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Gata Negra #44: Divisão e Inconsciência

Gata Negra #44: Divisão e Inconsciência

Carol e Julia chegam à Costa Rica, de onde iniciam o primeiro trabalho à mando da S.H.I.E.L.D.: desmantelar uma organização internacional de tráfico de seres-humanos! Felicia, em Metrópolis, descobre que seu pai não é quem ela sempre pensou e amou!

Sala de Comunicação, base da S.H.I.E.L.D., Metrópolis

Tensa. 

As últimas informações sobre o próprio pai ainda não foram digeridas. 

Se John Harmon era seu pai, quem era, então, Walter Hardy? 

Andando de um lado para o outro. Trocando as posições das cadeiras. Mexendo nas persianas de cores escuras. 

Ansiosa pela chega de Hicks. 

Ele vai entregar as informações sobre seu pai. 

“Mas quem é o meu pai?” 

As unhas arranham a mesa. Os dentes mordem os lábios. 

Não foi fácil pedir pro agente Hicks que imprimisse essas informações. Não que não posse possível passar os dados, afinal ela teve acesso para ler. 

O que foi motivo de negação foi o fato de Felicia descobrir coisas novas. 

E com isso, sua vida piorar. E em consequência, a vida do filho que carrega. 

A porta é aberta. Felicia se levanta num pulo. O agente Hicks segura, na mão esquerda, um envelope branco, com o brasão da S.H.I.E.L.D.. 

- Felicia... 

- Hicks, eu não aguento mais. 

- Espero que você tenha total consciência do que está fazendo. 

- Você quer que minha vida seja uma eterna mentira? 

- Para quê revirar o passado? 

- Me dê o envelope. 

O agente se senta à mesa e coloca o envelope perto de Felicia. 

- Você será responsável por qualquer coisa que aconteça assim que ler o conteúdo desse papel. 

- Sempre assumi meus atos, Hicks. 

- Você ainda tem uma chance. 

- Devia ter pensado nisso quando me deu quase acesso irrestrito aos arquivos da S.H.I.E.L.D.. 

- Vasculhar a vida de seu pai não era função sua. 

Felicia olha irritada. Ela pega o envelope e se levanta. 

- Felicia. 

Ela para e não olha pra trás. 

- Não esqueça de que em algumas horas, Carol e Julia embarcam para a missão em Costa Rica, e você terá que auxiliá-las. Fui claro? 

Felicia sai da sala e bate a porta. Sentado, Hicks sorri. 

Ginásio de Treinamento, S.H.I.E.L.D. 

Sentadas exatamente no círculo de onde se inicia uma partida de basquete. 

Carol, Julia e Rachel, de mãos dadas. Passaram-se alguns minutos de extremo silêncio. 

Até que Carol se levantou. 

- Vou arrumar nossas coisas, Julia. 

A amiga balança a cabeça. 

- Rachel, você quer algum presente de lá? 

A menina olha, desconfiada. 

- Não queria que vocês fossem, tia Carol. Tem tanto tempo que não fico com a mamãe! 

- Não se preocupe, menina! A viagem vai ser rápida. E tia Felicia vai ficar tomando conta de você! 

- Mas eu prefiro a mamãe! 

Carol sorri, beija a testa de Rachel e deixa as duas sentadas. 

Ela sabe que está sobrando. 

- Filha... É uma viagem de trabalho. O banco precisa que a gente veja alguns contratos lá. Em pouco tempo a gente volta. 

- Quanto é pouco tempo? 

- Alguns dias. Menos de uma semana, espero. Trabalhar com dinheiro é algo muito complicado. 

- Mais complicado do que trabalhar como herói? 

Julia não consegue prender e risada. 

- Acho que sim, filha. Lidamos com gente pior do que bandido. 

- Dinheiro não é bom? 

- Sim, mas ser honesto é mais importante. 

- Quando eu crescer vou trabalhar num banco! 

- Você vai viajar bastante! 

- Promete que não vai demorar? Promete mesmo? 

- Prometo. Mamãe alguma vez deixou de cumprir alguma promessa pra você? 

- Nunca! Nem naquele dia lá no porto, em Nova York. 

