Gata Negra #41: Cópias e Recomeços
Em Metrópolis, enfrentando demônios internos, uma gravidez e o poder do azar, Felicia reencontra... Ben Reilly! Ms. Marvel aceita o convite de Nick Fury para fazer parte e liderar um grupo tático especial da S.H.I.E.L.D., e a Mulher-Aranha decide que é hora de mudar!
Metrópolis
Uma manhã típica na cidade. Vida passando rapidamente, pessoas também apressadas. No meio da multidão, Felicia caminha tranquilamente. Ela, mesmo contra a vontade da S.H.I.E.L.D. e as ordens dos médicos, escapou.
Ela precisa de ar.
Precisa organizar as ideias. Foco.
Ultimamente ela só consegue pensar na reação do homem que ama. Que por sinal, é o pai do filho que espera. Dessa vez, ela não está preocupada na rápida gestação que leva.
“Isso é problema para os médicos.”
Ela sabe que não é certo esconder isso de Peter Parker, tanto que busca inúmeras desculpas para poder dizer a ele... em vez da verdade.
“Mas qual a verdade?”
Felicia queria sumir. Ir para um lugar calmo, onde ninguém a conhecesse. O que não é muito fácil. Seu rosto já esteve estampado várias vezes em capas de jornais e revistas. Como ladra ou como milionária.
As dores abdominais voltam. Sua testa está molhada de suor. Um policial se aproxima, pergunta se ela está bem e a leva para um café, onde toma um pouco de isotônico. Ao sair, resmungando, decide voltar para a célula da S.H.I.E.L.D..
No caminho, passando perto da descida para a estação do metrô, vê algo conhecido. Seus olhos o buscam incessantemente no meio da confusão, do entra e sai no posto. “Peter...?”
Ela corre, com a mão na barriga, se esbarrando nas pessoas.
- Peter! – grita.
O homem que ela observa encostou-se às escadarias para terminar de beber o conteúdo daquele copo plástico. Ela apressa o passo. Ele volta a descer os degraus.
Num pulo Felicia o toca o ombro, sob a jaqueta marrom.
- Peter? – as pernas tremem. Respiração ofegante.
O homem para.
- Meu Deus, Peter...
Ele olha para trás.
Os olhos se cruzam.
- Felicia...
A ladra toma um susto.
- Ben... ? O que... mas como...?
- Você está bem?
- Não acredito... meu Deus...!
Ben a abraça. Felicia não consegue se mexer.
- Como você está, Felicia?
- Em choque.
- E grávida? – pergunta surpreso.
- Ben... o que você está fazendo aqui? Eu pensei que você...
- Escuta, Felicia. Você deve ter pensado o mesmo que muita gente que sabe de mim pensou.
- Eu estou feliz em te ver.
- Mas preferia que fosse Peter.
- Ele é o pai do meu filho...
Dessa vez Ben é quem entra em choque.
- Como ele está?
- Realmente preocupado com ele?
- Às vezes me pergunto como seria minha vida se eu... se ele...
- Desencana, Ben. Duas pessoas com problemas existenciais não vai dar certo.
- Quer tomar um suco, sei lá? A gente pode conversar e...
- Não é só porque uma vez disse que seu bumbum era mais fofinho do que o de Peter que você vai me ganhar tão fácil assim...
Ginásio de treinamento, S.H.I.E.L.D.
À primeira vista parece um local para prática de esportes. Basquete, vôlei, futebol... Mesmo com as arquibancadas e os pisos marcados para diversas atividades.
E numa dessas cadeiras, próxima à quadra, está uma garota, sentada. Corpo encolhido, mãos no queixo e cotovelo sobre os joelhos. Olhar perdido. Até um grito.
No centro do ginásio, Julia e uma respiração ofegante. As pernas estão um pouco dobradas e os braços estirados. A boca aberta e os ombros tentando tirar cabelos da testa.
