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Gata Negra #27: O que há de novo, gatinha?

Gata Negra #27: O que há de novo, gatinha?

A Gata Negra precisa roubar o Museu da SJA, mas para concluir o assalto, precisa se livrar de alguns problemas, inclusive, enfrentar a Mulher-Falcão e Sideral. Se Felicia não sair com o Cinturão, sua vida correrá sérios perigos.   

Mansão Dodds – Museu da Sociedade da Justiça América

“Tenho que concordar quando Michelle me falou que a segurança estava precária. Os alarmes não são páreos para a minha astúcia... Nossa, gatinha! Isso soou boçal…”  

No Museu que parecia semiabandonado, Felicia não encontrou grandes problemas para entrar e muito menos para chegar à Sala da Miscelânea, onde está exposta a peça-alvo.   

As lentes iluminam o caminho, já que a claridade no ambiente não é das melhores. Todos sabem que a Mansão Dodds ficou muito debilitada depois de um poderoso confronto entre dois grupos. Na luta entre o Bem e o Mal venceu a tragédia. Integrantes da SJA em estado grave, patrimônio danificado. Insegurança. Abandono. Palavras que estimulam a Gata Negra no momento do roubo.   

Mas o que ela sente não é algo prazeroso. A consequência do poder do azar está de volta, mais forte, com menos tempo entre os ataques. As articulações doem, a garganta parece rasgar, tontura.   

“Preciso resolver esse problema assim que concluir esse trabalho... Quem devo procurar? O pior não é a dor... e sim a angústia que essa ardência na garganta me causa... ânsia de vômito... eu nunca senti isso. Nem quando enfrentei o Aranha. Naquele momento foi a pior crise… Seria uma boa ideia conversar com ele sobre essas consequências? Ele me disse que eu poderia contar com ele caso eu sofresse algum efeito colateral… ACORDA, FELICIA! Vocês dois quase se mataram! Por que acha que Peter vai te receber de braços abertos e te ajudar, sabendo que você o prejudicou como nenhuma outra mulher na vida dele... É isso! Quem sabe Tina pode me ajudar…”  

Com respiração profunda, mas silenciosa, Felicia avistou diversos objetos guardados na escura Sala da Miscelânea. Passos lentos. Uma leve flexão nos dedos e as unhas são acionadas. Lá está o Cinturão Conversor Cósmico, protegido apenas por uma redoma de vidro.   

“Apesar de antigo e démodé, é bonito. Tem um brilho diferente… Unhg… Que dor! Isso não é bom. Vai acontecer algo e muito ruim hoje, eu posso sentir. Não, poder do azar, espera um pouco… espera o tempo suficiente para eu pegar esse Cinturão e sair daqui…”  

Nunca passaria pela cabeça de Felicia Hardy roubar um QG de um poderoso grupo de super-heróis. Nunca. Na verdade, essa ideia não passa pela cabeça de nenhum ladrão, de nenhuma pessoa em sã consciência.   

Felicia alisa a tampa de vidro, contornado toda sua extensão. Ela vê seu reflexo na redoma e sorri.   

Os cinco dedos da mão direita se separam e cada garra encosta no material transparente. A gata gira a mão no sentido horário e corta o vidro, que antes de cair, é amparado pela unha do dedo indicador.   

“Tá acabando… aguenta só mais um pouco, Felicia… só mais um pouco!”   

A mão desliza ao mesmo tempo tão suavemente quanto rapidamente. A mão puxa o Cinturão que saem pelo buraco sem mesmo encostar no vidro.   

A dor.   

Fina.   

Um gemido abafado.   

Uma lágrima.   

Os olhos brilham, como num flash.   

O azar.   

Um pequeno pedaço da parede semiderrubada se solta e faz barulho ao tocar o chão.

“Que azar… Preciso sair daqui urgente!”   

Felicia vira o corpo, que estava meio arqueado por causa das contrações nas articulações. O Cinturão Cósmico ainda estava na mão direita da gatuna. Ao se dirigir para o rombo na parede, o mesmo pela qual entrou ao vir do Salão Principal, teve seu rosto iluminado por um quente clarão.   

