Pular para o conteúdo principal

Gata Negra #13: Contagem 2/6

Gata Negra #13: Contagem 2/6

Seguindo o rastro daqueles que a tentaram matar, Felicia segue ensandecida buscando vingança, sem ter a menor ideia da surpresa que terá pela frente!

Queens, noite 

Em nada Felicia consegue pensar, a não ser na vingança. Todos os seus atos são movidos pelo ódio. Depois da morte de John, ela parece descontrolada. Até o seu poder do azar está diferente. Sua mãe, Lydia Hardy, não mais insiste nos assuntos pessoais da filha.

“Tenho que decifrar essas coordenadas… Mamãe deveria trocar esse computador… Muito lento para uma pessoa tão ágil como eu… Esse ângulo da foto… Se eu colocasse a ponte numa escala e assim deduzisse a latitude e longitude… Sim! Pode ser isso!”.

- Mamãe, estou saindo e não tenho hora para voltar.

- Cuido de Ônix. Até a volta.

Felicia veste o sobretudo e a máscara. Desconfia da tranquilidade da mãe, mas some através da janela.

Ponte do Brooklyn, tempo depois

“Estou exatamente no meio da ponte. Por aqui, nada além de carros. Bom, se não é por cima…”

E Gata atira o gancho, que logo se prende na ponte e salta. Ao se balançar, nota um brilho em uma das sustentações. Impulsiona o corpo, desativa o gancho, que rapidamente é recolhido, e chega ao local de onde sai o brilho.

“Vejam só…! A porta da manutenção! Mas aqui? Não há escadas… Muito suspeito. Vamos ver o que a gatinha encontrará pela frente!”.

Com um chute, Felicia abre a porta. Um estreito corredor, com luzes de neon, verde, presas ao teto. Continua a caminhar, no sentido Brooklyn-Manhattan. Encontra algumas bifurcações, mas sempre sendo levada pelo seu instinto.

“Piada! Era só o que me faltava! Estou num labirinto! O que mais falta acontecer?”.

Barulho de metal em movimento. Aciona as lentes, aproximando a visão. Microcâmeras.

“Já sabem que estou aqui, então… É melhor eu correr!”.

Dito e feito. Mas, sem perceber, por cada câmera que passava, o poder do azar as destruía. Alguns metros de corrida e se depara num enorme salão, com três portas ao fundo. Assim que deu o primeiro passo, feixes de laser cruzaram o imenso salão. A porta pela qual entrara, fechou-se bruscamente. Então, Felicia retirou uma moeda perdida em um bolso do sobretudo e atirou contra os raios vermelhos. Assim que tocou, desfez-se em pedaços.

“Droga! Por que isso para dificultar minha vida? Não poderei passar com o sobretudo… ele só irá me atrapalhar. Bom, qualquer coisa, compro outro depois…”.

Felicia, sensualmente, retira sua peça escura e pesada. Cada parte desvendada do seu corpo era acariciado por suas mãos. Peça ao chão. Mas recorda-se de outro problema: os longos cabelos platinados. Rapidamente o prende, fazendo um coque.

“Hum… Odeio ter que agir assim. Tenho que ser rápida ao passar para escolher a porta. A da direita?”

Gata alonga o corpo e respira fundo. Faz tempo que não usava a ginástica para um obstáculo tão perigoso como esse. Corre alguns centímetros e salta, passando por alguns filetes do raio. No chão, ergue uma perna, abaixa o corpo, estira os braços, move a cintura, a cabeça…

“A porta do meio?”

Para, respira. Movimentos contínuos, até um salto de costas. O laser toca levemente sua bota.

“Não, a da esquerda!”.

Estrago inotável. Mas, havia conseguido, apesar de ser…

Indecisa! Tenho que deixar de ser tão imediatista! Droga, a minha bota… Ao menos, não atrapalhará enquanto estiver agindo. Só me resta continuar andandaaaaaahhhhh!!!

