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Elektra #15: Kusanagi - Kannazuki

Elektra #15: Kusanagi - Kannazuki

Enquanto Elektra enfrenta desafios no Inferno, especialmente a preparação pro seu julgamento, a Trindade Chinesa e a Tríade Japonesa debatem o ato de Amaterasu, que, agora, declarou guerra ao reunir um novo exército de deuses, pra assim, reaver os tesouros imperiais!


K’uen-Luen, Mansão dos Imortais

A Grande Montanha.

Ânimos exaltados. O que seria um concílio de paz se tornou, momentaneamente, uma crise entre os seres mais poderosos da China e do Japão. 

De um lado, a Trindade, formada pelo Venerável Celeste de Origem Primeira, pelo Senhor do Céu e pelo Venerável Celeste da Aurora. Do outro, a Tríade, incompleta, composta por Susanoo e Tsuki-Yomi.      

Eles debatiam sobre a traição efetuada pela terceira integrante, a deusa do Sol Amaterasu, responsável, agora, pela desconfiança, e pela possibilidade do término de um pacto milenar.

A crise aumentou com a descoberta de que um mortal estava envolvido.      

A Arma Letal, um guerreiro produzido pelo pacto para preservar, e manter em ordem, a paz.      

- Um exército de apenas um homem! – exclamava Susanoo, conhecido por seu caráter variável, que ora se manifestava por gestos de perversidade, quando sua alma brutal o guiava, ora por atos benfazejos, quando sua alma angélica intervinha.      

- Não queira justificar o ato de sua irmã. – disse o Venerável Celeste de Origem Primeira.     

- Não ouse você falar em traição. Seu imperador clamou pelo auxílio de um mortal! A China também transgrediu as regras!      

- Pelos cavalos vivos oferecidos à mim, encerrados na estrebaria instalada no átrio do meu templo em Kadono – interrompeu o quase inerte Tsuki-Yomi – O que presenciamos agora é o que sempre evitávamos: um novo conflito entre o Japão e a China, cujas consequências podem extinguir o mundo. 

Todos os presentes se renderam às sábias palavras do mais novo filho de Izanagi.      

- Se ambos os lados demonstram traição, cabe aos dois lados reverter a situação. Precisamos nos unir novamente e buscar a melhor maneira para encerrar essa investida. Não podemos imaginar qual o destino caso Amaterasu reúna as Insígnias Imperiais Japonesas. Muito menos, se o mortal realizar o feito.      

O Venerável Celeste de Origem Primeira se levanta.      

- Meu jovem, congratulações pelas judiciosas palavras. Como deter a deusa e o mortal?      

- Parem! – interrompeu o deus das planícies salgadas - Estamos falando de duas mulheres, Venerável Celeste de Origem Primeira. Amaterasu e Elektra, a Arma Letal.      

Todos se calam. É inaceitável que um humano adquira os Tesouros do Japão. Pior ainda, é se esse humano for... uma mulher. 

- Essa foi a vontade do nosso deus Pan Gu e das suas Três Divindades. As palavras deles são leis. – explicou o Venerável Celeste de Origem Primeira.      

- Então não se ofenda, Venerável Celeste de Origem Primeira – replicou Susanoo – Precisamos de uma solução. Abra a votação, e já garanto que meu voto é a morte! Até porque Amaterasu já está no Japão, reunindo um novo exército. 

Di Yu     

Os pés já ardem pelo chão cálido. O calçado resiste, mas não se sabe até quando. O suor escorre pelo corpo, bailando a cada articulação. Os cabelos, encharcados, e a garganta, seca.     

Assim, Elektra segue sua subserviente missão ao Imperador Ch’in: resgatar mais um artefato místico. Para isso, ela precisou morrer nas mãos do próprio soberano.      

E depois de passar pelo Deus dos Muros e Fossos, a ninja busca Rei-Yama, o primeiro dos chamados Chetien-yen-wang, ou, Reis dos Dez Tribunais. Isso porque existem dezoito infernos, distribuídos por dez tribunais de que dependem, sendo que cada inferno se destina a carregar delitos bem definidos.      

