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Gata Negra #10 - Poderes e Problemas

Gata Negra #10 - Poderes e Problemas

Apesar de Felicia ter reavido seus poderes, uma notícia bombástica a deixa arrasada. Será que o azar segue incontrolável?



Ilha da Liberdade, meio dia e meia

Como sempre, cada vez que seus pensamentos estão embaralhados, Felicia recorre à paz da Ilha. Caminha até a grade de proteção e se apóia, para melhor observar o mar. Os óculos escuros escondem o triste olhar, que rapidamente mira o jornal. Uma matéria que outrora seria interessante. Um valioso diamante está em exposição. Mas, novamente, os olhos miram o horizonte. 

“Aqui meus problemas começaram… A proposta do Rei. Aqui meus pensamentos se misturam. Cada vez mais fico confusa. O advogado William Thorne está morto e suspeitam da pessoa que roubou seu escritório. Eu. Como não ligaram o documento roubado ao assassino? Ao dar queixa à policia, será que o advogado disse do que e de quem se tratava o documento? Se são provas contra Wilson Fisk? Será que o advogado as escondia de todos, justamente para evitar algo? Eu sou a principal suspeita. Tudo bem que são poucos os que sabem que eu invadi e peguei os papeis incriminadores… Em que fui me meter? E o Aranha ainda diz aquilo… Nunca ficarei livre do Rei. Ele sempre volta para cobrar… Aranha… Que dia maravilhoso passamos juntos! Como nos velhos tempos. Eu, você e o amor! Que máximo! Ainda não nos falamos depois daquela noite. Cafajeste! Dorme comigo e nem liga no dia seguinte. Ahahah! Mas queria saber como se sente. E John? Mais confusão para mim…”

Cat’s Eye, tarde

Felicia recebe uma encomenda. Uma nova coleira para Ônix. Idêntica à dela, mas com uma diferença. O disquete no qual continha provas contra o Rei do Crime fora transformado num pequeno chip e armazenado nela. Agora Ônix também pode incriminar o Rei…

- Pronto, meu amor. Espero que goste da nova coleira! Ah, esse telefone tocar logo agora…

- Sim?

- Lícia? John…

- John! Tudo bem?

- Fora o fato de ter visto você e o Homem-Aranha juntos estampados na primeira página de todos os jornais…? Tudo certo. E você? Ocupada?

- No meio de um banho…

- Hum… Posso enxugar suas costas?

- Seria interessante, mas você queria o que mesmo?

- Sempre me descartando… Tenho um trabalho.

- Estava na hora! Diz logo!

- Quero que investigue a morte do advogado William Thorne.

- EU?!

- Algum problema?

- Não, nenhum…

- Então, posso contar com seus serviços?

- Pode…

- Ótimo. Passarei aí mais tarde.

- Nem precisa avisar…

- Então, até mais tarde!

- Eu te espero!

- Lícia, já tem a resposta?

Momento crucial. Felicia permanece muda por alguns segundos. Pensa no Aranha, se vale a pena arriscar tudo por ele. Confirma o forte sentimento, mas recorda da falta de consideração e acaba achando-o um covarde, por não querer assumi-la, por sempre fugir das garras da gatuna. Ela parece estar farta disso.

- Sim, tenho uma coisa muito boa para dizer, mas não insista. Depois conversamos.

- Então, entendo isso com um sim?

- Entenda como quiser, John. Até mais tarde, o banho agora me espera…

- Lícia! Não desligue!

“Eu vou aceitar o pedido de John. Casarei com ele! Cansei de bancar a idiota com o Sr. Aranha. Não soube dar valor ao meu amor, então, acabou de perdê-lo. Sinal do fax? O que deve ser??”

Felicia retira o enviado. Material das investigações de John. Os papéis da perícia. Nada sobre o documento que pode incriminar o Rei. Falando em documento…

“O que é isso? Aqui também fala sobre a caixa de energia arrombada. O material utilizado para o ato… Desconhecido. A descrição das chaves e fios arrancados… Nossa! O que eu fiz?! Acho que devo fazer uma visita para aquele fétido. Só pode ser obra de Wilson Fisk.

Empresas Wilson Fisk, horas depois

- Ei, não pode entrar sem ser avisada!

- Poupe-me das apresentações! Sou uma grande amiga de Wilson Fisk. E nem adianta chamar a segurança.

Mas a secretária o faz. Felicia então anda rapidamente até a porta. A secretária, estática, espera os seguranças. Felicia empurra a porta. Ao fundo, o Rei sentado à mesa, e Touro acendendo seu charuto.

- Felicia Hardy! Que prazer revê-la! O que a traz aqui?

