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Gata Negra #18: A Gata tem sete vidas 1/2

Gata Negra#18: A Gata tem sete vidas 1/2

Depois de tantos desafios, sentimentos e realizações, começa um novo arco da maior ladra! Não deixe que a curiosidade mate o gato, comece a ler porque tem sequestros, chantagens, solidão e muito mais!

Califórnia, Costa Oeste

- Não sei como você ainda ousa me enfrentar, Bumerangue!

- Já enfrentei uma aranha antes. Nada me impede de tentar derrotar você.

Bumerangue, um assassino profissional, foi contratado para capturar a Mulher-Aranha. Mas a missão não está sendo fácil. Ela é dotada de extrema agilidade e poderes psíquicos. Seu oponente apenas conta com a armadura blindada, que muitas vezes não adianta, e com seu arsenal variado, capaz de derrotar sua rival.

- Está tendo dificuldades em se aproximar, Bumerangue?

- Por que você não fica parada e me enfrenta?

Ele dispara bumerangues seguidos, que parecem desconcentrar a Mulher-Aranha. Ela salta e se prende num muro próximo ao local do confronto. Fred Myers saca então, dois bumerangues com um formato e brilho diferentes dos já disparados contra Julia Carpenter. O primeiro, o Gasarangue, rapidamente é arremessado, mas parece ter errado o alvo, atingindo um poste. Mulher-Aranha olha assustada ao perceber a enorme concentração de gás lacrimogêneo expelido pela arma mortal. Em meio à fumaça, ele procura pelo inimigo, quase que cega, no pouco movimentado bairro onde se encontram. Bumerangue, escondido, parece ter tomado o lugar da aranha, que fica esperando a vítima. A fumaça se dispersa e em questões de segundos as sirenes da polícia vai chamar a atenção dos curiosos. Julia consegue encontrar Fred e parte para cima, com teias rosas e cintilantes tremendo nas pontas dos dedos. Ela pára um breve tempo no ar e grita. Abre os braços e pernas. Uma tenda púrpura se faz sobre os dois. Ninguém mais entra, ninguém mais sai. Alguns fios se aproximam de Bumerangue para enrolá-lo, como num casulo. Ele atira, então, o Bumersônico, que ao explodir gera potentes sons. Mulher-Aranha parece ter pedido a concentração.

- É a minha vez, Mulher-Aranha!

Desorientada, Julia não sabe o que fazer. Seus ouvidos ainda sentem o zunido ensurdecedor. Bumerangue aproveita e a segura pelo pescoço.

- Desista! Caso contrário, se quiser tentar me matar, nunca vai saber onde está sua filha!

- Rachel?! O que você fez… com ela?

- Esse era meu trunfo, caso achasse que perderia esse combate. Mas como isso não aconteceu…

- Desgraçado! O que fez com minha filha?

- Não se preocupe, ela está bem. Agora, venha comigo. E assim que concluir os planos do meu contratante terá sua linda filhinha nos braços outra vez!

Centro Médico Cornell, Costa Leste

Um triste dia de sol. Não há ninguém correndo pelos campos, montados em cavalos, ou fazendo hidroginástica na piscina aquecida. Esse cenário foi palco de um seqüestro um tempo atrás, quando um líder da máfia chinesa queria se vingar de Felicia Hardy. Mas agora, reconstruído, está muito mais seguro. E ao longe, duas mulheres caminham apreciando a vista. Os cabelos platinados de uma disputam o brilho com os dourados da outra. Algumas mímicas, risos, cambalhotas.

- Você não está fora de forma, Felicia.

- Não tem como isso acontecer, Carol. Desde pequena já ganhava medalhas em concursos de ginástica olímpica, rítmica, e tudo quanto é acrobacia. É quase que genético!

- Depois cresceu e usou os dotes para pular nos prédios da Big Apple, não?

- Hahaha! Bons tempos aqueles… Sem ninguém para dar ou receber ordens. Apenas meu espírito livre se perdendo pela selva de concretos daquela cidade.

