Gata Negra #08 - JACKPOT!
Central Park, manhã
“Logo hoje que resolvo pegar pesado nos exercícios o parque fica cheio de gente! Pudera, está uma manhã bem agradável…”
Felicia precisava de um tempo ocupando a mente e o corpo. Ainda está abalada com os fatos de noites atrás. Indiretamente, pediu ajuda para a namorada de Peter Parker, a cientista Christina McGee, sobre os poderes que receberia. Roubou para o Rei do Crime em troca dos tão sonhados poderes. Que ainda desconhece até quando os terá, que não sabe controlá-los e quem poderão atingir. Não só quem ela odeia, assim como quem ela gosta. Os efeitos colaterais foram amenizados com o pequeno período de tempo passado em “repouso”. Realmente ela precisa fazer exercícios físicos. Muito ainda está por vir…
“Pessoas correndo… Hum… Que belo homem! Felicia! Ah, que custa olhar? E ainda por cima, continuo solteira!”
- Felicia Hardy, da Cat’s Eye?
- Hã?! Tem sempre essa maneira de abordar as pessoas?
- Desculpe, mas é que estou há tempos querendo lhe falar…
- Por que não foi ao meu escritório?
- Deixei inúmeros recados na secretária.
- Ah, tive problemas com ela. A propósito, quem é você?
- Jennifer O’Nell.
- A psicóloga?
- Eu mesma. Leu meus livros?
- Todos best-sellers… Comprei um mas não o li. Não creio na psicologia. Faço a minha!
- Esse é o seu maior erro. Poderia te ajudar!
- Srta. O’Nell… Caso eu precisasse de uma psicóloga, já teria procurado.
- …
- E então? Qual o problema?
- É o meu filho… Ele foi sequestrado.
- Já procurou a polícia?
- Sim, eles estão empenhados nas buscas… Faz quatro semanas que está com o pai.
- Espere! Quer me dizer que seu marido sequestrou o próprio filho?
- Ex-marido. Sempre perdeu a guarda nas audiências! Revoltou-se e tomou-o à força de mim!
- Que cretino! Tem notícias do filho?
- Nenhuma…
- Olha, Srta. O’Nell, aqui não é o local mais indicado para tratarmos desse assunto. Vamos tomar um café e depois iremos ao meu escritório.
- Como quiser, Srta. Hardy.
Então, Felicia Hardy e Jennifer O’Nell caminham mudas. A psicóloga crê em ajudar Felicia a se controlar. A detetive aposta que vai conseguir trazer e entregar o filho de Jennifer em breve.
Cat’s Eye, horas depois
Após o café, Felicia e Jennifer chegam à Cat’s Eye. Ônix as recepciona. Acomodam-se no escritório. Jennifer não consegue esconder as lágrimas.
- Bom, Jennifer… Tudo está muito confuso. Seu ex-marido sequestrou seu filho… Você diz que ele não aceita a perda, em tribunal, da guarda do mesmo. Ele deve amá-lo muito…
- Isso não posso negar. Ele é um ótimo pai, porém um péssimo marido.
- Onde acha que devem estar agora?
- Juaréz tinha trabalho na Flórida. Sempre viajava para lá. A polícia suspeita de que estejam em Miami Beach. Tenho uma foto que foi tirada há duas semanas. Estou certa de que seja ele!
- Disso não posso negar… Seu filho aparece também nessa foto?
- Não. Apenas Juaréz. Estava saindo de um restaurante quando tiraram a fotografia.
- Quem a tirou?
- Um policial…
- E por que não o prendeu?
- Bom, disse algo, em termos policiais. Pelo que entendi, tinha que ter primeiro certeza de que realmente era ele para detê-lo.
- Muito estranho… Em que Juaréz trabalha?
- Isso sempre foi um mistério. Nunca soube, ele não permitia. Mas era algo que envolvia muito dinheiro.
- Tráfico ou jogo?
- Como assim?
- Na Flórida, muitos enriquecem com jogo ou tráfico. Por isso deduzi…
- Não sei. Não sei mesmo. Vai me ajudar?
- Sim… Vou arrumar minha bagagem, levar Ônix para a casa de minha mãe, iremos até a sua para que eu veja a foto e logo depois embarco para a Flórida.
