Pular para o conteúdo principal

Gata Negra #43: Verdades e Mentiras 1/2

Gata Negra #43: Verdades e Mentiras 1/2

Enquanto há encontros secretos, planos secretos e vidas secretas, Felicia vasculha o próprio passado e acaba descobrindo que a vida dela não é bem assim como seus pais contaram... Seria isso azar? Superstições à parte... 

Célula da S.H.I.E.L.D., Metrópolis 

Felicia estava quase se sentindo em casa. Não, não em casa. Na Cat’s Eye, seu escritório de investigação, antes de ser destruído. 

Mas era como uma casa. Na verdade, ela fez do seu escritório sua própria casa. Tinha uma cama confortabilíssima, banheiro – e uma hidromassagem – frigobar e microondas. Guarda-roupas e outros mimos que uma mulher como Felicia faz questão. 

E nesse cômodo, nas instalações da S.H.I.E.L.D., era como se ela estivesse vivendo no passado, o que, de uma certa forma, era reconfortante. 

A cadeira reclinável era brinquedo divertido enquanto a ladra lia dados naqueles monitores de plasma. 

Mas suas expressões revelavam que as notícias não eram tão divertidas assim. 

Seus olhos desciam a cada linha, parvos. A boca aberta e o suor lhe descendo a testa revelavam a tragédia que ela tomava conhecimento. 

E se sentia impotente. 

Novamente ela se perguntava sobre o futuro, enquanto alisava a já marcante barriga. 

“Saudade do meu abdome talhado... Terei eu um tanquinho outra vez? Ó céus!” 

Os dedos voltavam a tremer ao digitar e ao manusear o mouse. 

Nem das próprias piadas ela ria. 

Coração disparado. 

E um susto, quando alguém bate à porta, anunciando a entrada. 

Por reflexo, Felicia desliga os monitores e é surpreendida pela chegada de Sam Hicks, o novo chefe da célula. 

- Assustada? 

Felicia nada responde. 

- Sabia que só se assusta quem fazia algo de errado? 

- Sam – e se ajeita na cadeira – Eu estava começando meu trabalho. Pesquisando na rede da S.H.I.E.L.D.. 

- Não precisa se justificar, Felicia. Esse agora é o seu trabalho. 

- É sobre isso mesmo que quero conversar com você. 

- Já falamos disso antes, naquela reunião que você abandonou. 

Felicia ergue as sobrancelhas. 

- Mas é que ninguém está me entendendo. 

- Você quem não compreende a gravidade da sua situação, Felicia! 

- Eu não nasci pra ficar enfurnada num escritório, passando informações pelo rádio, Sam. Me entenda! 

- Entendo, mas não concordo, nem autorizo. Você está grávida, uma gestação de risco pra você e pro bebê! 

- Olha... eu não sou heroína como Julia e Carol! Eu sou uma ladra, e como tal, não vivo enclausurada. Estou sufocando aqui! 

- Sua vinda para cá não é pra que se torne uma ordeira, Felicia. É para proteger duas vidas importantes. 

Ele pegou a ladra de jeito. 

- Acho tudo isso muito lindo, Sam, mas essa ociosidade está me matando. 

- Até seu filho nascer vai ser assim, paciência. 

- Como a S.H.I.E.L.D. ficou sabendo da minha gravidez, e como sabiam que eu estava levando uma surra de Venom? 

- Sigilo. 

- Garanto que se eu mexer nesses arquivos internos não vou ter acesso. 

- Não é fácil para a maioria dos agentes saberem que uma... uma ladra, como você mesma se intitula, tem acesso quase irrestrito ao acervo da S.H.I.E.L.D., Felicia. Ainda mais depois de um roubo interno. 

- Mais um motivo pra me colocar agindo lá fora! 

O agente se levanta. 

- Desista dessa ideia. Já estou cansado dessa conversa. – e sai da sala. 

Felicia bate na mesa onde está o computador. 

