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Gata Negra #26: Dejà vú

Gata Negra #26: Dejà vú

Felicia Hardy viaja para o local onde seu pai realizou o último roubo, quando foi preso e deportado para os Estados Unidos. Como a Gata Negra vai reagir às lembranças?   

Central Parque, 3:45pm

A tarde parecia ser uma daquelas de lembranças. Algo do tipo “ver sua vida passar como um flashback”, não apenas em pensamentos. E sim, daquela maneira única, quando nos vemos fazendo algo.   

Naquela tarde, no Central Parque, era o que acontecia com Felicia. Ali, sentada, olhando a exposição de um conhecido artista plástico, ela se via, ainda criança, se despedindo do pai que, segundo ele, estaria viajando a negócios.   

“Ele mentiu para mim…”  

Sua mãe, Lydia, era cúmplice de toda enganação. Sabia que sua grande fortuna era proveniente de atos ilícitos. Walter Hardy era um famoso ladrão. Não existia peça, quadro, nada, que ele não pudesse roubar.   

“Ele… mentiu… uma vida inteira…”  

Até que, finalmente, foi preso em um audacioso roubo a um museu britânico. Como consequência foi deportado para os Estados Unidos, julgado e condenado. Mas não por isso a sua consagrada carreira criminosa já estava com os dias contados: ele estava com câncer.   

“Ele não pode me culpar…”  

E quando Lydia lhe contou que seu pai havia morrido, ela viu seu fantástico mundo cor-de-rosa desabar a um negro horripilante. Só que como toda mentira, não durou muito. Felicia descobriu que seu pai estava preso e doente.   

“Por quê, papai…?”  

A partir de então, encantada com seus atos, tornou-se a Gata Negra. Seus genes herdados se misturaram a um poder latente, mutante, ainda desconhecido. Depois de muito treinamento, tirou o pai da prisão com a ajuda de alguns competentes bandidos: um perito em armas, outro em explosivos, um em segurança, e por aí foi. Na mesma noite, o primeiro contato com o seu único e grande amor: o Homem-Aranha.   

“Não tente me convencer… a não ser como você…”  

Ao libertar o pai, Felicia o levou para casa, não sem antes revelar seus dotes felinos, como virar o corpo em plena queda e cair em pé. Em sua mansão, ela mostrou quem realmente era. Walter pôs-se a chorar e pediu para que ela largasse dessa provável vida sem futuro. Mas como era um dos seus últimos dias de vida, ela o poupou de tal conversa e lhe trouxe sua amada esposa. Enquanto Walter e Lydia se amavam, um novo confronto com o Homem-Aranha. Dessa vez, Felicia forjou a própria morte, talvez para se livrar do amor. Talvez para deixar seu oponente preocupado. Nesta mesma noite, Walter Hardy morreu.  

“Eu sou como você, papai. E sou feliz por isso…”  

- Gata Negra!   

Susto. Estava tão perdida nas recordações que não viu a chegada de Julia Carpenter.   

- Oi...   

- Temos muito o que conversar. Inclusive sobre sua briga com o Aranha em plena Times Square.   

- Não teve outro jeito. Só espero que isso não tenha complicado sua relação com os sequestradores de Rachel.   

- Não! Graças a Deus! Ainda bem que o JJ odeia o Aranha. Ele te colocou na capa do jornal como heroína! Não nessas palavras, claro.   

- Eu falhei muito com ele. Não te disse que aquela ação contra a…  

Por um segundo Felicia quase revela um segredo...   

- Não entendi, Gata.   

- Nada, esquece...   

- Por que vocês brigaram?   

- Coisas de ex-namorados. Você sabe como o amor é bem complicado.   

- Mais ou menos.   

- Veio me trazer boas notícias?   

- Um novo trabalho.   

- Estava mesmo precisando de um pouco de ação. Sozinha, é claro.   

- Você irá para Londres.   

- Julia... Eu não estou gostando nada disso.   

- Muito menos eu, mas foi a ordem que me passaram.   

- Por que nós duas não vamos ao encontro dos sequestradores e damos um fim nesta história?   

- Não é assim tão simples. Minha filha está lá.   

“Claro. Relação pais e filhos. Não é simples. Eu que o diga…”  

- Você embarca hoje à noite. Onze horas. Me encontre naquele aeroporto particular no continente.   

- Ok. Até mais tarde.   

- Seja pontual.   

“Acho que preciso de ajuda...”   

Felicia vai um telefone público e liga para o celular da agente Michelle.   

- Preciso de um favor seu.   

- Espero que possa ajudar.   

- Quero que veja umas coisas para mim...   

- Se estiver ao meu alcance...   

- Informações sobre um aeroporto particular no continente. Ele...   

