Gata Negra #24: Acerto de contas
Antes amantes. Agora inimigos. Uma atitude impensada pode pôr fim a um relacionamento já desgastado, perturbado e sem futuro. O que levou Felicia a este encontro que não teve as consequências avaliadas? Leia e descubra...
Por Pedro Caldeira e participação especial de Raul Kuk
- E então, Bumerangue? Plantou aquela notícia no Clarim?
- Sim, só espero que aquele estagiário convença JJ de publicar a notícia!
- Ótimo... Um pouco de patrocínio de pessoas que ainda sofrem com a morte do ente querido vai me ajudar um pouco... Tanto na parte prática quanto na parte financeira!
- Entendi, senhor... Mas a peça será entregue?
- Ainda não decidi sobre isso... Por enquanto, preciso me concentrar nos objetos que ainda me restam... Estou prevendo um pequeno problema...
Queens, meio da tarde
Após uma viagem cheia de surpresas ao Egito, Felicia está de volta a Nova York. Os acontecimentos na Ilha Elefantina a deixaram mais abalada ainda. Ela presenciou a morte das pessoas que formavam o grupo de estudiosos, entre arqueólogos e antropólogos. Travou combate com Lara Croft, uma prodigiosa caçadora de relíquias. Mas, o mais chocante foi ter visto seu noivo, John, assim que alcançou a pedra, buscada a mando do Camaleão.
- Ali, naquele momento, ela percebeu quanto ainda é solitária, quanto as pessoas que ama fazem falta. John, Peter, Lydia, e até mesmo, Ônix.
O que lhe trouxe tanta solidão? A ganância para reaver os poderes, inclusive o do azar? Tamanha independência, sempre querendo resolver os problemas da sua maneira? Ou uma certa infantilidade, ao achar que sempre está <b>certa</b>?
De todos aqueles a quem Felicia poderia recorrer para, ao menos ver... Sua lista não é das maiores. Poderia ater-se às lembranças de seu ídolo e pai, Walter Hardy. Ou às do seu noivo, John. Talvez, até mesmo, um encontro com Peter Parker, aquele que ela sempre terá como seu grande amor. Quem sabe Flash Thompson. Mas ela se sente culpada por ter mentido sobre sua vida dupla. Então, só lhe restava uma pessoa. Aquela que consegue ser seu maior medo: a própria mãe.
Ao se encontrarem na mansão onde morou por anos, Felicia e Lydia se abraçam timidamente. Apesar de tudo, ali ela encontraria consolo; afinal, é a sua mãe. As duas conversam. Ela fala o quanto sofre. E chora. Chora por ter desejado tanto ter e ser o que tem e é. Chora por não ser normal. Chora por estar sozinha.
- Mas ainda bem que você apareceu.
- O que houve?
- Ligaram do Hospital Monte Sinai...
- Mamãe, o que aconteceu?
- É que seu ex-namorado está internado lá.
- Quem?
- Flash Thompson...
- FLASH????
- Eu gostava muito dele... Ele sim seria um bom genro. Mas você, sempre pensando naquele maldito Homem-Aranha…
- Pare com isso, por favor! Me conte o que aconteceu. Por que me ligaram?
- Porque você era referência.
- Como ele está? O que aconteceu com ele?
- Calma, Felicia! Ele está bem, apenas descansando. O que pensa que vai fazer?
- Que pergunta! Vou ver como ele está.
- E você pode sair? Se expor?
- Mamãe... Esqueceu quem é a sua filha?
Felicia, rapidamente, se despede da mãe, e do seu gato, Ônix. Flash está internado no hospital. No caminho ela tentava imaginar o que poderia ter acontecido. Será que o Rei do Crime teria culpa? Ou outro algum inimigo dela, e do Aranha, tentou algo contra seu ex-namorado?
“Ah, não, Flash. Não com você. Eu não vou me perdoar se o que tiver acontecido com você for culpa minha... ou do Aranha. Você não podia ter sofrido represálias... Seja lá o que te fizeram, vão pagar caro... Não importa quem.”
Felicia para no telhado de um prédio em frente ao hospital, na Quinta Avenida. Ela não pretende entrar pela porta principal. Não somente por não ser o seu estilo. Mas principalmente porque não deve aparecer em locais públicos. Ela dispara o gancho no Monte Sinai, e pelos parapeitos procura o quarto de Flash Thompson.
“Deve ser esse aqui... Mamãe disse o número do quarto, mas pelo lado de fora é mais difícil de encontrar...”
Universidade Empire States
Peter entrou apressado, mas tentando não se fazer notar. Esgueirava-se pelos cantos do laboratório, entre prateleiras e armários, até chegar a uma bancada onde, acreditava, ninguém lhe daria atenção. Resolveu pedir para um dos cientistas que lhe emprestasse a cadeira:
- Com licença, posso usar essa cadeira?
- Ora, Parker... Minha surpresa é tão grande por vê-lo aqui que eu nem me incomodo em deixá-lo responsável pela administração do laboratório...
- Ora... Dr Stern, que surpreeeeesa...
