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Gata Negra #25: Objetivo Comum

Gata Negra #25: Objetivo Comum

Depois de um confronto com o Homem-Aranha, Felicia Hardy decide descobrir quem está por trás da produção do soro que afetou Flash Thompson. Ela está prestes a descobrir que as coisas não são tão simples assim... 

Bairro qualquer, fim de tarde  

Poucos dias tinham se passado desde que Felicia e Peter se enfrentaram pelas ruas de Nova York. Durante este período, ela ficou em casa, repousando. Por ter recebido poderes sobre-humanos, sua recuperação era mais rápida, mas isso não impediu de que os hematomas no rosto sumissem por completo. O mesmo com seu nariz. Ombro. Abdome.   

Nesse meio tempo, Felicia não arriscou olhas através da janela. Comia comprando por telefone e recebendo no novo e atual apartamento em um bairro industrial. Sentia saudade do luxo, da sua mansão, dos seus mimos. Ela também não sabia o que estava acontecendo no mundo; não via TV nem lia jornais. Medo. Era isso o que sentia ao imaginar o que era publicado ou transmitido em referência à sua briga com seu ex-namorado.   

“Como Peter reagiu a isso?”   

Essa e outras perguntas a assombravam. O pavor de uma represália do Homem-Aranha a intimidava. Felicia sabe que errou ao enfrentá-lo, sem um motivo justo. Ou apenas, justificável. E ela sempre ouvia sermões de Peter justamente por querer explicar e justificar todas as besteiras que fazia.   

“Estou cansada... Confusa, e para piorar, sem um uniforme. Hum... um outro problema. O que será que Julia e Michelle vão dizer quando me encontrar? Será que minha desavença com Pete prejudicou a tentativa da Mulher-Aranha em salvar sua filha? Será que meu ato – irracional – complicou mais ainda a minha relação com o governo federal, e todas aquelas leis que nunca cumpri? Será que Peter estava certo ao dizer que eu sou apenas uma patricinha mimada vestida como uma idiota?”   

Mesmo com tantos problemas e diversas perguntas, ela ainda se lembrava e se preocupava com Flash. Cogitou uma nova visita, mas seria arriscado em demasia. Então se lembrou de algo que, no fundo, deveria continuar adormecido...   

“Doutor Ivan Cohen. Clínica Zyon. Preciso confirmar que foi Norman Osborn o culpado pelo acontecido com Flash. Preciso deter esse louco e acabar com esse soro. Norman pode agir dessa maneira novamente... Imagina se for com outro conhecido meu e de Peter? Não... Preciso de ar. Preciso sair!”   

Felicia sentou-se frente a um pequeno espelho e começou a maquiar o rosto, na tentativa de esconder aqueles pontos de tonalidades sombrias. O olho já não estava fechado; poderia usar as lentes novamente. Assim como colocou óculos escuros e prendeu os cabelos. Calçou as luvas e segurou o gancho, desconectado do uniforme rasgado. Ela tinha que ser o mais discreta possível.   

“Está tudo certo. Tudo não. Há um pequeno problema: que roupa usar?”   

Até olhar, no seu reflexo, o sorriso satisfeito que deu, ao saber o que fazer.   

Antes de sair de casa, escreveu um recado em um pedaço de papel usando o lápis que há pouco contornou seus olhos, deixando-os mais mórbidos. Era um recado para Julia. Já que não sabia como e quando a encontraria de novo, decidiu deixar o bilhete no mesmo local de antes, quando entregou o diamante roubado de Mary Jane, o pivô por toda essa confusão com o Aranha.   

Queens, noite

Com os últimos acontecimentos, a socialite Lydia Hardy decidiu investir na segurança. Ora, se ela é a mãe de Felicia, todo cuidado é pouco...   

Lá estavam aqueles cabelos platinados balançando, enquanto sua dona, de corpo trabalhado, esperava a hora certa para pular o muro e entrar na casa.   

“Mas essa calça jeans não está colaborando em nada...!”   

Antes que dois seguranças deixassem o jardim, Felicia saltou, correu e escalou aquela casa que conhecia tão bem. A janela não estava trancada, mas sim, emperrada.   

Ela buscou algum momento vivido ao olhar pro céu, assim que relembrou de como as janelas emperradas fizeram parte de sua vida, logo quando saiu da Costa Oeste e retornou para Manhattan: o começo da sua agência de investigação.   