- Ninguém me obriga a fazer algo que não quero. Ninguém!

Ruas de Metrópolis

O maior sorvete vendido naquele estabelecimento. Com todas as coberturas possíveis – ou não. 

- Isso que é comemoração, Julia! 

- Olha a cara de felicidade de Rachel, Carol. Tem coisa mais linda do que isso? 

A menina se lambuzava e se deliciava com a guloseima. Tanto que nem respirava direito. 

- Calma, filha! O sorvete não vai embora! 

- Sei disso, mamãe, é que quando eu saí da escola e soube que você vinha me pegar, nossa, nunca fiquei tão feliz na minha vida! 

Julia sorri e passa a mão no cabelo da filha. 

- E eu, a tia Carol? Não sou bem-vinda? 

- Claro que é, tia! – e oferece uma colher com sorvete, recusado pela Ms. Marvel. 

Os olhos de Julia irradiavam uma alegria única. Carol até sentia um pouco de inveja... 

- Carol... alguma previsão pro trabalho? 

- Ainda não, devo me reunir mais tarde com... 

- Vai viajar, mamãe? – interrompe Rachel. 

- Sim, filha – responde, cautelosa – Vamos ter que resolver um problema do banco... 

- Quem vai tomar conta de mim? Tia Felicia? 

- Não a chame assim, você sabe que ela não gosta! 

As três dão risada. 

- Tome seu sorvete, filha. Carol, Felicia está triste por não poder viajar com a gente. 

- Ela não entende que – e para um minuto para medir as palavras, afinal, está na frente de uma criança – que a situação dela não é das melhores. 

- Pois bem... Ei! Aquela ali não é a... 

Carol e Julia olham através dos grandes vidros e na rua veem a cientista Christina McGee, com o braço engessado, entrando num táxi, enquanto o motorista termina de colocar diversas malas no interior do carro. 

- Ela está indo embora... 

- Será que... 

Rachel busca a pessoa, mas ela já tinha ido embora. 

- Quem era, mamãe? 

- Uma amiga. Carol, será que o Venom... 

- Bem provável. Vamos, temos que voltar pro banco. 

Embaixada da Symkaria, Costa Oeste

Da janela, Silver Sable admira a cidade. Reclamando do calor, logicamente. No sofá sentado, está o Estrangeiro, falando ao telefone. Silver Sable se serve de um raro vinho, incrivelmente produzido na sua terra natal, usando a melhor tecnologia vinícola do mundo. 

- E então? – pergunta Sable. O Estrangeiro faz sinal com a mão, para que ela se cale. 

Impaciente, ela vira o conteúdo da taça de uma só vez para enchê-la novamente. O Estrangeiro desliga o telefone. 

- Pode me servir. 

Sable fecha a cara. 

- Está pensado que sou sua empregada? – e arremessa a garrafa e uma taça. O ex-marido pega e se serve. – O que o general Lane falou? 

- Que não gosta de mim. 

- Ninguém gosta. 

- Você casou comigo. 

- Mais um dos meus erros... O que ele disse? 

- Que as alterações no banco de dados da S.H.I.E.L.D. foram realizadas com sucesso. Resta esperar que a ladra morda a isca. 

- E se ela não morder? 

- Não se preocupe. Ela vai ter acesso aos arquivos da S.H.I.E.L.D.. 

- Trocaram tudo de vez? 

- Não. Vamos aos poucos. Ela não vai ler tudo na mesma hora. Primeiro vem a decepção... crise... até ter coragem pra seguir lendo, e tudo se repete. 

- Sabe... agora é a minha vez de me perguntar por quê nos separamos... 

Express Café, Metrópolis 

Cada novo encontro é num lugar mais inusitado. Por questão de segurança, confiança, intimidade. 

Dessa vez não seria diferente. Os dois já se cumprimentavam com um carinhoso beijo na boca. Ben já brincava com a barriga de Felicia, passando a mão e dizendo coisas infantis. 