- Mundo pequeno, não?
- Poizé. Quem diria que eu iria encontrá-lo aqui...
.- .. Justo no seu primeiro dia de trabalho após seis dias de licença não-justificada? Realmente, é uma feliz coincidência. Não para você, claro.
- Eu entendo, mas sabe como é, né? Eu já preenchi o formulário de...
- Não se incomode com os formulários, Parker. É mera burocracia. Eles não melhoram em nada sua situação aqui.
- Eu sinto muito mesmo, Dr Stern. É tanta coisa acontecendo, eu não queria deixar o senhor na mão...
- Acredite, Parker, seu trabalho aqui tem muitos méritos. Eu realmente fiquei muito contente de saber que você iria trabalhar aqui. Mas eu não consigo deixar de me perguntar onde está aquele Peter Parker que começou de maneira tão aplicada, dando tudo de si não só no desenvolvimento de pesquisas, como também na hora de ajudar os alunos. Você fez muito pelo laboratório, mas eu não sei dizer se seu interesse diminui, ou se aquele ritmo era apenas para impressionar seus superiores. Não pense que eu quero resolver as coisas dessa maneira, afinal você é brilhante. Mas nós temos algumas normas aqui e... Bom, vou ser franco com você. Você só não foi dispensado ainda porque eu solicitei uma chance de conversar com você. Já fiz meu relatório. Não quero ouvir desculpas, Parker. Só quero que você saiba que, se esse tipo de coisa voltar a acontecer, não vai ter nada que eu possa fazer pra te ajudar.
- Eu entendo, Doutor. Perfeitamente. Me desculpe se eu te causei algum problema, mas não vou deixar acontecer de novo.
- Eu espero que sim, Parker. Não é sempre que podemos contar com alguém do seu naipe aqui.
- Obrigado. De verdade. Eu nem sei o que dizer, mas acho que posso deixar meus problemas lá fora e...
- Sim, Parker. É o bastante por hora.
- Obrigado, Doutor Stern.
Peter se afastou, pensando em como aquela oportunidade de trabalho era importante para ele. Dar aos jovens alunos da UES a base acadêmica que ele jamais tivera. O salário não era aquelas coisas, mas pelo menos não ficava dependendo de tirar fotos do Aranha pro Clarim. E depois, com um pouco de boa vontade, não havia nada que ele não pudesse cumprir. Mesmo porque, depois do sabão que levara do Dr Stern, precisava se dedicar ao máximo.
Hospital Monte Sinai
Alguns minutos depois, de incessante procura, Felicia o vê, deitado numa cama, com uma enfermeira lhe aplicando uma injeção. Espera até que ela saia, abre vagarosamente a janela e entra no quarto. Ao se aproximar do seu ex-namorado, um susto. Além de um olho roxo e o rosto ainda inchado, costelas fraturadas e um braço imobilizado. Levemente toca-lhe a testa.
- Quem... quem está aí? – uma fraca e rouca voz.
- Sou eu, Flash. Felicia...
- Fel... o que...
- Não fala nada. Apenas me desculpa não ter vindo antes...
- Que bom te ver, Fel. Como... você está?
- Trabalhando muito... e bastante preocupada com você. O que aconteceu?
- Uma longa história, Felicia...
- Você está em condição de me contar?
- Sim... mas não espere muitos detalhes.
Felicia pega uma cadeira e senta mais próxima ao amigo. Seus olhos, mareados. Na sua mente, apenas esperando as respostas. Ela não acreditava que poderia começar uma outra caçada a assassinos. O mesmo que fez quando seu noivo, John, foi morto por Little Doll a mando de Wilson Fisk, o Rei do Crime.
- Fel... eu estava me recuperando do alcoolismo... no meio do tratamento eu recebi um medicamento, garantido pelo meu médico de que seria uma motivação para eu abandonar o vício... e como eu estava disposto a tudo para me curar, aceitei.
- Que medicamento era esse?
- Eu não sei... uma espécie de soro. Eu comecei a me sentir bem, revigorado, entende? Me sentia mais forte, meus exercícios não mais me exigiam tanta força quanto antes. Eu estava me sentindo livre... aí...
- Aí o quê, Flash?
- Eu não queria voltar para uma clínica de recuperação, Fel. Eu sou um atleta, e me internar seria como assinar o meu fracasso.
Flash se contorceu e pediu um pouco de água. Enquanto Felicia segurava o copo, se criticava em pensamento. Se ela tivesse sido sincera, se tivesse cuidado dele, talvez as coisas estivessem diferentes.
- Quem estava tratando você? Qual o nome desse médico?
- Eu o conheci na clínica.
- Quero o nome, Flash.
- Ivan... Ivan Cohen.
- Onde o encontro?
- Na Clínica Zyon.
- Flash... Mas eu ainda não entendi como você veio parar aqui. O que esse soro...?
- Fel... eu tive acesso ao uniforme do Duende Verde
- Você o que? Flash! O que passou por sua cabeça! Você sabe que o Duende é o pior...