- Nem sei como agradecer…
- Ah, sabe sim. Pagamento adiantado.
Aeroporto, horas depois
“Bom, com essa foto em mãos será fácil achar o local de onde a tiraram. Óculos escuros, barba por fazer, saindo de um restaurante, cigarro… Preciso analisar também todos os detalhes. E Ônix? Espero que mamãe cuide bem dele. Peter… por que você resolveu aparecer nos meus pensamentos agora? O que será que está fazendo? No mínimo, divertindo-se com a cientista. E eu, sozinha, embarcando para a Flórida, trabalhar… Se ainda fosse para curtir férias!”
Felicia desperta dos pensamentos ao ouvir a chamada para o embarque. Verifica os documentos e caminha até o salão. Algumas pessoas a olham. Ora reconhecendo de quem se trata, ora admirando tamanha sutileza e sensualidade a cada movimento.
Miami, hotel, dia seguinte
“Hum… Sol! Quente! Dormi muito! Tenho que tomar um maravilhoso banho, alugar um carro e ir para Miami Beach fazer o “reconhecimento de terreno”.”
As peças da pouca roupa que cobria o corpo de Felicia vão sendo largadas ao chão, fazendo um caminho até o sanitário. Alonga o corpo enquanto a água enche a banheira. Fria! Talvez para afugentar o calor, talvez para “esfriar” a ansiedade. Afinal, está no paraíso. Pena que não seja para descansar…
Miami Beach, tempo depois
“A primeira coisa que devo fazer é perguntar para um policial se ele pode me informar onde se encontra esse restaurante… Mas será que não vai desconfiar? Hum, terei que contar com um outro artifício meu…”
Felicia aproxima-se de um policial. À medida que conversa, pedindo informações sobre o restaurante, desabotoa a blusa, insistindo na culpa do calor. O policial não consegue resistir. Felicia comenta que é de Nova York e ainda está estranhando o forte calor. Mexe nos cabelos, sutis movimentos labiais. O homem da lei está hipnotizado. Enfim, recorda do restaurante e explica detalhadamente o local. Felicia, com a mão na cintura, agradece sorrindo. Caminha em direção ao carro. Vira-se e olha para o policial. Sorriso perigoso.
Restaurante
- Uma pessoa, não fumante, por favor.
- Siga-me, senhora.
Felicia acompanha o maitre analisando o restaurante. Fotos espalhadas em algumas paredes. Informa a mesa e a acomoda na cadeira. Oferece a carta de vinhos. Felicia escolhe e resolve pedir uma entrada. O maitre fala alguma bobagem e se retira.
“Melhor aproximar a visão, quem sabe Juaréz não está em alguma dessas fotos… Nossa, quanta gente famosa! Será que vão tirar alguma foto minha e pôr num pôster tamanho natural naquela parede, ao lado de Brad Pitt? Uau, que senso de humor… De onde terei herdado? Quem sabe de alguma aranha…”
- Aqui está, senhora. Algo mais?
- Sim, estava observando a quantidade de fotos… Apenas celebridades!
- Além delas, pessoas bonitas, mesmo desconhecidas.
- Isso é marketing, não é?
- Normas da casa…
- Entendo… Você trabalha há muito tempo aqui?
- Sim, um dos garçons mais antigos!
- Estão poderá me ajudar! Tenho uma foto de um amigo… Ele frequenta muito esse restaurante… Poderia me ajudar?
- Mostre-me a foto, senhora!
- Aqui está!
O garçom analisa a fotografia. Uma expressão desconhecida, logo trocada pelo sorriso.
- Mas é claro! O senhor Juaréz Cielo O’Nell!
- Conhece?
- Sim, ele vem muito aqui! Ali tem duas fotografias dele na parede.
- Vejo! Sabe onde posso encontrá-lo?
- Senhora, creio que ele esteja em South Beach. Mas, não posso ficar dando informações sobre os clientes…
- South Beach? Como chego até lá? Pela 95?
- Não posso conversar, estou trabalhando, senhora!
- Quando encontrar-me com Juaréz, ele não vai gostar de saber que você não está me ajudando a encontrá-lo… Já imaginou?
- Senhora, sirva-se do vinho. Vou atender uma mesa e volto com um papel, explicando o que sei sobre o senhor Juaréz. Mas terá que prometer que ninguém vai saber que eu disse essas coisas, combinado?