- Amores, roubos, perdas…

- Amores, roubos, perdas. E felicidade, apesar de tudo.

- Realizada?

- Não agora.

- Felicia, seu tempo aqui está acabando. Depois do ocorrido, da tentativa de assassinato, os médicos acham que você está recuperada. Que você mudou.

- Mudei? Não sei se as pessoas mudam. Você mudou, Carol?

- Mudei.

- Não me refiro aos codinomes que usava, Miss Marvel. Binária. Warbird.

- Eu sei, Felicia. Enquanto você veio se tratar de distúrbios psicológicos, eu vim por causa da minha doença, o alcoolismo.

- Está preparada para voltar a integrar alguma equipe?

- Não sei se serei aceita nos Vingadores, ou nos meus antigos trabalhos.

- Quais eram? Também roubava? Hahaha!

- Não, Felicia!!! Eu era chefe de segurança da NASA, agente da Inteligência Militar e escritora e diretora da revista Woman.

- Sempre quis ser capa de uma edição… Quem sabe agora? Hahaha!

- Por que não? Você é linda!

- Não sei se nasci para ser modelo. Conheço gente que pode se dar bem… Melhor até do que eu mesmo.

- Quem seria?

- Uma antiga amiga. Mary Jane Watson.

- Ela posou certa vez, para um encarte especial…

A conversa fluía intensamente. Elas se descobriam, se ajudavam. Nenhuma ainda sabia o que ia fazer assim que fossem ‘liberadas’, consideradas ‘livres’. Na cabeça de Felicia, inúmeras interrogações. Não tinha mais notícia de ninguém. Nem de nada. Assim que voltou para o Centro, recebeu tratamento intensivo. Desde psicólogos até anti-depressivos. Mas ela está diferente. Um brilho novo no olhar. Principalmente, quando, nas noites, abre a mala escondida embaixo da cama e se veste como a fatal Gata Negra. Mas não sabe se é sonho ou pesadelo. Mas sabe que quer sair daquele lugar. Encontrar os amigos, a mãe, o felino. Já Carol Susan Jane Danvers, também passou por dificuldades e muitas vezes se viu sozinha. E dessa vez, e logo numa clínica de recuperação, fez uma amizade irônica. Conheceu Felicia hardy. Ladra, ordeira, ex-namorada do Homem-Aranha, alvo de assassinos… Mas que pensa em mudar. Mesmo no mais íntimo não acreditando nessa possibilidade. As duas sentam e saboreiam um sorvete enorme. Parecem duas crianças ao se deliciarem com a guloseima. Uma amizade inesperada. Em outra época, Gata Negra e Warbird. Em outra época, outra amizade. Não seria simples e honesta. Seria na correria do combate. Poderiam até se enfrentar alguma vez. Nunca se sabe. De nada se tem certeza. O enfermeiro se aproxima e as duas fazem piadas. Fetiches? Distração? Não importa, mas o homem sai encabulado depois de deixar alguns comprimidos na mesa para que elas tomassem. Expressões de ‘não vou tomar isso’ eram vistas em ambas as faces. Mais risos. Mais mímicas. Mais cambalhotas…

Costa Oeste

- Assim que procurei alguém que poderia ser apto para trazê-la, me veio à cabeça o próprio Bumerangue. E ele não me decepcionou.

- Você não me é estranho…

Julia Carpenter tenta desvendar a face do homem com quem se comunica através de uma videoconferência. Ela procura detalhes, marcas, até mesmo, reconhecer a voz.

- Não se preocupe com sua filha. Ela está recebendo bons cuidados. Mas não tente nada contra meus homens. Se qualquer coisa acontecer, nunca mais verá sua filha.

- Mas o que você quer, exatamente? Que posso fazer para que solte a minha filha? Ela não tem nada com isso!

- Não se preocupe. Só quero que você fique sumida por alguns tempos.

- Vai me manter prisioneira?