Por exatos quatro minutos elas conversaram. Felicia estava disposta a procurar os sequestradores da filha da sua nova amiga para encerra a vida criminosa “terceirizada”. Ela queria a fama. Queria roubar e fazer o que bem entendesse com o objeto. Como o próprio pai.   

Aeroporto particular, horas depois

Apenas um galpão estava iluminado. Na porta, o piloto, sozinho, fumava um cigarro. O barulho do salto alto tocando o chão anunciava que uma mulher se aproximava. Ele joga o cigarro ao chão e o apaga com uma pisada.   

- Boa noite, Sra. Hardy. Mais uma viagem?   

- Onde está Julia?   

- Ainda não chegou. Vai se atrasar um pouco. Cê fuma?   

- Não, obrigada.   

O fósforo queima e acende mais um cigarro. 

- Isso mata, sabia?   

- O que não mata?   

- Verdade... mas só te falei isso porque sei o quanto os fumantes ficam irritados quando alguém diz algo do gênero.   

O piloto sopra a fumaça na direção de Felicia. Olhar de reprovação.   

- Espero que seu plano de saúde esteja quitado.   

- Gata! – diz Julia, a curtos passos, carregando duas maletas – Desculpa a demora!   

- Tudo bem, mas quase tenho uma enfisema pulmonar...   

O piloto entra no avião.   

- Muito bem, Gata. Nessas malas estão coisas das quais você realmente vai precisar.   

- O que são?   

- Tome – arremessa uma – Aí tem todas as informações sobre o museu que você vai roubar. Quase tudo. Mas tem informações a respeito da segurança e fotos do quadro.

- Eu vou roubar um quadro? Faz muito tempo que não pego um...

- Não precisa se preocupar com a sua entrada, essas coisas. Tudo aí está muito bem explicado. Tanto que qualquer pessoa seria capaz de tirá-lo da parede!   

- Nem vou perguntar por que eu fui a escolhida... E na outra mala?   

- Você está com as lentes e as luvas, não é?  

- As únicas coisas que me restaram dos dois últimos uniformes que usei. Acredita que eles rasgaram?   

- Não se preocupe. Nessa outra maleta – e a joga também – tem uma nova roupa preta. Ela foi desenvolvida por um tal de TD [1], que tá a fim de ser concorrente pro Consertador.  

- Uau! Então os mascarados, vilões ou heróis, terão opções de preço e forma de pagamento para andar bem vestidos...   

- Só posso te desejar boa sorte.   

- Eu não preciso de sorte. Eu preciso de cautela.  

- Até, Gata Negra!   

Felicia embarca no avião, já mandando o piloto apagar o cigarro. Senta, abre a maleta: seu novo uniforme.   

“Muito bom mesmo. Mas eu não preciso de uma medalha pendurada na coleira... cadê a minha antiga, com os ‘espinhos’? Será que ainda a tenho?”   

Assim que a nave levanta voo, Julia volta à forma de Camaleão e Bumerangue aparece.  

- Ótimo, ótimo! Estou cada vez mais perto de colocar meu plano em prática! A transformação está...   

- Chefe, estou preocupado.   

- Com o que? Só porque Felicia pediu para que Michelle buscasse informações sobre  este aeroporto?   

- Sim, ela está desconfiada.   

- Não, Mayer. Ela está querendo ajudar uma amiga de outra maneira. O melhor é que ela nem desconfia que a agente do FBI, na verdade, sou eu.   

Gargalhada.   

- Muito bem. Contate logo o curador e providencie a luz negra e os removedores de tinta. Assim que eu tiver o quadro, vou desvendar mais uma etapa do processo de alteração molecular.   

Oceano Atlântico

O piloto deixou o avião no automático e deitou numa poltrona, perto de Felicia. A gatuna testava o novo gancho e confirmava a resistente costura do seu novo uniforme.   

“Agora ele pode ser preso na cintura! Isso vai me ajudar muito! Então... provavelmente, no museu, eu encontrarei coisas não registradas pelo material que Julia me passou. Talvez um alarme, ou guardas a mais. Vou ter que visitar o local assim que desembarcar em Londres. Vou conferir a foto do quadro...”   

A maleta aberta revela a papelada. Uma foto, ampliada, mostra cada detalhe da imagem. Algo a perturba.   

“Não sei... mas eu já vi esse quadro antes... em algum lugar. Odeio ficar intrigada. ‘Tou com uma sensação estranha...”   

- Ei, piloto, acorde!   

- Que foi????   

- Tem um cigarro aí?   

- Mas cê não fuma!   

- Eu sei. É só para segurar mesmo. Dizem que é um ato de alívio. Coisas da psicologia...

Londres, manhã

Ao desembarcarem em um outro aeroporto particular, Felicia e o piloto foram ao hotel onde tinham reservado uma suíte.   

- Aqui estão os cartões de acesso ao aposento. Lua de mel?   

- Sim – fala o piloto, antes que Felicia dissesse algo.   