- Deixe de ser cínico, Rei. Por que matou William Thorne?

- Calma, Felicia. Sente e relaxe. Aceita um drinque?

- Pro inferno com a calma e drinques. Por que o matou? Sou a principal suspeita!

- Felicia, são poucas as pessoas que sabem que você invadiu o escritório e roubou os documentos.

- Pensei até que você o matou para tentar algo contra mim.

- Não tinha pensado nessa hipótese. E nem se preocupe, não tenho como provar que você entrou no escritório do advogado. E mesmo ele sem as provas, poderia dar um jeito de me prejudicar.

- Então assume o crime?

- Não o matei…

- Mas deu a ordem?

- Felicia, você sempre soube qual o destino para as pessoas que tentam algo contra mim…

- Rei! Não bastaram as provas, queria a alma dele também?

- Quero mais. Muito mais. Quero o mundo, Felicia.

Felicia salta e cai em pé, sobre a mesa. Porém, depois da raiva ter passado e do pulo dado, recorda que está sem as garras. O Rei ri e faz um sinal para Touro, que segura Felicia, apertando-lhe os ombros e a arremessa contra a parede. Outro sinal e os seguranças entram na sala. 

- Agora vá, gatinha selvagem. E não tente fazer nada contra mim. Nem mesmo os federais podem comigo.…

- O que está querendo dizer?

Touro e quatro seguranças retiram Felicia, que se debate e grita, acusando-o de assassinato. Ninguém no salão ousava olhar a lastimável cena. Ao fundo, o Rei sentado à mesa, rindo, degustava seu charuto.

Pit’s Café, tempo depois

“Nunca fui tão humilhada! Ah, Rei, você não perde por esperar. Vou procurar John e contar que foi você quem matou o advogado. Mas como provarei? Dá-se um jeito. Sou detetive e ele um federal. Federal…? O que ele quis dizer com “nem mesmo os federais podem comigo”? Mas, caso conte que foi o Rei, terei que dizer toda a verdade. Meus poderes, o roubo das provas no escritório… Ele pode pensar que não mudei, que continuo sendo uma ladra… E não vai querer mais nada comigo. Céus! Que fazer? Mas, se quero provar que mudei, terei que começar contando toda a história. Hoje à noite, quando vier me visitar, contarei tudo. Isso nunca vai acabar? Não vou agüentar. O melhor que tenho a fazer é acabar com isso agora. Vou ao FBI conversar com John. Estou sufocando. Mas tenho medo dele não querer ficar comigo por causa desses fatos… Aí sim, meus problemas pioram. Tudo por causa dos poderes. Eu e minha ganância. Ei, Felicia! Está até parecendo o Aranha dando sermões. E onde estaria aquele aracnídeo inútil? Sempre que preciso dele, nunca aparece. São nessas horas que dá vontade de largar tudo, sumir do mapa. Porém, antes preciso consertar umas coisinhas, uns erros… Mais problemas.”

Essa é Felicia Hardy. Perdida, corajosa. Quando as coisas parecem melhorar, tudo se complica mais. Que azar. Que ironia.

FBI, anoitecer

Após pagar e sair do táxi, Felicia pára na frente na frente do prédio. Parece prever alguma coisa, pois não sobe os degraus de acesso ao edifício. Olha para o lado e vê um casal de namorados passeando de mãos dadas, demonstrando amor e tentando expandir, contagiar, as pessoas com a felicidade momentânea. Os olhos de Felicia seguem o casal até um ponto onde sua visão – humana – não mais alcança. Pensamentos saudosos e confusos. Faz tempo que acompanhava um namorado. Seja para jantar, seja para admirar o pôr-do-sol, ou até mesmo para se balançar pelos arranha-céus. Respiração funda. Cabeça erguida. Pernas trêmulas. Ao adentrar o recinto, os federais, como das outras vezes, olham-na, temendo, prevendo o que poderia querer, uma ex-ladra procurada, num lugar como aquele. Na recepção, aborda um agente, que não consegue esconder a excitação, o nervosismo ao ser abordado por Felicia.

- O agente John, por favor.

- Agente John?

- Sim. Não o conhece?

- Co-conheço… Mas…

Repentinamente, uma agente interrompe a conversa.

- Está procurando o agente John?

- Poderia vê-lo? É importante.

- Acompanhe-me, por favor.

Felicia estranha a atitude do federal ao recepcioná-la e a interrupção da agente que, depois de recordar de que ela a ajudou na sala dos computadores, quando queria mapas sobre ChinaTown, meio receosa, resolveu conversar em particular.

- Felicia Hardy. Esse é o seu nome…

- Sim, assim as pessoas me chamam.