- Pior inimigo do Homem-Aranha. Mas Fel, eu fiz isso não para me tornar um vilão. E sim porque eu precisava daquela sensação, entende?
“Nem imagina o quanto entendo...”
- A adrenalina de poder sair voando... combinado ao soro que recebi... Você não tem noção.
- Flash! Por que fez isso? Você estava se recuperando...
- Eu sei, Felicia. Mas eu precisava... Queria me sentir bem... afinal, perdi tudo o que eu mais amava... e isso inclui você.
O silêncio. Felicia não sabia o que dizer. Ela não poderia tentar novamente com ele. Não agora, depois de saber que ele estava precisando de ajuda... Afinal, ele não era o único. Tinha ainda a Mulher-Aranha, e o trabalho para a agente Michelle. O problema é que Felicia não percebia que era ela quem mais precisava de ajuda.
- Não vamos falar sobre isso, Flash. Eu vim porque estou muito preocupada. Mas o que aconteceu, para você ficar assim?
- Internado?
- Exatamente. Caiu da nave enquanto estava brincando de Duende Verde?
- Não... eu me encontrei com o Homem-Aranha.
- E o que aconteceu?
- A gente brigou.
- Vocês brigaram?
- Sim...
- O Homem-Aranha fez isso em você?
- Felicia...
- Flash, você está me dizendo que o Aranha quase te matou!
- Tenha calma!
- Como posso ter calma depois de saber uma coisa dessas?
- Ele sabia que eu não queria machucá-lo. Eu não investi contra ele... ao menos por um tempo. Comecei a perder o controle da reação do soro e ele teve que me derrubar. A culpa foi minha!
- Flash, você sabe que o Duende é o pior pesadelo do Aranha! Você sabe, droga! Você o tinha como ídolo! E se passou pelo pior inimigo dele!
- Fel, não me julgue! Eu não preciso disso agora!
- Desculpa, mas não entendo, Flash. Eu conheço vocês dois e estou sem saber o que fazer.
- Fique comigo, Fel.
- Não agora. Eu preciso saber quem te fez isso.
Nesse instante, a respiração de Flash foi diminuindo, junto com os batimentos cardíacos. O alarme de emergência disparou.
- Flash, só tenho alguns segundos aqui... Saiba que não vou deixar o que te aconteceu sem uma investida minha.
- O que vai fazer?
- Descansa, Flash. Eu volto em breve. Vou cuidar de você.
- Felicia! O que vai fazer? FELICIA!
- Sr. Thompson, o senhor está bem? Quem é Felicia?
Felicia saltou através da janela antes de a enfermeira chegar. Seu corpo estava quente. Sua respiração, pesada. Ela não podia imaginar que Flash estava naquele estado por causa de Peter Parker, o Homem-Aranha. Ela só pensava em encontrá-lo. Suas lentes mudavam de cor aleatoriamente, seu cabelo era sacudido pelo vento, numa velocidade absurda. As garras eram ativadas e retraídas, a todo instante. Seu nervosismo era explícito. A cada disparada, o gancho quebrava partes do concreto após o atrito. Ela se balançava, irada.
“Ah, Peter... É bom que esteja preparado para mim. Porque quando eu te encontrar, vai se arrepender de ter causado tanto mal ao Flash. Onde você está agora? No Clarim Diário? Pouco provável... Início da noite... Ele deve estar no laboratório da faculdade. Não estaria muito cedo? A última vez que fui lá, era mais tarde... e quem estava era aquela... a cientista.”
Laboratório da UES
O que a preocupa agora não é a solidão. É saber que dois dos seus ex-amantes travaram um perigoso combate.
O que a preocupa é saber que vai ter que conversar com Peter. Mesmo ciente de que não está bem psicologicamente. A pergunta “por que Peter fez isso com Flash?” não lhe sai dos pensamentos.
Tá certo, ela sabe que deveria esfriar a cabeça. Mas como tem os trabalhos para Julia e Michelle, o tempo poderia passar e o que esfriaria seria este assunto.
“Tem gente lá com Pete. Melhor esperar que fique sozinho. Vai ser uma conversa longa...”
O mais interessante é que o relacionamento entre a Gata e o Aranha parece ser mal acabado. Em meio a tanta faísca, há um cuidado especial. Uma proteção mútua. Quantas vezes Felicia já disse aos seus inimigos “se você tocar mais uma vez nele eu te mato?” Quantas vezes Peter já salvou a ladra da morte? Eles não se cobram gratidão. É como um código de honra. São ex-amantes, sim. Mas se estiverem de lados opostos, sabem como se enfrentar. Sabem como agir contra o outro.
Sozinho. Sem pestanejar Felicia ativa o gancho na janela acima do laboratório. Com o impulso, estira as pernas colocando-as frete ao corpo. Pelo pequeno espaço, atravessa a janela sem quebrar o vidro.
- Então você está aqui – Felicia se ajeita, arruma os cabelos, e coloca as mãos na cintura – Precisamos conversar.
- Felicia... Eu não estou tendo uma boa semana...