“Essa não…”  

- Ora, Ora… A Gata Negra! Uma ladra de renome em nosso museu! – A Mulher-Falcão deu outro sorriso – Sideral, parece que sua primeira aula comigo será bem ao meu estilo: prática. Nunca gostei de teorias.   

24 horas atrás - Bairro industrial, atual morada de Felicia Hardy

Alguém lá fora bate forte na porta. Felicia tira o adorno em ouro da cabeça e abre a porta de vez. Susto. Não há ninguém; apenas um envelope pardo, com o brasão do FBI, jogado ao chão.   

Excitação. O primeiro trabalho a mando da agente Michelle. O nervosismo é vencido pela curiosidade, mesmo sem saber que se trata da outra parte do plano do Camaleão. Por isso, o vilão teve muito cuidado em selecionar as informações que seriam passadas para a Gata Negra. Ela deve saber apenas o necessário. Como todo ladrão terceirizado.   

Felicia se deita na cama e abre lentamente o envelope, para logo em seguida retirar os papéis e um pen drive de dentro.   

A cada linha que seu olho passava, uma parte do seu corpo tremia. Simplesmente porque o novo trabalho de Felicia era roubar um museu. Mas não um museu qualquer. E sim um museu de um grupo de super-heróis. O Museu da Sociedade da Justiça América. O mais antigo e um dos mais poderosos grupos do planeta.   

“Não… Michelle não pode estar falando sério… o que o Governo precisa retirar do quartel de um grupo de heróis que sempre protegeram o país?”   

Parece que a resposta veio quando Felicia segurou umas fotos de um cinturão. Abaixo da revelação da Polaroid, anotações curtas sobre o nome e o material do Cinturão. Nada mais de informações, principalmente o que ele fazia e, muito menos, o que o FBI quer com essa peça.   

“Deus… onde estou me metendo? Cada dia que passa me afundo mais nesse buraco que cavei quando recebi novamente meu poder do azar… Ainda lembro de Peter me dizendo que era para eu ficar longe do Rei do Crime… como eu daria ouvidos a um ex-namorado que estava andando de mãos dadas com uma cientista? Além do mais eu sempre fiz questão de ter meus poderes de volta!”   

Num papel, dobrado várias vezes, estava o mapa da Mansão Dodds. Lá está localizado o Museu e uma série de outras instalações, inclusive ginásios, alojamentos e a sala de reunião.   

O labirinto que aquele prédio aparenta ser não mais assustava a Gata Negra. Caminhos e acessos decorados, inclusive os pontos críticos para a entrada e trajeto à sala-alvo. Lógico, em um canto da enorme folha estava a observação de que a fundação estava comprometida por causa de um combate que abalou seriamente a estrutura e a segurança da construção.   

A segurança. Em outra página estava o que mais interessava a Felicia (ou a qualquer outro lunático que ousasse invadir uma base de super-heróis): a tal segurança. Enquanto lia, Felicia gargalhava. Ela não imaginava como conseguiria fazer o trabalho para Michelle. Ela não acreditava que seria possível invadir, roubar, e sair sem ser detida, ou descoberta, pelos heróis.   

“Crise. Colhendo o que plantei. Antes era Julia que me deixava em maus lençóis. Agora é o FBI exigindo que eu faça trabalho sujo. Como a polícia federal vai saber que eu vou conseguir roubar esta peça? Quais garantias?”   

Como se fosse outra obra do Destino, outra folha de papel dá a reposta para Felicia: apenas três seguranças patrulhavam a Mansão e os integrantes da SJA ou estão internados, ou estão de visita no hospital, ou estão fora. O local está praticamente abandonado.   