- Mais ou menos. Bumerangue, leve-a ao aposento. Preciso terminar uma coisa aqui em Nova York.

O assassino segura Julia pelo braço e a arrasta para um quarto onde os poderes de Mulher-Aranha não possam causar efeito. E ainda por cima, tem uma foto de Rachel pendurada em uma das paredes.

- Minha filha… onde você está? Não se preocupe, eu vou encontrar você!

- Não precisa se desesperar, Julia. Vocês vão se reencontrar de novo. Espere apenas que o chefe conclua o que quer.

- E qual o plano dele?

- Em breve você saberá.

FBI, Nova York.

Um homem idoso, com dificuldade para caminhar, se aproxima de um agente e pede uma informação. Ele é levado para uma sala e aguarda ansiosamente. Uma bela morena surge falando ao celular e faz um sinal com a mão para que o senhor aguardasse. Ele sorri e volta a sentar.

- O senhor deseja falar comigo? Então, em que posso ser útil?

- Agente Michelle… eu preciso de sua ajuda.

Ele começa a chorar e a moça não sabe como reagir. Pega um copo com água e oferece. Ele balbucia palavras tristes. Ela o abraça e os dois saem da sala. Michelle avisa a um colega que vai sair, mas que em breve retorna.

Centro Médico Cornell, Costa Leste

Felicia está sentada frente ao lago. Encolhe as pernas e abraça os joelhos. Seu corpo sente um frio estranho, seus ombros tremem. O vento forte balança seus cabelos e ela sente um enjôo. Sua garganta arranha, como se estivesse ferida. Ela respira fundo e lembra da conversa com Carol. Ela não mudou. Ela não acredita que as pessoas mudam.

“Muita coisa já aconteceu… e eu insisti em levar a vida de antes. Pode ser teimosia, mas é a melhor coisa que aconteceu na minha vida. Claro que as perdas são irreparáveis. Não sei se o certo é levar uma vida pelas noites. Alguma coisa eu absorvi. Esses últimos dias foram os piores. Psicólogos, remédios…”

Agora de cabeça baixa, Felicia sussurra palavras de saudades.

- Felicia Hardy, sua prima veio fazer uma visita.

- Minha prima? Onde ela está?

- Foi preencher a ficha e em breve estará aqui.

Quem será? Felicia não tem nenhuma prima, muito menos se lembrou de alguma que faria uma visita. Ainda mais, na clínica.

- Gata Negra!

Aquela voz era conhecida. Ela levanta os olhos e não sabe se sorri.

- Julia Carpenter! O que faz aqui!

- Desculpe por não ter vindo antes, Rachel estava com problemas.

- Ela está melhor?

- Bem melhor.

- O que veio fazer aqui?

As duas se abraçam e Felicia não deixa uma lágrima escapar.

- Minha amiga… Eu sinto muito pelos acontecidos. Como você está?

- Me sinto presa. Mas ordens são ordens. E essas, infelizmente, ainda não desobedeci. Mas estou bem.

- Eu vim conversar com você.

- Eu precisava ver alguém diferente desses que frequentam esse lugar.

- Podemos sentar?

- Claro!

As duas caminham em um breve silêncio.0

- Na verdade, não houve nada com Rachel… antes.

- Como assim?

- Não apareci antes porque me informaram que você não estava nada bem e que ninguém deveria interromper seu descanso.

- Julia, o que você quer comigo?

- Felicia, eu sei que você não está 100% recuperada, mas preciso de sua ajuda.

- Outra vez? Não está ficando muito dependente de mim?

- Esse trabalho que preciso fazer… envolve Rachel.

- Sua filha? Mas o que aconteceu?

- Ela foi sequestrada. E só a terei de volta se eu roubar umas coisas…

- Roubar? Mas eu não sou mais a Gata Negra.

- Você mesma disse que não tinha mudado.

- Mas isso é diferente. Eu não sou mais uma ladra.

- Acredita realmente que as pessoas mudam?