Em poucos segundos os dedos das mãos são flexionados. Ao seu redor, subindo até poucos centímetros da sua cabeça, tudo se torna cintilante. As teias psíquicas fazem um círculo no chão enquanto outras saem de dentro dele, envolvendo-a.
Rachel percebe o sinal já combinado com a mãe e olha, na má vontade, uma máquina arremessando objetos. As bolas, quando tocam no círculo de teia ficam presas. As outras, mais altas, ao quase tocarem o corpo de Julia, são levadas por fios rosas e se prendem em pilastras, paredes, armações, teto.
- Não é uma cena bonita, filha?
A menina nada responde.
Um novo grito e as bolas saem rolando e quicando pelo ginásio. Julia pega uma toalha, seca o pescoço e senta ao lado de Rachel.
- O que houve, filha?
- Nada.
- Eu te conheço. Converse comigo.
- Não é nada, mãe.
- Fala, Rachel.
A menina continua encolhida.
- Me sinto sozinha, mãe. Sem amigos, sem nada pra fazer.
- Eu sei, filha. Só que eu tenho medo de que alguma coisa te aconteça. Aquela cena lá no porto em Nova York não vai sair da minha cabeça tão cedo.
- Você vai me proteger sempre?
- Sempre.
Julia sorri.
- Filha, estamos numa cidade nova. Tentando reconstruir nossas vidas. Você acha que foi fácil pra mim tirar a vida de uma pessoa? Eu ainda tenho pesadelos com Rajada Mental, com as coisas que ela poderia fazer com você. Às vezes eu choro escondida.
- Eu também, mãe.
- Tenha um pouco mais de paciência.
- Eu acredito em você.
- Vou conversar com Nick Fury sobre a possibilidade de você ter sua vida social de volta.
- Promete?
- Já te desapontei alguma vez, filha?
- Eu te amo, sabia?
Rachel a abraça.
De uma janela mais ao alto, um homem observava o afeto... e o poder de Julia.
***
A sala de comunicações. Numa cadeira em frente ao grande monitor, Carol conversa com Fury, que parece mais abatido.
- É isso que quero de vocês, Carol.
- Seria uma honra, coronel. Trabalhar na S.H.I.E.L.D. é a vontade de muitos militares e heróis.
- Apesar de ainda ter dúvidas sobre a escalação dessa equipe.
- O senhor acompanhou nosso trabalho contra o Camaleão e as Fêmeas Fatais. Fizemos um belo trabalho juntas.
- Tanto que o FBI homenageou vocês. Carol, são situações que parecem ridículas, mas precisam de tratamento especial. Não me refiro a invasão alienígena, e sim a crises humanitárias, mas todas de alto risco. Pode ser maçante para você, e até mesmo para Julia, acostumadas com...
- Coronel, desculpe, mas qualquer tipo de intervenção é importante. Eu ainda estou me recuperando daquele... o senhor sabe. Quanto mais gente querida por perto, será melhor.
- Esse é o problema, Carol. Você é uma ex-alcoólatra. Julia tem uma filha e Felicia é instável.
- Se o problema for falta de confiança...
- As missões que vou passar para vocês são discretas, de conhecimento apenas dos presidentes dos países envolvidos.
- Certo... outra coisa, e se as meninas não quiserem? Sei lá, a gente passou por momentos delicados.
- Sua missão de hoje, Carol. Boa sorte com elas. Quando tiver uma reposta eu volto.
Carol se recosta mais na cadeira e bate os dedos na mesa.
Café de esquina
Felicia parece hipnotizada. Na sua frente, o clone do homem que ama. Tão perdido e desorientado quanto ela.
“Seríamos um belo casal...”
- Você sempre me perturbou, Felicia.
- Já ouvi muito isso... Espera, isso é bom ou ruim?
- Eu entendo porque Peter não se concentra quando você está por perto. Você é linda e tem... não sei ao certo... algo irradia em você, sabe?