Felicia até estranhou o fato de receber tantas informações sobre os atuais integrantes da SJA, histórico da fantástica participação da equipe na Segunda Grande Guerra. Para ela nada disso importava. Ela nunca se preocupou com histórias de outros heróis – apenas se fosse de interesse próprio – muitos menos se preocupou em apetrechos e utensílios que eles usam - apenas se fosse de interesse próprio – e ela nunca pensou em roubar o Museu da SJA – nem em interesse próprio.   

Após ler todo o conteúdo das folhas ela se entrega ao sono e o bilhete anexo, que dizia “sua tarefa não é das mais simples: você precisa pegar uma peça no Museu da Sociedade da Justiça América. Anexo: fotos do objeto-alvo, mapa do museu e segurança. Não se preocupe muito porque o local está desprotegido e danificado” ficou preso à sua testa.   

“Isso está passando dos limites.”   

Assim ela dormiu.   

No dia seguinte, medidas desesperadoras. Não que Felicia Hardy estivesse desesperada. Apenas precaução. O corpo ainda estava dolorido, o que fez com que Felicia pensasse que se tratava de mais uma noite mal dormida. Afinal ela estava tão entretida no novo trabalho que nem teve tempo de… sentir medo, planejar, dormir na posição correta.   

Depois do banho e da refeição matinal, Felicia pegou uma grande bolsa e colocou dentro dela todas as informações passadas por Julia, referentes ao roubo no Museu Britânico: o sistema de segurança, as fotos do quadro de J. Ph. Le Bas e o adorno peruano em ouro.   

“E as lembranças suas, papai…”   

Em outro compartimento da bagagem ela escondeu o material enviado pela agente do FBI: os dados sobre o a segurança, mapa e o objeto que precisa roubar do Museu da Sociedade da Justiça América.   

Ela não poderia deixar toda essa importância em qualquer lugar. Depois do sorriso maroto que anunciou uma recordação, pegou, escondida atrás do espelho do banheiro, a chave do cofre do banco onde Walter Hardy deixou seu passado.   

“Ali sinto segurança… só ali…”   

Em poucas horas ela tinha ido à instituição financeira e depositado todo o material naquele lugar inimaginável para as autoridades que suspeitam de Felicia; ninguém deduziria que ela esconderia planos e peças roubadas dentro de um banco, que por sua vez é um bom candidato a ser assaltado. Até mesmo por ela.   

Ao retornar para a atual casa, não resistiu às dores nas articulações e se jogou na cama.   

“Com certeza dormi de mau jeito… torta, quem sabe. Como queria uma massagem agora…”   

Teve até vontade de encher novamente a banheira de gelo e encarar uma terapia à força, mas o desejo foi duplamente negado. Ela não queria lembranças do Aranha. Ela não tinha forças para ir à cozinha e depois ao banheiro.   

Novamente, sono profundo.   

Um discreto, porém repetitivo despertador a acordou. Era hora do show.   

Ainda sonolenta, cambaleante, e menos dolorida, encarou o chuveiro de água quente. Seu corpo, arrepiado, era pista para as gotas que escorriam rapidamente, na disputa para ver qual chegava ao pé primeiro. Felicia recebe a ducha no rosto, delicia-se com o momento de alívio, com a trégua do incômodo físico.   

Com uma toalha na cabeça enxugando o cabelo, e outra cobrindo do busto até as coxas, Felicia arrumou o uniforme na cama. Fez o mesmo com as luvas, o gancho, a máscara, as botas e as lentes. A coleira não era a de espinhos, e sim, a medalha. Isso a irritava; ela queria a coleira com setas, porque ela poderia se transformar em proteção, caso alguém a pegasse pelo pescoço. Como já aconteceu diversas vezes.   

Já vestida como a perigosa Gata Negra, faltava apenas sanar uma dúvida: cabelos soltos ou presos?   

“Ai, ai, ai… Rabo-de-cavalo? Hum, talvez inovação, já que se trata de um trabalho meio suicida. Vou usar cachos!”   

Rapidamente preparou o penteado. Bem diferente do que ela estava acostumada a usar.   

