Elektra #21: Kusanagi - Fong-tu
No Inferno, Elektra recebe o veredicto do Juiz do Averno. No Céu, a Nova Tríade Japonesa e a Trindade Chinesa são questionadas pelos...Três Agentes! E Amaterasu começa seu plano de conquista, destruindo o Japão!
K’uen-Luen
Novamente, a ilusão da calmaria. Os Três Puros meditavam, buscavam a paz interior, para que pudessem enviá-la ao mundo dos vivos o mais breve possível.
O Venerável Celeste de Origem Primeira demonstrava insatisfação. Era com se a energia da Trindade Chinesa não fosse suficiente, visto que havia falhas severas no Pacto Milenar entre a China e o Japão. O início culminante veio com a traição de Amaterasu, a mais poderosa e importante deidade japonesa. Sucessivos acontecimentos, como a recuperação do Magatama e o sumiço do Kagami, alertavam para o prenúncio da guerra. Da inevitável guerra, tão temida e tão evitada.
Com palavras acompanhadas por leves movimentos braçais, Venerável Celeste de Origem Primeira invoca respostas dos deuses.
Os outros Dois Puros, mesmo com os olhos fechados pela concentração, viam o ato do Venerável Celeste de Origem Primeira. E sentiram quando o vento soprou mais forte, levando consigo folhas, areia e partículas de líquidos.
Como mágica, cada elemento ganhou forma, fazendo surgir os Três Agentes: Terra, Céu e Água.
Os Três Puros cumprimentara os Três Agentes. O trio era responsável por atender e satisfazer todos os anseios dos humanos: desde perdoar os pecados até abençoar os lares.
Os seis se dividiram em duplas. Venerável Celeste de Origem Primeira se afastou com o Agente da Terra e deixou os outros quatro ampliando a meditação.
- Atender ao seu chamado me consome muita energia, Venerável Celeste de Origem Primeira.
- Perdão, Agente da Terra. Não há mais esperanças. O mundo dos vivos está prestes a enfrentar uma catástrofe.
- Vim acompanhando os últimos acontecimentos, por isso não creio que não haja mais esperança; um fio que seja.
- Impossível. Amaterasu convocou os deuses das calamidades e quem poderia enfrentá-la – a Tríade Japonesa – está despreparada e em desvantagem.
- Não acredite nisso, Venerável Celeste de Origem Primeira. Susanoo, apesar de toda infantilidade, é um guerreiro quando necessita ser.
- Mas ele e Tsuki-Yomi não serão páreos para esta liga, Agente da Terra.
- Eles estão buscando reforços, não se desespere.
- Não se trata de desespero. Trata-se de expectativa. Se Amaterasu triunfar, ela vai reaver os Tesouros Sagrados e iniciará uma invasão à Grande Montanha.
- K’uen-Luen está protegida por poderes mágicos que...
- Que não servirão de nada contra o Orbe, a Espada e o Espelho, Agente da Terra. A China vai sucumbir. Nosso povo vai sofrer e vocês três não terão como suprir toda carência, todo suplício.
- Então desçamos e enfrentemos Amaterasu.
- Não podemos invadir o Japão. Ao sairmos da Grande Montanha nos tornamos guerreiros mortais. Todo o nosso poder se converte em força.
- Façamos então a proteção da China.
- É o que decidimos. Se Amaterasu pisar em nosso solo, teremos que contra-atacar, com possibilidade de o Augusto de Jade interferir.
- O Celeste se propôs a isso?
- Ele se propõe a tudo para salvar seu povo.
- Creio que isso não vai acontecer, Venerável Celeste de Origem Primeira.
- Por que tem tanta confiança? O que me esconde? Diga!
- No momento certo saberá.
- Não há momento certo, Agente da Terra. Não é hora para segredos.
- Não se desespere, Venerável Celeste de Origem Primeira.
O tempo fecha; chuva. O sol some e a lua surge. Um rastro de chamas faz um caminho até onde estão Venerável Celeste de Origem Primeira e Agente da Terra.
Japão
As autoridades tentam entender o que acontece com o país. Culpam as mudanças climáticas, o efeito estufa, o eixo da Terra se normalizando. Cientistas trabalham 24 horas por dia, milhões de ienes são gastos em pesquisas. A ajuda internacional ainda não decidiu enviar auxílio. Ninguém consegue uma explicação racional.
Em um vilarejo a leste da ilha, um casal de idosos que rompeu a barreira de um século de vida, acende incensos, prende luminárias vermelha dentro e fora da simples casa e escrevem nomes em pequenas tiras de papel.
Eles sabem que esses fenômenos da natureza estão sendo causados pela ira dos deuses, afinal, como pode nevar numa época de seca grave? Como pode chover e a água derramada não sobrevive nos leitos dos rios?