- Pode confiar em mim.
- Volto em breve.
- Obrigada…
“Juaréz vem muito aqui… E pelo o que vejo, tem que ter muito dinheiro, já que as coisas nesse restaurante são caras…”
Um homem se aproxima da mesa de Felicia com um objeto na mão. A detetive percebe e se prepara para uma defesa.
- Com licença, senhora. Poderia tirar uma foto para expor aqui no restaurante?
- Mas… Mas é claro!
- Obrigado… O restaurante ficará muito mais bonito agora!
- Quanta gentileza…
- Não é nenhuma mentira. Bom, até logo!
“Uma foto! Ahahaha! Só falta ser tamanho natural e ficar ao lado da de Brad Pitt!”
- Senhora, aqui está o papel com as explicações!
- Obrigada… Acabaram de tirar uma foto minha para pôr aqui no restaurante!
- Como assim? Essas fotos apenas são tiradas à noite!
- Não pode ser… Droga, traga-me a conta, rápido! Preciso achar o falso fotógrafo!
Então, após pagar a conta, Felicia sai rapidamente do restaurante. Da porta, ativa a visão e tenta encontrar aquele homem. Mas de nada adianta. Ela entra no carro e continua a busca, sem méritos.
“Mas que droga! Como fui cair nesse truque? Quem será que tirou a foto? Quase ninguém sabe que estou na Flórida. Jennifer, mamãe… Um policial daqui… Uhng! Estou tonta. Argh, que dor! Meus joelhos, cotovelos… Que dor!”
Coisas dos poderes. Ela sabia que teria que conviver com isso por um tempo desconhecido. Felicia resolve voltar para o hotel em Miami. Ainda precisa de repouso. Muito repouso.
Ocean Drive, South Beach, manhã seguinte
O que continha no papel que o garçom entregou no restaurante ajudou, e muito. Descobriu que Juaréz era dono de um iate cassino. Que estava há tempo morando com o filho em South Beach. Era muito rico e conhecido por todos na Flórida. Figura presente e querida em todas as ocasiões. A vida pessoal sempre tinha sido um mistério até o escândalo da separação e a perda da guarda do filho para a esposa. Por causa da forte influência, os poderosos nunca deixavam que nada acontecesse a Juaréz. Se duvidar, até a polícia temia o rico dono do iate cassino.
“Ah, South Beach! Que lugar maravilhoso… Frequentado por estrelas de Hollywood que não têm o que fazer no verão e vêm para cá, aproveitar o sol… Essa avenida então, Ocean Drive… Uau! Muita gente bonita… Ainda bem que estou em forma, assim não preciso esconder meu corpo… Vou ficar com uma cor bonita! Um dia de sol aqui vale muito mais do que cem anos de sol em Nova York…”
- Felicia Hardy?
- Quem…?
- Posso saber o que faz aqui na Flórida? Férias?
Felicia parece não acreditar ao se virar e ver quem está em sua frente. John. Seu amigo… Rápida recordação. Depois do episódio em ChinaTown, Felicia e John nunca mais se falaram. Ela teve o orgulho ferido por quem tinha muito carinho. Ele, perdeu um amor. A expressão em cada face é facilmente identificada. Ela, sem graça. Ele, contente.
- John… O que faz aqui?
- Ei! Perguntei primeiro! Está de férias?
- Não… Eu… Vim a trabalho.
- Em South Beach? O que a trouxe?
- O ex-marido de minha cliente sequestrou o filho. Cabe a mim levá-lo de volta, já que a polícia ainda não resolveu o caso. E você?
- Eu estou muito feliz por te encontrar… Mas nunca imaginei que seria na Flórida! Você está maravilhosa… Estou pasmo com o seu corpo…
- John…
- Bom, estou atrás de uma quadrilha de armas contrabandeadas e entorpecentes que vêm da Colômbia. E uma leve suspeita de policiais que não estão honrando a função…
- Corrupção de policiais? Aqui na Flórida?
- Mais especialmente aqui em South Beach.
- Então o FBI resolveu investigar…
- De fato! Porém, sabe que troco qualquer trabalho pela sua companhia…
- Não só você…
- Sei disso! Sabe, temos muito o que conversar, Fel. Depois daquele episódio em ChinaTown, tudo ficou muito confuso para mim. Não aceitava a ideia de ter te perdido…
- Você não teve culpa, John. Aliás, devo-te desculpas…
- Aceitarei, caso me peça num jantar hoje à noite. Que tal?
