Elektra #13: Magatama – O Grande Imperador
No último capítulo do arco Magatama, Elektra enfrenta, novamente, a deusa Amaterasu! No meio do combate, elas encontram a tumba de Ch’in! Dentro, a ninja assassina precisa tomar uma difícil decisão para recuperar um outro tesouro imperial japonês!
China Central, cidade de Xian, província de Shensi
Uma esfera incandescente corta o céu do país. Para alguns seria apenas um fenômeno da natureza, um cometa, balão meteorológico.
A circunferência toca o solo e faz um grande buraco. A fumaça se mistura ao pó. Como um vulcão, o Magatama se abre e expele lava. Um corpo vai se formando em meio ao espetáculo pirotécnico. A medida em que o material expulso do orbe vai diminuindo, a forma se revela.
Amaterasu.
Com o corpo envolto em labaredas.
- As pirâmides!
Nesta região, chamada Zona Proibida, estão, escondidas, sob plantações de coníferas, mais de 100 pirâmides feitas de argila e terra, não de pedras, em condições muito precárias, espalhadas numa área de 2000 quilômetros quadrados.
- Finalmente... a tumba de Ch’in!
Essas pirâmides que se encontram nas planícies de Qin Chuan diferem de tamanho, entre 25 e 100 metros de altura.
- Meu corpo arde!
Elas têm mais de 5000 anos e, segundo guardas de um monastério próximo ao local, elas pertenciam a uma era quando “os velhos imperadores” reinavam na China e que eles sempre enfatizavam o fato de serem “filhos do Céu que chegaram montados em seus dragões de metal ardente”.
Teorias de ufólogos defendem que essas pirâmides são um legado de visitantes extraterrestres... Detalhe: nas proximidades, o governo chinês construiu uma plataforma de lançamento para o programa espacial, ou seja, é uma área restrita...
A deusa solar caminha pela planície, protegida pelo Magatama, que dança ao redor do seu corpo.
- Segundo Xia Nai, o mausoléu fica por aqui.
Seguindo as informações do servo que morreu há pouco, e o brilho do orbe, que aumenta sempre que se aproxima de um outro tesouro imperial japonês, Setsuko está realmente próxima.
Vale de Qin Li, norte das planícies de Qin Chuan
Parada. Não pelo peso por portar as novas armas adquiridas com os Sete Samurais Solares. Porque ela está encantada com o que vê: a Grande Pirâmide Branca, com aproximadamente 300 metros de altura.
Elektra sente algo a atraindo para lá. Seus olhos brilham e seus pelos se arrepiam.
Cada passo dado é acompanhado por uma respiração profunda. Há algo diferente nessa construção, semicoberta por coníferas.
Ao chegar ao pé da pirâmide, a ninja deposita todas as armas, exceto os sais, e contempla a escalada.
Ao tempo em que os leves e poucos cortes do pano vermelho balançam, ela começa a suar. Calor intenso.
- Me surpreendi com você chegando antes de mim, Arma Letal.
Em frações de segundos Elektra se vira com as armas já em punho.
***
É como uma viagem lisérgica. Uma montanha tão alta como as de lendas. Céu límpido. No topo dela, não neva por causa da baixa temperatura, resultado da altitude. Flores. Verde. Vida.
No meio da relva, três velhos estão sentados em troncos de madeira talhada por... milênios.
Cada um deles encanta algo diferente: a flora, a fauna e os elementos.
Estão interligados, são dependentes entre si.
Só que a situação é grave, e a irritação começa a surgir quando esses três encantamentos se cruzam e resultam em criação.
Grande Pirâmide Branca
Ao pé da construção, as duas se encaram.
- Tenho que admitir, Elektra. Não esperava que você fosse capaz de derrotar os 47 Samurais Sem Dono, tampouco os Guerreiros do Sol.
- Setsuko!
- Esse é o meu nome nesse corpo fraco de humano. Na verdade, eu sou...
Explosões, brasas. Fogo.
- ... Amaterasu, a Deusa do Sol do Japão!
Elektra olha, assustada e impressionada com a transformação. Ela realmente não imaginava o que acontecia. Muito menos o papel dela, e mais, ser taxada de Arma Letal.
- Quando contratei você para que recuperasse o Magatama era só o início do seu destino! Você foi preparada para decidir a luta entre o Sol e o Céu! Você teria que estar ao meu lado, Arma Letal! Mas me traiu!
Rapidamente, Elektra investe contra Amaterasu. Os sais passam de raspão, rasgando apenas o quimono lilás.