Aumentam os registros de óbitos no país. Mortes causadas por situações opostas: muito frio ou muito calor.
E o casal que, do lado de fora olha para o céu esperando a salvação, escuta a gargalhada diabólica de Amaterasu, e gritos aterrorizantes.
Di Yu
Ajoelhada e atada com as mangas da própria roupa formal. Assim está Elektra, entre Niú-t’eú e Ma-mien. À sua frente, um trono vazio, à espera do juiz que lhe dará a sentença.
Zonza e preocupada com o que pode vir a acontecer, a ninja tenta, discretamente, se desvencilhar dos panos verde.
Seus movimentos são parados subitamente com a entrada do Juiz do Averno, uma das maiores autoridades do Di Yu.
- Levante-se, mortal.
Apoiada nos dois satélites infernais, Elektra põe-se de pé.
- Você já sabe que os suplícios em uso nos infernos são numerosos e variados, de modo que cada delito recebe castigo adequado. Visto as situações causadas por sua presença aqui, e depois de reunir-me com superiores, tenho já o seu veredicto em mãos: você vai pra a Cidade dos Mortos por Acidente. Niú-t’eú e Ma-mien, entreguem-na ao Rei Yama responsável.
Escoltada, a ninja continua tentando se livrar dos panos, enquanto ouve as lamúrias dos pecadores.
Ela sabe que o orgulho ferido do Juiz do Averno, pelas sucessivas interrupções no julgamento, foi consequência dessa decisão infeliz.
Agora, ela parte para o Nono Inferno, a Cidade dos Mortos por Acidente. O lugar para onde são mandados todos quantos morrem antes da data inscrita nos Registros de Vida e de Morte; pouco importa que se tenham suicidado ou hajam morrido por mero acidente.
As almas desses mortos devem viver eternamente como demônios esfaimados, sem possibilidade de renascimento, exceto se conseguirem encontrar substituta. Assim, alma de enforcado deve ser substituída por alma de enforcado, alma de afogado deve ser substituída por alma de afogado, etc.
Para isso, as almas, depois de três anos de permanência no Di Yu, são autorizadas a voltar livremente à terra, ao lugar em que abandonaram o corpo mortal. Aí chegada, a alma se esforça para conseguir que alguém, de passagem pelas proximidades, encontre o mesmo tipo de morte.
Para Elektra, essa é uma missão impossível...
K’uen-Luen
Susanoo, Tsuki-Yomi e Ho-Musubi se apresentam. O tempo se normaliza e o Senhor do Céu e o Agente do Céu, e o Venerável Celeste da Aurora e o Agente da Água, se aproximam, preocupados.
- Viemos aqui para manter vivo o Pacto Milenar, Venerável Celeste de Origem Primeira.
- Não compreendo.
- Eu, Tsuki-Yomi e Ho-Musubi formamos uma aliança: a Nova Tríade Japonesa.
- Tempestade, Lua e Fogo. Ho-Musubi não é tão poderoso como a deidade solar.
- Sim, mas estamos bem assessorados.
Tsuki-Yomi mostra o espelho.
- É o Kagami! Como o conseguiram?
- Isso é o que menos importa, Venerável Celeste de Origem Primeira – diz Susanoo – Além do espelho, estamos contando com deidades aquáticas, como do Mar e dos Rios.
- O Velho da Maré os apoia?
- Mais ou menos, mas garanto que entre mim e Amaterasu, ele ficará comigo.
- Qual o seu plano?
- Com o país sofrendo seca, já que os rios diminuíram o fluxo de água, Ho-Musubi tem mais facilidades para incendiar.
- Mas o seu povo vai sofrer, Susanoo! Não passou pela sua cabeça que, Amaterasu, acompanhada por deuses do caos, vai se aproveitar da situação?
- Para ganhar é preciso perder, Venerável Celeste de Origem Primeira. As oferendas e rezas serão todas para o deus dos Rios. Tenho um acordo com ele; um acordo de prazo. Tempo suficiente para acabarmos com minha irmã.
- Que insanidade! Está agindo como ela!
- Não vim aqui para ser insultado.
- Susanoo parece pertinente, Venerável Celeste de Origem Primeira.
- Até você, Agente da Terra?
- Sejamos coerentes. Dê-lhe uma chance. Se existe aquele fio de esperança, que seja dado aos deuses da Tempestade, da Lua e do Fogo. Eles parecem saber o que fazem. Sinto confiança nas palavras, e motivação pelo Espelho.
Venerável Celeste de Origem Primeira caminha e se afasta. O Senhor do Céu e o Venerável Celeste da Aurora o acompanham.
A Nova Tríade Japonesa e os Três Agentes se cumprimentam.
