Gata Negra #36: Distrações fatais 6/7
Muita gente - que já causou problemas para Felicia - está de volta! Quer spoiler? Na lista constam, pelos menos, as Fêmeas Fatais e... Venom!
Nova York
No tão conhecido aeroporto particular no continente, o helicóptero do FBI pousou, e dele desceram três pessoas. Dois agentes federais. E uma ladra.
Por poucos minutos Felicia permaneceu parada, olhando para um não menos conhecido galpão. Onde ela e Charles se conheceram. Onde ela e Charles viraram amigos. Onde ela e Charles se tornaram amantes.
“Saudade. Muita saudade de você, Charlie. Apesar de toda mentira que te envolve, eu não consigo parar de pensar de você. Acho que esse sentimento só será esmagado quando eu resolver esse caso. Eu sempre resolvo as coisas pros meus namoradinhos. Na verdade, só não consigo resolver a vida do Aranha. Ele é meu carma, dá um desconto. Mas eu realmente sinto saudades suas...”
Pra variar, o pensamento de Felicia é interrompido pelos agentes.
- Eu não sei se deveria fazer isso, Felicia...
A ladra se vira para o agente Sun.
- Isso o que, colega?
Ele a abraça. Felicia sorri.
- O que pretende fazer agora? – pergunta Glass.
- Não sei. Quer dizer, tenho que ir pra casa, pensar um pouco.
- É o melhor que você tem a fazer.
- Na verdade queria pedir mais uma coisa para vocês.
- Se for carona...
Os três dão risada.
- Eu não queria que vocês comentassem que eu estou de volta.
- Por que?
- Pode atrapalhar os meus planos, Sun.
- Como assim?
- Nunca tive fama por ter um elemento surpresa. Sempre tive fama por ser um elemento surpresa.
Os agentes olham Felicia dos pés à cabeça.
- Meninos safados... – e dá uma gargalhada em seguida – Gostaria muito de agradecer por tudo o que vocês fizeram. Eu não gosto muito dessa dependência repentina do FBI, mas...
- Que nada, Felicia. Foi um prazer. Sem duplo sentido, claro.
- Promete que vai manter contato?
- Não. Mas prometo que nunca vou esquecer vocês dois.
Felicia beija os agentes no rosto e caminha para a saída do aeroporto.
FBI
Na sala de reunião, nota-se a tensão que paira. O chefe Sutton anda de um lado para o outro, mordendo uma caneta. Os outros presentes se mostram apreensivos por não saber o que está acontecendo, e também pela agonia do responsável.
- Bom... A coisa é séria. Temos uma suspeita que... se for comprovada... vai abalar nossa corporação.
- Senhor, por favor. O que está acontecendo? Mandou que reunisse os melhores agentes para uma declaração urgente... estamos preocupados.
- É bom mesmo. O que aconteceu tem relação com Michelle.
Costa Oeste
Empresas Oscorp.
Aqui veio parar uma conhecida e rival de Felicia Hardy: Christina Mcgee. Cientista, inteligente, bonitinha, ex-namorada de Peter Parker.
Os motivos pra essa transferência envolvem diversos tópicos, mas no fundo todos sabem que têm alguma relação com o Homem-Aranha.
E ali, concentrada nos experimentos, entre tubos de ensaios, gráficos nos computadores e cheiro de éter, ela é surpreendida por uma visita... inusitada.
- Tá na hora da limpeza.
Tina se vira assustada, tanto que derruba um frasco de vidro, que se quebra ao tocar o chão.
- Não disse?! Senhor Brock, novo supervisor de limpeza da empresa.
Meio trêmula, Tina estende a mão.
- Christina Mcgee, responsável pelas fórmulas e... e coisas chatas. Prazer, Senhor Brock.
Ele pega a mão da cientista e beija.
- Se você pudesse me dar um minuto pra gente conversar sobre as novas regras de limpeza...
- Agora é impossível, senhor Brock.
- Na hora do almoço, então?
Hesitante.
- Me desculpe, mas o dia hoje está meio complicado.
- Você então não vai almoçar?
- Não tenho hora para nada. Na verdade isso aconteceu desde que eu saí de Nova York.
- Você é de lá? Que coincidência.
- Hum... me desculpe senhor Brock, mas realmente eu estou ocupada.
- Não pense que vai ser fácil de livrar do homem da limpeza, senhorita Mcgee. Eu volto outra hora.
O homem sai da sala de Tina resmungando, e algo gelatinoso, de cor preta, escorre pela manga da camisa social.
Restaurante Fiorin Fiorello, NY
Sentadas à mesa, Julia e Carol se servem da macarronada e bebem vinho. Ao fundo, um trio italiano alegra o ambiente com canções populares.
