Gata Negra #15: Contagem 4/6
Felicia parte em busca de mais um daqueles que atentaram contra sua vida, aliada a uma pessoa que tentou matá-la! Será que isso vai dar certo, ou uma teremos nova traição?
Sul de Manhattan, meia-noite
“Onde será que está Travis? O combinado era que onze e meia estaríamos prontos para invadir a base de operações de Touro… Argh, eu detesto esperar…!
Felicia estava confiante nessa investida contra o último líder que tentou matá-la. Ia contar com a ajuda de T. Rock e sua gangue. A princípio, estava desconfiada do ex-companheiro, mas foi convencida de que só se tratava de uma chantagem feita pelo Rei do Crime contra o ladrão de jóias. Em seus pensamentos, perguntas sobre o destino que teria após deter Touro. Que teria quando se encontrasse com o próprio Wilson Fisk. O destino que teria quando fosse acertar as contas com a lei e, principalmente, com o homem que ama. O Homem-Aranha.
- Gata? Desculpe a demora…
- Travis! Nunca mais faça isso! Quase faço um estrago em você por causa desse susto…
- Mais uma vez, peço desculpas…
- Está atrasado, hein? Como sempre…
- Você que tem mania de ser pontual.
- Gosto das coisas feitas no horário estipulado.
- Bom, aqui estou com meus homens… Como será a ação?
- Como pode perceber, essa casa tem poucos homens do lado de fora, e alguns cães ferozes. Eu entro pelo telhado e vocês, em seguida.
- Mas como vamos saber qual a hora para invadirmos?
- Lançarei uma boba de luz. Será como um sinalizador. Vocês estão bem armados?
- Claro, Esmeralda. Homens capazes e armas de última geração.
- Homens capazes? Tão capazes que um deles não conseguiu me matar…
- Acha mesmo que queria que te matasse?
- Nunca se sabe, Travis. Nunca se sabe…
T. Rock abaixa a cabeça. Palavras ferinas. Gata toca-lhe o ombro e dá um encantador sorriso. Aciona o gancho e ultrapassa o enorme muro.
- Fique atento, Travis. Só entrem na casa depois do sinal de luz. Enquanto isso, distraiam-se pelos jardins com a pouca segurança e os cachorros…
- Sem problema, Esmeralda. E se cuide!
Felicia então atravessa rapidamente o jardim. Alguns cães farejaram seu rastro, mas eram facilmente enganados pela astuta gatuna. Avista um segurança cochilando e pega a sua arma, jogando-a distante. Dispara o gancho e sobe, esquivando-se das janelas.
“Hunf! Estou com uma sensação estranha… como se eu não pudesse acreditar em Travis… Mas ele me pareceu tão sincero… Felicia, você mais do que qualquer pessoa, deveria saber que NÃO se pode confiar um ladrão… Não, não creio que Travis me traia. Ele não seria cretino… Argh! Estou sentindo uma fina dor no estômago… Não, agora não, Fel. Você tem um trabalho para fazer…”
E chega ao telhado. Procura por alguma entrada e encontra uma parte de vidro. Olha, e descobre, abaixo, na sala principal, Touro e alguns homens discutindo. Felicia respira fundo. Fecha os olhos. Sente o vento sacudir seus cabelos e as plumas do seu uniforme. Saca a bomba de luz. Não percebe nenhum movimento estranho no jardim.
“Será que Travis não está do meu lado? Ah, dane-se. Eu me garanto sozinha. Quer saber de uma coisa?’
Gata arremessa a bomba no jardim. Um clarão desfaz-se rapidamente. Se não estivesse com as lentes, teria uma cegueira temporária. Um malicioso sorriso em sua fase. Desliza as mãos pelo corpo.
“É agora! Esse pesadelo já está acabando!”.
Felicia salta para o telhado de vidro, e ao quebrar, estilhaços espalham-se por todos os lados do interior da casa. Enquanto cai, aciona as garras. A dor continua. Sente-se um pouco incomodada, mas sem demostrar seu sentimento. Do chão, Touro e os homens olham espantados a entrada triunfal da gatuna.
- Olá, Touro! Surpreso em me ver?
- Gata Negra? Não está morta?
- Esqueceu que tenho VÁRIAS vidas?
- Detenham-na!
Felicia sorri. Os poucos homens que estavam na sala sacam suas armas e miram a gatuna. Touro a olha com ódio. Pensava que estava morta. Como todos os outros líderes das gangues contratadas para matá-la.
- Nossa, Touro… É assim que recebe uma visita ilustre? Quando foi até meu escritório, não foi tão bem assim recebido… Deveria ter contratado uma orquestra? Tapete vermelho?
- Cale-se, Gata Negra! Como chegou até mim?
- Não foi uma tarefa difícil… quando se é amiga dos líderes que atentaram contra minha vida!
- Que está querendo dizer?
- Relaxa, bovino! Blow e T. Rock eram meus conhecidos. Fiz uma troca com o “negão empresário” e cheguei até Little Doll, a bonequinha. Dela para T. Rock e você, foi questão de… segundos!