- Somos dois... temos um assunto sério para tratar.
Ela se encosta num balcão e brinca com alguns tubos de ensaio. Ele tranca a porta e retira a camisa, revelando seu uniforme.
- Quer que eu coloque a máscara ou você vai conseguir conversar olhando para Peter Parker?
- Guarde suas piadas. O que você pensa que fez?
- Felicia, eu preciso trabalhar. Tenho muito o que fazer e não vou deixar uma patricinha mimada que se diverte por aí com um uniforme idi…
- Como é que é? Antes ser uma patricinha mimada vestida como uma idiota, do que um cara que se acha o salvador da humanidade, que machuca inocentes!
- Felicia, estou com muita coisa na cabeça agora, e é melhor você me deixar em paz, ok? Você já me trouxe problemas demais. Cai fora!
- Não mesmo, Peter. Dessa vez eu vim resolver um problema... que me atingiu duplamente.
- Que foi? Borrou a maquiagem?
- Por que fez aquilo com o Flash?
- Você não sabe o que aconteceu. Apenas o que viu na televisão, ou leu no Clarim.
- Não... Eu estava no hospital. Ele está péssimo.
- O que você queria que eu fizesse?
- Ele estava drogado!
- E pra piorar, estava usando o uniforme do Duende Verde!
- Peter... já tentou se tratar?
- Você tentou quantas vezes?
- Pete... Não precisava ter sido violento com ele. Ele só queria se sentir... livre.
- E para isso precisava se drogar e se fantasiar? Além de causar pânico e destruir uma parte da cidade? Isso é ser livre, Felicia?
Ele estava certo. Claro. Mas Felicia ainda não concordava com o ato do ex-amante. Ser livre é sair quebrando tudo? Ou roubando?
- Ele estava drogado! Não tinha condições de saber o que era certo ou errado!
- Você também estava drogada quando agrediu a MJ no desfile e roubou um diamante?
Outro desconcerto. Parece que Felicia tinha perdido a viagem.
- A culpa foi sua! Fiz isso para ajudar a Mulher-Aranha! Que por sinal, foi você quem me indicou!
- Você não saber negar um pedido? Assuma, você é uma ladra! Qualquer coisa é pretexto para você voltar a pegar o que não lhe pertence.
Ladra. Uma ladra.
- Além do mais... você sempre tem uma ótima explicação para as coisas que não gosta, não é? Você acha que tudo que faz se justifica. Igual aos outros malucos, como o Duende e o Octopus. Eu devia ter colocado você na cadeia há muito tempo!
- Se não fez antes... Não será agora.
- Felicia... Eu não te procurei quando soube que você deu um soco na Mary Jane. Por que você está tomando as dores do Flash?
Por que? Porque ela está sozinha, com medo, infeliz e carente?
- Quer saber? Você é pior do que o meu poder do azar, Pete. Destrói tudo o que te acompanha. Até mesmo, quem te ama.
- Não fala bobagem!
Felicia não estava mais ouvindo. Não queria saber dos discursos “paz e amor” do Aranha. Tudo que ele tinha a dizer eram mais acusações, mais daquela ladainha sobre poder e responsabilidade. Estava cheia disso. Onde estava a responsabilidade em espancar um amigo?
Começou a descarregar sua fúria em uma prateleira repleta de tubos de ensaio.
- Felicia, pare com isso!
Ela continuava virando mesas e chutando o equipamento caríssimo da UES. Aquilo, sem sombra de dúvida, significaria o fim da carreira acadêmica de Peter.
- Felicia, isso é meu trabalho! Você não tem o direito de vir aqui e...
- E que direito você tem de julgar as pessoas? Quem te fez tão superior pra ditar as regras desse jogo?!
- Isso não é um jogo! - Peter a segurou pelos ombros, já prevendo qual seria o desfecho daquela situação.
- Tem razão, Peter – disse Felicia, encarando-o nos olhos. – Num jogo, há vencedores e perdedores. Na sua vida, só há gente morta e infeliz.
- Por favor, Felicia...
- Espancou o Flash... terminou comigo... a MJ... a morte do Harry... O tio Ben...
- Felicia...
- Pela morte de Gwen. Tudo destruído, por você.
Peter abaixou a cabeça. Ele aceitava todas as palavras desferidas por Felicia. Aceitou todas. Até ela tocar no nome do seu primeiro grande amor. Gwen Stacy. Morta em um combate contra o Duende Verde. Sempre Norman Osborn. Sempre ele.
As palavras de Felicia não foram felizes. Mas ela parecia proteger algo. Procurava descarregar tamanho desespero. Mas logo contra o Homem-Aranha?
Peter ergueu a cabeça e encarou Felicia. Seus olhos estavam mareados. Felicia o feriu. Como sempre faz ao aparecer na sua vida. Seria azar?
- Você exagerou, Felicia. Não sei o que quer com isso, mas conseguiu – O Aranha ainda era mais rápido do que Felicia se lembrava. Já tinham lutado antes, mas ele sempre a surpreendia. Com um soco, o herói arremessa a ladra, que quebra o vidro e atravessa a janela.