- Você não muda mesmo, hein?
- Vamos, Fel. Está na hora de você mudar sua vida. Uma guinada.
- Nem imagina o quanto minha vida mudou nesse tempo em que não nos falamos.
- E então? Aceita o jantar?
- Estava hospedada em Miami, mas agora estou aqui. Passe entre oito e nove horas da noite. Até lá!
- Espere! Não vai me dar um beijo?
- Pode esperar até o jantar, não?
E afasta-se do amigo, sem um caminho certo para ir. Agora sim está confusa. A cada minuto nessa cidade, novas emoções. E agora, mais uma vez, sem saber para onde ir e o que fazer.
Restaurante, nove e trinta e cinco da noite
- E então?
- E então o que?
- Não vai me pedir as desculpas?
- Sabe John, realmente fui muito rude com você… Mas procure me entender! Sabe como é a minha vida… Senti-me impotente assim que o vi entrando no Templo. Se eu tiver que morrer, que seja durante um trabalho!
- Mas não quero que você morra! Eu quero tê-la comigo!
- John, John… Vai me dizer que está só?
- Lógico! A única que quero é você!
- Nenhuma aventura?
- Aventuras, sim. Mas com você é diferente. E você? Vai me dizer que não teve aventuras?
- Você sabe dos meus sentimentos…
- O Homem-Aranha?
- Sim…
- Maldito carma aracnídeo! Encontraram-se, então?
- Sim, mas ele está namorando uma pessoa. Não temos mais nada. Não que eu não queira…
- Eu posso te ensinar a gostar de mim!
- Mas eu adoro você, John.
- Não da maneira como gostaria.
- Quem disse? Acha que não sofri e nem senti saudades durante esse período que ficamos separados?
- É verdade?
- Sim! Precisei muito de você, mas sabe como sou! Se não me procurou, não iria procurá-lo!
- Então, posso ter esperanças?
- John…
John aproxima-se de Felicia e a beija. As mãos acariciavam os cabelos platinados da detetive. Os olhos fechados, a respiração alterada pela adrenalina. O cheiro do desejo espalhava-se pelo ar.
- Eu não posso fazer isso!
- Fel, esqueça aquele escalador de paredes! Ele não a merece e não a ama como eu!
- John… Preciso ir agora. Tenho que terminar meu trabalho. Depois nos falamos.
- FELICIA!!
John, sentado, pasmo, observa a amada sair do restaurante. Abaixa a cabeça e parece não acreditar. Ou no fora que levou, ou por ter reencontrado a amada e beijado sua boca. Segura a carta de vinhos e cobre o rosto.
“Burra! Você viu o que fez? Está agindo como o Aranha! Tudo o que John deve estar passando agora é o mesmo que você passou no Natal, quando foi “dispensada”! Será que deveria ter feito isso? John é maravilhoso… e me ama! Mas não sei, não sei se o amo como ao Aranha. Seria justo? Ah, Peter está com Tina… Acha mesmo que ele pensa em você, Felicia? Você fica dependendo dele para fazer sua vida… MUDE! John… É a segunda vez que faço uma besteira com ele… Tenho que voltar ao restaurante e falar com ele… Não! Tenho que ir ao hotel, vestir meu uniforme e ir para o iate cassino de Juaréz, buscar o filho de Jennifer. John… Aranha…”
Iate Cassino, meia noite e meia
Felicia não teve muito problemas para chegar ao iate, já que estava ancorado num píer e havia muito movimento. Pessoas ricas entravam rapidamente, como se não quisessem perder algo importante. Após um descuido dos seguranças, conseguiu entrar e chegar despercebida a um setor no iate, de onde tinha vista para diversos setores. Ampliou a visão da lente e iniciou a busca, até reconhecer o homem que tirou uma foto sua no restaurante de Miami Beach. Fez uma abertura no vidro que a separava do falso fotógrafo e saltou, caindo em pé, pouco afastada do homem.