Felicia se sentia feliz, realizada. Toda aquela sensação de prisão, ou de “sem rumo” era mandada pra uma parte do cérebro praticamente impossível de ser trazida de volta. 

E nesse discreto café, perto das instalações da S.H.I.E.L.D. que os dois marcaram esse novo encontro. 

Só que a conversa não era tão agradável como antes... 

- Por que você fez isso, Felicia? 

- Curiosidade! Afinal, é a única coisa que tenho pra fazer lá! 

- Mas acha que vai ser bom ficar vasculhando a vida dos outros? Você pode achar algo que não lhe agrade. 

- Como eu ia ficar sabendo dessa crise que tomou conta de Nova York e de Gotham City, senão pelos arquivos que li? 

- Televisão? 

- E eu lá tenho saco pra isso? O que vale é que... Preste atenção, vou te contar o que li. 

- Você ta me assustando! 

Felicia segura a mão de Ben. 

- Bom, lembra que eu consegui um emprego pra Peter como cientista forense? 

- Você me falou algo sobre isso. 

- Quem me ajudou nisso foi Edward Semeghini, ex-chefe de polícia de NY. A esposa dele, Heather, foi encontrada morta no próprio apartamento enquanto Semeghini agia como uma espécie de herói, o Vigilante. O pescoço dela foi quebrado. 

- Eu não... 

- Calma. Semeghini atribuiu o crime ao Dr. Octopus, que poderia muito bem ter partido o pescoço dela usando seus tentáculos. Foi justamente numa luta entre o Dr. Octopus e o Homem-Aranha que a mulher de Semeghini foi gravemente ferida, ficando tetraplégica. E ele foi expulso da polícia após ter capturado o vilão e aceitado soltá-lo em troca de uma cura para sua esposa. Octopus operou Heather, usando o mesmo princípio de envio de sinais nervosos pela espinha dorsal que ele usa para controlar seus tentáculos. Semeghini foi exonerado de seu cargo na polícia, mas o caso foi abafado. 

- Felicia... não é bom pra você... 

- Espera, Ben, não acabou ainda. Encurralando Octopus, o vilão se declarou inocente, dizendo a Semeghini que outro vilão tinha ódio dele o suficiente para ter feito aquilo: o Escorpião. A primeira promoção de Semeghini na polícia foi justamente após ter prendido o Escorpião, que jurou matá-lo. O vilão tinha sido visto pela última vez em Gotham City. Exatamente quando ele foi vender o soro que roubou do Duende Verde. Eu estive lá para impedir um leilão. Imagina se ele vendesse o soro pros lunáticos de Gotham? Nessa noite eu e a Caçadora enfrentamos o Pinguim, Escorpião e a Mulher-Gato. 

- Ela é bonitona mesmo? 

- Idiota! Ela é velha, hahaha, e eu consegui sair na vantagem. Mas enfim, depois desse incidente eu voltei pra NY e o Escorpião ficou em Gotham, onde roubou um carregamento de peças de adamantium. Pra piorar, ele estava invadindo o Arkham atrás de Dentes-de-Sabre. Curiosamente, o mutante nunca foi interno do Arkham. Ao tentar capturar o Escorpião, Semeghini, na identidade do Vigilante, acabou causando uma fuga em massa do local, e o Escorpião aproveitou-se da confusão pra desaparecer. 

- Onde o Batman estava? 

- Na minha cama! Deixa eu contar! Alguns fugitivos foram para Nova York, dispostos a se vingar pelo Escorpião ter invadido o território "deles". Liderados pelo Coringa, a gangue libertou alguns internos da Balsa, entrando em um confronto madrugada adentro que aterrorizou a cidade. As gangues foram detidas pelos esforços conjuntos de Batman e do Homem-Aranha. 

- Meus heróis! 