Elektra precisa chegar à cidade de Fong-tu, onde estavam os palácios dos Reis, os diversos tribunais, os lugares reservados aos suplícios e as casas em que moram funcionários, satélites infernais e almas à espera de momento propício para a reencarnação.      

Mesmo sendo acompanhada de perto e secretamente pelo dragão cego de um olho, a assassina ia pela tortuosa trilha.      

Sem perceber, também, que um homem a seguia.      

Ela não imaginava perigos, não até que encontrasse seu julgador, o primeiro Rei-Yama, que selaria sua vida.      

Ou morte.      

E ao longe ela avistou uma tétrica construção, de onde se levantavam as diversas edificações que albergavam no seu interior, o que ela tanto procurava.      

Ao encerrar tamanho vislumbre da cidade, girou o corpo para trás, munida das armas brancas e encarou aquele ente.      

Pronta para o ataque.     

Pronta para matar, caso fosse possível.      

Em Di Yu, povoado de justiceiros implacáveis, há lugar, entretanto, para a comiseração. As diversas regiões infernais são percorridas, incessantemente, por uma divindade compassiva e misericordiosa.      

- Tome. – diz o homem, ao entregar um objeto que contém um algo pastoso.     

Hesitante, Elektra recusa a oferenda, ao ver aquela figura de bonzo, cingido por fulgurante coroa ritual, que empunha na mão direita a vara metálica repleta de anéis sonoros, e na esquerda, segura a pérola preciosa cujos clarões iluminam as rotas infernais.      

Mas algo naquele olhar do desconhecido a acalma. Ela se sente segura, como há tempos não se sentia. Suas mãos, trêmulas e molhadas, seguram a peça.      

Com a cabeça, faz sinal de agradecimento.      

- Eu sou Ti-Tsang Wang-P’u-Sa e tenho, por atribuição, salvar as almas pecadoras.      

- Eu não sou pecadora. Vim a serviço do Imperador.      

- Não me interessa, nem me importa. Para mim, você está morta e veio para Di Yu porque mereceu.      

- O Imperador me matou para que eu pudesse realizar um feito que...      

- Enquanto vivo, eu era um jovem brâmane, que fiz voto de salvar todas as criaturas mergulhadas no pecado. Consagrei várias existências sucessivas à realização do voto. Adquiri tais méritos graças ao meu espírito de sacrifício, que por fim a mim foi confiada, pelo Augusto de Jade, a guarda de todos os deuses e homens, para que não os deixe ter mau nascimento. Por isso, depois da morte de qualquer pessoa, nenhum dos parentes, amigos ou, simplesmente indivíduos dotados de coração piedoso, deixa de me invocar, para que eu vá em socorro da alma do falecido.      

Encantada com as palavras, Elektra bebe o conteúdo.      

- Tenho que chegar à cidade de Fong-tu.      

- Antes, você precisa ser julgada pelo Primeiro Rei do Inferno. Ele examina os atos de sua vida passada e, se for o caso, encaminha aos outros tribunais, para que seja punida.      

- Quantos são?      

- Dez. O primeiro desses reis é o supremo senhor do mundo infernal e, ao mesmo tempo, presidente do primeiro tribunal. Fica sob a dependência direta do Augusto de Jade e do Grande Imperador do Pico Oriental. Dentre os nove restantes, oito são encarregados de apenar as almas criminosas. Assim, o segundo Rei aplica pena aos intermediários desonestos e aos médicos ignorantes; o terceiro pune os mandarins perversos, falsários e caluniadores; o quarto castiga os avarentos, o moedeiros falsos, os negociantes desonestos e os blasfemadores; o quinto pune os homicidas, os incrédulos e os luxuriosos; o sexto, os sacrilégios; o sétimo é reservado a quem violou sepultura e vendeu ou comeu carne humana; o oitavo recebe os que faltaram à piedade filial; o nono pune os incendiários e tem como anexo a Cidade dos Mortos por Acidentes; e o décimo, finalmente, se encarrega da Roda da Transmigração, e cuida para que a alma que deve reencarnar se acomode no corpo que lhe for designado.      

- Quem executa os suplícios dados como pena às almas?      