- Meus olhos verdes?
Ben gargalha.
- Espontaneidade. Além de ser muito sexy.
- Ben! Não respeita mulher grávida?
Risos.
- Falando nisso, como ele reagiu à notícia?
- Ele ainda não sabe.
- Como não, Felicia? Ele é o pai!
- Olha, Ben, sinceramente, estou exausta de ouvir isso de todo mundo. Não quero falar pra ele e pronto.
- Quando ele souber...
- Vou pensar nisso depois. Ele me machuca.
Os olhos dela se enchem de lágrimas.
- Felicia – pega na mão dela – Ainda bem que te encontrei.
- Por que?
- Estou me sentindo sozinho. Minha vinda pra Metrópolis foi impensada, mas eu precisava disso.
- Estou aqui, Ben.
- Só não quero que fique aqui, comigo... comigo no bom sentido da palavra, ok? Não quero que fique por eu parecer com ele.
- Isso me conforta, não vou mentir. Você é clone dele, sim, deve ter alguma coisa de diferente. Bom, eu provei tudo em todos os aspectos, mas...
Ben dá um sorriso tímido.
- É bom ter alguém confiável por perto. Não que eu não tenha, longe de mim, mas te ver foi como um teste. Sobre qual seria minha reação.
- E se fosse ele, em vez de mim? Falaria do neném?
- Provavelmente diria que era de outra pessoa.
- Não faz isso, Felicia. Não se machuca mais.
- Tá difícil, Ben. Minha gravidez é uma loucura, quase morri nas mãos de Venom de novo, o Camaleão me usou para trabalhar pra ele sem eu saber... e agora tou trancada numa célula da S.H.I.E.L.D., acredita?
- Opa, não consegue uma vaga pra mim? Pode ser estágio mesmo...
Mais risadas. Mais mão na mão. Mais sucos. Mais histórias...
Sala de comunicações, S.H.I.E.L.D.
Numa espécie de mesa de reuniões de emergência, Carol e Julia estão sentadas, conversando. Copos com água e papéis acompanham as duas.
- Seria ótimo, Carol. Estou treinando muito e acho que trabalhar na S.H.I.E.L.D. seria muito importante pra esse processo da minha vida.
- Eu também fiquei animada, amiga, mas parece que são trabalhos mais fáceis, sem muita força e tal...
- Duvido. Desde quando o trabalho de Fury é leve? Talvez o primeiro seja, pra ele ver como a gente se sai.
- Tem razão.
Julia rabisca algo, em silêncio.
- Amiga, estou te achando dispersa.
- Sabe, Carol, tá sendo difícil pra Rachel.
- É uma questão de tempo, Julia.
- Uma criança não sabe o que é paciência, amiga.
- Você já conversou com ela?
- Sim, especialmente mais cedo, quando eu estava desenvolvendo novas técnicas de combate. Ela sempre vibrava quando eu criava algo novo. Hoje ela nem sorriu.
- Como está o tratamento dela com os psicólogos?
- Fluindo, mas ela é uma criança. Precisa conviver com crianças, e não num quartel general.
- Mas é arriscado, amiga. Não podemos dar chances de...
- Fala com Fury, por favor. Pede pra que ela volte a ter uma vida normal. Ir pra escola, brincar no parque... sorrir.
Carol suspira.
- Claro que vou falar, amiga. E o que mais te incomoda? Ainda aquele lance com a Fêmea Fatal?
- Sim...
As duas então relembram do ocorrido...
Estação de metrô
Um abraço caloroso.
- Devagar, Ben... tou sentindo a empolgação.
Risos.
- A culpa é sua!
Mais risos.
- Brincadeira... Olha, Felicia, não hesite em me procurar. Se você precisar de qualquer coisa, até bater em mim pensando que é Peter... fica à vontade!
- Ahahaha! Olha lá, hein? Tenho esses desejos todas as noites. Sabe como é, né, coisas de mulher grávida...