“Cabelinho de molas! Gostei! Da próxima vez vou adotar um estilo rastafari ou lançar uns dreads, hahaha!”   

Em poucos segundos suas feições mudaram. Sem piadas ou brincadeiras. Era chegada a hora.   

Num belo salto ela sai pela janela. Bem antes de se chocar contra o solo, o gancho, disparado, a leva para outra direção, numa outra velocidade e altura.   

Seguindo as informações passadas por Michelle, Felicia entra na Mansão Dodds através das grandes e quebradas janelas da Sala de Jantar, por causa do combate entre a Sociedade da Justiça América e a Sociedade da Injustiça [1]. Como não há grades para ajudar na segurança, foi uma tarefa fácil.   

Ao entrar na Sala de Jantar, de ambiente pouco iluminado e aparentemente tranquilo – como em quase toda a Mansão – Felicia vibrou com o silêncio; isso era prova de que realmente o local estava semiabandonado, e por isso ela não teria grandes problemas.   

“Apenas as consequências do poder do azar que voltaram com força total…”   

Saindo da Sala de Jantar, Felicia se deparou com um comprido corredor que dá acesso a diversas outras salas, inclusive, à da Miscelânea – o local onde ficavam quadros de cada herói que passaram pela SJA, além de equipamentos e lembranças que não se enquadravam no que era exposto nas alas temáticas do museu. No trajeto até o local onde está o Cinturão Cósmico, quadros de heróis e equipamentos de outros supercaras.   

Passadas algumas entradas, a Gata Negra chega à Sala da Miscelânea. Escuridão. Nada que suas lentes não pudessem resolver. A cor dos olhos de gato pintada muda, e o ambiente se torna claro, graças aos intensificadores de luz.   

Pequenas bases sustentam estátuas de grandes super-heróis que fizeram parte da SJA.   

“Adão Negro! Adoro isso! Parece até que estou no Museu de Cera da Madame Tussaud’s!”   

Mais quadros por toda a parede e diversos objetos protegidos por redomas de vidro.   

E ela acha o que procura.   

Com respiração profunda, mas silenciosa, Felicia levemente flexiona os dedos e as unhas são acionadas. O Cinturão Cósmico está protegido apenas pela redoma.   

“Apesar de antigo e démodé, é bonito. Tem um brilho diferente… Unhg… Que dor! Isso não é bom. Vai acontecer algo e muito ruim hoje, eu posso sentir…”   

Nunca passaria pela cabeça de Felicia Hardy roubar o quartel general de um poderoso grupo de super-heróis. Nunca. Na verdade, essa ideia não passa pela cabeça de nenhum ladrão, de nenhuma pessoa em sã consciência.   

Felicia alisa a tampa de vidro, contornado toda sua extensão. Ela vê seu reflexo na redoma e sorri.   

Os cinco dedos da mão direita se separam e cada garra encosta no material transparente. A gata gira a mão no sentido horário e corta o vidro, que antes de cair, é amparado pela unha do dedo indicador.   

“Que dor… tá acabando… aguenta só mais um pouco, Felicia… só mais um pouco!”   

A mão desliza ao mesmo tempo tão suavemente quanto rapidamente. A mão puxa o Cinturão que saem pelo buraco sem mesmo encostar no vidro.   

A dor.   

Fina.   

Um gemido abafado.   

Uma lágrima.   

Os olhos brilham, como num flash.   

O azar.   

Um pedaço da parede semiderrubada se solta e faz barulho ao tocar o chão.   

“Que azar… Preciso sair daqui urgente!”   

Felicia vira o corpo, que estava meio arqueado por causa das contrações nas articulações. O Cinturão Cósmico ainda estava na mão direita da gatuna. Ao se dirigir para o rombo na parede, o mesmo pela qual entrou ao vir do Salão Principal, teve seu rosto iluminado por um quente clarão.   

“Essa não…”   

- Ora, Ora… A Gata Negra! Uma ladra de renome em nosso museu! – A Mulher-Falcão deu outro sorriso – Sideral, parece que sua primeira aula comigo será bem ao meu estilo: prática. Nunca gostei de teorias.   