Peter suporta qualquer coisa, qualquer dor. Menos a que envolve seus entes queridos. E as mortes.
E Gwen.
Instantes depois, ele pula através da janela e se arrasta até o teto, para poder retirar o resto da roupa e ficar com o uniforme. Felicia, encostada num pára-peito, o vê. Dispara o gancho e vai até o terraço, atrás do seu ex-amante.
- Mudando de estratégia contra os oponentes? Pegando de surpresa? Ao que me consta, atacar de surpresa é uma tática minha! –acerta um chute nas costelas do Aranha, que se apoia em umas tubulações.
- Na boa... Eu sei o que você quer, Felicia. E eu vou te dar! Como nos velhos tempos. Mas desta vez vou te ensinar uma lição!
- Mas para isso, gatão – um sorriso macabro na face - vai ter que me pegar! – e se joga do terraço.
Agora não tinha mais volta. O Homem-Aranha lança uma teia e a segue. Visto de baixo, aqueles dois, que antes se amavam, balançando por entre os arranha-céus de Nova York, agora travam um combate.
Felicia tenta ganhar tempo fazendo acrobacias, largando o gancho e se atirando de encontro ao solo, mas rapidamente a ponta prateada do cabo encontra uma nova parede e trava, fazendo com que a gatuna mude o seu rumo. Atrás dela, o Aranha, que, menos mirabolante, tenta alcançá-la. E detê-la.
- Está perdendo a forma, Aranha! Você nunca me deixou abrir tanta distância assim de você!
Ele nada respondia. Era como se não quisesse manter contato. Talvez suas piadas não tivessem tanta graça ou sentido. Talvez se ele parasse para conversar pudesse pôr fim à caçada.
O Homem-Aranha era superior nessas acrobacias aéreas. Felicia no fundo sabia que ele planejava algo. Ela também sabia que um mano a mano seria desvantagem para ela. O que fazer? Continuar se balançando nos edifícios?
“Ok, ok... Pensa, Felicia. Ninguém o conhece tão bem. Quais suas fraquezas? Além das suas teias, que precisam acabar... hum... tem o sentido aranha, que só dispara quando ele é ameaçado ou atacado... tem também aaaAAAAAHHHHH!!!!”
Uma teia enrosca no tornozelo de Felicia, que, pensativa, terminou se distraindo. O gancho não tinha se prendido ainda. Com força, Peter a puxou, fazendo com que a Gata atravessasse uma varanda, quebrando a porta de vidro e se ferindo na armação de alumínio.
Com o impacto, ao tocar o chão daquele apartamento, ela rolou até encostar, e sentar, em um sofá. Um casal de idosos assiste a um filme de faroeste na TV a cabo. Calmamente miram aquela linda mulher de cabelos platinados.
- Desculpem… Briga de casal… vocês sabem como é! – e sai na direção da porta.
O Homem-Aranha pegou impulso e chegou à varanda, avançando contra a Gata. Ela ativa as unhas e investe contra o amado. Mas parece que ela não queria atingi-lo, e sim, deixá-lo preocupado em se defender.
- Isso aqui está apertado, não acha Aranha?
Ele nada responde.
- Mesmo assim... eu posso fazer isso! – e dá um salto, passando por cima do agora inimigo, escapando, não sem antes cortar o ombro esquerdo nos cacos de vidro ainda presos à armação de alumínio. Tanto o casal quanto o Aranha olharam perplexos àquele pulo. O aracnídeo lança uma teia e reinicia a perseguição.
Loja de eletroeletrônicos, Times Square
Agora chove. O charuto sendo mastigado no canto da boca. Sim, ele está apagado. Mesmo não podendo fumar em locais fechados, o editor-chefe do Clarim não abandona o vicio. Nem o mal-humor. Ainda mais, quando se está acompanhado por um estagiário.
- Ora, eu já disse que o jornal já está fechado. A primeira página vai mesmo ser sobre o…
- JJ?!
- O que é, Billy?
- Eu concordo com o senhor. Realmente esse assunto merece a primeira página, mas…
- Mas o que, idiota? Pouco me importa se uma empresa está investindo num negócio polêmico, que tem centenas de clientes satisfeitos e contentes com essa esquisitice! Isso não é tão relevante quanto a matéria que já está sendo impressa! Nada melhor vai acontecer hoje para se tornar manchete.
- O senhor ao menos espera que eu compre um telefone celular?
- Malditos estagiários...
***
Enquanto Felicia buscava um lugar para poder enfrentá-lo sem deixar inocentes feridos com a desavença do ex-casal, ela chegou na movimentada Times Square.
“Não era para eu ter vindo para cá… mas como raciocinar tendo que brigar logo com ele? Eu me meti nisso e agora vou até o fim...”
Felicia avista, de longe, uma coisa que pode ajudar a diminuir tanto ódio de Peter: um enorme e iluminado outdoor com uma propaganda de um som, e nele, o rosto de Mary Jane.