- Eu daria uma outra chance para você, mas terei que fazer o mesmo que fiz com aquele velho... Tsao.
Após recuar do golpe, Elektra fica chocada ao saber que seu mestre foi morto... pela mulher à sua frente.
- Esse foi o seu último erro, Amaterasu!
A ninja corre com as armas e desfere uma sequência ágil de golpes. A deidade sacara o tesen e abafara todas as tentativas de Elektra.
- Vejo que você escolheu o lado do Céu, Arma Letal. Vai pagar por isso com a vida!
- Eu escolhi... o meu lado!
O orbe dispara chamas contra a assassina, que se esquiva e se esconde por entre a vegetação.
Usando técnicas de ataque aéreo, Elektra sobe uma arvore discretamente e pula sobre a deusa, dando chutes até tocar o chão. Amaterasu sente os golpes.
- É o seu melhor? – e investe pesadamente, dando sequências também rápidas. O leque de metal se torna dois e buscam, alternadamente, os membros superiores e inferiores. A ninja salta, rebate com o sai, movimenta-se. Esse duelo baila como as folhas sacudidas pelo vento.
- Eu queria você do meu lado, Elektra. Juntas, o mundo iria sucumbir ao nosso poder!
Elektra abaixa, gira a perna como numa rasteira. Amaterasu salta e acerta uma cotovelada na cabeça da ninja, que rola para trás.
- Ao menos você me ajudou a encontrar dois dos três tesouros sagrados do Japão!
A ninja para. Agora ela sabe que na tumba do Imperador está escondida outra insígnia.
Por Tsao. Pela outra peça. Por ela.
Elektra levanta em um salto e corre para a direção de Amaterasu. Um grito. Em sua mente, todo sofrimento. Todo treinamento. Toda dúvida.
A ninja salta sobre a deusa e cai atrás dela após um ataque. Antes de virar o corpo, recebe uma fincada nas costas. Em vez de sangue, fogo.
A deidade grita. O orbe dispara novas rajadas de chamas ao tempo em que Amaterasu abana os tesens, fazendo com que Elektra seja empurrada para trás.
- Eu sou uma deusa, mortal!
A assassina se bate contra as árvores. O poder solar se intensifica. Bolas de fogo atingem varias partes do corpo de Elektra que, mesmo ferida, luta contra o vento para se aproximar da oponente.
Rastejando. Usando os sais como apoio para chegar lá.
Fogo. Vento.
O corpo de Amaterasu volta a ser envolto por lava. Ela grita palavras num dialeto antigo e extinto.
O orbe pisca constantemente.
Tudo queima ao redor das duas.
- Acabou, Arma Letal! O mundo será meu! – de braços abertos e cabelos balançando.
Novamente o vulcão e a fumaça.
As coxas nuas de Elektra sangram. Assim como seus braços e pescoço. As palmas das mãos.
Uma explosão. Como se o sol caísse no local. Não há vida, não há verde. Terreno desértico.
Estiradas, as inimigas dividem a paisagem desoladora.
Amaterasu não resistiu à força. Ela não pode usar por muito tempo uma única insígnia japonesa em solo chinês. Mas, se levantando lentamente, vibra ao ver a ninja morta.
- Agora só me resta Ch’in.
Amaterasu dá as costas para a ninja e encara a Grande Pirâmide Branca.
- Não tenho muito poder... só o suficiente para...
- Não vai ser tão fácil, Setsuko – uma voz a interrompe. Amaterasu fecha os olhos e sua expressão revela o ódio.
- Elektra!
A ninja se levanta, apoiada pelos sais.
- Eu sou a Arma Letal – posição de ataque – Vamos ver como você se sai sem seus poderes de deusa.
O solo petrificado treme. As duas se olham, curiosas. A pirâmide treme. Pedras caem. As duas se olham, tensas. Terremoto. As duas se olham, cuidadosas. Deslizamento. As duas se olham, parvas.
A tumba do Imperador Ch’in surge.
***
Os três velhos se levantam, se preparando para partir.
“Não há nada mais o que criar”, pensam, ao caminhar lentamente.
O céu se fecha. Escuridão. Tempestade. Chuva. Relâmpagos. Rapidamente as nuvens se separam, mas o céu continua no breu. A lua surge.
“Eles chegaram”, pensam os três chineses.
Dois japoneses de roupas típicas e únicas se apresentam.
- A China e o Japão se encontram outra vez; com um problema grave.