Julia treme. 

- Aquilo já passou, meu amor. Não pense mais nisso. 

Rachel sorri. 

- Vem, vem me ajudar a arrumar as malas. 

Express Café, Metrópolis

Felicia já estava sentada na mesma costumeira, com o envelope no colo. Os pés batendo ao chão e os joelhos se chocando um com o outro denunciavam a angustia. 

A todo instante a Gata Negra olhava pra porta de acesso ao Café, na esperança de que Ben chegasse logo. 

Ele demorou o tempo suficiente pra Felicia pedir a quarta xícara de café. Sem cafeína. 

Então Ben chega, esbaforido, sentando rapidamente ao lado de Felicia. 

- Vim o mais rápido que pude. Até me balancei. Não, não me balancei no sentido de dançar, me balancei no sentido de... 

Felicia olhava com expressão séria pra ele. 

- O que aconteceu? 

Felicia coloca o envelope sobre a mesa. 

- O que é isso? Sua carta de demissão? 

- Pare, Ben. Aqui estão os arquivos sobre meu pai. 

- Como assim? 

- Depois que você me contou sobre a crise em NY e em Gotham, me vi impotente. Decidi, então, pesquisar sobre a vida de meu pai. 

- Seu pai? O que ele faria de tão importante pra ter uma ficha na S.H.I.E.L.D.? 

- Esse é o problema. Ainda não li o que tem aí. 

- Então por que está tremendo? 

- Porque quando digitei o nome dele, não constou nada nos arquivos da S.H.I.E.L.D.. 

- Qual o problema nisso? Ele então não deve ter feito nada de excepcional pra ter uma ficha lá. 

- Quando eu digitei o meu nome, saiu o seguinte resultado: Felicia Hardy, filha da milionária Lydia Hardy e do militar John Harmon. 

- Eu ainda não entendi... 

Felicia começa a chorar. 

- O nome do meu pai é Walter Hardy! 

Ben arregala os olhos. As lágrimas rolam pelo rosto da gatuna, incessantemente. Ele se aproxima mais e faz carinhos na cabeça, rosto e cabelos. 

- Ele mentiu pra mim, Ben! Não... ele quem? Quem mentiu pra mim? Quem é Walter Hardy? Quem é John Harmon? De quem eu sou filha? 

Constrangido, Ben não sabe o que fazer. Não apenas por ele não ter conhecimento sobre a vida pessoal de Felicia, mas também por saber que a própria vida que leva é uma mentira. 

- Fale alguma coisa! – diz Felicia, num tom mais alto. 

- Calma, precisamos pensar. Temos que ver as hipóteses.... 

- Mané hipóteses, Ben! 

- Calma, Felicia. Se esse tal Harmon for seu pai, o Hardy pode ter te adotado! 

- Adotado? 

- É. Vai ver ele casou com sua mãe, que tava grávida, não sei. 

- Que besteira! 

- Besteira? Então você pode acreditar que seu pai usava um nome falso. 

- Ben, não piora as coisas. 

- Tô apenas tentando te ajudar. Não foi pra isso que me chamou? 

- Chamei porque preciso de um abraço. Eu não vou aguentar a verdade sozinha. Tou grávida, meu filho pode morrer, me sinto presa, inútil, Peter não sabe que vai ser pai, fui excluída de uma missão na América Central... e acabo de descobrir que sou filha de John Harmon. John Harmon! 

Ben se levanta e pega um copo com água e açúcar. Felicia soluça e até a maquiagem no rosto já está toda borrada. 

- Beba... 

Felicia toma um gole. Respira fundo. 

- Preciso que você leia o que tem escrito aí. 

- Pra quê? Quer se machucar mais? Você está sofrendo e... 

- Faça o que eu estou dizendo! – quase gritando. Por sorte, o Café estava vazio... 

- Olha Felicia – diz Ben enquanto pega o envelope – Você não está pensando na sua saúde e nem no que pode acontecer com seu filho. 

- Eu preciso saber. Meu pai é a minha fonte de energia, eu me espelhei nele. Ele é a minha vida. 

