que o pai dela não morreu de câncer e sim... foi envenenado! 

S.H.I.E.L.D.

Felicia se levanta da cadeira. Sutton a olha, friamente. Na cabeça da ladra, a busca por uma situação salvadora.   

Ela, então, coloca a mão direita na testa e revira os olhos.   

- Sem artimanhas, Felicia. Fingir um desmaio não vai funcionar.   

Felicia, desgostosa, se senta novamente.   

- Eu não tinha a  intenção de desautorizar o senhor.  

- Sem ironias.  

- Um sinal surgiu na minha tela, e por reflexo eu...  

- Não me interessa. Sua obrigação era anunciar ao Serviço de Triagem de Manifestações e Anomalias, para que fosse dada alguma ordem.  

- Desculpe, Sutton.  

- Agora é tarde. Carol e Julia estão chegando ao Mar dos Sargaços.  

- Tente entender o meu lado, Sutton.  

- Não quero essa conversa novamente. Você sabe que é uma vítima em potencial. Está fragilizada, esteve em coma,  destruiu equipamentos, tem uma gravidez misteriosa, os testes revelaram alterações no seu...  

- Chega! – Felicia interrompe – Minha cabeça está girando!  

Sutton pega uma cadeira e se senta ao lado de Felicia.   

- Seu acesso aos nossos arquivos já foram normalizados.  

- Eu percebi.  

- Sobre isso que quero conversar com você.   

Sutton exibe uma pasta de papel grosso e de cor marrom.   

- Você sabe que cada computador desta instalação possui um IP, não?  

- Todos os computadores do mundo possuem.  

- Sabe que você tem uma senha exclusiva, não?  

- De fato.  

- Seus registros no Computador Central revelaram o que você fez na nossa rede.  

- O que isso quer dizer?  

- Quer dizer que sei o que você está pesquisando.  

- Não gosto muito do Google...  

- Isso é assunto sério, Felicia. Você teve acesso a dados, digamos sigilosos, sobre várias pessoas. Incluindo...  

- Incluindo meu pai.  

- Incluindo seu pai.  

- O que há de mau nisso?  

- Qual sua função aqui?  

- Tá, não é fuçar vidas alheias.  

- Só quero que você tenha cuidado para não descobrir o que não gostaria... caso haja algo.  

- Olha, Sutton, faz parte da minha natureza.  

- Exatamente por isso vou poupar seu trabalho.   

Sutton entrega a pasta para Felicia. Receosa, ela olha o material por fora, sem abrir. Seus olhos passeiam pelo símbolo da S.H.I.E.L.D. e pela marca d’água de “confidencial”.   

- O que é isso?  

- Os últimos registros arquivados que a S.H.I.E.L.D. possui.  

- Quem garante?  

- Ninguém.  

- E por que está me dando?  

- Se tem que saber algo, é preferível que saiba através de uma fonte confiável. Os computadores não são seguros.  

- Nem os da S.H.I.E.L.D.?  

- Se precisar conversar, me procure.   

Sutton se levanta e sai da sala, deixando uma Felicia espantada, porém curiosa. 

Oceano Atlântico Central

Coordenadas: 26° 372 45" N, 70° 532 1" W

A cena no céu que ninguém presencia é resultado de treinamentos exaustivos. Arachne, com uma grossa teia enroscada na cintura de Ms. Marvel, surfa no ar.

- Se você me chamar de prancha mais uma vez, juro que te atiro aos tubarões!  

- Confessa que gostou, amiga! Viu o tempo que ganhamos?  

- Se segura!   

Carol aumenta a velocidade. Gira o corpo, fazendo manobras radicais. Julia se segura firmemente, enquanto se equilibra sobre as costas e o quadril da parceira. Gargalhadas.   

- Felicia vai morrer de inveja!   

E um voo rasante sobre as águas quase cintilantes.   

- Sabe o que falta, amiga?  

- Diz.  

- Música! Algo tipo Jack Johnson!  

- Cala essa boca, Julia!  

- Depois disso aqui vou estar pronta para aquelas ondas gigantescas do Havaí.  

- Pela nossa localização e velocidade, em breve chegaremos lá, hahaha!  

- Sabe onde estamos?  

- Em algum lugar entre A Flórida, Porto Rico, Bahamas e... Bermudas!?   

Ao concluir a frase, uma tromba d’água atinge a dupla, que se separa devido o impacto.   

Embaixada Simkarya

Uma luxuosa cama. Grande. Música clássica. Aromas de incensos raros do oriente. Um balde, 3 garrafas de champanhe. 2 taças ao chão, sobre o fino tapete persa.   

Na cama, o Estrangeiro está deitado, com os braços cruzados, apoiando a cabeça. Olhos fechados.   