- Os Reis do Inferno dispõem de numerosos satélites, que se encarregam de executar fielmente as suas sentenças. Os satélites são representados sob a forma de personagens de torso nu, com duas bossas na testa, bossas que efetivamente são chifres, e armados de clavas, piques de ferro ou tridentes.      

- Esses castigos...      

- Os blasfemadores têm a língua arrancada; os avarentos e os mandarins prevaricadores veem-se obrigados a engolir ouro e prata fundidos. As almas mais culpadas são atiradas em montanhas e caem pesadamente na ponta acerada de sabres fincados ao chão, ou acabam mergulhadas, até o pescoço, em azeite fervendo, ou, então, amarradas a enorme barra de ferro aquecido ao rubro, pulverizadas por pesada mó, serradas em duas, reduzidas a pedaços, etc.      

- Não compreendo. Serei julgada por quê? Afinal, minha morte foi encomendada pelo Imperador Ch’in...      

- Só o primeiro Rei poderá responder suas dúvidas, mulher. E, consequentemente, dar o castigo adequado a cada delito seu.      

- Não sei o que fazer.      

- Como foi seu julgamento pelo Deus dos Muros e Fossos?      

- Não houve interrogatório. Entreguei-lhe oferendas como me ordenou o Deus da Porta, e assim me deixou seguir passagem.      

- Curioso. A alma, depois de haver abandonado o invólucro de carne, conserva, entretanto, a aparência que o corpo assumira em vida, e é conduzida perante o Deus dos Muros e Fossos, que a submete ao primeiro interrogatório e a conserva consigo durante 49 dias, deixando-a a seguir em liberdade, ou punindo-a com pena da canga ou com bastonadas, conforme o que o morto fez durante a vida. Findo o período, o Deus dos Muros e Fossos encaminha a alma à presença do Rei-Yama, que passa a julgá-la, examinando o registro em que se encontram inscritas as ações boas e más, praticadas pela alma. Se for o caso, manda levá-la perante o tribunal encarregado de castigar o crime de que se tornou culpada, como contei.      

- Então o Rei-Yama não tem os registros sobre meus atos em vida.      

- Tem.      

- Como, se não fui julgada?      

- Graças ao Juiz do Averno, sempre acompanhado pelo Julgador que Vê Tudo e pelo Julgador que Cheira Tudo. Seguirei com você até a cidade de Fong-Tu. Caso suas palavras sejam verdadeiras, não será merecedora de castigos ou suplícios. 

Ilha Isukushi, Japão     

Rio Uoto.      

Festa. Comemoração.      

Revigorada, Amaterasu celebra, acompanhada pelos Sete Deuses da Sorte.      

Agora, ela está disposta a investir ostensivamente contra Elektra. Ela já está consciente de que, enquanto a Arma Letal estiver viva, seus planos de reaver o Tesouro Imperial correm sérios riscos.      

Ela está tão cega pro esse desejo que não se incomoda, nem se preocupa, com o sumiço de seus irmãos Susanoo e Tsuki-Yomi.      

Nem com a passageira sensação de tranquilidade.      

Amaterasu, entre as numerosas divindades, é quem domina a mitologia japonesa. É adorada como deidade espiritual e avó da família imperial mais do que como astro. Saúdam-na batendo palmas, ao romper do dia.      

Quem pousou ao seu ombro esquerdo para rapidamente levantar voo foi Yata-Garasu, um corvo de várias patas, mensageiro da deusa solar.      

Ele levou consigo o tesen, com o intuito de sanar qualquer dano sofrido nos últimos combates.      

Seu corpo divino volta a arder em chamas. O Magatama brilha com vida.      

A peça japonesa, em solo japonês, com o sol japonês.      

Seus cabelos sacodem ferozmente, cortando o céu como labaredas.      

Neste momento ela se revigora. Graças à ajuda dos deuses que sempre se apresentaram leal, independente da situação.      

Hotei, que se distingue dos outros pela sua grande barriga, que não deixa que o quimono se feche. Isso não significa que seja guloso; pelo contrário, é um símbolo de satisfação, do bom feitio e da grandeza de alma.      