- Vou te dar um soco! O Coringa se dirigiu, então, até o covil do Dr. Octopus, onde revelou ser, na verdade, o Camaleão. Octopus contratou o Escorpião para roubar adamantium, prometendo desenvolver um novo traje para ele, mas na verdade era para criar novos tentáculos para si. Para não ter que cumprir seu acordo com o Escorpião, contratou o Camaleão para se passar por ele e matar Heather Semeghini, achando que o Vigilante mataria o Escorpião - ou morreria no processo. Infelizmente, com a fuga em massa do Arkham, o Camaleão não cumpriu o "roteiro" combinado e começou a se passar pelo Coringa para aterrorizar a cidade. Mas, infelizmente, o Escorpião e Semeghini ouviram essa conversa. O Aranha e o Batman enfrentaram o Camaleão, enquanto o Vigilante matava o Escorpião com um tiro na nuca. Quando foram atrás de Octopus, Semeghini distraiu o vilão para que Batman pudesse nocauteá-lo, mas pagou por isso com a própria vida. Diversos vilões, entre eles o Coringa, Chapeleiro Louco e Rino estão foragidos desde então. 

- Muitas pessoas devem ter morrido nesses confrontos. 

- Nas duas cidades! Se você visse o número de óbitos registrado pela S.H.I.E.L.D., ficaria pior do que eu. A quantidade de destruição de prédios públicos, centros de saúde... 

- Você não devia ter lido isso, Felicia. 

- Ben, o Semega morreu. Eu devo muito a ele, especialmente por ter me ajudado a melhorar minha relação com Peter. Gargan morreu. Ele era um vilão fulêro, mas eu me divertia enfrentando ele. E pra piorar a gente tinha uma briga mal resolvida. 

- Ao menos Peter e Batman saíram vitoriosos. 

- Isso é o que mais me irrita, Ben. Eu não estava lá para ajudar Peter. Eu falhei com ele. Ele deveria estar precisando de apoio, não apenas o físico, mas o emocional. 

- Se tivesse acontecido algo com ele? 

- Eu não saberia o que fazer da minha vida. 

- Se tivesse acontecido algo com ele, ele morreria sem saber que vai ser pai. 

Felicia não se segura e chora feito criança. 

- Não me machuca, Ben. 

- Essa é apenas mais uma prova de que você precisa falar a verdade! 

- Eu não... eu não consigo! 

Ben então percebeu que naquele momento não iria adiantar ficar dando sermão, criticando, brigando. Ele sabe que Felicia faria praticamente tudo por Peter, mas sabe também que ela está errada. E em momentos como esses que ele tem vontade de ligar pra Peter para dizer tudo o que está acontecendo. 

Sala de comunicações da S.H.I.E.L.D.

Sentados à mesa de vidro e metal, Carol e Hicks analisam novamente os papeis da nova ação da S.H.I.E.L.D.. 

- Antes, Carol, quero dizer que você precisa conversar com Felicia. Estamos tendo muitos problemas com ela. 

- Tenha paciência, agente Hicks. Felicia está passando por um momento muito delicado. Eu poderia pedir pra que você se colocasse no papel dela, mas seria impossível. 

- O Coronel Fury havia me falado sobre a personalidade dela, mas não imaginava que ela fosse tão arredia assim. 

- Apesar de tudo, ela vai realizar o trabalho que compete a ela. 

- Está difícil, não posso negar, Carol. O trabalho na S.H.I.E.L.D. é muito sério. Se alguma coisa der errado nesta ação, ou nas futuras, eu não sei como Felicia será penalizada. 

- Mas isso compete ao Coronel Fury. 

- Só que eu, atualmente, sou o responsável por esta célula. Eu sei que ela é sua amiga e que você está querendo ajudar... 

- Querendo, não. Eu a ajudo, como ela fez comigo enquanto estávamos juntas, encarando os problemas de frente. E pra isso ainda contamos com Julia. Nós somos uma base, um sólido pilar. Não funcionamos sem a outra. 

Um clima tenso e estranho faz-se no ar, mas o profissionalismo dos dois àquela mesa fala mais alto... 