“Argh! Estou sentindo as dores abdominais novamente… minha garganta coça… não posso sentir efeitos colaterais do meu poder agora… não mesmo!”
A cor dos olhos de gato estampados na lente muda para vermelho. Felicia sente uma tontura repentina. As luzes da Times Square a deixam perdida, tanto que não percebe que o Aranha conseguiu fixar uma teia na sua perna, e dar algumas voltas. Ela apenas sente o gancho destravar e seu corpo cair na direção da foto da sua maior rival.
***
- Vamos embora daqui, Billy. Preciso fumar.
- Eu posso pesquisar em outras lojas, JJ.
- Dane-se. Não vou perder mais tempo. Compre logo a droga do seu telefone!
- Certo... Sobre aquele assunto... mesmo assim ainda acho que o senhor não pode deixar que suas birras pessoais interfiram na qualidade do jornal…
- Quem você pensa que é para discutir o que é notícia comigo? Era só o que me faltava! Você quer que eu dê destaque para uma empresa que transforma as cinzas de pessoas cremadas em grafita, num processo que usa fornalhas especiais?
- Sim, JJ. Depois, sob pressão, a grafita é transformado em diamante! Azul ou amarelo, o cliente escolhe!
- Billy! A empresa também faz isso com as cinzas de animais domésticos! Isso é nojento!
- Senhor... o preço de cada peça “eterna” varia entre dois mil e 700 mil dólares! E oi slogan da empresa é “porque o amor continua a viver”.
- Um diamante é para a vida inteira, certo? está me dizendo que é também para o além, Billy?
***
Felicia cai em pé, derrubando um apoio da estrutura, mas logo seus joelhos dobram e ela agacha. Peter a alcança e olha para o outdoor. Nada mudou na expressão do ex-amante.
- Você me obrigou a isso, Felicia.
- É o melhor que pode fazer, gatão?
A enorme propaganda treme, tirando a atenção do Aranha, que vê o outdoor inclinar para a esquerda. Os dois trocam uma sequência de golpes violentíssima: os punhos do Aranha e as garras da Gata. Mais do que a dor física, ambos percebem que cada golpe é um caminho sem volta em sua relação. Já se amaram, já se odiaram e já tentaram seguir em frente.
Tudo inútil.
O destino os reunia e os separava caprichosamente, a seu bel prazer.
Foi quando mais uma fatalidade pareceu alterar o resultado do combate. As lentes da Gata refletem um breve reflexo, e ela grita. O Aranha a joga para fora do telhado, mas Felicia se segura na borda de concreto, enquanto Peter dispara teias para colar a base quebrada com a queda de Felicia. Segurando-se no concreto com a mão esquerda, ela levanta a esquerda, na tentativa de encontrar um apoio e assim poder subir.
“Ele tentou... me matar? Ou estava me protegendo da estrutura do outdoor...?”
- Felicia, já estou cheio das suas gracinhas!
- Quem é o piadista aqui é você, Peter. Eu estou falando sério!
- E eu estou cheio de você! O que você quer, afinal?
- Que você pague pelo que fez ao Flash! Ele estava sob efeito de drogas! Mas você pensou que fosse um fantasma! Que fosse o Duende!!
- Eu tinha que detê-lo! O que esperava que eu fizesse, deixasse que ele batesse com a cara em algum muro?!
O outdoor tomba, atingindo a cabeça do Aranha e o mesmo ombro já ferido da Gata, que para não cair, crava as garras da mão direita na coxa esquerda de Peter, que não esconde a dor e também grita.
Por puro reflexo ele pisa o rosto de Felicia com a outra perna, quebrando-lhe o nariz. O sangue é espalhado nas roupas dos dois.
- NÃÃÃÃOO!
Sem força, Felicia vai rasgando a perna do Aranha e, ao despencar, é aparada por uma lona, que rompe, mas amortece seu encontro ao chão. Ela consegue virar o corpo, cair em pé. Logo depois do impacto, senta no meio da rua. Os carros param e buzinam. As pessoas que passavam comentam o fato de a Gata Negra estar ali, com o nariz quebrado, um lado do rosto inchado, o ombro ensanguentado e o uniforme danificado.
- Vejam! O Homem-Aranha! Ele está tentando matar a Gata Negra! Ele arrancou o outdoor e arremessou nos inocentes!
Ele. De todas as pessoas na face da Terra... Ele.
- Eu quero uma foto disso! Billy! Eu sempre falei que ele era um assassino e ninguém acreditava! Eis a prova! Mudança de planos! Isso vai estar na primeira página de amanhã! Mande parar as máquinas! Vou dedicar…
- J.J.Jameson!
- Calaboca, Jameson!
- O que uma ladra como você… como ousa falar assim comigo?
- A placa vai atingir muita gente! Me ajude a tirá-los da rua!