- Boa estadia. Qualquer coisa basta ligar para a recepção.   

O piloto carregava as duas maletas já imaginando que sua “esposa” diria poucas e boas.   

No quarto...   

- O sofá é bom. Fica com ele, “marido”!   

- A gente tinha que disfarçar, oras!   

- Estranho é uma mulher, linda como eu, casada com você.   

- Eu não sou de se jogar fora.   

- Verdade, mas não é homem o suficiente pata dar conta do recado.   

- Quer conferir?   

- Fica na sua. Vou ao museu.   

- Vou contigo. Pode precisar de uma presença masculina e...   

- Poupe-me. Qual o seu nome mesmo?   

- Charles.   

- Sugestivo. Vou me trocar e a gente vai.   

Museu Britânico

Eis o museu Britânico. Tem mais de 250 anos, sem dar sinal de cansaço; pelo contrario. Considerado o museu mais antigo do mundo, ele atrai mais de seis milhões de pessoas por ano e continua sendo um dos programas culturais de maior peso em Londres, por reunir quase sete milhões de peças. O museu está localizado na Great Russell Street, WC1.   

Com o programa na mão, Felicia e Charles entram no museu. Paredes espaçadas, muita gente, muita segurança. Felicia vai anotando cada detalhes, para depois ir conferir com as informações dadas por Julia. E Charles tenta segurar a sua mão.   

- Esquece... não somos um casal.   

- Mas...   

- Quer perder quantos dedos? – faz um gesto como se ativasse as garras.   

Eles continuam caminhando, admirados. Até chegarem ao corredor onde está a figura de J. PH Le Bas.  

- Charles, eu vou precisar cronometrar o tempo deste corredor até a biblioteca, que é por onde eu vou entrar.   

- Como fará isso?   

- Na verdade tem que ser do lado oposto a este corredor, onde está o quadro. De lá até aqui e daqui até a biblioteca.   

- Repito: como fará isso?   

- Primeiro vamos ver o quadro...   

Os dois caminham a curtos passos. As lentes aproximam a visão e Felicia vê sensores de peso no corredor que dá acesso à ala onde está a peça-alvo.   

“Um mínimo toque no piso e o alarme dispara.”   

Cada detalhe é minuciosamente analisado. Os pontos de saída do laser, câmeras, sensores diversos.   

“Vai ser fácil... hahahaha!”   

Na ala, que fica transversal a uma exposição de artefatos peruanos, Felicia se assusta ao descobrir, além de outros itens de segurança, um sensor de movimento. A mínima lufada de vento num perímetro e o alarme é acionado. A consequência? Grades caem e fecham as saídas das alas, diversos alarmes disparam e a polícia é acionada. Nada simples.   

“Eu vou conseguir... Claro que vou. Não só por Julia... mas por mim!”   

Enfim o quadro. Pintado em cores escuras, revela quatro homens, alquimistas, em um laboratório que mais parecia uma cozinha. No primeiro plano, dois deles trabalham com experimentos no fogo. Ao fundo, outros dois misturam formulas entre panelas penduradas, uma enorme lareira, escritos, bases, garrafas...   

“Onde eu já vi esse quadro? Preciso lembrar...”   

- Felicia, como vai cronometrar o tempo dos guardas?   

- Temos duas opções: corremos como loucos ou <b>você</b> corre como louco!   

- Não entendi...   

- Vai entender!   

Ela olha o movimento, desde os visitantes até os guardas. Sorriso delicioso.   

- Socorro! Ele está tentando me roubar!   

Charles faz uma expressão desesperada e corre. A Gata continua sorrindo, com as sobrancelhas erguidas.   

O piloto teve tempo de acionar o cronômetro do seu relógio de pulso antes de começar a correr.   

Enquanto um segurança se aproximava da ladra, outros seguiam Charles.   

“Que maravilha! A sola dos sapatos dos guardas não são tão aderentes a este tipo de piso liso... eles correm com um certo receio de cair! Isso me dará tempo...   

- Algum problema, senhora?   

- Eu tive a impressão de que aquele homem estava tentando me roubar, senhor.   

- Ele a ameaçou?   

- Não...   

- Lhe tomou algo?   

- Não...   

- Já imaginou a confusão, o mal-estar que pode ter causado?   

- Desculpa... Mas nessa época de terrorismo temos medo até mesmo da nossa sombra...  

O guarda balançou a cabeça, consentindo, e começou a falar sobre as medidas de segurança não apenas do museu, mas como o de todo o Reino Unido.   

Hotel, 24 horas depois

Assim que Felicia se desculpou, publicamente, do ‘incidente’, ela e Charles voltaram ao hotel. Ela, feliz pelos resultados. Ele, indignado.   

- O que vou ganhar em troca depois disso que me fez passar, Felicia?   

- Uma noite intensa de sexo selvagem. Topa?   

Charles arregalou os olhos.   