Do banheiro sai Silver Sable, envolta num roupão branco e felpudo. Cabelos molhados lhe caem aos ombros.   

- Eu imaginava que isso iria acontecer.   

Estrangeiro abre os olhos.   

- Não te forcei a nada. Nem te hipnotizei.  

- Também confesso que depois de muito tempo, meu corpo reconhece o seu.  

- Venha – diz Estrangeiro, batendo a palma da mão no colchão – Sente-se.   

Silver Sable caminha suavemente, desfazendo o laço do roupão e abaixando a gola. O Estrangeiro senta, se encostando na cabeceira da cama.   

A porta da suíte é aberta bruscamente. O olor se desfaz com a espessa fumaça de um charuto cubano. Silver Sable e Estrangeiro se recompõem rapidamente. Quando a névoa branca se dissipa, os amantes se assustam com a grande presença parada à porta.   

- General Lane?!   

Os passos pesados – consequência do coturno – abafam a ópera. Segurando o charuto, o general senta numa cadeira pertencente a algum rei europeu.   

- Não se vistam – Estrangeiro e Silver Sable se olham – Só quero dizer que enquanto vocês relembram a época de casados, o plano não está em andamento.   

Silver Sable se levanta, arrumando o roupão e os cabelos.   

- Discordo, general. Mais uma peça acabou de ser encontrada por Felicia.   

O Estrangeiro se levanta, nu, se enrola da cintura para baixo com o lençol egípcio, anda até o bar e pega uma garrafa de uísque.   

- Servido, general?  

- Dupla, 3 pedras.   

Lane deixa o charuto queimando para que se apague, enquanto se serve da bebida.   

- Interessante. Qual o próximo passo?  

- Precisamos de uma informação nova.  

- Quente. – complementa o Estrangeiro.  

- Por que? – questiona Lane.  

- Não temos motivos suficientes para que Felicia...  

- Ela parece estar muito bem amparada na S.H.I.E.L.D., general.  

- Vocês precisam agir. Temos que resgatar Felicia o mais breve possível.  

Café, Metrópolis

Lá está ela. Sozinha. Como em quase toda a sua vida. Cabeça baixa, olhar perdido. A pasta marrom sobre o colo. À mesa, café já frio, petiscos não mais crocantes. O sorvete misturava-se à calda.   

“Não acredito. Em nada. Na minha vida. No meu sentimento. No meu pai! Tô quase concordando com a mamãe. Devia mesmo ter sido uma patricinha. Seguindo os caminhos do luxo e do mundo supérfluo. Tentei dar uma razão para minha vida. Fazer algo que me fizesse bem. Mas a verdade é que eu nunca me encontrei. Não tenho respostas. São tantas perguntas! Ninguém ao meu lado. Ninguém...”   

- Ninguém o quê? – uma voz inesperada.  

- Ben – Felicia se levanta e o beija à boca – Está lendo meus pensamentos?  

- Você falou “ninguém” em voz alta.  

- É um mantra...  

- Não me engane.  

- Quer tomar algo?   

Ben faz um sinal e a garçonete se aproxima.   

- Senti falta desse casal! Nossa, como sua barriga cresceu! Bom, o de sempre?   

Ben balança a cabeça com um sorriso.   

- Que tá pegando, Fel?  

- Preciso sair da S.H.I.E.L.D..  

- Hã? A gravidez lhe tirou o juízo? O pouco juízo que você tinha?  

- Bobo!   

Ben segura a mão de Felicia.   

- Tou numa fase péssima.  

- Faltam alguns meses.  

- Me refiro à S.H.I.E.L.D....  

- Que houve?  

- Além de ter recebido bronca do meu superior eu... eu...  

- Não me diga que andou mexendo nas gavetas outras vez?  

- Mais ou menos.  

- ...  

- ...  

- ...  

- ...  

- Sem broncas, Ben.  

- O que tem aí?   

Felicia aperta a pasta com força, amassando-a.   

- PeloamordeDeus, o que tem aí?   

A garçonete, sorridente, coloca os pedidos na mesa. E antes de qualquer gracinha, percebeu o pesado clima e se afastou logo...   

- Fala, Felicia. Eu tô aqui!  

- Meu pai...  

- Novamente ele! Fala de uma vez, sem respirar!   

Felicia se derrama em lágrimas e num choro silencioso.   

- Meu pai não morreu de câncer, Ben, como foi diagnosticado. Ele morreu por uma droga chamada modafinil.  

- Quéisso?  

- Foi descoberta pro franceses no fim da década de 70 para combater a fadiga e a sonolência. Então, meu pai foi contaminado por isso.  

- Mas como isso foi possível?  