“Mas que bela surpresa! Ele trabalha para Juaréz! Mas como descobriu que estou aqui? Que vim até aqui? Jennifer não deve ter sido… mamãe, muito menos. O garçom? O maitre? O policial? Não posso perdê-lo de vista! E além do mais, tenho que ter cuidado para que as pessoas não me vejam…”
Felicia continua seguindo o homem, até descer alguns degraus e chegar a uma antessala. Esconde-se atrás de uma espécie de pilastra e logo ouve o homem conversar com alguém. Falam sobre negócios. Felicia pensa em agir, mas assusta-se ao ver um menino entrar correndo e gritando. Ela move a cabeça de uma forma que ninguém a descubra, e nota que é o filho de Jennifer abraçando o pai. Por um instante, Felicia parece recordar do seu pai. De tudo que o envolve. Ouve Juaréz falar que o ama e outro homem entra na sala e leva o garoto. Gata descobre que é o policial que a ajudou em Miami.
“Que diabos está acontecendo aqui? O policial e o fotógrafo trabalham para Juaréz? Não estou entendendo mais nada! Será que Juaréz… Minha cabeça dói!”
Então, Juaréz, finalmente, fica sozinho. Apoia os braços na mesa e abaixa a cabeça. Nesse instante, Gata sai do “esconderijo” saltando, caindo em sua frente, com as unhas ativadas e um belo sorriso na face.
- Quem é você? A versão feminina do Wolverine?
- Com muito mais progesterona!
- Saia daqui, monstro!
- Tem certeza que me acha um mostro? Juaréz, sinto-me desprezada, pela primeira vez!
- Quem… quem é você?
- Não deve estar me reconhecendo por causa do novo uniforme… Sou Gata Negra.
- A ladra?
- Ex-ladra…
- Não existe ex-ladrão!
- Mais um com essa história… Sou detetive particular e estou trabalhando para sua ex-esposa, Jennifer O’Nell.
- Era só o que me faltava! Como chegou até mim?
- Já disse, sou uma detetive. E como os mágicos, não posso ensinar os truques…
- E o que quer aqui?
- Levar seu filho para Jennifer. Ela tem a guarda e o que você está fazendo é ilegal. Será preso!
- Está brincando, gatinha? Juaréz Cielo O’Nell nunca será preso! Sou uma pessoa temida aqui na Flórida.
- Mas a justiça que o julga é a ianque…
- Mesmo assim. Saia daqui!
- Bom, entregue-me o menino!
- Nunca! Terá que me matar antes!
- Não seja por isso!
Então, Gata salta a mesa e segura Juaréz pelo pescoço. Com as unhas ativadas, brinca pelo rosto do assustado homem. Suas lentes mudam de cor a cada instante. Ou está descontrolada, ou está apenas querendo assustar a ambos. Juaréz sua frio. Gata consegue fazer com que sinta medo.
- Acabou, Juaréz. Renda-se!
E nesse instante, a porta é aberta e o menino entra, novamente, correndo e gritando, mas ao ver a cena da Gata ameaçando o pai, começa a gritar por socorro e rapidamente o policial, o falso fotógrafo e mais dois seguranças entram na sala secreta. Ordenam que Gata solte Juaréz. Sem desfazer o sorriso, Gata larga o pescoço do dono do iate. O menino vai ao encontro do pai. Gata dá alguns passos para trás. Um segurança fica à sua esquerda, outro à direita. O policial, diagonal direita e o falso fotógrafo, diagonal esquerda. Juaréz e seu filho, no centro. Gata está encrencada. Mais uma vez…
- Está brincando com a pessoa errada, Gata Negra. Aqui eu controlo a política e a polícia. Assim que esse policial a ajudou, identificando o restaurante, mandei o falso fotógrafo para lá, a fim de registrar a pessoa que está tentando me prender. Como pôde aceitar um trabalho daquela louca que se acha psicóloga? Deveria escolher melhor seus clientes…
- Quem é você para dar alguma lição sobre clientela? Mexe com jogo! E provavelmente, com tráfico!
- Descobriu isso também?
- Apenas deduzi! Sou detetive!
- Bom, gatinha… Está sabendo demais. Creio que esses meus quatro homens terão que dar um jeitinho em você… Essa é a lei. Percebeu que eu a criei, não? Bom, divirta-se com meus amigos! Ah, mande lembranças minhas para Jennifer…
- Não vai escapar dessa, Juaréz! Gata Negra nunca deixa de cumprir um trabalho!