- E se o que tiver aqui não bater com suas expectativas? 

- LEIA!

Ben abre o envelope e retira a única folha que tem dentro. Ela também tem a marca d’água da S.H.I.E.L.D.. 

Os olhos do companheiro bailam pelas linhas onde estão digitadas as informações que podem mudar a vida de Felicia. 

Ele abaixa a folha e encara a ladra. 

- E então? O que diz aí? 

- Não muita coisa. John Harmon foi um agraciado militar – não diz a patente dele – que atuou na guerra do Vietnã. Ele saiu de lá como heroi por ter recuperado algo das forças inimigas, mesmo sendo acusado de traidor. Casou com Lydia por ela ser de família rica e influente, facilitando assim que John não fosse detido. 

- Ele saiu como herói, mas acusado de traidor? 

- Também não entendo, mas é o que tem aqui. Talvez ele não tenha dado o que recuperou de volta ao exército norte-americano, por isso, a traição. 

Os olhos de Felicia brilham por causa das lágrimas. 

- Walter Hardy? Quem é? 

- Não há informações sobre ele. 

- Você estava certo. Ou fui adotada, ou meu pai mudou de nome. 

- O que pretende fazer? 

- Voltar para a S.H.I.E.L.D.. Acabei de lembrar que vou coordenar uma missão de Carol e Julia em Costa Rica. 

Felicia se prepara para levantar da mesa. 

- Felicia... 

Ela olha pra Ben. 

- Espera. 

Ben se levanta e se aproxima. 

- Você está bem? 

- Estou ótima. 

- Não minta. 

- Estou ótima. 

Ben a beija. 

- Me mantenha informado de todos os seus passos, Felicia. Não quero te perder. 

Felicia pega o papel sobre a mesa, o guarda no envelope e sai do Café. 

Standard Savings of America Bank & Trust, Metrópolis

Entardecer. 

No terraço do prédio está a aeronave que vai levar Carol e Julia para a operação de combate a tráfico de seres-humanos na América Central. A porta de acesso a este último nível é aberta, e Felicia corre na direção das amigas, que estão na companhia de Hicks e outros agentes. 

- Amiga, pensei que não viesse se despedir da gente! 

- Desculpa, Carol, mas eu tava resolvendo um problema. 

- Que cara é essa? – pergunta Julia – Estava dormindo ou chorando? 

Felicia sorri sem graça. 

- Nada não. Então... animadas pra viagem? 

- Para o trabalho, você quis dizer. – interrompe Hicks. 

A ladra o olha feio. 

- Não via a hora de esse trabalho começar. – responde Carol. 

- Eu também. Por sinal, amiga, você toma conta de Rachel pra mim? 

- Lógico. Mas “ai” dela se me chamar de tia! 

As três dão risada. 

- Tem previsão de quanto tempo ficarão por lá? 

Hicks se afasta das meninas pra conversar com o piloto. 

- Uma semana, acreditamos. 

- Do jeito que estamos ansiosas pelo trabalho, vamos resolver o mais rápido possível! 

- Hum… que bom…

- Você vai ficar bem, Felicia? 

- Terei, amiga. 

- Você sabe que essa operação só vai ter sucesso se você estiver com a gente, indiferente de como vai atuar, né? 

- Mesmo chateada por não ir… poxa, eu não poderia ficar numa base lá? Sair daqui seria bom pra mim. 

- Mas aquelas escapulidas suas… não tão dando jeito? 

Felicia fica corada enquanto as amigas riem e tiram sarro dela, dando gritinhos e beliscando o braço da gatuna. 

O agente Hicks se aproxima e diz que está na hora de embarcar. Felicia abraça Carol e Julia, as duas entram na nave e a ladra, afastada, apenas observa o voo. 

“Que beleza. Sozinha de novo. E cheia de pensamentos perturbadores.” 

- Algum problema, Felicia? 

- Não, Hicks. Apenas não gosto de despedidas. 

- Sei. É melhor você ir pra sua sala e iniciar o contato com Carol e Julia. Não pode haver falhas na comunicação. 

- Sim… senhor. 

