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Gata Negra #16: Contagem 5/6

Gata Negra #16: Contagem 5/6

Parece que, finalmente, o Rei do Crime pagará pelo que fez à Gata Negra! Ou será que é mais uma trama do maior criminoso de Nova York? E mais: Felicia é procurada por uma... Vingadora?

Nova York, uma noite qualquer 

- Não, desculpe-me. Nunca é uma noite qualquer em Nova York quando estamos falando do Espetacular Homem-Aranha! 

-… a menos que o James Franco faça isso. Mas só no terceiro filme. Isso ia queimar o vilão do terceiro filme com algo que já viram, talvez não seja uma boa ideia se… 

- Homem-Aranha? 

- Quem!? 

Ela saiu do meio das sombras, quase sem fazer barulho. Por um momento, o Aranha jurou tratar-se da Gata Negra. Mas era outra mulher em trajes negros… 

- Sou eu, a Mulher-Aranha. Você está falando sozinho? 

- Hã… Quem!? 

- Deixa pra lá. Aranha, eu preciso de sua ajuda… 

Ela parecia nervosa, como quando o Homem-Aranha a encontrara pela última vez (*). Naquela ocasião, a Mulher-Aranha ainda era membro dos Vingadores da Costa Oeste e teve sua filha seqüestrada numa trama que pretendia eleger um assassino como presidente. 

- Como você sabe, Aranha, eu sou Julia Carpenter. Anos atrás, participei de um projeto do Governo que pesquisava poderes meta-humanos. Um cientista chamado Napier cometeu um erro e administrou em mim alguns extratos de aranhas, que me concederam esses poderes. Eu descobri que Napier foi assassinado e, pior, trabalhava para o Rei do Crime. Aranha, eu não sei como você conseguiu seus poderes, nem quem você é, mas você já me ajudou antes. Eu preciso descobrir se Napier me deu os poderes deliberadamente, enquanto trabalhava para o Rei, ou se foi apenas um acidente mesmo. 

- Hmmm… O Rei andou atormentando você? 

- Não, Aranha. Mas eu temo muito pela minha filha. Às vezes acho que é errado bancar a heroína tendo uma criança me esperando em casa, mas agora que descobri isso, preciso ter certeza de que não sou uma marionete do Rei. 

- Entendo. Olha, eu conheço alguém que pode te ajudar. 

- Alguém? Quem? 

- Ela é uma investigadora, o nome dela é Felicia Hardy, mas você a conhece como Gata Negra. Ela tem seus próprios motivos para querer pegar o Rei do Crime e tenho certeza que vocês duas vão se dar muito bem. 

- Bom… Não é o que eu esperava… 

- Vai por mim, Julia. Eu tenho certeza que uma investigadora profissional, como Felicia, vai ser muito mais útil do que eu. 

- Se você diz… Esse é o telefone dela? – perguntou Julia, pegando o cartão. 

- É, sim. Escuta, quando você falar com ela, diga que… 

- … 

- … 

- Diga o quê, Aranha? 

”Diga que estou com saudades.” 

- Nada, nada… Olha, tenho que ir andando. Cuide-se. 

- Pode deixar… 

A Mulher-Aranha ficou olhando para o número do telefone, refletindo se seria de alguma ajuda. Mas não tinha nada a perder. E depois, era uma indicação do Homem-Aranha. 

FBI, manhã 

Tudo parecia estar acabando. Felicia já havia encontrado todos os quatro líderes das gangues que tentaram matá-la. Little Doll, a assassina de John penava numa cela especial. Travis Rock estava internado em estado grave. Touro, preso e esperando o julgamento. E Blow, solto porque prometeu ajudá-la. 

“Bom, o que me resta agora é entregar essas malditas provas para Michelle e finalmente conseguir deter o Rei do Crime. Eu avisei que seria perigoso enfrentar a Gata Negra…” 

Michelle vai ao encontro de Felicia, faz um discreto gesto e as duas entram numa sala. Na mão da gatuna, a coleira de Ônix. 

- Felicia… Não sei ainda como agradecer por ter detido a mulher que matou John… 

- Não precisa me agradecer, Michelle. Fiz o que achava correto. E além do mais, Little Doll e os outros tentaram me matar… 

- Sei disso. Por isso quero conversar com você. 

- Mas antes, quero te entregar isso. 

- Uma coleira??? 

- Nessa coleira tem um chip, e nele, as provas que podem colocar Wilson Fisk na cadeia! 

- Está… falando sério? 

- Sim. O advogado assassinado… lembra? Ordem do Rei. Ele me pediu que roubasse as provas, as mesmas contidas nesse chip, para que não fosse acusado. Fiz o trabalho e dias depois, apareceu morto. 