- Imagino. Agora fica bem, tenta descansar. Nos vemos de novo?
- Mais cedo do que imagina.
Antes de Ben descer os degraus pra estação, Felicia o puxou e deu um beijo em sua boca.
Ele sorriu, meio atordoado e Felicia deu as costas, caminhando. Dessa vez ela não buscava o foco. Estava mais leve.
Sala de comunicações, S.H.I.E.L.D.
A tela já ligada. Conversa quase concluída.
- Arredia?
- Não, coronel. Felicia aceitou, mas não entende como poderá ajudar.
- Em breve ela vai saber.
- Coronel... queria falar sobre outro assunto.
- Autorizado.
- Mas o senhor nem...
- Concordo que Rachel precisa crescer de uma forma natural, seguindo o rumo da vida. Ela não é heroína.
- Julia vai ficar feliz em saber.
- Com algumas condições. A menina vai continuar com o acompanhamento psico-pedagógico e terá agentes fazendo a segurança.
- Não acho que seja problema para Julia.
- Carol, a partir de amanhã você passará todos os relatórios para um agente da S.H.I.E.L.D., não mais para mim.
- Por que? O que houve?
- O nome dele é Sam Hicks, e foi iniciativa dele instalar uma célula da S.H.I.E.L.D. aí em Metrópolis.
- Coronel, se eu puder ajudar...
- Continuarei mantendo contato, não muito presente. Ele tem minha total confiança e sabe do nosso projeto secreto. Se precisar de qualquer coisa basta pedir a ele.
- Tudo bem, coronel...
A luz do monitor é apagada. Carol bebe um pouco de água.
Agora só resta esperar, pensa ela.
***
Em uma sala, Felicia está sentada na frente do computador, sem esconder um sorriso. A porta é aberta e ela leva um susto.
- Desculpa, amiga!
- Julia! Quase perco três vidas!
- Não foi minha intenção. Vim te dar uma notícia em primeira mão.
- Se for sobre a oficialização da nossa equipe na S.H.I.E.L.D....
- Tem a ver. Olha isso. Nota quente, em primeira mão.
Julia mostra uma roupa, ainda sem detalhes, mas com marcações.
- Vai mergulhar, amiga?
- Não, não. É para comemorar uma nova fase, Felicia. Conversei com alguns agentes sobre uma mudança. Cansei da minha roupa e do meu codinome.
- Crise de identidade?
- Renovação, amiga. Olha só esse tecido... bom, vou ser breve como os agentes: esse tecido foi desenvolvido pela Nasa e aperfeiçoado pela S.H.I.E.L.D..
- E...
- E que vou mudar de uniforme. Ele vai ser mais aderente ao corpo, impermeável e imune a atritos.
- Uau, amiga... Vai manter a aranha estampada?
- Um pouco maior. Aquele uniforme antigo me lembra muitas coisas desagradáveis.
- E o nome?
- Arachne, gatinha. Me chame assim agora!
Felicia ri e toca no tecido.
- Quero estrear na S.H.I.E.L.D. com tudo novo.
- Que bom, amiga...
- Desculpa, Felicia... eu sei que você...
- Não, Julia. Não estou em condições para agir. Preciso me preservar... preservar o meu filho. Ou filha, né?
- Imagina, uma menina! Mais uma mulher na equipe! Ah, tenho outra notícia quente, mas dessa vez a primeira pessoa a saber vai ser Rachel!
Julia aperta Felicia, a beija na testa e sai, correndo.
“Parece que hoje foi um dia produtivo... Carol se sentiu realizada ao ser valorizada e voltar ao batente... Julia mudando radicalmente e com uma novidade pra filha... e eu... reencontrando velhos problemas...”
Felicia se volta para o computador.
“Falando em coisa antiga... estou na S.H.I.E.L.D.... que tal dar uma olhada nas informações que eles têm sobre a minha pessoa?”
E assim ela virou a noite...
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