Felicia joga o braço direito para trás, na tentativa de esconder o Cinturão. A jovem heroína passa à frente de Kendra.   

- O que você está fazendo aqui? – pergunta Courtney.   

- Ora – responde Felicia, apontado para Sideral ao tempo em que se afasta – Isso aqui não é um museu? Então, eu estava passando e vi que estava aberto para visitação púbica! – e sorri.   

- O que você está escondendo, Gata Negra? – questiona Sideral.   

- Eu? Nada, ué…  

- Chega dessa conversa mole! – interrompe Mulher-Falcão, que abre as asas e vai na direção de Felicia.   

“Parabéns, gatinha! Como você vai sair daqui? Preciso ser rápida!”   

Sideral acompanha Kendra, segurando fortemente o seu Cetro Cósmico.   

- Parece que está na hora do Museu fechar, né? – enquanto fala, Felicia, com o pé, derruba a imagem do Adão Negro – SHAZAM!!   

A estátua cai no chão e se quebra, derrubando também as redomas que protegiam várias peças. Felicia corre para o lado oposto de onde estão as anfitriãs. E a saída.   

Sideral vai para cima de Felicia enquanto Kendra pega entre os equipamentos expostos a maça que foi do Falcão da Noite, seu tio-avô.   

Encurralada, Felicia parte para o corpo a corpo com Sideral.   

Troca rápida de socos, só que Felicia se esquivava mais do que atacava. Ela estava na desvantagem porque a mão direita segurava o Cinturão.   

Kendra surge de repente e golpeia com a maça. A Gata tem apenas tempo para pular e a arma quebra um pedaço da parede, com o atrito.   

Quando Felicia conclui o salto é agarrada por Sideral. Courtney a aperta com força. Kendra sorri e acerta um soco no estômago da gatuna, que cai de joelhos logo que Sideral a solta.   

- As coisas não são fáceis assim, Gata Negra – diz Kendra – Ninguém entra aqui e faz o que bem entende!   

- Ah… é? – Felicia retruca, ironicamente – Não é o que parece. Não foi aqui que seu grupinho foi humilhado?   

Lentamente, Felicia levanta. Sente o gosto de sangue na boca.   

“Agora o esquema vai ser outro!”   

Ela anda, cambaleando, na direção do rombo que dá acesso ao Salão Principal. Foi por esse buraco que as integrantes da SJA entraram na Sala da Miscelânea e descobriram o roubo.   

- Largue o Cinturão Conversor Cósmico, Gata Negra. Este objeto é uma das maiores representações heroicas da Sociedade da Justiça América! – grita Sideral.   

- Meu Deus! Agora você falou como um conhecido meu! Por acaso, garota, você é filha do Capitão América? Com essa roupa, olhos e cabelos, e com esse discurso politizado…!   

Sideral abre a boca, ofendida, e corre na direção de Felicia.   

“Agora chega de verdade. Cansei de ser saco de pancada. Tá na hora de mostrar meu valor!”   

A garganta arde. Felicia grita.   

Kendra anda até se encontrar com Sideral:   

- Deixa ela comigo, Court. Você precisa aprender como se trata uma pessoa sem rumo e sem caráter.   

- Mas Kendra… esta é a minha chance de provar que eu…   

Enquanto as duas discutiam sobre quem enfrentaria a ladra, Felicia, se apoiando na parede, colocou o Cinturão.   

“Duas mãos livres! A fedelha está irritada, isso vai desconcentrá-la. A mais velha voa, mas aqui é um local fechado. Ou seja: tenho dupla vantagem!”   

- Olha, Kendra – grita Sideral – Ela está usando o Cinturão! Agora ela vai se dar mal...!

- É a nossa chance!   

Os olhos de Felicia brilham e ela grita.   

O Cinturão emite um novo reflexo e a Gata levita por um segundo. As integrantes da SJA olham curiosas.   