Um alçapão. Gata parece ter descido seis metros. E caiu em pé.

“Estou ficando cansada desse lugar! Cada passo, cada porta, uma surpresa!”.

Realmente. Ela estava entre quatro paredes. Até aí, nada anormal. O problema é que as paredes estavam se mexendo. Na intenção de esmagá-la. Por puro reflexo, acionou as unhas e começou a arranhar as paredes. Descobriu ser perda de tempo, pois elas eram bastante espessas.

“Como já dizia o ditado: tudo o que desce, tem que subir, então…”

E dispara o gancho para o alto, após ter calculado o local de onde caiu. 

“Não seria tudo o que sobe tem que descer? Ah, o que importa é que o gancho está preso. Paredes, um ótimo encontro! Só não fico mais tempo porque tenho coisas a fazer!”

Assim que entra pelo alçapão, as portas se encontram. Escuro. Suas lentes rapidamente clareiam o ambiente. Sobe lentamente e encontra algo parecido com uma saída de ar. O sistema de tubulação.  

“Uhng! Odeio esses lugares… Fazem-me ficar numa posição nada agradável… Não que eu não goste, mas num tubo da circulação é muito complicado. Poderia ser em qualquer lugar… Uhng!”.

O corredor parecia ficar mais apertado a cada metro. As lentes continuavam clareando a visão da Gata, até avistar luzes. Então, desligou-se a função.

“A saída! Já estava na hora!”.

Gata arranca, prendendo suas garras, a tampa e consegue sair daquele apertado lugar. E daquela incômoda posição. Ao menos, incômoda naquela situação…

“Uma sala pequena… Little Doll deve ser bastante simples… Nada de luxo e ostentação!”.

Ao continuar vasculhando a sala, um telão é ligado. Como imagem, apenas uma sombra. Nada familiar.

 -Gata Negra! Já esperava que conseguisse chegar até aqui!

- Little Doll, por que se esconde como sombra? Apareça! Vamos conversar um pouco!

- Infelizmente o melhor dos meus homens não conseguiu matá-la no cemitério…

- E foi morto por Lápide. Deveria até agradecer àquele homem-sepultura! De certa forma, ajudou-me…

- Ele está tendo o que merece. Enquanto à você, também vai ter um destino especial…

- Ora, Little Doll! Por que não vem até aqui para que eu possa te ensinar boas maneiras?

- Não precisarei. Tenho quem faça isso por mim. Mas, quem irá te ajudar agora?

O telão é rasgado ao meio. Dois robôs de três metros de altura surgem, dispostos a matá-la.

“Realmente estou encrencada…”

Felicia então, aciona as unhas e parte para cima dos robôs. Um deles voa, e dispara raios seguidamente. O outro aceita os golpes das afiadas garras da Gata. Está atordoada, pois os raios vindo do que está voando não deixam com que invista melhor no que está ao solo.

“Que droga! Esses robôs não são rápidos, mas sabem fazer um ótimo trabalho em equipe! Tenho que pensar logo numa forma de destruí-los…”

Outra coisa, porém, tirava a concentração de Felicia. A voz de Little Doll. Certamente, alterada por algum programa. O contorno de sua sombra também não dava pistas. Ali poderia ser Little Doll, poderia ser qualquer um. O líder poderia ter fugido assim que descobriu que Gata Negra havia invadido o esconderijo.

“Tenho que me concentrar na luta! Mas… o que é isso? Esse robô agora dispara dardos! Não estou conseguido nem me aproximar dele. Tem que ter um jeito!”

Gata aciona o gancho e o segura. Olha para o robô que voa. Ao insinuar seu arremesso, descobre que não dará certo, já que o robô não faz uma única sequência igual enquanto voa.      

“Fica parado, benzinho…!”

Enquanto tentava acertar ao voador, não notou que o que estava no chão disparou uma rede. Quando estava prestes a prender a gatuna, o gancho cravou em uma parte do aéreo. Felicia foi levada para o alto, e assim, mesmo sem saber, escapou da rede. 