Felicia sente as dores, mas a adrenalina em seu corpo a faz levantar. Ela grita , mandando as pessoas saírem por casa do outdoor, em vão. A placa, que demorou a se soltar por causa dos cabos anexados, atinge o chão e muitos dos transeuntes, além dos carros ali parados. Ela e JJ retiram as pessoas feridas dos escombros. Muitos gritam, choram. A Gata olha para cima e vê o Aranha se aproximando. Ela agiliza os salvamentos, e no fundo acredita que ele irá ajudar no resgate. Sirenes. A polícia se aproxima. O Homem-Aranha ergue uma pesada parte da placa, e segue andando.
- JJ, cuide dessas pessoas!
- O que você vai fazer?
- Tirar o Aranha daqui!
As pernas, doloridas. Os braços, fracos. O rosto, quente. O sangue do nariz ainda escorre pelo queixo.
- Ora, Aranha! Que tal uma festinha particular?
O Homem-Aranha lança uma teia e prende uma mão de Felicia. Quando ela ativa a garra para se soltar, ele a puxa. Ao se aproximar do aracnídeo, ele acerta um novo soco no estomago. Mais sangue, que mancha o colo da gatuna.
- Ele é um assassino! – JJ continua gritando.
- Eu estou cansado dessas acusações, Jameson – e envolve o jornalista numa bola de teia.
O charuto de JJ cai ao chão, e é pisado por Peter. Billy tira fotos com a maquina digital do seu novo telefone celular.
Felicia se levanta. A polícia já está no local e um agente grita para que os dois se rendam. A Gata rasga a teia do seu braço e respira fundo. Calcula a distância para o Aranha e JJ. E salta. A cada toque no asfalto, um novo mortal. Sua respiração ofegante pode ser escutada de longe. As mãos, trêmulas e doloridas, forçam um impulso impossível para pessoas normais. O Sentido de Aranha dispara e Peter se vira, para se defender, mas a Gata o engana usando JJ, apoiando as mãos no ombro do jornalista, e em seguida, atingindo o tórax do Aranha, que cai.
- Vi que voltou a sua velha forma, Gata.
- Ainda tem mais, amor. E pra piorar, sua perna não ta muito boa, né?
Essa era a grande chance. As pessoas, descontroladas, faziam uma roda para apreciar o combate. Outras corriam desesperadas. E algumas mais ajudavam os feridos.
“Muito bem, Felicia. Agora é a sua hora!”
A Gata Negra corre por entre as pessoas. O Homem-Aranha não sabe onde ela está. Ele segue andando, ignorando os avisos da polícia, para que se renda. Na brincadeira de esconder, Felicia leva vantagem. Ela ativa o gancho e o segura. Precisa esperar o momento certo.
Ela sabe que com a chuva, o sentido aranha não é tão bom...
“Agora!”
Felicia roda o gancho e atira no Aranha. Antes que pudesse tocar-lhe, ele o pega e enrola no próprio pulso. A Gata olha, agora não tão confiante.
- Quer uma luta como a nossa primeira, não? Mas dessa vez não vou ficar preocupado se você der a entender que morreu! – e puxa o cabo, fazendo com que Fel se aproximasse, tombando.
As pessoas ao redor gritam incentivos. Algumas querem que o Homem-Aranha acabe de vez com a luta. Outras, que a Gata Negra se levante e ensine uma boa lição a ele.
Mas todos são surpreendidos. Até mesmo Felicia. Peter larga o gancho e escala um prédio da Times Square. JJ se aproxima, gritando, enquanto tira o resto da teia da sua roupa:
- O que está fazendo, sua lunática? Tire-o daqui! Vá resolver esse problema em outro lugar! Não vê que as pessoas correm riscos?
Felicia nunca se preocupou com os inocentes. Não quando eles pudessem interferir na sua ação. Mas dessa vez era diferente.
A Gata ignora o jornalista e olha para o alto. Ativa a visão e vê o amado. E corre. Muito rápido, fazendo um rastro no meio da multidão. Peter dispara uma teia e a segue.
- Hum… que tal irmos para um lugar mais… escuro?
“Muito bem, estou cansada dessa brincadeira – dispara o gancho e segue se balançando até uma zona abandonada – Agora é pra valer, Pete. Não tou a fim de fugir, mesmo sabendo que vou perder uma briga. Só que não esqueça de que vou te fazer um belo estrago!”
Os dois acabam chegando a uma região de prédios vazios, que serão detonados. Em seu lugar será erguido um novo centro de compras. O mais irônico é que eles não sabem quem é um dos financiadores deste projeto...
A chuva para. Felicia corre pelas vielas, pisando em poças de água. Peter a segue, guiado pelo ruído causado pelas botas de Felicia.
“Preciso pensar no que fazer… meu poder do azar! Não… eu não posso controlá-lo. E mesmo assim uma carga dele já foi usada… não acredito que ele me salve novamente… Preciso de um plano. Urgente.”