- Ela… - balbucia Sideral – Ela conseguiu fazer ele funcionar…??   

No mesmo instante Felicia é arremessada contra a parede. As duas riem.   

- Não, Court… ela não conseguiu.   

Felicia aciona as unhas e salta na direção das heroínas.   

“Eu sabia que este trabalho seria suicídio, então… morrerei em grande estilo!”   

Dando vários mortais, a Gata acerta um chute em Sideral. Rapidamente vira o corpo e arranha o busto de Kendra. Sangue.   

As lentes, ainda brilhando, anunciam o poder do azar. Redomas explodem, quadros desabam e objetos caem pelo chão, atingindo a Mulher-Falcão e Sideral. As duas se olham, espantadas com o poder do azar da inimiga.   

- Eu já enfrentei uma ave antes, Mulher-Pássaro! O Abutre! E venci! É a lei da natureza, os felinos sempre detonam as aves!   

Kendra arremessa a maça. Felicia salta para o lado esquerdo. Sideral se levanta e corre ao encontro da Gata.   

- Você não vai me segurar de novo, Court Rogers! – e pega Sideral pelo braço, gira e larga a heroína, que cai no chão e se bate numa estátua – Sua vez, Mulher-Pássaro!   

Kendra voa.   

Uma parte da parede onde está o rombo, que deu acesso a esta sala, desaba, deixando a ligação ainda maior.   

De garras ativadas, Felicia encara Kendra. O Cinturão, meio inclinado, como se fosse descer pelas pernas da ladra, brilha.   

- Agora você vai ver, Gata Negra – e voa rasante, mesmo no local apertado onde se encontram.   

As poderosas asas da Mulher-Falcão destroem mais ainda o ambiente.    

- Para, Kendra! Nosso patrimônio! Nossa história! – grita Sideral.   

- Pouco me importa! Essa ladra barata não vai se dar bem!   

Felicia tenta se afastar do ataque aéreo. Em vão. Ela recebe um soco no rosto e cai longe.   

- Levanta! Vou te ensinar que nem sempre o que passa no Animal Planet é a real vida selvagem!   

Sentada no chão, Felicia tem dificuldades para se erguer. As articulações doem muito.

Sideral tenta salvar algumas peças quebradas pelo novo confronto.   

- Desiste, Gata Negra. Ou prefere morrer? – indaga Kendra.   

- Sabe, sem dor não há recompensa... Por isso quero que você me mostre do que é capaz!   

Com as últimas forças, Felicia se levanta e fica em posição de combate. O inesperado então, se torna surpresa.   

A Gata Negra levita.   

Ela está voando.   

E sorrindo.   

Isso não deveria acontecer. Poucas pessoas em toda a história tiveram afinidade suficiente com o Cinturão para usá-lo do jeito certo. Sideral era uma delas – tanto que usava uma cópia do Cinturão original. E, ao que tudo indica, Felicia Hardy também fazia parte desse clube.   

- Agora vamos lutar do seu jeito, versão feminina do Abutre!   

Felicia escapa pelo rombo na parede e chega ao foyer, logo atrás está Kendra.   

Em pleno ar as duas duelam.   

Trocam socos e chutes.   

Mesmo sem experiência, Felicia está mais forte, por causa do Cinturão Conversor Cósmico.   

Apesar disso, ela é derrubada várias vezes, afinal, ela nunca voou.   

Mas ela sabe aproveitar um elemento surpresa.   

Elas se encontram, no ar, e Felicia consegue segurar o pescoço da Mulher-Falcão.   

- Quem deve desistir agora, Mulher-Pássaro?   

Kendra segura a mão de Felicia, tentando ter seu pescoço livre novamente.   

- Não me force a acionar as garras e te ferir seriamente, Kendra.   

As asas da Mulher-Falcão batem forte e seguidamente, e conseguem atingir Felicia, que solta o pescoço da rival e cai no chão. Melhor: na cratera causada pela queda da pesada armadura de F.A.I.X.A e de outros equipamentos.   