- Fala sério?   

- Claro que não! Mas pago o seu jantar!   

- Por que você não descarrega esta tensão comigo?   

- Seria uma boa idéia. Vai me deixar te bater?   

- Depende...   

- Você está me convencendo...   

Restaurante, 9:15pm

Felicia e Charles decidiram ir jantar depois de uma tarde intensa...   

- E então, Felicia, como vai roubar o quadro? Parece ser impossível!   

- Charles, a única coisa que me é impossível é...   

“...é reatar com o Aranha...”   

- …não interessa. Eu já sei como vou roubar a peça.   

- Me conte!   

- Não mesmo. É segredo profissional.   

- Ao menos me fala como você vai entrar.   

- Muito simples. Olha isso aqui.  

Ela coloca um papel à mesa: “Em comemoração ao aniversário de 250 anos, em 2003, do Museu Britânico passou por uma reforma considerável. A de maior impacto foi a Great Court, um gigantesco espaço interno ultra high-tech, inaugurado pela Rainha Elizabeth II em dezembro de 2000. Um projeto de 100 milhões de libras. É uma espécie de casamento do velho com o novo: um moderníssimo teto de vidro e aço que cobre o espaço central neoclássico do museu, que reivindica para si o título de ‘a maior praça coberta da Europa’. No coração desta piazza fica a antiga biblioteca do museu, o Reading Room, frequentado no passado por escritores famosos como Karl Marx, Lenin, e Virginia Woolf, mas que era usado exclusivamente por uns poucos privilegiados, acadêmicos e pesquisadores. Com o Great Court, o público passou a ter acesso ao fantástico salão do século XIX, restaurado nos mínimos detalhes e transformado em biblioteca de referência equipada com alta tecnologia. O novo pátio inclui também novas galerias, um restaurante, um centro educacional e pontes de ligação para o prédio principal.   

- Uau, Felicia, mas...   

- Calma! Essa cobertura, de projeto estrutural do engenheiro Buro Happod e arquitetura da Foster and Partners é uma estrutura metálica com fechamento em vidro, apoiada em toda a sua periferia e no anel central. Note que além da curvatura ela não é simétrica. As dimensões da planta são de 73x97m e a flecha máxima é de 6,50m. O modelo é de 2.030 nós, 5.394 barras e 3.312 elementos fictícios. Esses elementos foram modelados na cobertura para facilitar o carregamento, principalmente do vento, onde se pode carregá-los com uma pressão. Minhas garras vão fazer um bom trabalho.   

- Sem alarmes?   

- O melhor é que não. Ninguém ousaria roubar o Museu por ali. Só eu!   

- E lá dentro?   

- É uma outra história!   

- Se você for presa o que faço?   

- Nada, porque isso não vai acontecer.   

- Tomara! Não sei o que seria de mim sem...  

- Chega, Charles. Vamos comer porque ainda preciso tomar um banho e provar meu novo uniforme.   

Cobertura do Museu Britânico, madrugada

Ainda do lado de fora. O vento frio sacode seus cabelos e toca-lhe o busto semi-coberto. O gancho, destravado, está preso à sua cintura. Uma lua da cor das plumas do seu novo uniforme faz sombra em seu rosto. Apenas o par de olhos verdes brilham.   

Felicia ainda não se manifestou. Ela está estática, olhando para cima. E foi assim que se lembrou de quando sua mãe lhe contou a maior de todas as mentiras: de que seu pau tinha morrido.   

“Eu saí correndo, ainda com o uniforme de líder de torcida. Sentei-me na rua e chorei. Até que o destino trouxe para mim a capa de uma edição do jornal do dia. Ao ler que meu pai estava vivo, meu coração encheu-se de odeio e alegria.”   

Era chegada a hora. Agachada, a ladra aciona as garras e retira duas peças de vidro e corta o metal que as uniam.   

O gancho é travado na parte de concreto, do lado de fora, que sustenta aquela espécie de cúpula.   

Como uma alpinista, Felicia vai descendo, desenroscando o gancho.   

Silêncio.   

Chão.   

Retira o cabo que sobrou preso ao corpo e o deixa pendurado, para pegá-lo assim que realizar o trabalho.   

“Pelas anotações e cálculos, os guardas acabaram de passar por aqui. Eles estão indo para o lado oposto... Bom, é hora do show!”   

Mesmo ciente (ou não) de que o seu poder do azar desativaria qualquer câmera de segurança com grandes possibilidades de filmá-la, a Gata Negra caminha pelas partes mais escuras dos corredores, se aproveitando do par de lentes.   

O primeiro obstáculo: lasers.   

Uma nova função em seus olhos é acionada e os feixes de luzes vermelhas são vistos.   

“Não será tão complicado como quando cheguei ao esconderijo de Little Doll...”   

Os olhos de enchem de lágrimas. John.   