- Nem médicos, fabricantes e especialistas sabem exatamente como é sua ação no cérebro humano. Qualquer coisa pode ter acontecido.  

- Felicia, eu...  

- Não me deixe, Ben – mais lágrimas – Preciso de você!  

Triângulo das Bermudas

Enquanto Julia vai na direção do mar, Carol é bombardeada por dezenas de trombas d’água, sem conseguir se esquivar ou cair no oceano.   

Com a cabeça na superfície, Julia projeta teias que ficam ao redor do pescoço, como boia, batendo as pernas e pensando numa estratégia.   

Violentamente seu corpo é tragado para o fundo do mar, e como num rápido e último ato, as teias viram uma circunferência e lhe protegem o rosto, cobrindo-o. ela consegue respirar mesmo estando submergida, mas não enxerga nada além dos fios rosa.   

No céu, projetando energia, Carol explode aquele que foi o último fenômeno natural que iria lhe atingir. Em seguida, pôs-se de cabeça para baixo e acelerou, perfurando as antes calmas águas da região.   

Julia tentava voltar para cima, ao tempo em que Carol, incrédula, via três seres desconhecidos, puxando as pernas e braços da aracnídea.   

Três mulheres de pele alva, cauda de peixe, mas tesas como cristais, cabelos transparentes e feições finas, com os seios à mostra. Nas costas, barbatanas que pareciam a ponta de um iceberg.   

Um novo impulso e Carol rasgou a água, emergiu, respirou e voltou como um raio. Julia, chutando às cegas, respirava com dificuldade pelo fim do oxigênio e por sentir... frio!   

Ao se chocar contra o mar, disparando raios, Ms. Marvel chamou a atenção dos seres desconhecidos. Por reflexo, as 3 se voltaram à agente especial da S.H.I.E.L.D..   

Livre, Julia voltou a respirar ao ver o sol e não entendeu como havia tromba d’água sem tempo ruim. Olhou para baixo e viu a parceira recebendo golpes gélidos e cortantes das agora inimigas. Ela não sabe o que fazer.   

Enquanto isso, Carol tentava voltar para a superfície, mas suas pernas estavam congelando. Seus olhos ficavam pesados e seus pulmões, vazios.   

Eis que uma energia radiante corta a horizontal do Mar dos Sargaços, transformando as mulheres em pó, como flocos de neve, e libertou as pernas de Ms. Marvel.   

Nesse instante, teias se enroscaram nos braços de Carol e a levaram para cima.   

Ofegantes, apenas se acalmaram, olhando as poucas pedras que saem das águas.   

- Olhe... ali... – diz Julia, apontando.  

- Meu Deus...! É... Namor!   

Em poucos segundos as duas se aproximam dele. Observam os ferimentos – alguns graves – e admiram aquele corpo musculoso e com poucas vestes, sendo apenas uma saia verde com detalhes metálicos, como escamas.   

- Precisamos acionar o resgate.  

- O equipamento não mais tem serventia.  

- O que faremos? Vamos esperar aqui? Ir para Atlântida?  

- Julia, eu nem sei como chegar lá!  

- Calem-se – uma voz que fez com que os ossos das agentes se batessem.  

- Namor... você está bem?  

- Claro.   

Orgulhoso, o Príncipe Submarino parece se levantar, mas cai instantes depois.   

- Você precisa de ajuda.  

- Quem eram aquelas... coisas? 

- Calem-se!   

As duas se olham, enfezadas.   

- Onde estão as suas boas maneiras monárquicas? – pergunta Carol, que deixa Julia tensa.   

Namor treme de dor.   

- Engula a sua arrogância!   

Julia se preocupa.   

- Isso está acontecendo... o ataque das sereias polares... por culpa de vocês da superfície!  

- Da gente? – Julia deixa escapar a pergunta.  

- O mundo submarino – fica em pé – está em guerra!  

S.H.I.E.L.D.

No quarto, Felicia não esconde as olheiras, o nariz vermelho e a cara inchada por tanto chorar.   

Anda de um lado para o outro, apertando a medalha da coleira, mexe os cabelos, faz o mesmo movimento como se acionasse as garras...   

Então ela corre até seus pertences, e de um compartimento secreto, retira uma ampola com conteúdo verde. Brilhante.   

Escondendo-a entre os seios, ela corre até o laboratório.   

“Vazio.”   

Felicia pega a ampola e vai ao computador de experimentos. Abre cuidadosamente o frasco e com uma espécie de conta-gotas retira uma pequena quantidade do liquido fluorescente.   

“Não sei por quê tou fazendo isso. Se bem que nem preciso de motivos parta saber se o que eu tenho é feito da mesma coisa disso daqui: do soro do Duende Verde!”

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