No seu antigo quarto, a mesma decoração. Parecia que nada tinha saído do lugar, que estava tudo como igual, para que um dia ela retornasse e tivesse uma vida normal, como era, antes de descobrir a verdade sobre seu pai.   

As prateleiras, a cama enorme, uns bichinhos de pelúcia, um gigante pôster dela e um porta-retratos, dividido ao meio. Em um lado, ela, a mãe e o pai. No outro, ela e Peter.   

“Que barulho é esse?”   

Rapidamente se escondeu atrás da porta. Se fosse sua mãe, com certeza ouviria novos, e piores, sermões.   

Surpresa.   

- Ônix! Vem cá, seu bandido!   

O gato salta e se enrosca no pescoço de Felicia. Troca mútua de carinhos.   

- Meu neném! Que saudade! Não sabe o quanto você me faz falta! E então? Quais as novidades? Sua avó da high society está te tratando bem? Ainda te dando aquela ração de caviar?   

Enquanto acariciava e conversava com seu felino, Felicia abria o armário e retirava algumas roupas penduradas nos cabides. Após esvaziá-lo, encosta as mãos em um lado e empurra um fundo falso.   

- Continua aqui... Continua igual!   

Seu primeiro uniforme. Sem os detalhes provocantes, sem revelar partes do seu corpo. Muitas plumas brancas.   

- Bom, vou ter que me conformar com esse visual... retrô! Taí, gostei!   

Ela retira o uniforme escondido e arranca as velhas luvas daquele antigo tecido preto que formava a peça-única. Abre uma gaveta e pega agulhas e linhas. Senta na cama com colchões de mola e adapta o novo par de garras à antiga roupa de trabalho.   

Depois de alguns minutos retira a blusa e a calça jeans, restando-lhe apenas a peça íntima de baixo. Calmamente veste o velho uniforme. Um pouco apertado. Talvez suas novas formas...   

- Neném, tenho que ir. Preciso descobrir umas coisas... Prometa que vai se comportar e que cuidará da mamãe, certo?   

O gato parecia responder àquele pedido. Felicia coloca as roupas novamente dentro do armário.   

“Hora da festa!”   

Mesmo sem o dispositivo de acionar o gancho, o utensílio ainda seria utilizado. Claro que a Gata teria que se esforçar muito mais...   

***

- Chefe?   

- O que foi, Bumerangue?   

- Felicia saiu do esconderijo e deixou um bilhete no local de sempre.   

- O que tem escrito?   

- Apenas dizendo que volta em breve.   

- Maldita! Você ainda está com ela, não é?   

- Não...   

- Como não, imbecil?   

- Ela me despistou. Parecia que sabia que estava sendo seguida.   

- Inútil! Mantenha prontidão até que ela volte.   

- Não se preocupe, chefe. Ela não vai demorar. Não levou bagagens ou sacolas.   

- Me informe assim que ela chegar. Ela não pode me atrapalhar de novo. Já basta aquele episodio com o Homem-Aranha...   

Clínica Zyon, 23hs

As luzes já estão apagadas e apenas três seguranças fazem a ronda naquele prédio de quatro andares e uma área externa, onde há um jardim. Do terraço de uma construção ao lado, Felicia acompanha o fraco movimento através das suas lentes.   

Um longo pulo e a Gata arremessa o gancho, que trava em uma parede da clínica.   

Agora no terraço do prédio que cuida de dependentes, ela procura alguma passagem para que lhe possibilite invadir a Clínica e encontrar Ivan Cohen. E com isso, descobrir a verdade sobre o soro e o que aconteceu com Flash Thompson.   

“Tá! E se eu confirmar que foi realmente uma ação do Osborn? O que vou fazer? Enfrentá-lo? Ele é o Duende Verde! Ele... Já enfrentei-o antes. Certo, eu estava com o Aranha...”   

Ao mesmo tempo em que pensava, Felicia encontrou uma passagem: uma portinhola por onde o lixo era jogado fora. Desceu até a parte escura da rua e entrou.   

As lentes iluminavam a escalada, facilitada pelas garras, que furavam o apertado corredor de metal.   

Ao encontrar a primeira saída, decidiu arriscar.   

Um enorme e espaçoso corredor branco. As luzes, frias. Algumas lâmpadas piscavam, anunciando um desgaste.   

A Gata caminha, passa por portas trancadas, escadas, elevadores...   

Silêncio aterrorizante.   

“Melhor subir. O primeiro andar está me parecendo um setor administrativo...”   

Segundo nível. Mesma decoração branca, mas as portas eram diferentes. Tinham grades. O silêncio novamente era a marca daquele andar.   