- Está rápido demais! Aaaahhhh!! Calminha, neném!

Eis que surge a grande idéia. O robô que estava no ar parecia descontrolado, atirando para todos os lados. E Felicia soube se aproveitar disso.

“Se não der certo, serei morta. Tenho que tentar. No três. Um, dois, três!”

O gancho é recolhido e Felicia cai em cima do robô ao solo. O que voava estirou o braço e mirou o rosto da gatuna.

“Atira… Vamos, atira!”

Um ruído estridente. Um raio diferente dos demais. Faltando alguns centímetros para tocá-la, Felicia salta, passa por cima do robô, que recebe a rajada na cabeça. Alguns fios saem e inicia-se um curto-circuito. Felicia olha e tem outra “eletrizante” idéia. Em uma investida do robô aéreo, Gata aciona as unhas e se agarra nas costas do voador, que, mais descontrolado ainda, dispara contra a sala. Gata abre o robô depois de insistentes arranhões e encontra um amontoado de fios. 

- Hum… O vermelho ou o verde? Na dúvida, fique com todos!

E num rápido movimento, arranca todos os fios que sua garra suportou. O robô caía velozmente, o que não deu tempo para Felicia saltar e se proteger. Uma leve explosão, algum curto-circuito, e Felicia, com o choque, voa metros de distância, enquanto o robô aéreo chocava-se com o semi-destruído, em fase de detonação. No chão, Felicia observava, esgotada, ao encontro dos robôs. Uma enorme explosão. Felicia rola pela sala. Desacordada.  

Minutos depois

Visão trêmula e embaçada. 

“Uhng! Onde estou? Os robôs, a explosão…!”

- Está se sentindo melhor, Gata Negra?

Uma doce voz feminina. Felicia levanta calmamente, mas não sente seus braços e pernas totalmente firmes. Solta o cabelo, que lhe cobre a face.

- Quem é você? – questiona abrindo o olhos e observando o lugar. Um salão perfumado, florido, e um trono. Nele, sentada, uma mulher, de longos cabelos vermelhos.

- Você não queria tanto me conhecer? Eis a hora…

- Little Doll?

- Sim!

- Mas… pensei que fosse um homem!

- Engano seu. Acomode-se.

Dois capangas trazem uma cadeira e voltam para um canto da sala, onde se juntam com mais doze.

“Estou tonta… Preciso realmente sentar… Mas, se for uma armadilha? Afinal, já passei por tantas aqui…”.

Está fraca. Não resiste e cede, sentando-se frente à Little Doll.

- Você é uma ótima oponente, Gata Negra. Não posso negar…

- Nem o melhor homem da sua gangue conseguiu me matar. Vai arriscar?

- Mas, diga. O que quer aqui?

- Não seja cínica! Sei que mandou me matar e atacou fatalmente John.

- Ah, sim… Lembro-me dele. Fiz o “serviço” pessoalmente. Sabe como é, né? Gosto de matar por dinheiro. Ainda mais, quem queria o “serviço” paga muito bem, então, não podia arriscar e mandar qualquer um fazer o “serviço”… 

- Imagino quem contratou…

- Foi traí-lo, mereceu ser caçada e perder o noivo!

- Cretina! Vai falar isso para as autoridades!

- Não mesmo, Gata. Você não está em condições de exigir nada.

- Ah, não?

Felicia retira força do ódio. Ativa as unhas e parte para cima de Little Doll, que consegue se esquivar.

- Hum… Você é rápida! Mas não tem os movimentos sobre-humanos!

- Não precisei receber favores do Rei do Crime para poder ser rápida e ágil!

- Insinua que sou artificial? Coitada!

Felicia alterna chutes e socos. Little Doll esquiva e tenta achar uma falha para investir. E acha. Os cabelos de Felicia.

- Argh! Logo meu cabelo? Todos puxam ele! Tome!

E rasga o rosto de Little Doll, que sangra.