- Espero que tenha sete vidas… Hehe! Bom divertimento! Vamos, filho! Quer uma moeda para jogar?
Juaréz e o filho saem da sala. Felicia e os quatro homens estão preparados para o combate. E como sempre, ela está em desvantagem. Mas assim é que ela gosta… Então, aciona as unhas. O mesmo reflexo. Ativa o ganho, que escorrega um pouco, caindo em sua mão, e o segura.
- Bem, vocês são quatro e eu sou apenas uma… Sejam carinhosos comigo!
- Não teremos problemas. Estamos em vantagem. E como você mesma disse, somos quatro, e você apenas uma!
- Tem certeza? Acho que você não é bom em matemática! Vamos recontar…!
Nesse instante, Gata atira o gancho que se prende no teto. Pega impulso e salta, com as pernas estiradas, conseguindo derrubar um dos seguranças. O policial saca uma corrente e a gira. O falso fotógrafo e o outro segurança partem para cima da detetive.
- Um já foi… Restam três!
Gata inicia saltos mortais, recuando, até chegar, novamente, à pilastra. O policial atira a corrente que se enrola no pulso esquerdo de Gata. Ela o puxa, fazendo com que o policial se bata com o outro segurança. Percebe que seu pulso está machucado. Com a garra, quebra a corrente. O fotógrafo aproxima-se, prestes a desferir-lhe um soco. Gata para. Parece que seu corpo não responde aos movimentos. A garganta arde. Em menos de dois metros de distância do fotógrafo, os olhos brilham. E nesse instante, a pilastra desaba sobre o homem que, com certeza, tiraria sangue da detetive. O azar. O poder do azar. Ele, novamente.
- Pelos meus cálculos, não resta mais nenhum… Que pena, logo agora que estava começando a me divertir a valer!
Assim que concluiu a frase, o primeiro segurança, derrubado no início, corre e a puxa pelo braço, apertando o pulso ferido. Gata ri e pula, de frente, sobre o homem. Entrelaça as pernas nas costas do segurança e contrai os músculos. As mãos o enforcam. O homem parece não conseguir respirar. Então, segura a Gata pela cintura, e a outra mão numa coxa.
- Uau! Quando pedi para que fossem carinhosos, não imaginarei que seriam tanto assim… Ei, não se aproveite de uma moça inocente!
E ambos caem no chão. O segurança está desacordado. Ou não agüentou a falta de ar, ou a excitação causada pela posição encontrada. Agora a Gata estava sentava em seu abdome. Jogou a cabeça para trás. Outro perigoso sorriso.
- Hum… Espero que ninguém me veja nessa posição… Ahahah!
- Ainda acha que acabou, Gata Negra?
- Quem…?
O policial e o outro segurança estavam em pé. Correm e cada um segura Gata por um braço. Ela não pode utilizar suas armas. Então, usa a agilidade. Faz força e joga os pés para trás, dando uma volta e caindo na mesma posição. Mas agora os oponentes estavam com os braços torcidos. Largam a detetive. Ela corre para a porta, mas o policial atira, novamente, a corrente contra ela e a puxa.
- Já vai? Mas como você mesma disse, agora que ficou interessante…
- Vocês homens não mudam mesmo… Não sabem conquistar uma moça, então partem para a ignorância…
O segurança, mais robusto, segura-a com força. Sente que ele está se aproveitando da situação, já que, além de sentir sua barriga encostando-se a suas costas, ele dava mordidas na sua nuca. O policial se aproxima e acorrenta as mãos de Gata.
- Juaréz deu carta branca para fazermos o que quisermos com ela… Espero que ela goste de uma festinha a três, com direito a dupla…
- Parados! FBI! Nenhum movimento ou morrem!
John e três agentes do FBI entram na sala, rendem o segurança e o policial e libertam Gata. John rapidamente a abraça, mas Gata não corresponde. Os agentes levam o policial, o falso fotógrafo e os seguranças. Gata tira a máscara e ativa as unhas.
- Você de novo, John! Sempre você! Antes em ChinaTown, e agora aqui, em South Beach! Mas por que isso?
- De nada, Felicia Hardy. Percebeu o quanto precisa de mim?