Grande Pirâmide Branca
A primeira imagem que vem à cabeça quando se olha para a tão secreta e sonhada tumba de Ch’in é a sua similaridade com a construção principal do Palácio de Verão.
Não se sabe ao certo quantas centenas de milhares de escravos e derrotados e prisioneiros de guerras foram utilizados para erguer esse mausoléu, nem seu tempo exato para ser concluído.
A única certeza é de que o lugar é lindo.
A grande porta com baixos-relevos, ornada em ouro e jade se abre, e Elektra, que pegou as armas antes deixadas ao pé da pirâmide, e Amaterasu, a cruzam.
A medida que caminham pelo labirinto, guiadas por uma força estranha, Amaterasu deixa Elektra à frente.
Ela não tem energia. E ao se apoiar nas paredes de argila e terra, mesmo material usado na construção da Grande Muralha, descobre restos mortais daqueles que trabalharam aqui, e que foram proibidos e condenados a morrerem e serem enterrados no local, para não revelarem onde está, exatamente, a tumba do imperador.
Elektra acelera os passos. Ela precisa chegar ao centro para recuperar a peça antes da deidade japonesa.
Mas ela não viu quando Amaterasu recuou e saiu da tumba. Seu corpo estava envelhecendo rapidamente. O Magatama não lhe tinha serventia. Era muita afronta um japonês invadir um lugar sagrado chinês.
Perdida. Assim a ninja se sentia. Ela ignorava todos os ornatos, que provavelmente seriam disputados aos tapas por arqueólogos e antropólogos.
Eis que ela se depara com uma passagem apertada, guardada por uma estátua de terracota. Era uma figura desconhecida, mas parecia ter um enorme papel dentro do mausoléu.
A ninja cruza o estreito caminho e o guerreiro sela a passagem.
Um ambiente negro. Ficar de olhos abertos era o mesmo que ficar com eles fechados. Nada se enxergava.
Ao ouvir o barulho da porta sendo fechada, Elektra saca o lajatang.
Lentamente pontos brilham no que seria o teto. Como estrelas verdes. Na verdade eram constelações feitas com pedras de jade. Todas que podem ser vistas da China.
O chão se ilumina. Ouro. Visto de cima, era exatamente o mapa da China – seus vales, desertos e uma marca representando a Muralha - e os rios e mares eram representados por... mercúrio líquido. Altamente tóxico, foi ideia do próprio Imperador, que, temendo invasores, deixou armadilhas.
E no local onde está o vale de Qin Li, está o sarcófago do Imperador. Todo em ouro e jade. Escritos remotos espalhados, provavelmente provérbios.
Elektra estava hipnotizada por causa da sensação estranha que aquele lugar proporcionava; era ilusão, utopia, terceira dimensão...
Assim ela decide abrir o ataúde.
O lajatang pousa sobre a tampa. Os dedos e o punho doem.
Quando cede uns milímetros, a ninja é interrompida.
- Não há nada para você aí dentro.
Elektra se vira com o lajatang e investe sobre o grande homem.
A resistente peça de madeira de 1,5 metro, com uma lança na ponta, se quebra em vários pedaços.
- Como ousa entrar neste local sagrado?
Das costas, na parte da cintura, Elektra saca o sakujo yari e, ao rolar até se aproximar do homem, assim que encosta o bastão no abdome dele e aperta o botão que ativa a lança, recebe um golpe com o cabo de uma espada, que, na mesma velocidade em que foi retirada, foi guardada.
- Armas japonesas...
Do centro das costas, a ninja, agora preocupada por não saber quem enfrenta, retira o kau sin ke. Ela manipula as barras de ferro conectadas por elos de corrente. O homem desfere golpes com as mãos abertas e estiradas, arrancando a arma de Elektra. Por reflexo, agora a ninja inverte da parte interior do antebraço, as tonfas.
Os dois batem braço com braço. O homem absorve o impacto enquanto a assassina alterna a sequência do ataque. Subitamente, o guardião da tumba segura as tonfas e arremessa Elektra para longe.
Quase ela caiu no mercúrio líquido.
Em poucos instantes o daikyu que cruzava o corpo e aparava as outras armas é segurado com força. Na outra mão, três fechas, que são disparadas no mesmo instante. Uma acerta de raspão o ombro direito, que derruba a proteção metálica. As outras duas são desviadas sem ao menos terem sido tocadas.
Atacar à distância. Existe uma técnica dessa.