- Está procurando o agente John… Com que finalidade?

- Preciso entregar um material pra ele. Vai demorar para chamá-lo?

- Que material é esse? Posso ajudar?

- O que está acontecendo? Por que não posso vê-lo?

- Felicia… Não soube o que houve realmente?

- Acha que se eu soubesse de algo, teria vindo até aqui?

- Desculpe…

- O que houve?

- Bom, nem sei como começar…

- Pelo inicio. Seja direta.

- Felicia… Poucas horas atrás John sofreu um atentado.

- Atentado? Onde ele está? Como ele está?

- Ele… Ele não resistiu aos tiros…

- …

- Ele morreu, Felicia.

- Morto… John… está morto?

- Eu sinto muito…

- Quem fez isso? Como foi isso?

- Ele estava dirigindo, foi abordado por três homens, que dispararam vários tiros.

- Quem fez isso?

- Ainda não temos pistas, mas se você…

- Chega. Não quero nada. Vou descobrir quem fez isso.

- Espere, Felicia. Você não está bem e nem em condições…

- Não se preocupe comigo, e sim com seu trabalho.

- Felicia…

- De qualquer forma, obrigada.

E sai, batendo a porta. A agente Michelle não sabe o que fazer. Viu a dor nos olhos de Felicia. Descobriu que havia um sentimento entre eles. E ela também chora…

Cat’s Eye, noite

Ônix parece entender o que está acontecendo, pois Felicia está sentada na janela. O felino salta e enrosca-se no seu pescoço. A caneca com o café parece ter sido ignorada. Felicia olha para a cidade. Conseguiu achar um vazio em Manhattan. Lagrimas escorrem dos seus olhos.

“Primeiro meu pai. Mentiu para mim. E depois que descobri a verdade, não senti raiva ou vergonha. Senti orgulho. Isso soa muito estranho, mas é sincero. Não consegui odiá-lo, e sim admirá-lo. Tirei-o da prisão para que pudesse morrer em casa, em paz. Lembro da expressão assustada quando me viu girar e cair em pé, durante uma queda. Só ele fazia isso. Pensei que agindo como ele, sentiria orgulho por mim, mas depois de ler a carta de despedida, cheguei a conclusão de que estava errada querendo ser uma ladra. Ele havia se arrependido. Coisa que aconteceu comigo também. Papai…”

Felicia toma um pouco do quase frio café enquanto retira a roupa. Após se desfazer das peças íntimas, veste uma blusa de hóquei no gelo. Ônix continua observando-a. Felicia volta a sentar na janela. Seus olhos não brilham como antes. E o vento não agita mais seus cabelos platinados.

“Depois, o Homem-Aranha. O verdadeiro amor da minha vida. Fiquei tão obcecada por ele que acabei sendo internada por distúrbios emocionais. Sim, tivemos um romance, mas ele me deixou ao descobrir que tinha ido procurar seu pior inimigo por um capricho pessoal. Meus poderes. Estamos enrolados novamente… eu e os poderes, e eu e o Aranha. Mas ele me deixou, como sempre…”.

Felicia observa e admira o anel de noivado. Brilhante. Sincero. Flash Thompson também ousou ser lembrado, mas os sentimentos não eram comparáveis. 

“E agora você, John? Por que me deixou? Tínhamos tanto para viver… Sinto-me culpada. De alguma forma tenho essa sensação. Você tinha prometido que nunca me abandonaria, que seria meu… Você mentiu! John… Vai ser sempre assim? Estou sozinha, apavorada. Poderia ligar para alguém… Procurar alguém… Mas… quem? Não… John… Eu gostava de você. Fazia-me rir. Era gentil e educado. E o mais importante, amava-se. Droga. Estou tonta. Sinto uma imensa dor no coração. Meus braços estão pesados e quase não sinto as minhas pernas. Preciso sair…” 

Ônix parece prever o que Felicia pretende. Ela veste o uniforme. Calça as luvas e aciona as garras. Ela fez tudo por causa desses utensílios e poderes. Será que valeu a pena? Deve se perguntar a todo instante. Abre a janela, mas antes de saltar, vai se despedir de Ônix. Depois do beijo, ao se levantar, olha para a mesa e vê o jornal do dia e a matéria que mexe com seus pensamentos. O raro diamante em exposição no museu da cidade. Arruma os cabelos. Põe a máscara. Seus olhos brilham. Um sorriso sarcástico. 

- Vá dormir, meu amor. Mamãe não tem hora para voltar. Ela vai olhar as estrelas de cima de um outro telhado. Prometo que trago uma quando voltar…

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