- Sabe que está encrencada com o que acabou de me contar, não? 

- Sim, sei. 

- Por que fez isso? 

- Não vem ao caso, Michelle. O que importa é que me arrependi amargamente. E sofri mais ainda quando John morreu. 

- Está muito complicada com a Lei, saiba disso. 

- Por isso estou aqui. Não sou uma assassina, tampouco uma ladra. 

- Acha que está se sentindo melhor? 

- Não, mas só o fato de ter prendido a assassina, e os outros que tentaram me matar, fico mais tranqüila. 

- Vingança pessoal… 

- É, mas graças a ela, consegui fazer tudo o que o FBI não conseguiu! 

- Ei, calma, Felicia. Mas quero que saiba que está encrencada. 

- Sei disso, Michelle. Mas… 

- Mas… 

- Não posso ser presa. Afinal de contas, estou ajudando a própria Lei que me recrimina! 

- Não sei, Felicia. Isso não é comigo. 

- Bom, está com as provas. Eu estou indo encontrar Wilson Fisk e fazer com que pague tudo o que causou na minha vida, todos os estragos… 

- Felicia! Acha que sozinha terá condições? 

- O que está insinuando? 

- Calma! Prender Wilson Fisk é sonho de todo agente. Que tal se… 

Queens, quatro horas da tarde

Lydia recepciona a filha e nota sua expressão de cansaço. Felicia vai até o quarto, se livrando das peças de roupa. Ônix salta, em busca de carinho, mas Felicia parece não notar. 

- Felicia? 

- Sim, mamãe? 

- Você tem visitas. 

- Visitas? Para mim? 

- Sim… 

- Um minuto. 

“Visita para mim? Quem será? O pior é que nem imagino quem está querendo conversar comigo. Ainda mais agora… Será que é o Rei ou alguns dos seus capangas?” 

Felicia calça as luvas e aciona as garras. Os olhos rapidamente mudam. Olhos de gato. Ela está pronta. 

- Aqui estou eu… Blow? 

- Felicia Hardy! Ou deveria chamá-la de Gata Negra? 

- Como chegou até aqui? O que quer aqui? 

- Calma. Vim apenas cumprir o prometido. 

- Prometido? 

- Sim. Falei com você que iria ajudá-la quando precisasse. Acho que chegou a hora. 

- Você… Blow, não sei. 

- Felicia engula esse orgulho e ceda. Precisa de ajuda. E estou disposto. 

- O que quer em troca? 

- Chegou a ponto certo. Minha liberdade. 

- Blow, estou encrencada com a Lei. Não poderei prometer isso. 

- Tudo bem. Eu e Rose nos viramos. 

- Como assim? 

- Sim, Rose está nessa. Ela quer fazer isso como se fosse um pedido de desculpas. E então? 

- Espere que tome um banho. Preciso colocar minhas mãos naquele fétido. 

- Tudo bem. Não tenha pressa. Ele é muito pesado e… 

- E nada, Blow. O Rei possui artifícios que até mesmo ele desconhece. Precisamos de todo cuidado. 

- Tranquilo… 

- Sabe do risco que está correndo, não sabe? 

- Relaxa, Gata. Tou te devendo uma mesmo. 

- Mas quero que saiba que, se você me trair, pagará muito caro por isso. 

- Já disse, pode ficar sossegada. 

- Sei… Vou me arrumar e antes de irmos ao escritório do Rei, quero falar com um velho amigo meu. Afinal, preciso de publicidade… 

- Como assim? Publicidade? 

- Aguarde e confie. 

- Sabe minha posição em confiar numa ladra… 

- EX-LADRA, Blow. Você não aprende mesmo, né? 

- Enquanto não me explicar a origem daquele diamante, será sempre uma ladra. Ao menos para mim. 

- Mamãe, distraia Blow enquanto tomo um banho. Não posso perder a paciência… 

Prédio qualquer, ocaso 

O carro preto de vidros escuros para em frente ao edifício. Felicia salta e rapidamente escala alguns andares até um apartamento. 

“Ah, Andrew… Vou te dar uma matéria espetacular… Quem sabe não ganha o prêmio Pulitzer de jornalismo investigativo? Claro que vou querer uma porcentagem…” 

Felicia entra no apartamento. Decoração moderna, com móveis poligonais. Um som de ópera ao fundo e cheiro de aromas artificiais. Ao chegar no cômodo, algo como o escritório, vê o jornalista sentado em uma poltrona. 

- Andrew… Percebi que continua requintado… 

- Felicia Hardy? 

- A própria. Surpreso em me ver? 

- Não esperava… O que a traz a minha morada? 

- Sem delongas. Já servi de matéria várias vezes para você, seu sensacionalista. 