Juronin é o deus da longevidade. Aparece sempre na companhia de um grou, uma tartaruga ou um veado, cada qual simbolizando a velhice feliz. Tem barba branca e, geralmente, traz uma vara ou um bastão sarado com um rolo de papel preso que contém a sabedoria do mundo. Ele gosta muito de saquê, mas nunca se embebeda.      

Fukurokuju tem uma cabeça muito comprida e estreita, e a boa sorte que representa combina longevidade com a sabedoria. O seu corpo é tão pequeno que a cabeça é muitas vezes representada de maior tamanho do que as pernas.      

Bishamon é considerado o deus da prosperidade. Sempre veste uma armadura e traz uma lança. Na outra mão mostra um pagode em miniatura. Esses dois objetos revelam que Bishamon combina o zelo missionário com atributos guerreiros.      

Daikoku protege os camponeses e é um deus alegre e bem-humorado. Traz, às costas, dentro de um saco, um malho que tem o poder de satisfazer desejos exprimidos pelos mortais, e costuma se sentar sobre dois fardos de arroz. Às vezes podem-se ver ratos comendo dos fardos de arroz, mas Daikoku é tão rico e humorado que não se importa com isso.      

Ebisu, um outro deus da sorte, é um grande trabalhador e um exemplo do labor honesto. É o padroeiro dos mercadores e pescadores, mas nos seus atributos, apenas este último aspecto está representado; de fato, surge sempre acompanhado por uma vara de pesca.      

E finalmente Benten, a única deusa no meio do grupo. Está associada ao mar e muitos dos santuários que lhe são consagrados situam-se em ilhas ou perto do mar. Nos seus retratos ou estátuas, esta conexão se revela muitas vezes quando a figura de Benten aparece montada ou acompanhada por uma serpente marinha ou por um dragão. Ela também representa as artes e os tipos de comportamento mais femininos. Entre todos os instrumentos musicais, prefere o biwa, de corda, cuja forma se assemelha a um alaúde. Não é, portanto, de estranhar que Benten surja muitas vezes relacionada com o lago que tem o nome, e cuja forma faz lembrar o instrumento, o lago Biwa.      

- Estamos aqui para servi-la, Amaterasu. Juramos lealdade eterna, e por isso, jamais a deixaremos.      

- Agradeço por isso, Ebisu. Todos serão recompensados quando eu recuperar o que me é de direito. Quero que saibam que enfrentaremos pesada oposição, inclusive, por parte de Susanoo e de Tsuki-Yomi.      

- Como podem seus irmãos traí-la, Amaterasu? – questiona Bishamon.      

- Ora, é sabido que meu irmão sempre me invejou, pelo fato de meu pai, Izanagi, ordenar que eu administrasse a planície celestial, ao me entregar um riquíssimo colar de pedras preciosas. Para Tsuki-Yomi, meu pai confiou o reino da noite. E para Susanoo, os mares. Ele também é o Deus do Trovão, da Tempestade e da Chuva. Eu e Tsuki-Yomi obedecemos a ordem, mas Susanoo não partiu, permanecendo onde se encontrava, gemendo e chorando. Izanagi perguntou-lhe o motivo de tantas lamentações e Susanoo declarou que há muito alimentava o desejo de ir em visita ao reino da finada mãe. O deus Izanagi se aborreceu e o expulsou. Então, meu irmão expressou o desejo de se despedir de mim, antes de descer ao mundo subterrâneo.      

- Mas por que a deusa Izanami sucumbiu ao Inferno? – perguntou Juronin.      

- Depois de receber a incumbência de consolidar e fecundar a terra movediça, meus pais deram nascimento às múltiplas ilhas que constituem o Japão e aos numerosos deuses, como o do Vento, da Árvore, da Montanha... O último que nasceu foi o deus do Fogo. Ao vir ao mundo, queimou minha mãe e lhe causou cruéis sofrimentos. Do que regurgitou, antes de morrer, nasceram outros deuses. Izanagi chorou amargamente a morte da esposa, e de suas lágrimas nasceu a deusa do Regato Murmurante. Tomado de verdadeira fúria contra o filho que causara a morte de minha mãe, Izanagi puxou a espada e cortou a cabeça do recém-nascido. Das gotas de sangue, que, deslizando na lâmina, tombaram no chão, nasceram oito deuses diferentes e, das diversas partes do cadáver, oito outras divindades, que simbolizam as diferentes montanhas.      