- Vocês vão sair daqui num voo comercial, para não levantar suspeitas, utilizando documentações frias, e farão escala em Miami, de onde seguirão até o aeroporto de San José. Lá, vocês serão recepcionadas por agentes da O.I.J., Órgão de Investigação Judicial, uma espécie de FBI costarriquenho. Os agentes vão levá-las ao encontro de Silvia Navarro, secretária-geral da Corte. 

- Isso não chamará a atenção das outras pessoas que estarão desembarcando? 

- Não se preocupe com isso, Carol. Eles são treinados. 

- Ok, e de lá? 

- Vocês irão se reunir com ela e o presidente do país, Oscar Arias. Ele garantiu que quer acompanhar de perto essa ação. 

- Muito bom. 

- Em seguida, terão um breve diálogo com agentes da O.I.J., sobre o modo de operação deles, conhecimento de terreno, técnicas, e outras coisas relevantes ao sucesso da operação. 

- Mas eu e Julia iremos sozinhas, né? 

- Exatamente. Eles têm ordem para acatar qualquer decisão e ação que vocês tiverem, fora que estarão sempre a postos para auxiliá-las, caso necessitem. 

- O país é pequeno, se tratando de faixa territorial, e como não sei se cruzarei os céus de lá, voando, teremos algum veículo especial? 

- Como disse, tudo será resolvido nas reuniões em solo costarriquenho. 

A porta da sala é aberta. 

- Desculpem a demora... 

- Julia – diz Hicks – você está de folga hoje, não precisa comparecer a esta reunião. 

- Desculpe, mas é que Rachel dormiu e eu achei que seria importante ter conhecimento desta conversa. Se me permite... 

- Claro – e faz sinal para que Julia se sente. 

- Estava terminando de explicar para Carol como será o trabalho de vocês em Costa Rica. 

- Ótimo! Nós já não aguentávamos mais esperar! – e pisca o olho pra Carol. 

Standard Savings of America Bank & Trust, Metrópolis

Ao selar o encontro com Ben, Felicia voltou caminhando até as instalações da S.H.I.E.L.D., imaginando o que viria pela frente. 

Ela não conseguia mais pensar no novo amante, e sim, nas palavras dele sobre o futuro de Peter. Se ele morrer, nunca saberá que tem um filho. 

E assim, caminhando lentamente, Felicia parou frente a um prédio de 14 andares, com as vidraças escuras e pastilhas mais escuras ainda. 

Aqui funciona a sede do Standard Savings of America Bank & Trust, edifício fachada, de onde age a S.H.I.E.L.D.. Nos quatro primeiros andares estão os escritórios, sem cofres para não ter tentativas de assaltos, e por ser um banco de investimento, o atendimento é exclusivamente para pessoa jurídica, o que evita o entra e sai de clientes. 

A partir do quinto andar estão os escritórios da S.H.I.E.L.D., com salas, computadores, geradores, tudo de última geração, e os dois últimos andares são visto como dois apenas do lado de fora, porque por dentro, é onde está localizado o ginásio com as áreas de treinamento. 

Mantendo o ritual de sempre, ao “fugir” das instalações, Felicia passa pela porta principal, em seguida pela porta giratória. Um segurança sorri, ela cruza o saguão na direção do elevador, passando pela bancada onde estão outros três seguranças. 

Dentro do elevador, vai até o quarto andar. Ao sair, no extenso corredor, se dirige a um outro balcão, onde está um segurança. 

- Olá, Brian! 

- Como vai, senhorita? Muito trabalho com as empresas dos clientes? 

- Nem me fale! Mas te garanto que se eu não estivesse grávida, renderia muito mais! 

- Concordo. Sua identificação? 

- Ih, Brian, sabe lá Deus onde guardei! Espera... 

Felicia mexe nos bolsos, mas rapidamente coloca as mãos nos braços do segurança. 

- Menino, pare de malhar! Você tá ficando cada dia mais forte! 