- Hehehe! Pena que de nada vai adiantar toda essa empolgação, Felicia Hardy. De hoje você não escapa.
- Nossa, que cantada… Assim fico vermelha…
Touro faz um sinal com as mãos e os homens se aproximam de Felicia. Outros mais surgem pelas portas que dão acesso à sala. Gata vai caminhando para trás, esperando que T. Rock entre logo na casa.
- Algum pedido especial antes de morrer, gatinha?
- Hum… Prender você, o Rei para assim me vingar em nome de John!
- Hehehe! Little Doll até que fez o trabalho direito… Claro que com a ordem do Rei e a MINHA supervisão. Ela foi presa, mas sua detenção não trará seu amado de volta, Felicia.
- Pode até ser, mas com certeza nos sentiremos melhor sabendo que VOCÊ e o REI estão presos.
- Acha mesmo que isso é possível? Você não tem provas…
- Bom…
- Vamos acabar com essa conversa fiada. Matem-na!
Tiros são disparados contra Felicia, que corre, salta, esconde-se, para não ser ferida. Touro vai para outra direção. Gata o observa, aproximando a visão. Alguns tiros chegam perto de onde se esconde.
“Droga, droga, droga! Travis me traiu! Caí em uma armadilha! Não acredito! Vou conseguir me dar bem aqui só para ter o prazer em colocá-lo na cadeia!”
Felicia parece meio atordoa. O barulho dos disparos, a dor no estômago e a suposta traição de T. Rock. Os homens vão se aproximando da gatuna, mas a gangue de T. Rock adentra por todos os lados. Portas, janelas, telhado… Gata, aliviada, procura pelo líder, que também a busca com os olhos. Trocam acenos e sorrisos. Mais tiros, gritos, danos, prejuízos. Tudo é escudo. Tudo é alvo. T. Rock se aproxima da Gata, que o abraça aliviada.
- Pensei que tivesse me traído, Travis…
- Desculpa, Esmeralda, mas tivemos um probleminha lá fora. Como você está?
- Bem, mas Touro está fugindo. Vou atrás dele!
- Quer que eu vá com você?
- Não, Travis. Isso é pessoal e não quero que mais ninguém se machuque, ok?
- Como quiser… Mas pode ter certeza de que vai dar tudo certo. E estarei te esperando.
- Obrigada, Travis. Você é um amor.
Felicia chega mais perto e toca levemente a boca de T. Rock com a sua. Respira fundo. O estômago ainda dói. Retira, com o dedo indicador, alguns fios do cabelo presos em seus lábios. Joga o cabelo para trás e olha a porta por onde Touro entrou. Salto. Um longo e alto salto. Um sorriso delicioso na face. A sensação que só ela tem. Só ela conhece. O poder sobre-humano a deu movimentos espetaculares. Pode saltar cinco vezes o seu tamanho. Como os gatos.
“Vamos lá, Felicia! Essa porta não será problema… Pronto! Agora só me resta achá-lo, Touro!”.
Felicia entra na outra sala e vê uma escada. Pela janela, ele não conseguiria passar pela sua largura. Rapidamente a sobe. Touro tenta acionar alguma coisa quando é interrompida por Felicia.
- Você não desiste, né?
- Ah, bovino… Quando quero uma coisa, não tem o que me faça desistir…
- Não pôde impedir a morte de John. A morte do advogado. E, principalmente, a rejeição do Homem-Aranha.
- O que você está querendo dizer, Touro?
- Hehehe! O Rei mais uma vez conseguiu enganá-la, Felicia. Seus poderes só serviram para afetar o aracnídeo. O Rei descobriu que a única coisa capaz de derrotá-lo é a pressão psicológica. Se cada “parceiro” dele sofre com algo, ele sofrerá junto! Você, quer queira ou não, é importante na vida dele.
- Mas o que a vida do Aranha tem a ver com a MINHA?
- Você o ama… Ele não tem sentimentos apaixonados por você… É uma amiga. O Rei precisava das provas que o advogado detinha e de atazanar o aracnídeo. Deu duas belas tacadas, não?
- Touro, não me importo de ter sido usada para ajudar o Rei, mas John e Aranha nada têm com isso! O negócio é entre eu e Wilson Fisk.
- Você conhece o Rei bem Felicia. Sabia que poderia esperar qualquer coisa dele… Mas ainda acho que é ingrata. O Rei deu os poderes para você. O que mais queria… e agora se volta contra ele?
- O Rei não tinha o direito de matar John!
Você não tinha o direito de trair sua confiança!
Felicia não se move. Sabia que tinha sido usada, mas ainda não entendia o fato de terem matado John.
- Por que mataram John?
- Por que não pergunta isso diretamente para o Rei?
Felicia ativa as unhas e corre em direção de Touro. Está confusa. Perdida. As explicações dadas por Touro não ajudaram em nada. Aranha, John, Felicia… O que os três têm em comum?