- O que faremos agora, Carol?
- Temos que decidir o que é mais indicado.
- Pode ser precipitado entregar as provas que recolhemos no apartamento do Camaleão para o FBI. Por outro lado, podemos estar atrapalhando as investigações.
- Nós limpamos o local do crime! Quando os agentes chegaram lá, não encontraram mais nada!
- Mas a gente não pode, nem deve, se preocupar com isso. Foi o chefe Sutton mesmo quem disse que era pra gente assumir o caso.
- Claro! Não há como competir contra nós duas!
Carol e Julia brindam com as taças com vinho.
- Cada dia me preocupo mais com Felicia, Carol.
- Eu também. E piorou mais quando descobrimos o plano do Camaleão. Tantas viagens...
- E tantos objetos estranhos a serem roubados.
- O que mais me incomoda é o assalto ao Museu da Sociedade da Justiça América. Ela poderia ter morrido.
- Ao contrário, pelo que lemos, foi bem sucedido.
- Ela é muito danada!
Risos.
- Será que a gente deve conversar com a mãe dela outra vez? Nem que seja para dizer que Felicia está bem?
- Pra uma mãe isso é muito importante, né?
Julia suspira.
- Desculpa, amiga. Me preocupei tanto com a situação de Felicia que acabei esquecendo da sua filha. Quanto egoísmo.
- Tudo bem, Carol. O que me serve de consolo é que assim que a gente encontrar Felicia, será muito mais fácil achar Rachel.
- Esse dia está chegando, não duvide.
Apartamento de Felicia, zona industrial
A primeira coisa que veio à cabeça de Felicia foi dizer ‘lar doce lar’, mesmo não sendo sua real morada.
Ao menos ali ela podia descansar, e se recordar da maravilhosa noite que teve com o Homem-Aranha antes de embarcar para o Peru, há quase um mês.
Só que a primeira reação de Felicia, ao cruzar a pequena varanda e entrar no apartamento, foi de desgosto.
O quarto dela estava praticamente destruído.
Em sua cabeça, os possíveis responsáveis.
Mas depois de um cuidadoso olhar, ela descobriu o causador de mais sofrimento.
- Maldito Aranha!
Não precisa ser uma detetive exemplar pra descobrir que ele teve culpa. Não apenas pela cama revirada, por seu uniforme de plumas brancas estar no chão, nem pelo porta-retratos, onde há uma fotografia de Felicia com a família, e de Felicia com o Aranha, estar quebrado.
“Nem o bilhete foi poupado. Por que você fez isso, Aranha? Só porque eu não te telefonei ou mandei flores? Você, mais uma vez, destruiu meus sonhos!”
Então ela corre para a varanda e vomita.
Esconderijo do Camaleão
Uma criança acorrentada num canto da sala. Uma música com pitadas de blues. Uma garrafa de champanhe. Tudo decorando a sala do novo esconderijo do terrorista.
- O bicho tá pegando, chefe. FBI atrás da gente, dissidentes do Conselho dando sinais de vida... O antigo esconderijo descoberto. Eles vão nos achar.
- Nunca! Não agora que cheguei bem perto de realizar meu plano. Vou mostrar para o mundo do que sou capaz, Bumerangue.
- Ainda falta a última peça, chefe.
- Felicia deve ter chegado em Nova York já. Em breve ela deve fazer o contato.
- Tem certeza de que ela não vai nos trair? Ela é uma ladra!
- Uma ladra, mas tem consciência de que a vida de uma criança está em minhas mãos.
- Me preocupo com a Mulher-Aranha. Ela sumiu de circulação.
- Não tenho motivos para me desesperar ainda. Por sinal, se comunique logo com nosso trunfo.
- Tá, chefe. Ah, só mais uma coisa. A grana do Conselho está à nossa disposição?
- Sim, Bumerangue. Num paraíso fiscal imune a quebras de sigilos bancários. Se você me perguntou isso porque quer notícias sobre sua parte, fique tranquilo. Amanhã mesmo vai receber sua quantia.
Bumerangue sorri e pega o telefone celular.
FBI
Com as mãos apoiando o corpo sobre a mesa, o chefe Sutton lamenta o fato recém declarado.
- Foram dois dos melhores agentes em menos de um ano! John, assassinado por Little Doll, uma psicopata, e agora Michelle...
- Onde encontraram o corpo, senhor?
- Numa vala, no continente.
- Já fizeram o reconhecimento?
- Sim.
Sutton alisa a barba.
- Eu não posso aceitar que mais dos meus homens morram, entenderam? Estou declarando caça a qualquer ameaça à nossa segurança. Isso vale pra desde um ladrão de galinhas até um terrorista internacional. Vou preparar um plano e exijo que seja seguido às riscas.