“De acordo com minhas experiências em centros de tratamentos, esta hora todos os ‘hóspedes’ estão dopados e dormindo. Eu sei a ‘bomba’ que eles recebem para repousar...”   

Terceiro nível. Um número menor de portas. A placa sobre a escada revelava que no andar de cima, algo como o terraço, estariam a piscina, os aparelhos de musculação, fisioterapia e jogos de tabuleiro. Mas não dizia o que tinha no terceiro andar.   

“Pois bem... Se o doutor não estiver no prédio, provavelmente encontrarei alguma coisa que me leve a ele, como o endereço de sua casa ou algo do gênero. Seria até melhor se não o encontrasse aqui porque…”  

Gemidos.   

Felicia para e se concentra. Precisa descobrir de onde vem o ruído. Atravessa o corredor e os grunhidos aumentam. Uma porta simples, com um arco grosso em cima. Encosta os ouvidos.   

“É aqui!”   

Com um forte chute abre a porta, que se bate na parede por causa do impacto.   

- Você!?   

- Eu que te pergunto! O que quer aqui?   

O Escorpião segurava o doutor Cohen pela cauda, sufocando-o.   

- Solta ele, Gargan!   

Os três estavam numa grade sala. Na verdade, uma espécie de laboratório. Balcões com experimentos, computadores, prateleiras em todas as quatro paredes. Mas o melhor: tinha espaço suficiente para uma briga.   

- Se assim deseja... – e joga Ivan para um lado. Sua cauda rapidamente investe contra Felicia. O ferrão prende-se ao chão. Em contrapartida, a Gata saltou para trás, pegou impulso na parede. Ao avançar, segurou-se na grossa armação acima da porta, se balançou, um novo impulso, e atingiu o Escorpião no tórax.   

Caído, Gargan arrancava o ferrão preso no piso de mármore. Felicia aproximou-se de Ivan e sussurrou em seu ouvido:   

- Onde está o soro? Quem entregou para você? Por que aplicou em Flash Thompson? DIGA! – a última palavra nem foi tão baixa assim...   

Ivan Cohen, assustado e sem conseguir respirar direito por causa do golpe do Escorpião, olhou para uma prateleira. Dúzias de soro estavam ali.   

Mac Gargan atacou Felicia, derrubando-a com a cauda. Deitada de bruços, pensa numa maneira de destruir aquelas ampolas.   

- Gata Negra... Você nesta posição... Vi sua foto na primeira página do Clarim e realmente estou confirmando como você está gostosa! Te ver com a roupa rasgada e ensanguentada... Foi sexo selvagem? Vamos repetir a dose?   

- Sabe Escorpião... De todos os inimigos, meus e do Aranha, você é o mais atraente – ergue o corpo, mas continua de costas para Gargan, apoiando os cotovelos e os joelhos no chão – Realmente você é o mais interessante. Seria a roupa verde? Ou o seu enorme instrumento de trabalho?   

O Escorpião sorri e dispara acido da ponta do ferrão. Felicia rola e escapa do golpe. Seus olhos brilham. A garganta arde.   

- Então, Gata?! Você me deu mais um motivo para...   

A prateleira com os soros desaba. Todos os frascos se quebram. Não. Nem todos. Dois seguem rolando até os pés do letal inimigo. Que azar...   

“Pô, poder de má sorte! Veio numa hora boa, mas não podia ter quebrado todos os frascos?”   

- Vejam só o que temos aqui... Não sabia que seria tão fácil...   

Gargan recolhe as ampolas e comemora ter encontrado o que tanto queria.   

Felicia saca o gancho e arremessa, mas o rabo do Escorpião detém o ataque, ao se enroscar no cabo de aço.   

- Gata, a gente ia se dar muito bem – ergue a cauda, puxando a ladra para perto... foi tão perto que ela ficou no chão, entre suas pernas – Quer um pouco de acido no rosto? Dizem que é o melhor tratamento antirrugas do momento!   

- Certamente... Mas antes, me responde uma coisa! Qual é o animal que é personagem de desenho animado que diz a seguinte frase: eu acho que vi um gatinho?   

- Seria o Piu...   

Os olhos do Escorpião de abriram. Ao extremo. Golpe certeiro. A dor o obrigou a cair no chão e colocar as mãos na virilha. As ampolas rolaram pela sala.   

- É, Rabudo! Ainda tá a fim daquele sexo selvagem? – e alcança os dois fracos restantes.   