Felicia deixa Hicks e tem uma certeza: ela gosta muito mais de Nick Fury…

San José, Costa Rica

A viagem não foi rápida quanto o imaginado por Carol e Julia, porque, saindo de Metrópolis, numa aeronave da S.H.I.E.L.D., as duas desembarcaram na Base Militar Howard de Aviação, área do governo dos Estados Unidos, a oeste da Cidade do Panamá. Quando, na verdade, o plano era passar por Miami.

De lá seguiram, em veículo oficial, na direção do Aeroporto Internacional Tocumen, distante 24 quilômetros da capital do país. De onde, finalmente, pegaram um voo comercial com destino à San José, em Costa Rica. 

Isso, além dos documentos falsos, fazia parte da ação. Chegar sem estardalhaços ao desembarque final, como turistas norte-americanas comuns, que infestam o país tropical. 

Em menos de uma hora, desde que deixaram o Panamá, Carol e Julia eram recebidas, discretamente, por agentes da O.I.J. e pela secretária-geral da Corte, Silvia Navarro. 

A Costa Rica tem uma extensão territorial de 51.100 km², tem fronteiras com a Nicarágua, ao norte, e pelo Panamá, ao sul, além de ser banhado pelo oceano Pacífico e pelo Caribe. 

Foram levadas à Assembleia Legislativa de Costa Rica, no Parque Nacional, ao lado do órgão do TSE e próximo ao Museo Nacional do país. 

Antes de entrar na sala onde se reuniriam com o presidente, Oscar Arias, Julia puxou Carol pelo braço. 

- Ainda se lembra de como se comportar na frente de um homem que recebeu um prêmio Nobel? 

Carol dá uma risada alta, sendo repreendida pelo olhar de um agente da O.I.J.. 

As duas são recepcionadas pelo presidente. 

- Me sinto honrado em recebê-las, mesmo acreditando no uso da não-força para resolver este problema. 

- O orgulho é nosso, senhor presidente. Mas o uso da força é a nossa última opção, especialmente se nossas vidas correrem sérios riscos. 

- Perfeitamente. Infelizmente não vou poder participar dessa reunião, mas a senhora Navarro, sim. Além dela, Tomás Rodríguez, que ocupa o maior cargo da O.I.J. tem total confiança para responder por mim. Faço votos de que resolvam esse problema que afeta a vida das pessoas, e que é um crime contra a humanidade. Com licença. 

O presidente cumprimenta as duas e se retira. Carol e Julia olham, impressionadas, com tamanha educação e de como elas ficaram sem jeito com tanta politicagem. 

- Bom... 

- Sentem, por favor. – diz Silvia – Nossos homens da O.I.J. descobriram algo muito interessante. O plano de tráfico não é pensado por criminosos da América Central, e sim, por norte-americanos. Por isso vocês estão aqui. Além de saber como eles podem agir, são responsabilidades do seu país. Eles contratam nicaraguenses ilegais que vivem aqui para realizar o transporte de outros nicas – como chamamos quem vem da Nicarágua – hondurenhos, panamenhos, guatemaltecos, é até mesmo temos registros de costarriquenhos. Ao contrário do que foi informado antes, eles não apenas trabalham com agricultura e são levados para guerrilhas em países como México e Haiti. Também cruzam o Atlântico para trabalhar em prostíbulos e outros serviços em regime de escravidão. 

- Por que as autoridades locais ainda não agiram? 

- Boa pergunta. Além do fato de se tratar de terroristas internacionais – assim os chamamos – a O.I.J. não dispõe de tanto aparato, seja técnico ou de pessoal, para iniciar um combate. Por isso vocês estão aqui. O senhor Rodríguez agora vai adiantar o assunto tático. 

Silvia se senta. Carol e Julia apenas observam. 