- Sabemos quem foi o mandante.
A porta da sala é aberta bruscamente. O chefe Sutton sorri.
- Sun e Glass!
- Temos novidades, senhor. – diz Sun.
- É. O Camaleão está se passando pela Mulher-Aranha e por um agente do FBI.
- Isso responde duas perguntas. Foi ele quem a matou.
A dupla de federais retira os óculos escuros.
- Michelle foi assassinada?
- Pelo Camaleão, rapazes. Eu sinto muito.
- Primeiro John... e agora ela?!
Sun e Glass sentam à mesa.
- Era justamente isso que eu estava falando. Inclusive, vocês dois também vão ter que adotar as novas regras internas de segurança.
- Senhor... desculpe, mas ao menos temos uma boa notícia para dar. Nós encontramos a Gata Negra na Europa.
- É, senhor, ela estava realizando um trabalho para Michelle. Na verdade, pro Camaleão.
- Onde ela está agora?
Os agentes se olham.
- Não sabemos. Deixamos Felicia na Grécia e retornamos para cá.
Apartamento de Felicia
Deitada na cama. Tonta. Enjoada. Chorosa.
“Estou cansada de você, Peter. É verdade. Eu sei que não sou boa em cumprir promessas, mas eu vou fazer de tudo pra te tirar da minha vida. Tô quase me convencendo de que meu azar é você. Tudo vai bem até que você surge do nada. Ativa um sentimento arrebatador que finalmente consegue adormecer... e faz um estrago daqueles. Estou farta.”
O uniforme de Felicia voa, e cai sobre o rosto dela, lhe tapando os olhos.
- Deixe de preguiça, pois sua barriga parece estar maior.
- É, ou vai dizer que essas viagens de férias te deixaram desacostumada com a ação?
Felicia levanta de um salto e sorri como nunca antes, ao mesmo tempo em que sente a adrenalina lhe correndo as veias.
- Meu Deus! Vocês duas... juntas! Aqui, comigo!
Felicia corre e é abraçada por Carol e Julia.
- Não precisa chorar mais, amiga. Estamos com você. – diz Julia.
- Não sabem como fico feliz em ver vocês... estou arrasada.
- Por isso quebrou seu quarto?
- Isso é outra história. Mais uma pra eu inserir no meu querido diário.
- A gente tem muito que conversar, não é?
As três sentam na cama de casal.
- Peraí, Julia. O que você e Carol estão fazendo juntas? Sua filha? Ela foi libertada já?
- Calma, amiga. Temos muita coisa para conversar, como você disse. Mas vou resumir primeiro, e depois, com calma, explicamos os detalhes.
- É, Felicia. Eu nunca pedi pra você roubar coisas afirmando que era pra salvar minha filha.
- Como assim? Eu não sou louca, Julia. Desde o começo, quando eu saí de...
- Era o Camaleão, Felicia. Ele e Bumerangue sequestraram minha filha. Ele começou a se passar por mim e por outra pessoa, obrigando que você roubasse objetos para produzir diamantes. Em compensação, você seria a responsável pela libertação de Rachel.
- Então... ele... se passou por você... e por Michelle... Ele me enganou.
Felicia se levanta da cama, corre até a varanda e vomita. Carol e Julia continuam sentadas.
“Sempre a mentira. Sempre. Fui usada...”
- Vem cá, Felicia.
Cambaleando, a ladra senta na cama.
- Eu quase morri por causa de uma mentira!
- Não foi totalmente uma mentira, Felicia. Minha filha realmente está nas mãos dele.
- Tá, Julia, mas eu comprometi a vida de muita gente! Eu roubei um diamante e uma modelo foi acusada pelo crime! Um piloto morreu por terroristas no Bahrein! Descobri coisas absurdas no submundo da América do Sul e Europa. Acha que foi fácil? Eu briguei com o Homem-Aranha, com uma arqueóloga...
- Nós sabemos de tudo isso. Descobrimos o plano do Camaleão. Por sinal ele estava envolvido numa tentativa de sequestro, assassinato, sei lá, de Kofi Anan, o então secretário-geral da ONU!
- Ele só fracassou porque foi baleado nas costas!
Felicia arregala os olhos.
- Eu estava desconfiada! Eu sabia que o Bumerangue estava envolvido nisso porque ele sempre estava com o piloto antes de eu embarcar! Meu Deus, quanta coisa! Preciso organizar meus pensamentos!
- Estamos com você, Felicia. E vamos fazer de tudo para que o Camaleão pague pelo que te fez.
- É como a gente disse: antes éramos duas, agora somos três!