- Apareça, gatinha… Tenho ração para você…
“É isso! Se não posso contar com o meu poder do azar…”
No início da sua vida criminosa, ainda sem os poderes, Felicia Hardy, a Gata Negra, instalava mecanismos nos locais do crime. Antes de ser presa, esses instrumentos eram ativados, causando algum tipo de dano. Os perseguidores eram iludidos e tinham a sensação de que ela causava azar…
O Homem-Aranha a vê. Felicia está parada, na típica posição: uma mão apoiada à cintura, cabelos ao vento, malicioso sorriso. A outra mão erguida, e o dedo indicador em um movimento que era codificado pelo Aranha como uma provocação: um sinal de ‘não’, com o delicado dedo, acostumado a retirar grandes joias sem disparar o alarme, balançando de um lado para o outro.
- Aqui, gatão!
Enfim, os dois se encontram, separados por uma grande poça d’água. A chance de Felicia era de Peter tocasse a poça, para receber uma carga de energia elétrica. Sim, ela se aproveitou de um cabo rompido pela chuva e pelo vento. Essa é a Gata Negra.
- Quer saber, Felicia... você me forçou a isso. Eu não queria... Mas você não sabe o que o Duende Verde representa!
- Eu já disse, Pete. Nada justifica seu ato contra o Flash!
- Deixe de ser burra! Você vai até o meu trabalho, me acusa gratuitamente e ainda espera entender o que aconteceu?!
- Arrependido do que fez, ó espetacular Homem-Aranha?
- Não mais do que agora!
Peter salta e atravessa a poça d’água. Os olhos de Felicia se abrem ao máximo, ao descobrir que seu plano não daria mais certo. O que fazer? Ela ativa as unhas e salta para trás.
O Aranha não mais estava preocupado em não machucá-la de verdade. Desferia socos sequenciados: rosto e estômago. Felicia tentava esquivar algum e rebater o golpe. Quase sempre, em vão.
Numa dessas investidas, o Aranha segurou os pulsos da gatuna. Ela apenas sorri, porque sabe como se livrar de momentos complicados... Então, se joga ao chão, e Peter está caindo sobre ela. No meio tempo ela encolhe as pernas e trava seus pés no abdome do herói, para, em seguida, impulsioná-lo para cima.
- Pensei que fosse me violentar, gatão!
Agora era o contra-ataque. Felicia corre e desfere perigosos arranhões. Braço e peitoral. O Aranha desvia com certa dificuldade por causa do estrago em sua coxa. Felicia chuta-lhe as costelas, dá um cotovelada no seu pescoço e um soco no rosto.
- Isso é pelo Flash!
Os uniformes de ambos estão rasgados e manchados de sangue. Por alguns segundos eles apenas respiram.
O Aranha investe novamente. Agora usa teias para deixá-la mais preocupada com o que se defender. A garra a ajuda, e muito, mas Peter a atinge com as mãos e com os pés, suportando qualquer dor que sinta.
- E isso é pela MJ! – e acerta um gancho no queixo de Felicia, que cai sentada, poucos centímetros da poça.
Aquilo era muito arriscado. Felicia sabia que a força superior do Aranha poderia matá-la facilmente. Numa tentativa de reação, a Gata aciona as garras, que cravam no asfalto. Assim, Peter dispara teias e cola as mãos de Felicia na rua.
- Porra! Você não entende, Felicia? Nunca percebeu? O Duende Verde é o Norman Osborn! Por isso ele me persegue! Ele me culpa pelo que lhe aconteceu! Usa isso como pretexto para ser o Duende! Todas as mortes que me rondam têm o dedo dele! Não quero que isso aconteça contigo! Você veio brigar comigo por causa dele! - Retira a máscara, aproximando-se mais da gatuna – Sabe o que poderia ter acontecido? Ele sairia vitorioso, novamente, caso você também se machucasse por minha causa. Eu quero você do meu lado, preciso dessa parceria. Afinal, eu confio em você.
Felicia, cabisbaixa, apenas escutava as palavras de Peter.
- Não me obrigue a sofrer mais, Fel.
O ruído de teia sendo lançada. Agora Felicia pode levantar o rosto. Lá estava ela. Sentada com as mãos presas. Ela não raciocina. Ainda não digeriu todas essas informações. Ainda não aceitou o fato de ter perdido um amigo, por um motivo que nem ela sabe. Agora ela pode chorar.
Horas depois, atual morada
Seu uniforme estava rasgado. Não mais serviria. Por seu corpo, hematomas, principalmente na barriga e ombro. Mas seu rosto… o nariz quebrado e um lado inchado. O olho esquerdo parecia estar fechado. Felicia retira as botas, luvas, coleira, e o que sobrou do traje negro e plumas brancas. A máscara já não mais existia. Ela enche a banheira com água fria e ainda acrescenta vários cubos de gelo. Agora a dor é forte. A adrenalina não mais corre por suas veias, e o sangue não está quente, como há pouco. Com o batimento cardíaco, a pulsação em seu corpo que agora descansa, faz com que ela saiba onde foi machucada. As lentes são retiradas e guardadas no estojo prata. A bolsa térmica repousa na face, especialmente no nariz. Michele e Mulher-Aranha ameaçam invadir seus pensamentos. O que elas irão pensar ao ver Felicia nessa situação? Mas ela apenas ignora. Existem outras coisas que agora a incomodam…
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