- Senhoritas... O destino inicial deles é no rio San Juan, no distrito de Alahuela, nas proximidades da cidade de Los Chiles. Nesse ponto há diversos fatores que facilitam a entrada irregular desses imigrantes. O mais complicado é que há um conflito sobre a navegação fluvial. Essa questão envolvendo o San Juan começou em 1998, quando o então presidente da Nicarágua, Arnoldo Alemán, proibiu a navegação de policiais armados da Costa Rica. A Nicarágua tem a soberania sobre o rio, mas um tratado e um laudo do final do século XIX garante a livre navegação à Costa Rica para “finalidades comerciais e fiscais”. Desde então, o Exército nicaraguense reforçou o efetivo na fronteira, já que o governo costarriquenho recorreu ao Tribunal de Haia para resolver a questão. Assim que entram no nosso país, metade é levada pra uma rota alternativa, que vai até o Pacífico, por onde seguem de volta ao Caribe, para o Puerto Limón, ou, através do Puerto Caldera, no distrito de Puntarenas, eles cruzam o canal do Panamá. 

- E por que não intervir no momento em que vão da costa oeste para o leste? 

- Apesar de o país ser pequeno em faixa territorial, existem caminhos por entre as matas e regiões vulcânicas, as quais não são seguras para uma vigilância e ação. 

- Algum plano já traçado? 

- Sim. Vocês começam no rio San Juan e partem pra costa do Pacífico. De lá, retornam pro Caribe. 

- Nós somos duas, senhor Roríguez. Não podemos perder tempo. Uma vai para o rio e a outra pro oeste. 

- Concordo com Ms. Marvel, senhor. Nosso trabalho ainda será auxiliado por uma outra integrante, que está nos Estados Unidos, acompanhando nossos passos. 

- Assim seja. Venham. Quero que vocês sejam apresentadas ao outros que farão parte dessa operação. 

Escritório-dormitório de Felicia, S.H.I.E.L.D. 

Finalmente a conexão é estabelecida e Felicia começa a discutir o planejamento da missão. Depois de um resumo, ela está a par do trabalho, e já inicia a busca por mapas, estradas, rotas alternativas... 

- Tá calor aí, amigas? 

- Um pouco abafado. Mas o lugar é lindo, e compensa tudo.

- Como vocês estão sendo tratadas aí? 

- Muito bem. Só que nossas roupas escuras e as máscaras assustam um pouco. 

- Julia! Não acredito que a estreia do seu novo uniforme vai ser sem a minha presença?! 

- Ai, Felicia... eu...

- Deixa! Que inveja... Olha só, onde vocês estão agora? 

- A caminho da fronteira com a Nicarágua. Sobrevoando Monte Verde, um lugar lindo... Uma floresta, na verdade. 

- Felicia – diz Carol – Estou percebendo algo estranho na sua voz... Você esteve chorando? 

- Não quero incomodar vocês com uns problemas aqui. É coisa minha. 

- Diz logo. Apesar da distância, nós estamos com você. 

- Não me sinto bem... eu inventei de mexer no passado e descobri uma coisa horrível. 

- O que foi? Fala! 

- Coisas sobre meu pai... li nos arquivos da S.H.I.E.L.D. que meu pai não é meu pai. Entenderam? 

- Mais ou menos. 

- Tou me sentindo péssima... como se fosse traída pela pessoa que mais amo... 

- Olha amiga... 

- Você tem que ser forte... 

- Eu nem tô mais conseguindo me concentrar pra esse trabalho com vocês e... 

Enquanto Carol e Julia diziam palavras de consolo, Felicia empurrava a cadeira pra trás, com os pés. Ia se afastando da mesa, do computador e do comunicador. Ela coloca as mãos na barriga e chora. 

Seu pai a traiu. 

Ela suportaria isso de qualquer pessoa. 

Mas não de Walter Hardy. 

O homem que ela tirou da prisão para que pudesse morrer em casa. 

O homem que lhe ensinou a ser o que ela é hoje. 

Felicia ignorava as palavras das amigas. 

As mãos desciam e subiam pela barriga, pescoço, coxas... 

Então ela parou. Seu corpo começou a tremer. 

Ela não escutava nada, nem que as amigas gritavam por ela, preocupadas. 

Sua mão gelou quando ela sentiu algo... úmido. 

Ao olhar para a palma da mão direita, um grito aterrorizador. 

A visão ficou turva. A cabeça doía. 

Um corpo no chão. 

A saia estava manchada de sangue. Que não parava de escorrer do ventre. 

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