“Não”

- Não sei, Julia. Você é minha amiga…

- Só estou te pedindo isso por causa da minha filha.

- E por que você não faz os trabalhos?

- Felicia, eu tenho uma reputação. Sou uma heroína prestigiada. E você?

- Eu… sempre envolvida em escândalos. Ordeira, caótica…

- Então! Você não está regenerada. Aliás, nunca esteve.

- Isso não é um vício para ter recaídas.

- Mas você sabe o prazer de roubar. Melhor do que qualquer pessoa.

- Que golpe baixo, Julia.

- Por favor. Não sei ficar sem alguém que amo.

Aquilo parece ter atingindo Felicia em cheio. Ela imagina a dor que Julia sentia. Mas ela passou muito tempo internada justamente para tentar mudar.

- Preciso de um tempo, amiga. Sei que é difícil para você esperar. Ainda mais, eu não vou sair daqui hoje.

- Tenho como esperar, Felicia. Mas só se me prometer ajuda.

- Eu não posso fazer isso.

- Sim. Você pode. Você quer.

Felicia sorri e dá as costas para a amiga. Caminha para o lago. Julia se sente aliviada e refaz o caminho para a saída. Carol reconhece Julia, mas não a chama. Como se não quisesse reencontrar a velha conhecida. Corre, então, para ver se Felicia está bem. As duas se abraçam no silêncio. Carol se retira e deixa Felicia, pensativa, sentada numa pedra.

Costa Oeste, duas horas depois

- Tenha calma, Julia. Daqui a pouco o chefe vai ligar com novidades.

- Fred… onde minha filha está?

Um sonido interrompe o dialogo. Bumerangue liga o monitor e um vulto aparece. Ordena que Julia se aproxime. A porta é aberta e ela senta.

- Julia Carpenter… Você é bem querida. Mas não está muito dependente?

- O quer dizer com isso?

- Visitei uma amiga sua agora há pouco…

- O que você está fazendo?

- Nada. Apenas colocando meu plano em prática. Agora, volte para a cela. Bumerangue, precisamos conversar.

Julia é levada por um outro capanga e Bumerangue se aproxima do aparelho.

- Senhor?

- O plano está indo bem.

- Como foi com Felicia?

- Ela está hesitante, mas você sabe como são as coisas. Ela está incomodada. Ela vai aceitar.

- Seu plano está andando como queria… Quem melhor do que Felicia Hardy, a Gata Negra, para roubar os…

- Não ouse falar do plano.

- Desculpe. E a segunda parte?

- Já está resolvida. Fui até o FBI e conversei com a agente Michelle.

- E onde ela está?

- Num lugar apropriado.

- Chefe… e se Felicia não aceitar?

- Aí vai ser necessária uma força maior.

- A socialite?

- Com certeza. Quando o Camaleão quer uma coisa, ele consegue.

Centro Médico

“De volta aos meus pensamentos. Mais uma vez encontro-me num beco sem saída. Julia precisa de minha ajuda para salvar a filha… mas para isso, terei que roubar. E isso, definitivamente, não estava nos meus planos. Minto. Não tinha planos. Eu vou sair daqui em breve. E o que farei? Reabrirei a Cat’s Eye? Tentarei resolver casos, encontrar o Aranha por algum arranha-céu da metrópole? Eu não sei o quero fazer da minha vida. Mas roubar… Eu tinha prometido para muitas pessoas. Inclusive para mim mesmo. Eu mudei. Posso provar que mudei e tentar levar uma vida normal. Ah, Felicia. Quem você quer enganar? Você mais do que ninguém sabe que as pessoas não mudam. Elas aprendem. Alguma coisa eu aprendi durante esse tempo que fiquei internada. Aprendi que não sou suscetível ao amor. Aprendi que Peter não me faz bem. Mas não posso aprender a deixar de ser a Gata Negra. A deixar de ser uma ladra. As pessoas não mudam. Elas aprendem.” 

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