- Querida, acalme-se. Aceita um drinque? 

- Não. Estou com pressa. Quero te oferecer uma pauta. 

- Quer que eu cubra um assalto seu, chérry? 

- Sem piadas. Vou prender Wilson Fisk. 

- Ihihihih! Você quem está me contando uma piada… 

- Bom, já dei o recado. Se quiser ficar mais famoso e dobrar o salário, vá para o escritório de Wilson Fisk. 

- Hum… Não posso perder tempo com brincadeiras, Felicia. 

- O recado está dado. Ah, belo pufe rosa… 

E corre, jogando-se através da janela. Seu corpo parece planar no ar. Tem tempo suficiente para girá-lo e cair em pé. 

- Vamos, Blow. O peixe mordeu a isca. Hora de visitar o Rei. 

O carro parte em alta velocidade na direção das empresas de Wilson Fisk. A adrenalina claramente é vista nos olhos dos três. Felicia não consegue esconder sua excitação ao brincar de ativar as unhas. Rose olha meio preocupada, enquanto Blow acende um baseado e aumenta o som do carro. Hip Hop. 

Escritório central das Empresas Fisk

- E então, Gata? Algum plano? 

- Quem planeja é ladra… 

- Por isso mesmo! 

- Nada em mente. Não gosto de tentar prever como as coisas sairão… 

- Eu posso dar uma sugestão? 

- Muito bem, Rose. Resolveu abrir a boca?! 

- Deixe-a falar, Blow. Qual seu plano? 

- A segurança não me conhece. Posso chegar até a secretária facilmente. Em seguida, deixo-a dopada. Pronto, caminho livre para vocês. 

- Por isso que gosto dessa mulher, Gata. 

- Pois bem. Na falta de um plano, vai esse mesmo. Acha que consegue? 

- Claro, mas como vocês dois vão entrar depois? 

- Eu vou contigo, Rose. Gata entra depois, no seu maior estilo. 

- Adorei, Blow. Vamos, façam suas partes! 

“Isso vai ter que dar certo…” 

Blow e Rose saem do carro e entram facilmente. Felicia faz o mesmo, mas da maneira que, realmente, sabe fazer. Rose aproxima-se da secretária e conversa sobre algo. Discretamente, saca um vidro e atira o líquido no rosto da atendente, que cai desacordada. Felicia aproxima-se e faz um sinal de agradecimento. 

- Agora é comigo. Blow, Rose, cuidem-se. 

Os “parceiros” sorriem e esperam a reação de Felicia. 

“Muito bem, Rei. Agora somos eu e você…!” 

Gata abre violentamente a porta. Com o barulho, Wilson Fisk se assusta e deixa seu charuto cair. 

- Maldita! Você ainda está viva? 

- Como se não soubesse, Rei. Estou viva, e na minha melhor forma. Pronta para acabar com você! 

- Comigo? Mas por quê? 

Felicia não suporta a expressão cínica do Rei e aciona as garras. Os olhos de gato brilham com intensidade. 

- Rei, eu não sei o que te fiz para que tentasse acabar com a minha vida. Se queria atingir ao Aranha, saiba que não conseguiu. 

“Ao menos assim eu penso…” 

- Agora mais nada importa, Felicia. Pensei que poderia afetar o Aracnídeo sim, mas vejo que afetei a você mesma. Quero sim me vingar do Aranha, nem que para isso eu tenha que acabar com todas as pessoas que o cercam… Um por um. E vou começar por você. A ex-namorada!

- Muitos tentaram, Rei. E nenhum conseguiu. Vai arriscar? 

- Eu sou o Rei do Crime. 

- Prazer, eu sou Gata Negra. Mais divertida, sexy e perigosa do que nunca. Eu ainda não sei por quê me quer morta, não entendo, mas vai ter que suar muito se quiser me matar! 

Felicia salta na direção de Wilson, acertando-lhe uma voadora no estômago. O Rei apenas ri. 

- Vai ser preciso mais do que isso para me atingir, Gata. Além do mais, o que você quer aqui? Matar-me? 

- Não! Entreguei as provas do advogado para o FBI. Você está ferrado, seu gordo! 

Wilson para, incrédulo. Felicia ajeita os cabelos e sorri vitoriosa. O Rei aciona um botão e seis capangas entram na sala. 

- Ajudou ao FBI até para resolver o caso de John e me deter… Mas, o FBI não estará aqui para te ajudar… Morra! 

Os seis homens vão à direção de Felicia, mas Blow e Rose aparecem. 

- Eu sabia que o Rei faria isso… Vamos, Rose. Hora da gente se divertir um pouco… 

- Eu realmente precisava de um pouco de ação, Blow! 