“Agora acabou. Vou destruir isso e...”   

- Gatinha... Me entregue os frascos ou Ivan Cohen morre.   

Novamente o doutor estava enrolado na cauda do Escorpião.   

- Não, Mac!   

- Ah... essa é a melhor parte! Os heróis ficam na dúvida! Quem manda se preocupar com inocentes...   

- Mas quem disse que sou heroína?   

- Ué... Você não se vangloria tanto de que não é mais uma ladra?   

- Deixar de ser ladra não significa se tornar uma pessoa do bem. Larga ele, Gargan!   

- O que ganho em troca?   

- Um soco no olho!   

- Você veio até aqui porque precisa de respostas, não é? Foi pura sorte encontrar e destruir o soro, não é mesmo?   

- O que você quer com esse soro, Escorpião?   

- Como você não é uma ameaça para mim, vou te contar. Você sabe que eu fui cobaia do cientista Farley Stillwell, que trabalhava com mutações em animais... Através daquele imbecil do JJ recebi um soro e ganhei força extrema, e essa parafernália que você já conhece.   

- Então você quer se vingar no Cohen, para que esse tipo de coisa não aconteça com outras pessoas? Mas Mac, estou surpresa e feliz por ver que você mudou!

- Calada, Gata! Tou me lixando pra esses doentes que estão internados aqui. Eu vou vender esse soro!   

- Para quem?   

- Tenho uns compradores numa cidade gótica, sabe? Aqui em Nova York não receberei muita grana. Já lá... Fora que tenho outros planos!   

- Muito inteligente de sua parte... Mas não esperava que você fosse fazer “movimento”.   

- “Movimento”?   

- É... ficar repassando drogas... que coisa mais de iniciante. Muito me admira você, um respeitável vilão, fazendo papel de aviãozinho.   

- Eu já tenho quem faça isso, Felicia. Eu preciso desse material para começar a produção. Tou cansando desse papo furado. Você escolhe: ou o doutor, ou as ampolas.   

- Hum...   

- Eu sei que você é uma pessoa com eterna crise de identidade, Gata, por nunca saber de que lado está. Mas com certeza, por vir até aqui por causa das respostas que você precisa, vai me entregar as ampolas.   

- Solta ele!   

- Felicia, o que você tanto quer saber? Você falou algo pra Cohen... me diz, talvez possa ajudar...   

- Calaboca, Gargan! Sua ironia me irrita!   

- Vamos, chega de conversa fiada. Me dê as ampolas!   

Irritada e arrependida, Felicia arremessa os frascos, que caem nas mãos de Escorpião.   

- Agora, a sua parte...   

- Claro – e joga o doutor sobre Felicia. Os dois caem e o Escorpião consegue fugir, saltando, depois de quebrar a grade proteção da janela.   

- Ivan! Acorde! Ah, droga! Não posso deixar que o Escorpião fique com esse material.   

A Gata sai da Clínica e vê Mac Gargan saltando sobre os prédios. Assim começa a segui-lo.   

“Aguenta, Ivan. Peloamordedeus! Não me deixa na angustia de ficar sem respostas! Não posso deixar que o que aconteceu ao Flash se repita!”   

Cais

Do alto de um galpão, Felicia observa o seu inimigo. As ampolas saltam de uma mão para a outra. A cauda gira incessantemente. Assim, ele demonstra o seu nervosismo.   

“Esperando alguma coisa... mas o que? Seria alguma coisa... ou alguém?”   

Um carro de passeio se aproxima. Gargan coloca as ampolas presas ao uniforme, na região da cintura, e vai até o veiculo.   

O motorista abre a porta de trás. Uma criança desce, carregando uma maleta que parecia ser mais pesada do que ele próprio.   

“Hã...?! O que aquele menino…”  

- Aqui está, Escorpião. A minha parte do combinado. E a sua?   

- Olha como fala comigo, moleque. Você está em desvantagem.   

- Mas sabemos que você não me fará mal porque eu tenho o que você quer. Além do mais...   

- Além do mais o que, Carl?   

- Nada... Você vai saber.   

- O que está insinuando, pivete? Espera... Você e a Gata Negra...   

- Eu não queria me meter, mas como ouvi meu nome...   

Um ataque surpresa derruba o Escorpião. A criança corre para dentro do carro, na esperança de que possa fugir, mas seu motorista recebe uma fincada no coração, do ferrão do inimigo de uniforme verde. Ato de puro reflexo...   

- Você não desiste, Gata?   