Nova York
Explosões em diversas partes da cidade.
Nuvens de poeira, prédios desabando, galpões cedendo. Gritaria.
Explosões. Carros de bombeiros, viaturas policiais.
Explosões. Mortes, corpos queimados correndo pela rua em busca de ajuda.
No topo de um prédio, Bumerangue sorri satisfeito, ao apertar um botão e ver um novo edifício ruindo.
- Imagina o que a bomba nitro-nuclear pode fazer então...
FBI
O prédio treme.
O chefe Sutton corre acompanhado pelos agentes Sun e Glass para fora do edifício. Uma construção em frente está ruindo.
- Protejam as vítimas! Eu vou buscar reforços!
Os federais se espalham pelo quarteirão em meio a estrondos e desabamentos.
- Agora nós vamos intervir, não tem jeito. Infelizmente não poderei deixar tudo a cargo de Ms. Marvel e da Mulher-Aranha.
Um vulto pousa ao lado de Sutton.
- Pelo que vejo a coisa tá complicada... Precisa de ajuda, chefe?
- Ms. Marvel! Graças a Deus!
- Que está acontecendo nessa cidade? Ataque terrorista?
- Não sei, mas ao menos 6 prédios foram detonados praticamente na mesma hora.
- Bom, vamos ajudar, senhor! Depois conversamos!
Ms. Marvel voa e segura um pedaço de uma parede que cairia sobre um caminhão dos bombeiros.
Apartamento de Felicia Hardy, zona industrial
Felicia e Julia estão na varanda, olhando de longe o que acontece na cidade.
- Julia, você não acha que deve ir com Carol?
- E te deixar sozinha? Jamais! Ela dá conta do recado.
- Estou com dor de cabeça. Minha garganta arde e minhas articulações doem. Fora que sinto uma dor, como se fosse azia.
- Tensão, amiga. Venha, vamos entrar. Preciso te contar como eu e Carol quase nos matamos na casa da sua mãe!
- Você e ela o quê?
As duas entram, abraçadas, sorrindo.
No terraço ao lado, Bumerangue pega o telefone celular.
Esconderijo do Camaleão
Camaleão arremessa o celular na parede.
- Maldição! Elas duas estão juntas! E Felicia, para piorar, está com a última peça que preciso.
O outro aparelho celular vibra no bolso do casaco do vilão.
- É ela! Felicia está contatando Michelle pelo RAYA! Tenho que atender antes que o FBI...
- Michelle, querida! Ou deveria te chamar de Camaleão? – diz a outra voz na linha.
- Você descobriu.
- Acha mesmo que sou burra assim?
- Demorou o suficiente para você me entregar o que eu queria.
- Menos o principal.
- Você está com a planta, não é?
- Eu disse que conseguiria.
- Me entregue.
- Não vai ser tão fácil assim, Camá!
- Você não está em condições de fazer chantagens, nem de exigir nada, Felicia.
- Quero fazer uma troca. Te dou o modelo e você me dá Rachel, Julia Carpenter e Michelle.
Camaleão sorri vitorioso, mesmo sabendo a verdade.
- Perfeito. Nos encontramos amanhã, no Porto de Nova York. E vá sozinha.
Camaleão desliga o telefone.
Apartamento de Felicia Hardy
Felicia desliga o telefone.
- Pronto, Julia. O Camaleão mordeu a isca. Ele nem desconfia de que eu, você e Carol estamos juntas nessa. Vamos pegar aquele doente amanhã, no porto.
- Você está preparada?
- Nem se não tivesse, amiga. Eu preciso fazer isso. Precisamos pedir pra Carol voltar com cuidado. Ninguém pode saber sobre nós 3.
- Vou entrar em contato. Mas me diz, você sabe qual o plano do Camaleão?
- Nem imagino, mas deve ter ligação com pedras preciosas, química e física.
- É... Bom, enquanto Carol ajuda a cidade antes de retornar, me conte as aventuras, amiga! Deve ter sido muito louco!
- Louco? Foi sensacional! Tudo começou numa viagem ao Egito...
Esconderijo do Camaleão
- Ainda te espero, Bumerangue. Temos que nos organizar, preparar os objetos roubados, separar nossas coisas...
- Me dá dez minutos, chefe. Estou chegando já.
- Não demore, imbecil.
A porta do esconderijo é derrubada e o Camaleão deixa o celular cair no chão.
- A gente não demorou, Camaleão.
O vilão olha com ar assustado, mas sorri, fazendo sinal para que as quatro mulheres entrassem na sala.
- Fêmeas Fatais! Como é bom trabalhar novamente com vocês. Ainda mais, contra uma conhecida nossa!
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