- Blow, seu traidor! Vai ser punido por isso! 

- Desiste, Rei. Você tá perdido! 

Blow coloca soqueiras e Rose saca um taco de baseball e partem para a luta. Felicia sorri e corre para Wilson Fisk, com as unhas ativadas. 

- Vamos ver como se sai no um a um, Rei! 

- Não seja ridícula! 

O Rei do Crime inicia passos rápidos e consegue acertar com o ombro o corpo da gatuna, que é quase esmagado na parede. Wilson continua gargalhando. 

- Ninguém nunca me pegará, Felicia. Ninguém! 

Rose corre e ajuda Felicia a se levantar. 

- Estou tonta, mas não posso deixar o Rei escapar… Cuidem bem desses capangas. Vou pegar aquele… aquele… ARGH! 

Enquanto Blow e Rose se divertem com os seis homens, Felicia vai atrás do Rei e acabam parando no terraço. 

- Felicia, quando ofereci seus poderes em troca daquele trabalho, já esperava que fosse me trair. Mas pensei também que conseguiria te matar. Não importa. Vou fazer isso com minhas próprias mãos! 

Felicia é superiormente mais ágil e consegue se esquivar dos lentos movimentos do Rei e se aproveita disso para desferir-lhe chutes, arranhões, sempre mantendo uma boa distancia. 

- Desista, Rei. Você não tem para onde correr! 

- Não! Jamais desistirei! 

Felicia ativa o gancho e ameaça atingir o Rei. Parece que o ódio havia tomado conta dela. As lentes estavam laranja. Wilson não conseguia esconder mais o cansaço. 

- Acabou, Rei. Acabou. 

Mas um helicóptero se aproximava do prédio. E novamente, o Rei gargalhou e correu, tentando atingir Felicia com o ombro, mas ela conseguiu saltar e dar mortais até sentir firmeza no chão. A nave paira sobre o terraço e uma escada é jogada. O Rei rapidamente começa a subir. 

- Eu avisei, Felicia. Nunca serei preso! Hehehehhe! 

Felicia permanece estática, incrédula. Viu sua vingança fracassar. Tanto trabalho, tanto esforço. Desnecessário. Mas as lembranças são interrompidas por uma voz aguda e nervosa. 

- É essa a matéria que me faria ganhar o Pulitzer? 

- Andrew… 

- Vou te processar, Felicia. 

Gata não sabe o que falar. Olha para a – comum e esperada – fuga do Rei. 

- Tudo acabado. 

- Ei, Gata! 

- Quem? 

- Bom, mais uma vez, obrigada. 

- Michelle?! 

Todos ficaram parvos. Gata, Andrew e o Rei. Principalmente ele. Nenhum dos três acreditava que aquele helicóptero seria a conclusão da missão de Felicia. 

- O quê? Felicia, você me enganou! Maldita! Vai pagar caro por isso! 

- Ai, ai… boa viagem, Wilson. Michelle, falo com você depois. 

- Obrigada Gata! Vou encerrar de vez com a carreira de Wilson Fisk. 

Lágrimas vazam dos olhos da gatuna. Um misto de alegria, satisfação, tristeza. Conseguiu o que queria, mas ainda não sabe se mudou a sua vida. Se está melhor ou mais aliviada. 

- Felicia… 

- Pronto, Andrew. Aí está a sua matéria. Agora vá embora. 

- Eu… Boa sorte. E obrigado. 

- Cobro depois. Agora, vá! 

Andrew corre com a filmadora na mão. Felicia admira o céu já escuro e vê as primeiras estrelas brilhando. Retira a máscara e põe-se a chorar. Mas ainda não acabou. Vai enfrentar as conseqüências. 

“Estou me sentindo melhor. Um pouco melhor. Sei que o que fiz não trará John de volta, mas pude provar o que realmente queria: que sou uma cidadã decente!” 

Uma sombra desconhecida se aproxima de Felicia. Ela olha e se assusta. Uma voz bela, triste. A máscara na mão, cabelos castanho claro ao vento e olhos lacrimejando. 

- Gata… preciso de sua ajuda. 

- O que? Você? 

- Podemos conversar? 

- Claro… mas como me achou? 

- O Homem-Aranha. Vejo que você também não está bem. Posso te chamar de Felicia ou prefere Gata? 

- Quando eu estiver de uniforme, como agora, Gata. Mas se tiver com o sobretudo ou roupas normais, Felicia. E a você? Como devo chamar? 

- Da mesma forma. Com roupas normais, Julia Carpenter. De uniforme, Mulher-Aranha. 

- Prazer em conhecê-la. 


(*) Isso aconteceu em Homem-Aranha # 151, de 1996 (Editora Abril). 

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