- Ué... Você me estimulou tanto para uma festinha, que agora que me deixou mais animada, quer desistir?   

- Parece que a surra que o Aranha te deu não adiantou, não é?   

O Escorpião investe contra Felicia, dando socos em várias partes do corpo. Mas ela também revida. Com chutes e arranhões. Um dele, no rosto de Gargan.   

- Maldita! Olha o que fez! – e dispara ácido na tentativa de atingi-la.   

Carl tenta dar a partida no carro, mas felicia salta propositalmente e cai no capô. Novamente numa investida, Gargan crava o ferrão e atinge o motor do carro. Forte explosão, que arremessa o menino para longe.   

Felicia salta seguidamente e pára ao lado de um pesado e enferrujado tonel. Ela o levanta e o arremessa no inimigo. O ferrão crava no metal, e, com a cauda balançando, o Escorpião se diverte.   

- Como você não me pegou pela cauda para me girar e me arremessar... Não vou poder fazer isso em você! – uma descarga elétrica corre até o ferrão, causando a explosão do tonel.   

Felicia continuou saltando, na tentativa de deixar o inimigo desconcentrado. Mas não adiantou.   

A cauda novamente a alcança. Antes de ser enroscada, Felicia conseguiu soltar os braços. O Escorpião aperta forte. Ela respira com dificuldades.   

- Eu gostava mais daquele outro uniforme. Esse é muito comprido! Não tem graça. Sabe, o bom de lutar contra mulheres é que nos distraímos com as formas curvilíneas...   

Curto-circuito. O Escorpião treme, como espasmos epiléticos. Felicia está descascando a cauda de Gargan com suas poderosas unhas de Diamante 5.   

Lentamente a cauda vai se retraindo e o vilão se afastando.   

- Agora... me... entregue... os... frascos... Gargan.   

Os dois estavam exaustos. Felicia, porque ficou muito tempo sem respirar normalmente. Mac, por estar recebendo contínuos choques.   

Tiros.   

A Gata Negra salta e se esconde atrás de um contêiner. A cada segundo, novas rajadas. Ela não podia sair dali, era muito arriscado. Aos poucos o som foi diminuindo, até cessar por completo.   

Ao sair de trás daquele cofre de cargas viu uma lancha se afastando. Aproximou a visão e lá estava o Escorpião, comemorando.   

Seu uniforme estava descosturando nas costas. E, do nada, se lembrou de Ivan Cohen. E também da criança.   

Felicia correu até o carro e lá estava ele, com a roupa manchada de sangue e a maleta acorrentada à própria mão.   

A fumaça logo chamaria a atenção das autoridades, por isso a Gata precisava ser rápida. Colocou o menino no ombro, disparou o gancho e voltou para o alto do galpão. De lá, partiriam para o terraço próximo à clínica de Cohen. Talvez fosse melhor para conversar...   

Durante o percurso, Carl despertou. Um grito, ao ver que estava saltando de alturas inimagináveis até mesmo à sua mente infantil. Felicia, com doces palavras, o acalmou e o levou para um prédio.   

- Agora podemos conversar...   

- Não me obrigue a te agradecer, Gata Negra.   

- Não te pedi isso. Apenas quero saber o que você fazia com o Escorpião.   

- Você vai me prender se eu falar.   

- Posso te prender até se você não falar. Acha que a polícia vai gostar de saber que um menino estava fazendo contato com gente perigosa?   

- …  

- Anda, Carl. Eu quero te ajudar. O que queria com o Mac? O que tem dentro desta mala – tenta tomá-la do menino.   

- Larga isso!   

Os dois se estranham e se olham.   

- Você nunca vai entender, Gata Negra.   

- Se me contar posso tentar. Eu quero te ajudar. Você foi fazer negócios com o Escorpião... O que iria comprar na mão dele?   

- Ele... ele me falou de um soro que dava super-poderes. Testado e aprovado. Só sei que era tudo o que eu precisava para poder...   

- Você está me dizendo que compraria o soro do Escorpião?   

- É.   

- E com isso...   

- E com isso deixaria de ser entregador.   

- Não! Não me fala que você está distribuindo drogas!   

- Sim, estou. E nem você vai conseguir tirar essa idéia da minha cabeça. Eu nunca ganhei tanto dinheiro na minha vida!   

- Mas você usa?   

- Não vou responder.   

- Abre essa mala.   

- Não.   

- ABRA!   