Três seguranças estavam na Mansão em setores diferentes: um deles estava no andar superior, nos alojamentos da Sociedade. O Outro estava na Sala da 2ª Guerra Mundial, que fica do lado oposto do Salão Principal – local onde a Gata e a Mulher-Facão lutam – e o último está na área dos ginásios, que fica do lado oposto do caminho que a Gata Negra tomou ao entrar na Sala de Jantar.   

Mas com tanto barulho, eles logo correram para o foyer, gritando que estavam a caminho.   

Sideral aparece. Kendra pousa devagar perto de Felicia, que ainda tenta se levantar.   

- Não pense que você vai se dar bem, Gata Negra.   

- Kendra – grita Sideral – Ela conseguiu… ela é a 4ª pessoa a usar o Cinturão Cósmico…   

- Se afasta, Court. Não quero que você veja essa cena.   

Kendra levanta Felicia pelo cabelo. Meio tonta, a Gata sorri.   

- Vai morrer feliz?   

- De que jeito seria?   

Clarões. O Cinturão usado por Felicia está disparando estrelas cadentes por todo o Salão Principal.   

As formas de luz concentrada, que provocam curto circuito em sistemas nervosos elétricos e orgânicos, também atingem Sideral.   

A jovem cai e logo em seguida recebe partes da parede e do teto.   

- Argh…!   

A Mulher-Facão vê a parceira soterrada.   

- Quem você vai escolher ver morrer, Kendra? Eu ou sua aprendiz?   

Kendra encara Felicia irritada e para o local onde Courtney está.   

- Eu vou acabar com você, Gata Negra! Pode escrever na sua lápide! – e joga Felicia longe. Kendra voa rápido e começa a tirar os entulhos de cima de Sideral, sendo logo ajudada pelos três seguranças.   

- O que vocês estão fazendo? Peguem a Gata Negra! – brada Kendra com os homens.   

Os três olham para trás.   

- Ela… ela escapou, Mulher-Falcão.   

Kendra segura um grande pedaço de pedra, o mesmo que cobria a cabeça de Sideral, a quebra com um soco e grita o nome da Gata Negra bem alto.   

Pouco tempo depois, atual morada

Tudo muito rápido. Sem pensamentos. Felicia chegou em casa, conectou o pen drive no laptop e viu o protocolo a ser seguido para contactar Michelle.   

“Ligue para RAYA.”   

Ela pega o celular e disca 7292.   

Uma voz masculina atende e Felicia pede para falar com Michelle. A ligação é transferida.   

- Felicia! E então?   

- Trabalho feito, agente.   

- Maravilha!   

- O que faço com esse Cinturão?   

- Eu vou pegar pessoalmente com você amanhã bem cedo. Vá descansar, deve ter sido complicado.   

- Você sabe que não. Apenas um contratempo.   

- Segurança?   

- Não. Uma ave de rapina.   

Felicia desliga o telefone e vai para a cozinha. Abre a geladeira e retira dezenas de cubos de gelo.   

Vai ao sanitário e enche a banheira com as pedras e abre o fluxo de água gelada.   

“Dor… só consigo pensar nisso!”   

Felicia desliga a torneira. Ainda de uniforme sai do apartamento no bairro industrial, desesperada, e pelos arranha-céus rapidamente chega à Universidade Empire States.

Tudo apagado. Especialmente a sala de quem ela procurava: a cientista Christina McGee. A ex de Peter Parker. A única pessoa, fora o Aranha, que poderia ajudá-la nessa nova crise pós-poderes.   

“Como pude esquecer… ela foi para a Costa Oeste! E agora?”   

Bom, agora sim a ação desesperadora é uma consequência do desespero: Felicia vai para a mansão da mãe.   

Depois de entrar e escalar, ela chega no quarto da mãe.   

 Acende a luz.   

Lydia Hardy se assusta ao ver a filha ferida, sangrando e triste.   

Pela primeira vez não houve sermão. Ela a abraçou.

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