Ele sorri, confiante. 

- Quero só ver onde isso vai parar. Chama o elevador pra mim, por favor?! 

Brian se retira do balcão de mármore marrom e vai até o fim do corredor. Felicia o acompanha. 

O primeiro elevador que Felicia pegou só leva até o quarto andar. Para ter acesso à parte de cima, é necessário pegar outro, mas para isso, precisa apresentar o cartão de identificação... 

O elevador chega e Brian apenas observa. 

- Olha, se as mulheres ficarem se jogando pra cima de você, me fala, porque na mesma hora eu apareço andando de mãos dadas com você e acabo logo com essa palhaçada! – diz, mandando um beijo e entrando no elevador. Do lado de fora, restou mais um homem que não resistiu aos encantos da ladra... 

Mas, de uma outra sala, alguém observa o ato através de um monitor. 

Escritório-dormitório de Felicia, sétimo andar

Porta trancada. Roupas espalhadas pelo chão. Banheira sendo esvaziada, piso molhado. Enrolada numa toalha, Felicia caminha pelo cômodo e para na janela. Admirar a vista é o que lhe resta fazer. 

“Saudade de NY... Saudade de Ônix... Saudade de Peter...” 

Nem o porta-retratos escapou de ser colocado colado no busto. 

Sentada na cama, ela, agora nua, seca os cabelos. A barriga está grande mesmo. 

Ela liga o computador e veste uma camisola fina. O comunicador toca. 

- Oi... 

- Amiga, venha aqui no meu quarto, estamos jogando baralho! 

- Desculpa, Julia, tou exausta. 

- Passando o dia no computador? 

- Tem coisa melhor pra fazer? 

- Jogar baralho! Carol apareceu aqui com uma jarra de suco de abacaxi e várias barras de chocolate! 

- Não, brigada mesmo. Vou deitar, amiga. 

- O que está acontecendo? 

- Podemos conversar amanhã? 

- Não. Estou preocupada. Conta. 

- Houve uma crise em NY e em Gotham... algumas pessoas morreram... 

- Meu Deus! 

- Não me peça mais detalhes, por favor. Hoje meu dia foi muito pesado. 

- Tá, mas fique sabendo que amanhã você vai me contar direitinho essa história. Carol tá mandando beijo. 

- Manda outro pra ela e pra Rachel. Vamos nadar amanhã? 

- Perfeito! Olha, se você precisar de qualquer coisa, me liga! Beijoca e boa noite! 

- Boa... – e desliga o telefone. 

“Boa noite para quem?” 

Felicia se senta frente ao computador. Estica os braços e estala os dedos. Ela ainda não sabe o que vai procurar dessa vez, mas sente que precisa fazer isso. 

“Eu sei que não devo ficar sofrendo, me confundindo com meu futuro, mas não é fácil. Se bem que eu nunca gostei mesmo das coisas simples... Peralá, Felicia, veja como as coisas agora são novas! Você está grávida do Aranha, está trancafiada numa célula da S.H.I.E.L.D., tem um mega computador pra poder... É isso! Eu não sei do meu futuro, mas posso saber do meu passado...” 

Antes de digitar a senha recebida por Hicks, pra poder acessar o conteúdo da rede da S.H.I.E.L.D., Felicia não se conteve e pegou uma garrafa com leite, alguns biscoitos e novamente sentou. 

Assim que inseriu o código e viu aquela quantidade de número e letras, sobre o símbolo da S.H.I.E.L.D., ela vibrou. 

“Vamos lá, papai... só você me entende... só você...” 

E ela digitou: Walter Hardy. 

Poucos segundos de processamento, nenhuma resposta. 

“Como assim? Não há registros de meu pai?” 

Tentou uma segunda vez. 

Terceira. 

Quarta. 

Sempre resposta negativa. 

Digitou o próprio nome e a primeira frase que apareceu foi: Felicia Hardy, filha da milionária Lydia Hardy e do militar John Harmon.

Comentários