Felicia ativa as unhas e arrebenta a algema. A maleta cai e ao tocar o chão, se abre. Susto. Dentro, inúmeras notas altas de dólar e pacotes com comprimidos. Novas drogas?   

- Carl... Me desculpa... mas...   

O menino saca uma pistola e dispara seguidos tiros em Felicia. Ela consegue esquivar e se atira do telhado, mas se segura no pára-peito, esperando o momento ideal.   

Carl corre para a mala e engole diversos comprimidos. Trêmulo, coloca um novo cartucho no revólver. Quando vai armar, vê uma sombra feminina e um par de olhos de gato.   

- Você é bem avançadinho para uma criança... então, nem vai sentir tanta dor assim...   

Um único soco no estomago e Carl desmaia.   

“Não vou me sentir culpada agora. Nem quero e nem tenho motivos. Não vou achar que ele vai se tornar um delinquente porque levou um murro meu. Ele já está doente e precisa de ajuda! Só que preciso pensar no que fazer com ele e com a maleta...”   

Clínica Zyon  

Antes de chegar, Felicia deixou Carl desacordado, na frente de uma delegacia. A maleta, ela havia deixado em um local seguro, para que pudesse analisar o que estava ali dentro, com calma. Mas assim que ela retornou à Clínica... já era tarde demais. Polícia, bombeiros, imprensa... Todos já estavam lá. Ivan Cohen estava morto.   

“Ah, não! E agora? Com Ivan morto nunca vou saber o que realmente aconteceu com Flash. Mas por outro lado, com ele morto será mais difícil que se produza ou propague o soro. A não ser que... Droga! O Escorpião levou duas ampolas! Nas mãos certas, ou seriam erradas, ele poderá ser desenvolvido novamente. Não. Não posso deixar que isso aconteça de novo. Mas... E se tiver sido o próprio Norman quem contratou Gargan para matar Cohen e roubar os soros? Assim tiraria qualquer suspeita... Como eu queria conversar com alguém agora. Desabafar... Me ajudar a raciocinar...”   

Empire State, terraço, 02hs

Um novo refúgio para Felicia. Com a Ilha da Liberdade fechada à noite, só lhe restava este lugar para poder pensar.   

“Uma criança... nem deve saber direito o que está fazendo, mas o fato de receber promessas de um futuro rico, promissor, deve ter atraído Carl... Não só ele. Deve haver dezenas de crianças na mesma situação... Ele estava distribuindo balinhas, pedras de cocaína, maconha prensada, e muito dinheiro...”   

Cabelos balançam. A mala está junta ao seu pé direito.   

“Eu vou atrás do Escorpião. Não vou deixar que outra pessoa receba o soro e seja uma nova ameaça para mim... ou para o Aranha. Talvez assim ele me perdoe. Está tudo dando errado! Meu uniforme, gancho... Esse inseto ter aparecido... Preciso destruir aquelas ampolas, custe o que custar.”   

Vento frio.   

“Será que essa Clínica era uma fachada? Assim, a Mulher-Aranha recebeu fluidos por engano, em uma clínica. Flash, a mesma coisa, mesmo sendo proposital. Tou envolvida com pessoas que foram cobaias de algo. Até eu... Ao menos esses internos da Zyon não vão ser ratos de laboratório... Ainda mais se se tratar de um plano bizarro do Norman... Bom... Gargan disse que as venderia numa cidade gótica, porque Nova York não é a mesma. Cidade gótica... onde? Pensa, Felicia. Pensa!”   

No terraço do Empire State ela buscava outra resposta. Mais uma, pra variar. O episódio acontecido no Natal [1], quando ela e o Homem-Aranha lutaram contra o Tarântula aparecia e interrompia seus sentimentos. As unhas eram acionadas e retraídas, seus cabelos sacudiam acompanhando a força do vento.   

“Claro! O Escorpião vai vender o soro em Gotham City! Que engraçado... Vou ter que deixar a terra do Homem-Aranha para encarar a cidade do Homem-Morcego! A gente já se cruzou uma vez... mas foi apenas troca de olhares [2]. Se bem que ele é bem interessante... Ahahahaha! Muito bem, Gotham City! Em breve receberá a visita da maior ladra do mundo!”   

***

Notas:

[1] Isso aconteceu no primeiro encontro da gata Negra e o Homem-Aranha, no crossover especial Rosas e Espinhos.   

[2] Este encontro até chegou a ser ensaiado no terceiro número DC X MARVEL série 2. Batman e a Gata Negra apenas ficaram se olhando - infelizmente. 

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