Um salto simples, uma cambalhota, a perna esquerda levantada, um giro de 90º, agachamento, corpo colado ao chão, um novo rodopio, engatinhando, corpo erguido, reto.   

Fim do primeiro corredor. Na transversal, à sua direita, um novo caminho.   

Felicia cerra os olhos e aproxima a visão: sensor de peso. O menor toque no piso e o alarme dispara.   

“Que ótimo! Como vou passar por aqui?”   

Neste setor do Museu, os corredores seguem um padrão: 15m de largura. O que Felicia procura está na próxima esquerda e não tem saída. Seu comprimento é de 30m. Mas este é muito maior, e está abrigando uma exposição sobre os gladiadores. E o que tinha depois a deixou curiosa.   

“Não tenho muito tempo. Me ajuda, César! Eu não posso ir pelo chão – olha para cima – nem pelo teto... hum... então...”   

Com a visão aproximada ela vê mostras de tesouros peruanos, que estão mais à frente.  

“Não agora, Felicia. Você tem que cruzar este corredor daqui. Mas como? Se eu não posso ir pelo chão nem pelo teto... Claro, gatona!”   

O bom e velho sorriso. As garras, ativadas.   

“Vou pelas paredes!”   

Felicia salta dois metros e crava as unhas na parede. Fazendo um enorme esforço vai perfurando o mármore em direção ao fim do corredor. Com cuidado, para que pedras não quebrassem e caíssem, tocando no chão.   

“Argh! Não sei se vou conseguir... o caminho é muito longe, meus braços estão doloridos!”   

Ela precisa parar na próxima transversal, que é paralela ao primeiro corredor. Ali está a ala do quadro de J. PH Le Bas..   

“Preciso relaxar os braços, ainda mais agora que este tal de Ben Hur está atrapalhando minha passagem. Vamos lá... de novo...!”   

Ainda se segurando com as garras, Felicia encolhe as pernas, ficando com os joelhos tocando o busto e os pés na parede. Um impulso fantástico, ela salta para trás. No ar, vira o corpo e fica de frente para a parede que antes estava de costas. Ao encostar, as garras fazem dez novos buracos no amarelado mármore. Não sem antes a Gata deslizar um pouco.   

“Ai... Esse Ben Hur agora vai ficar olhando o meu traseiro... ele que não se engrace!”   

Agora ela segue com o mesmo movimento, indo até a entrada do corredor que precisa ir. Ali ela poderia pisar, porque começaria, adiante, a exposição peruana e o sistema de segurança era outro.   

Em pé, ela alonga os braços para cima, frente, baixo, trás. Mexe o pescoço circularmente para a esquerda, para a direita. Ao erguer a cabeça ela vê, ao fim daquele corredor de 30m, o quadro.   

“Bom, 30m de comprimento, 15m de largura. Sete pontos de sensores na vertical, quatro na horizontal. Cada sensor capta vento a cada 2,5m. bom, eu tenho exatos 70cm para passar entre eles, em linha reta, sem acionar o alarme.   

Chinatown, Nova York

Próximo a um galpão abandonado, duas mulheres conversam a poucos centímetros de distancia. Uma tem feições orientais e veste um kimono lilás de seda. A outra está com o corpo quase nu, não fosse o tecido vermelho que lhe cobre partes do corpo.   

- Você foi muito bem referenciada.   

- Faço por merecer.   

- Tenho dois trabalhos para você.   

- Isso triplica o valor antes combinado.   

- Dinheiro não é o problema, mas te pagarei a outra metade quando os serviços forem concluídos.   

- Portanto que pague.   

- Sua primeira missão é me trazer uma pedra.   

- Eu não sou ladra.   

- Não se preocupe, ela já foi roubada. Quero que você a tire de quem a pegou e me entregue.   

- Eu mato a pessoa e resgato essa peça.   

- É por sua conta, mas tenha cuidado. Ela é uma joia japonesa que estava em exposição num museu e...  

- O símbolo imperial do Japão. Eu soube do roubo. Qual o segundo trabalho?   

- Assassinar uma pessoa.   

- A mesma que roubou a joia?   

- Não sei. Mas ela pode lhe ajudar, afinal se trata da Gata Negra, uma ladra.   

Museu Britânico, corredor alvo

Antes de dar o primeiro passo, Felicia ouviu um ruído.   

“Deve ser o aparelho de ar-condicionado...”   

Insistiu alongando o corpo, mas o barulho não cessava. Deu meia-volta e se dirigiu ao corredor onde estava uma exposição de artigos peruanos. Estava escuro. As lentes iluminavam o ambiente, mas era como se a claridade estivesse estourada. Susto. Alguém tentava roubar um adorno de cabeça.   

Silenciosamente ela se aproximou da companhia e murmurou:   

- Você vem sempre aqui? – em um leve sotaque inglês.   