- Por favor, Amaterasu, conte sobre as intrigas com Susanoo.      

- Meu irmão subiu ao céu para me ver, mas fez com tamanho rumor, sacudindo montanhas e rios, causando terremotos e abrindo precipícios, que eu julguei de bom alvitre adotar certas precauções a fim de recebê-lo. Pus às costas um enorme carcás, repleto de agudas flechas, e coloquei diante de mim o pesado arco. Quando lhe perguntei a razão de ter vindo, Susanoo me respondeu que não alimentava nenhuma intenção inconfessável. Vinha tão somente se despedir, pois desejava, em seguida, encaminhar-se para o longínquo país em que se encontrava nossa mãe. Eu perguntei onde estavam as boas intenções que ele proclamava. Susanoo propôs que cada um desse filhos ao mundo: os dele seriam meninos, com o que provaria a sinceridade de seus propósitos. Eu empunhei o sabre de meu irmão, quebrei-o em três pedaços e, depois de mastigá-los, fiz sair da boca um leve nevoeiro, que deu nascimento a três deusas. Susanoo exigiu que eu lhe entregasse os cinco colares de pedras preciosas e, depois de moê-los a dentadas, soprou leve nevoeiro, de onde nasceram cinco divindades masculinas. Então, eu declarei que eram meus filhos, porque nasceram dos meus cinco colares. Meu irmão ficou muito contente com a vitória que perdeu o controle e, se deixando levar pelo incontido entusiasmo, destruiu os arrozais preparados por mim, entupiu os canais de irrigação e esparramou imundícias no templo construído para a festa das primícias. Eu desculpei todas as malvadezas de meu irmão, que continuou na senda criminosa. Certo dia, eu estava tecendo as roupas divinas na casa sagrada. Susanoo abriu um enorme buraco no telhado e atirou pra dentro um cavalo branco de grandes malhas pretas. A terrível aparição provocou tremenda confusão, tanto assim que uma das tecelãs se feriu com a naveta e morreu da infecção consequente. Aterrorizada, me escondi na gruta rochosa do céu, cuja entrada barrei, e restou ao mundo cair em espessas trevas.      

- Até que as 800 miríades de deus se reuniram...      

- O final da história todos sabemos, inclusive, a punição de Susanoo. Como condenação, ele teve que pagar pesada multa, ter as unhas dos dedos das mãos arrancadas, a barba e o bigode cortados, e a expulsão do céu, Hotei. Mas estou de volta. Mais forte do que nunca. Mais preparada e confiante de que, assim que recuperar o Magatama, a Kusanagi e o Yata-no-Kagami [1], vou me vingar de meu irmão e dominar o mundo.      

- Para onde iremos agora, Amaterasu?      

- Garyô tensei. [2] Vamos para Izumo. De lá, invocarei o resto dos deuses que, obrigatoriamente, vão contribuir no meu ato. Em seguida iremos até a província de Ise, onde está o meu mais importante templo.      

- O que faremos lá?      

- No meu santuário se conserva o espelho sagrado, que é o meu xintai, ou seja, o objeto por onde meu espírito pode entrar para assistir às cerimônias de culto ou escutar as preces que me dirigem os fiéis. É o espelho octagonal, o mesmo que foi empregado para me tirar da gruta onde me escondi.      

- Mas... então o Yata-no-Kagami está no seu templo? Por que não o pegou logo?      

- Estou proibida. Só que agora não devo subserviência a ninguém ou a nenhum pacto. Tenho que recuperar a peça antes que aquela maldita mortal o faça. 

***

Notas do autor     

Kannazuki - Em japonês “Outubro” – mês em que, segundo a lenda, todos os Deuses se reuniram no Grande Templo de Izumo.   

[1] Yata-no-Kagami - O Espelho, sagrado artefato imperial japonês.   

[2] Garyô tensei - Literalmente “finalizar os olhos da pintura de um dragão”. Refere-se, genericamente, ao toque final que falta para a conclusão de uma coisa. 

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