- Agora você tem um motivo para esconder o rosto, “bonequinha”!

Little Doll acerta um chute no queixo da Gata, que parte o lábio. Corre e arremessa o trono nas costas da ex-ladra. 

- Não sou como o homem que enviei para te matar. Sou superior! Matei seu noivo e agora matarei você!

Felicia, deitada de bruços, recorda de tudo. Suas lentes emitem um breve reflexo. A garganta arde. O ódio invade sua mente. Quer vingança. Está descontrolada.     

- Morra, Gata Negra!

- Miau!

O poder do azar. As paredes cedem. Desabamento. A gangue de Little Doll foge. Gata rola o corpo e sai do ataque de Little Doll, que recebe um chute no estômago. Felicia se aproxima e disfere mais chutes e socos. Partes do teto caem sobre as duas. Little Doll levanta e dá um soco em Felicia, que consegue deter a mão da inimiga.

- Agora acabou mesmo, Little Doll!

Ativa o gancho e amarra a oponente, que grita.

- Vai ficar aqui e morrer, assim me vingarei do que fez a John!

- Não me deixe! Faço o que quiser, mas poupe minha vida!

- Agora falamos o mesmo idioma. Quem está envolvido nisso?

- O Rei do Crime contatou as melhores gangues para que acabassem com você.

- Quais gangues? Quero o nome dos líderes!

- Está muito apertado…

- Problema seu. Tudo está desabando, vou continuar apertando até te esmagar. A não ser que abra o bico…

- Tá, tá! As gangues envolvidas são: a minha… a de Blow… estou sufocando…!

- Problema! Continue!

- Uff… a de T. Rock e a de Touro.

- T. Rock? Travis Rock?

- Ele mesmo… por que?

- E Touro, o braço direito do Rei do Crime?

- Sim… Gata, vamos sair daqui!

- Vamos não! Deixarei você como presente para uma conhecida. Sabe, Little Doll, a vontade que tenho é de tirar a sua pele com minhas unhas e atirá-la aos ratos, para que sentisse o que é a morte… Mas estaria sendo pior do que você e isso não traria John de volta… Mas, como disse, vou te dar como presente para uma amiga minha, do FBI, que adorará saber que você matou um federal… E trate de lhe falar tudo o que me contou. Menos, é claro, do envolvimento de T. Rock e Touro, ok?

Cabine telefônica qualquer, vinte e cinco minutos depois

- Michelle?

- Sim, quem é?

- Felicia Hardy.

- Felicia?! Onde você está?

- Em algum lugar. Tenho novidades…

- Conte-me!

- Deixei um presente para você na ponte do Brooklyn. Little Doll, a pessoa que matou John.

- Você… você prendeu Little Doll?

- Sim, e não foi uma das tarefas mais difíceis…

- Como conseguiu?

- O que importa é que ela assumiu o assassinato. Vingança, em partes, concluída.

- Que quer dizer com isso?

- Esquece… Na ponte está o que tanto desejávamos…

- Mas como a encontrarei?

- Não será complicado. Ela está pendurada. Assim que chegar, olhe para cima.

- Felicia, eu…

- Não esquente. Cortesia da Gata Negra! Tenha uma boa noite!

“Pronto, John. A culpada pelo crime está presa. Você foi vingado, mas ainda restam dois… T. Rock… quem diria! Outro velho conhecido, como Blow. Hum, será que ainda tem uma “quedinha” por mim? Agora, Touro… Lembro de que quando recebi os poderes, ele disse algo do tipo: posso acabar com ela agora, senhor? Mas por que isso? Falam que o traí, mas não houve nada. Ele deve estar desconfiado de que também tenho as provas e por isso me quer morta… Bom, vou voltar para a casa da mamãe, para descansar e me preparar para meu encontro com Travis. E ficar assim, mais perto de mostrar para Wilson Fisk com quem ele está se metendo. E depois? Mais uma pergunta sem resposta. Como sempre, na minha vida…” 

Comentários