A única reação da pessoa foi girar o corpo com o braço estirado, numa tentativa de atingir a ladra.   

O punho bateu de raspão.   

- Nem preciso dizer que este museu é pequeno demais para mós dois, não é? – e acerta um chute no joelho da pessoa que cai – Não é aconselhável estar no mesmo lugar do que eu... mas isso não significa que vá poupar sua vida...   

A companhia rola pelo chão, levanta rapidamente e pega um machado também exposto.   

“Agora me preocupo. Se acertar algo o alarme dispara e é o fim do meu assalto...”   

Apesar de a companhia ter braços fortes, o machado era pesado, o que o tornava lento. Felicia evitava um contato direto e que ele acertasse alguma peça.   

“Se eu estivesse com meu gancho...”   

Ela continua saltando até encontrar uma corda.   

“Se não tem cão... caça com a gata!”   

Quando o vulto acerta o golpe, Felicia pula sobre ele e gira o corpo no ar. Ao tocar o chão, ela vê as costas dele. Os braços do oponente estão abaixados, por causa da força usada no ataque. Felicia o amarra. A corda era tão comprida que o enrolou da barriga até a boca.   

- Não quero saber de você me incomodando – enxuga o suor da testa com as luvas e caminha de volta para a entrada do corredor que interessa.   

A Gata Negra já sabe por onde pode passar: entre os sensores de movimento em um espaço de 70cm. Se fosse outro ladrão a roubar o quadro, talvez ele pensasse que o único problema seria como tirá-lo da parede. Os sensores ao chão só são visíveis a quem tem experiência. E a ladra ali presente, em frente, porém distante do quadro, não tem preocupações.   

“Traçar uma linha reta invisível. Ok. Cruzar os braços e segurar os ombros. Ok. Um pé na frente do outro, ao caminhar.”   

O coração batia acelerado. Não por medo. Por prazer. Dessa vez, em seus pensamentos, não houve o conflito entre o certo e o errado. Nem a pergunta “o que ele pensaria sobre este ato?” O coração batia acelerado, bem diferente dos passos curtos e certeiros naquele traçado invisível.   

Nenhum movimento brusco, muito menos extra ao combinado consigo. A tentação de olhar para os lados, para ver os outros quadros, fazia com que sua nuca ardesse. A tentação para olhar para cima, para o teto, e descobrir se era pintado como naquela capela famosa, que recebeu uma ajudar de um grande pintor, fazia com que seu queixo tremesse. A tentação de olhar para baixo, para ver se estava ultrapassando o limite, fazia com que sua cabeça doesse.   

Ignorava todos os ‘se’. O ocorrido há poucos minutos era descartado a cada centímetro em que se aproximava do quadro.   

Metade do caminho.   

A pouca luz no corredor e o silêncio completavam aquele cenário. As pupilas se dilatavam quando descobria uma nova forma ali pintada. Expressão de “estou reconhecendo” sendo seguida por “não... acho que não” era o que seus olhos refletiam.   

Felicia insistia em fingir escutar uma batida eletrônica para se sentir mais cheia de ação, mesmo que internamente. Respiração profunda e pausada.   

“Som mais dez passos...”   

Os braços ameaçam adormecer por causa da posição.   

“Oito...”   

As pernas estão tremulas.   

“Seis...”   

As costas queimam.   

“Quatro...”   

A Gata para. Desce os braços alisando o busto. Estica o corpo curtamente e os estalos revelam que ela não mais está travada.   

“Dois... dois...”   

Como num movimento de tai chi chuan, ela estica os braços e ativa as unhas. O sensor de alarme está na parte de cima da moldura, que por sua vez se prende à parede. A intenção de Felicia é cortar a tela, pela parte de trás, para não perder muito da pintura.   

Isso porque ela supõe que o alarme instalado á antigo e ultrapassado. Não existia a informação.   

Todas as luzes do corredor acendem.   

O alarme dispara, alto e repetido.   

Barulho de ferro se movendo.   

Sem preocupações, Felicia puxa o quadro e corre para o fim do corredor, para chegar a área livre.   

Agora seu coração bate acelerado por causa do medo.   

Ela corre.   

Corre.   

A grade está baixando.   

Poucos metros para ela passar. Poucos metros para seu destino ser selado.   

Felicia ri alto enquanto destaca a tela da moldura e faz uma espécie de rolo.   

“Lembrei!”   

Naquele instante ela não ligava se daria tempo para fugir, porque ela sabia de onde conhecia a pintura.   

Instintivamente ela arremessa a peça, que passa por entre as barras de ferro da grade.   

Ela pula e ao tocar o chão amarelado, desliza de bruços, virando o corpo, deixando um braço esticado. Antes de a grade tocar o piso ela conclui o giro e, sem mesmo olhar, segura uma das barras, já pela parte de fora, encerrando a fuga.   