- Não queremos que esse conflito ganhe proporções continentais, Agente da Terra. Amaterasu está louca e precisamos acabar com isso.
- Entendemos e compartilhamos a angústia, Susanoo. Há uma coisa que ainda não entendi: onde está a Kusangi?
- Muito bem protegida de quem quer que seja.
- Ela será o desequilíbrio na balança dessa guerra. Quem a portar terá uma grande responsabilidade.
Os Três Puros retornam.
- O Pacto está firmado, Susanoo. Depositamos em vocês a última chance e adiantamos: um apoio será enviado em breve. Esqueça as indiferenças e o preconceito. Principalmente, esqueça o orgulho. A ajuda será de extrema importância para a derrota de Amaterasu.
- O que diz, Venerável Celeste de Origem Primeira?
- Infelizmente não tenho permissão para revelar tudo. Só te peço paciência e boa vontade.
- Que seja, Venerável Celeste de Origem Primeira. Tsuki-Yomi, Ho-Musubi, vamos voltar para o Japão e preparar uma emboscada.
Sai a Nova Tríade Japonesa. Saem os Três Agentes. Ficam os Três Puros, que retornam a posição de meditação, sentados, com as pernas cruzadas, e uma áurea os envolvendo.
Di Yu
Uma voz lhe sussurra vindo de um lugar incerto.
A voz de Ti-Tsang Wang-P’u-sá chega aos ouvidos treinados da assassina e lhe dá as coordenadas: fugir para a cidade de Fong-tu, para voltar ao mundo dos vivos.
Ciente do que lhe reserva o futuro, a ninja desfaz-se da vestimenta festiva e saca os sais presos à coxas.
Agora, os satélites que foram pegos de surpresa.
Empunhando as armas brancas, Elektra pôs-se a desferir golpes, aproveitado para chutar as vestes verde, com a finalidade de atrapalhar a dupla com cabeças de animais.
Niú-t’eú sacou a lança presa às costas e enfrentou a ninja, enquanto Ma-mien rasgava o pano que lhe enroscara na perna, com sua adaga.
As almas, atordoadas e amedrontadas, corriam na direção oposta do conflito. Amontoando-se.
O coração de Elektra pulsava mais forte.
Niú-t’eú e Ma-mien atacavam agora em conjunto, no mesmo instante, fazendo com que a ninja se defendesse.
Até o memento certo...
De revidar.
A força dos satélites era impressionante; por várias vezes os sais quase escapuliram das mãos suadas.
Quando Niú-t’eú fincou a lança na direção do tórax de Elektra, ela cruzou as armas e travou a ponta de metal presa ao cabo de madeira.
Ela iria sorrir se não fosse o ataque de Ma-mien, que lhe cortou o ombro direito.
Sangue.
- Sangue!
Um filete escorria, até, do cotovelo, pingar e tocar o solo infernal.
E evaporar.
- Sangue? Como pode haver sangue se ela está... morta?
Com um movimento veloz, Elektra descruzou os sais e quebrou a ponta da lança para, em seguida, derrubar Niú-t’eú com as pernas e rasgar-lhe o abdome. Um grito humano misturado com um mugido de dor ecoou pelos Dez Infernos.
Ma-mien, para vingar o grave ferimento do seu parceiro, chutou a ninja. Em vão. Ela cravou um sai no joelho esquerdo com tamanha firmeza, que atravessou a rótula.
Caído. Indefeso.
A outra perna recebeu o mesmo golpe.
Os corpos dos mais poderosos satélites de Di Yu estavam ao chão quente, gemendo. Se contorcendo.
Elektra pegou uma fita da roupa verde e usou como curativo, para estancar o sangue.
O sangue.
Em sua cabeça, a tentativa de entender o que se passava.
Ela se matou. Ela morreu. Ela esteve no Paraíso. Ela retornou ao Inferno.
Sons de instrumentos musicais de sopro eram entoados, o que significava que outros satélites viram ao seu encalço. A ninja correu na direção de Fong-tu.
Ofegante, ela nem imaginava que o Juiz do Averno conversava com um homem de uniforme de guerreiro, que continha uma insígnia representando superioridade.
Este homem consentia com movimentos de cabeça tudo o que lhe era ordenado.
Ao sacar sua espada, a repousou no tórax, próximo da abertura daquela espécie de quimono onde aparecia seu corpo, e a passou por cima de cicatrizes lá registradas.
Mantendo o ritmo da corrida para a cidade de Fong-tu, empurrando almas desorientadas, Elektra se deparou com uma enorme porta, chamada Porta dos Demônios, por onde entram as almas para receber o castigo devido.
No meio da confusão, olhou para trás. Viu Ti-Tsang Wang-P’u-sá acenando, e com a outra mão, lhe indicado o caminho a ser seguido.
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