- Desista, Felicia! Você não vai me deter!
- É o que veremos, seu bovino!
Gata salta e fere Touro no braço, mas ele consegue segurá-la pelo pulso e a arremessá-la para longe. Felicia levanta e investe novamente, disparando o gancho, mas touro consegue se esquivar. Corre até a mesa e a joga na gatuna. Felicia salta a mesa e acerta um chute no rosto de Touro, que apenas ri.
- É o melhor que consegue fazer, gatinha?
- Argh!
Touro acerta um soco no estômago de Gata, que bate a cabeça na parede. Seus olhos parecem querer fechar. Suas forças parecem ter sido sugadas por causa da batida. A dor estomacal aumentou. Ardência na garganta.
- Bom, Felicia, o Rei vai me pagar muito bem pelo presente que darei… Hehehe!
Touro saca uma pistola e mira o coração da Gata. Deseja uma boa passagem de vida e dispara.
- Esmeralda, nãããooo…
- TRAVIS!!!!
T. Rock invade a sala e se joga na frente de Felicia, recebendo a bala no seu peito. Felicia chora, grita.
- Travis, por que fez isso?
- Vou me recuperar, Esmeralda. Vá atrás de Touro e cumpra o que veio fazer! Estou te esperando, como sempre…
- Eu volto, Travis. Espere-me, ok?
Felicia fica de pé. Ignora todas as dores, a ardência na garganta e o breve reflexo emitido de suas lentes. Touro continua a gargalhar. Felicia dispara o gancho, que se prende no enorme lustre, junta os pés e parte para cima de Touro, que não percebe que a enorme estante de livros está desabando, prestes a atingir sua cabeça.
- Touro, seu desgraçado! Desde o nosso primeiro encontro sabia que você estava louco para me matar, mas deveria saber que de noite os gatos não são pardos, são PRETOS!
- O que?? AAAAHHHHH!!!!
Felicia acerta os pés no peito de Touro, que recebe a estante na cabeça e cai, desmaiado, coberto por livros. Gata respira ofegante. Confirma que Touro não esboça reação. Desacordado. Volta-se para T. Rock e vê o sangue escorrendo do ferimento.
- Travis… Aguarde mais um pouco! O socorro já está a caminho…
- Esmeralda… Gata Negra… Quem é você, exatamente?
- Uma cidadã decente, Travis.
- Espere, não me deixe…
- Infelizmente, Travis, tenho que ir.
- Só queria que soubesse… que nunca esqueci de você.
- Cuide-se, Travis. Cuide-se…
Felicia liga para o FBI, faz a denúncia anônima e pede uma ambulância, afirmando que há feridos. Dá um beijo na testa de T. Rock. Na sala principal, descobre que ou estão mortos, ou muito feridos. Retira o gravador do bolso. Gravação perfeita.
“Então, Touro. Aqui está uma parte da prova que tenho para incriminar o Rei do Crime. Será que não é o suficiente?”
Felicia dispara o gancho e sai por onde entrou. No telhado, não mais sentia o vento sacudir-lhe os cabelos e as plumas do uniforme. Não sentia as dores. Não sentia ter concluído a vingança. Nada sentia.
Terraço de um prédio qualquer, horas depois
Felicia ainda não sabe o que realmente vai acontecer com ela. Agora está certa de que o Rei será preso. Touro, Blow, Travis e Little Doll. Todos os contratados pelo Rei estão detidos. Não sabe das conseqüências. Do que vai perder. Do que vai deixar de ganhar. Olha a lua. Pergunta-se por quê reaver os poderes. Por quê ter se metido, outra vez, com o Rei do Crime. Por quê ter se reencontrado com o Homem-Aranha e reacendido o amor que adormecia. Por quê não ter continuado como uma simples investigadora particular, sem o brilho da Gata Negra. Sem os poderes da Gata Negra. Sem os problemas da Gata Negra… Felicia observa a lua, o céu. Sem pensamentos.
Queens, três dias depois
“Preciso fazer isso. É o mais certo…”
- Pensando muito, minha filha?
- Mamãe! Sim… estou disposta a acabar com tudo.
- Estava na hora, Felicia. Parece que você não entende! Nunca entendeu!
- Está falando de papai?
- Sim! Não percebeu que ele se arrependeu amargamente de ter a vida que teve?
- Mamãe, não sou uma fora-da-lei!
- Mas está encrencada com ela.
- Eu sei, mas…
- Não diga que foi por uma boa causa. O que vai fazer agora?
- Exatamente o que tenho que fazer.
- E depois?
- Essa pergunta novamente, mamãe?
- Sim. E depois?
- Depois… não sei. Mas garanto que NÃO deixarei de ser a Gata Negra.
- Felicia…
- Vou dar um telefonema.
Lydia observa a filha. Está perturbada, precisando de ajuda. Os fatos a deixaram abalada. As mortes, os desencontros, as desilusões… A Gata Negra é a maior responsável por isso. Pobre Felicia. É isso o que a mãe pensa.
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