Rapidamente se levanta e pega o quadro. Seria a hora de pensar, caso Felicia não soubesse o motivo para que os alarmes fossem disparados: sua companhia.   

Como as passagens estão fechadas, ela só pode voltar à biblioteca passando justamente por onde teve o conflito: no corredor da exposição peruana.   

Sua corrida foi interrompida ao descobrir quem teve o azar de tentar roubar o museus no mesmo dia: um homem com uma máscara preta, que só deixava aparecer os olhos.   

Ele, mesmo amarrado, tinha deitado e derrubado uma peça, fazendo com que o alarme fosse disparado.  

- Viu como não é bom quando a Gata Negra cruza o seu caminho? Você, além de patético, é burro! Eu vou fugir... e você? Vai ser preso e nem poderá contribuir com a polícia londrina porque não sabe quem eu sou! – repetindo o sotaque.   

Felicia se aproxima e levanta a máscara dele.   

“Deve ter uns 40 anos...”   

- Você tem cavanhaque... que excitante. Não vou embora sem te dar um presente e nem sem me dar um presente.   

Felicia o beija na boca e em seguida lhe morde o lábio inferior até sentir um gosto de sangue.   

O ladrão, parvo, tentava dizer algo.   

- Foi um prazer, senhor patético! Ah... ia me esquecendo do presente...

Pega a tiara e a coloca na cabeça.   

- Eu conheci seu pai.   

Os olhos de Felicia tremem.   

- Quem é você?   

- Você é igualzinha a ele. Mas será que terá sucesso? Ou vai ter o mesmo destino do Gato?   

- Anda! Vamos, me fala! Quem é você?   

Já dá para escutar as vozes dos seguranças.  

- Isso não vai ficar assim! Eu vou te achar e arrancar o que você sabe, nem que para isso eu o busque no inferno!   

“Passos. Os guardas estão chegando.”   

Põe-se a correr novamente, por um caminho novo, mas agradecendo pelas placas instaladas que indicam caminhos para quaisquer destinos. Mesmo assim ela estava intrigada, por isso não podia pensar, apenas correr. Era hora de escapar.   

Na última esquina para chegar à biblioteca, um guarda a vê e corre ao seu encontro. Felicia vai para cima dele, colocando o corpo meio de lado.   

“Se aquela orca do Rei do Crime consegue fazer isso...”   

Ao se encontrarem, Felicia o derruba com o ombro. Na vantagem, consegue respirar um pouco, mas logo se vê acompanhada novamente.   

“Acelerar o passo e virar mais rápido ainda...”   

Assim ela confirmou sua teoria de que a sola dos calçados da segurança não era tão aderente quanto às botas que usava. O guarda caiu e bateu os cotovelos ao chão.   

Biblioteca vazia. O gancho ainda pendurado.  

Felicia o segura e o enrola na cintura. Ativa o dispositivo que a leva para cima, como se fosse guinchada.   

Ao saltar pelas construções, ouvia as sirenes da polícia.   

Hotel 

Após quase matar Charles de susto, ao invadir o quarto pela janela, Felicia jogou as peças roubas na cama. Sem tirar o uniforme serviu-se de gim.   

- A BBC já está transmitindo, ao vivo, direto do Museu Britânico. A imprensa daqui é muito boa... só não sei se...   

Soluços.   

- Felicia... você está chorando?   

- Estou decepcionada.   

- Mas como? O roubo foi um sucesso! Nem a Scotland Yard tem pistas do criminoso. Criminosa, quero dizer.   

- Mas... e ... – soluço – o outro ladrão?   

- Outro? Como assim? Não mencionaram isso.   

- Tinha um homem lá, tentando um roubo... e ele me falou umas coisas...   

- Mas o inspetor da polícia...   

- Na certa – soluço – vão omitir este fato e levá-lo para um local secreto e assim interrogá-lo. O depois só Deus e a Rainha sabem.   

As lágrimas não cessavam.   

- Me responde... por que está decepcionada?  

- Eu acreditei que só tive força para fugir por causa de um pensamento. Mas este pensamento estava errado!   

- Como assim? Me explica, por favor!   

- Há anos meu pai foi preso neste museu tentando roubar um quadro. Quando eu vi a pintura achei que fosse o mesmo que ele tentou levar, sem sucesso.   

- Felicia...   

- Estou bem, Charlie. Eu apenas não consegui provar nada... a ninguém.   

- Você fez seu serviço e isso será compensador.   

- Não sei como, Charlie.   

“Não sei como...”   

Aeroporto particular, Nova York

O retorno foi silencioso. Felicia passou a viagem inteira olhado o quadro. E perguntava qual a importância dele... como ele ajudaria Julia Carpenter... e lembrava do pai. E do outro ladrão. De onde se conheciam? Como ele sabia quem era Felicia?   