Estrelas grandes e pequenas cruzam o espaço, deixando o homem desorientado. A cada remessa de shurikens, Elektra se aproxima, correndo para várias direções.
Um salto.
A ninja retira, de cada bainha presa a um lado da cintura, o daisho.
O homem saca a espada e três lâminas se chocam.
A wakizashi se quebra em quatro pedaços.
A katana do samurai solar resiste ao impacto, mas cai perto do sarcófago.
A outra espada, de fio vermelho, brilha.
Ajoelhada, Elektra recebe um chute no busto e voa longe.
- Muita ousadia invadir o secreto mausoléu do Imperador.
Elektra saca os sais e levanta.
Com as costas da mão direita ela limpa o fio de sangue que escorre pelo canto da boca.
Ela só pensa em uma coisa: em como passar pelo homem, abrir o sarcófago e recuperar o tesouro lá escondido.
Olhos fechados.
Concentração.
O espaço onde está é imaginado. Posições.
Dardos venenosos saem pelos pontos brilhantes no alto.
Ela se esquiva de todos e parte pra cima do homem.
Os sais giram em cada mão.
Os olhos se abrem, junto com a boca.
Um salto. Um grito.
Trincar de armas.
Enquanto um sai ampara a espada, o outro acerta profundamente o braço do oponente.
Ele ri.
A espada que segura brilha e ele acerta um golpe. A coxa da ninja sangra.
Segurando a arma com as duas mãos, ele inicia ataques. Ela, recua.
O sangue se mistura ao líquido mortal.
Cansada e ferida. Não derrotada. Ela, mesmo cambaleando, resiste às investidas daquele poderoso homem, que faz com que a ninja continue recuando.
Até se bater em algo.
E cair sentada, mas com as armas em punho.
O sarcófago.
- Você é boa, Arma Letal.
Elektra levanta a cabeça.
E o reconhece por causa de suas vestes. Apropriada para um homem que foi levado para o descanso até voltar para o encontro dos antepassados e antecessores.
- Eu sou o Imperador Ch’in.
Os olhos de Elektra se enchem de lágrimas.
- Não precisa me reverenciar. O combate foi compensatório. Venha.
O homem estende a mão e a assassina fica em pé.
- Imagino que você tenha muitas perguntas e pouco tempo. Vê o que seguro – e mostra a espada – Essa é a lendária Kusanagi, a katana que integra o tesouro imperial japonês. Ela está guardada comigo por diversos fatores, que você vai descobrir com o tempo.
- Eu a quero. Nem que para isso lutemos até a morte.
- Amaterasu a anseia tanto quanto você.
- Mas algo me diz que você nunca dará a ela.
- Se Amaterasu recuperar os três sagrados, será o fim do mundo.
- Ela já tem o Magatama.
- Restam o sabre e o espelho.
- Se a espada está com você... onde está o espelho?
- Existem pessoas responsáveis por este segredo, Arma Letal.
- Amaterasu já sabe onde você se esconde, Imperador. Mais cedo ou mais tarde ela voltará com reforços e...
- Tenho uma proposta para você. Sei que não está em nenhum dos lados nessa guerra milenar. Acredito que se você recuperar as três peças vai saber o que fazer com elas.
- Não vou mentir dizendo que estou com você, para que me dê a espada.
- Nobre.
- Qual a proposta?
- Se você sobreviver ao Inferno e retornar, a Kusanagi será sua.
Elektra admira a tumba.
- Como chego lá?
- Você precisa morrer.
A ninja se confunde. Seria mesmo importante para ela comprar uma briga que não lhe atinge diretamente?
- Suicídio? – saca os sais.
- Não para este propósito. Pelas mãos de um imperador chinês com um artefato japonês.
Ela se levanta.
- Ficarei desarmada lá?
- Você tem muitas opções.
- Desse arsenal só me interessam minhas armas.
- Sábias escolhas, mesmo sem saber se enfrentará muitos inimigos.
- Estou pronta.
Ch’in segura a Kusinagi e pronuncia palavras. As mesmas usadas no Templo, quando um remanescente concluiu a cerimônia de passagem para T’ai Li.
Num movimento brusco, a espada é cravada no coração de Elektra.
- Você vai encontrar o Deus da Porta, que está ciente de sua chegada. Ele vai dizer o que você deve fazer.
Aos poucos Elektra abaixa, segurando a lâmina que lhe corta a pele e lhe fura cada vez mais.
“E se ele estiver mentindo”, pensa, ao ver a quantidade de sangue que jorra do seu corpo.
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