Ela até cogitou que esse tenha sido o motivo pelo qual seu pai foi preso: a pintura de J. PH Le Bas. Enquanto acreditava nessa hipótese, Felicia teve forças para fugir do Museu.   

“Eu sou igual a você, papai...”   

Ao desembarcarem, Julia a esperava, ansiosa.   

- Alguém já te disse que você é a melhor, Gata?   

- Diversas vezes.   

- Cadê o quadro?   

Felicia pega o tubo onde está enrolada a pintura e entrega.   

- Vejamos...   

A ladra tenta iniciar uma conversa, mas é interrompida.   

- Perfeito! Esse quadro é lindo... a cozinha...   

- Julia – corta os pensamentos altos da amiga – qual a relação desta pintura com o sequestro da sua filha?   

- Eu nem imagino... olha essas cores... os tons de cinza!   

“Pra quem teve a filha raptada você está muito estranha... cadê aquele desespero?”   

- Muito bem, Felicia. Charles vai te levar para casa. Aguarde contato. Você sabe onde me achar, lógico...   

Charles chega com uma limusine. Felicia, sorridente, entra e eles vão embora.   

Julia volta à forma de Camaleão e Bumerangue aparece com o curador, que trazia consigo uma luz negra e removedores de tinta.   

- Perfeito, Meyer! Essa pintura esconde a fórmula do processo de modificação molecular... Falta pouco para que meu plano seja concluído.   

- O que faremos depois, chefe?   

- Ficaremos ricos!   

- Eu sei, mas me refiro a Julia e a filha dela. E a Felicia.    

- Elas vão morrer.   

Bairro industrial, atual morada de Felicia Hardy

- Obrigada, Charlie.   

- É sempre um prazer.   

- Imagino. Olha o que eu trouxe de presente para mim!   

Felicia abre uma bolsa e retira o adorno em ouro que roubou da exposição peruana.   

- Meu Deus! Você roubou isso! É lindo!   

- Aquele ladrão estava atrás dessa peça... eu acho... Ela foi recém-incorporada ao Museu Britânico! A polícia a encontrou na casa de um advogado. Acredita que essa peça tem 1.300 anos?[2]   

- E já foi levada novamente...   

Risos.   

- Usa. Quero ver como você ficaria como deusa peruana.   

- Que tal?   

- Veste o uniforme e faz amor comigo!   

- Cai fora, Charles! É festa, é?   

- Se você quer chamar assim...   

Felicia, gargalhando, arremessa uma bolsa em Charles.   

- Me diz... você trabalha como freelancer?   

- Sim...   

- Quem te contratou para viajar comigo?   

- Um homem... que sempre está acompanhando sua amiga.   

- Quem é esse homem?   

- Não sei, Felicia.   

- É que estou desconfiada.   

- Fala.   

- Não quero te envolver nisso, Charles. É algo muito sujo.   

- Estamos no ponta do iceberg?   

- Tenha certeza. Mas quero te pedir uma coisa.   

- Tiro a roupa em dois minutos!   

- Para! Quero que você me diga tudo que acontecer entre Julia e seu contratante.   

- Sem problema.   

- Por sinal... já os viu conversando, né?   

- Inúmeras vezes.   

- Ela chorava? Parecia desesperada?   

- Nunca percebi.   

- Me ajudou muito. Agora você precisa ir.   

- Sem um beijinho?   

Felicia ri, segura Charles pelas orelhas e se aproxima muito. Antes de beijar-lhe a boca, ela sussurra:   

- Sem beijinhos – e o empurra para fora de casa.   

Felicia coloca a copia do quadro preso à parede, senta na cama e olha. Lembra do pai e do ladrão, que o conhecia e sabia que ela era filha dele. Tentava entender quem ele era e o que fazia ali. Teve vontade de retornar para Londres e iniciar uma investigação. Só que ela não tem como fazer. Tem a investigação do soro roubado pelo Escorpião e levado a Gotham, tem Julia... e tem Michelle. Felicia sabe que terá muito tempo para fazer, assim que resolver o problema de Julia. E ainda com a tiara na cabeça, chora.   

“Agora me resta fazer uma coisa...”   

Ela pega o celular e liga para Michelle.   

“Vamos ver o que minha agente federal tem para me dizer sobre aquele aeroporto... ah não! O celular está desligado!”   

Alguém lá fora bate forte na porta. Felicia tira o adorno em ouro, aciona as garras e abre a porta de vez. Susto. Não há ninguém. Apenas um envelope pardo, com o brasão do FBI.   

***

Notas

[1] Aqui se faz uma alusão ao uniforme criado pelo desenhista Terry Dodson. Este modelo da roupa pode ser conferido em diversas edições da Revista Homem-Aranha – Marvel Knights, ou no especial “O mal no coração dos homens.”  

[2] Leia a matéria sobre como o adorno foi recuperado antes de ser roubado pela Gata Negra, clicando aqui.

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