- Não preciso de você! Aliás, não preciso de ninguém!
- Não foi o que acabei de presenciar! Ia participar de uma festa privé com dois loucos…
- Eu sei me defender!
- Foi o que ouvi no Templo. E você ia morrer, da mesma forma…
- Até quando você vai querer ficar bancando o herói comigo? Nem mesmo o Homem-Aranha fez isso ao longo de nossa amizade!
- Mas não sou o Homem-Aranha! Sou John, e amo você! Preocupo-me com você! Não quero que nada de mau aconteça, Felicia. Parece que você não entende!
- Entendo sim… Você quer me humilhar, não é?
- Não… quero amá-la!
E John a puxa pela cintura. Seus rostos ficam próximos. Parecem envergonhados, pois apenas se olham. Os lábios, timidamente, vão se aproximando, uns dos outros. Até o inevitável. O beijo correspondido. As mãos de John percorriam com suavidade o corpo de Felicia. Após o longo beijo, o abraço. As carícias.
- Não sabe o quanto esperei por isso…
- John, o que aconteceu com Juaréz e a criança?
- Lembra do meu trabalho? Então, Juaréz é o responsável por tudo. Ele é o traficante, o contrabandista e o “líder” da corrupção policial aqui na Flórida.
- O que acontecerá com o garoto? Tenho que levá-lo para a mãe…
- Bom, assim que você me deixou no hotel, entrei em contato com uns agentes em Nova York e descobri que Jennifer tem sérios problemas psicológicos. Ela não poderá ficar, também, com o filho. O juiz, muito em breve, indicará um tutor para a criança.
- Mas ela garantiu que sempre ganhou as ações no tribunal…
- É verdade, mas ela omitiu os fatos. Problema crônicos, sabe? Precisa tomar anti-depressivos, está fazendo terapia… Ela a enganou, Felicia.
- Como fez isso comigo…?
- Você precisa descansar… Está tudo terminado. Juaréz e os homens foram detidos. Você está bem?
- Bom, ando meio fraca esses dias… Dores internas, nas juntas… Mas nada desesperador. Preciso voltar ao hotel. Amanhã embarco para Nova York.
- Não irá à praia comigo, pela manhã?
- Não, John. Vou dormir, e muito, para embarcar pela tarde.
- Antes de ir, tome essa moeda. Não pode entrar num cassino e nada arriscar…
- Ahahah! Você é ótimo! Sabe que sou contra os jogos…
- Mas quem sabe, numa máquinas dessa, não arrisca e… JACKPOT!
- Hum… Tenho azar no jogo… e no amor.
- Isso porque quer. Aceite.
- Obrigada… Mas prefiro não arriscar. Meu JackPot já aconteceu… Concluí, de uma certa forma, meu trabalho. Vemo-nos em breve.
- Espere! Não irá assim, sem se despedir…
- …
Aeroporto, dia seguinte
“Ainda cri que John apareceria para me fazer uma surpresa, tanto no hotel, quanto aqui no aeroporto, mas nada! Acabei nem agradecendo por ter me ajudado no iate cassino… Estou em falta com ele! Será que devo esquecer o Aranha e tentar algo mais sério com John? Mas será que ele vai suportar a idéia de namorar uma pessoa que tem uma vida como a minha? Não deixarei de ser Gata Negra. Ou ele aceita ou… Ei, Felicia! Está falando como se tivesse aceitado o pedido de namoro! Mas ele nem o fez, formalmente… Ah…!”
Então, Felicia tem os pensamentos cancelados com a chamada do embarque. Hora de voltar para Nova York, mas antes, prometeu-se que voltaria em breve. Sozinha, com John ou, quem sabe, com o Aranha.
Cat’s Eye, dia seguinte
Assim que desembarcou em Nova York, Felicia pegou Ônix, seu gato de estimação na casa de sua mãe e retornou para o escritório. Telefonou para a psicóloga Jennifer O’Nell, para que tivessem uma conversa. E pelo visto, nada agradável…
- Só a chamei aqui para deixar bem claro que quero que me esqueça. Não gosto de gente como você, Jennifer. Pediu-me ajuda, e eu, com todo esmero, tentei ajudar. Mas o que aconteceu no final? Descobri que nem você nem Juaréz podem ficar com a criança! Isso foi desleal…
- Posso explicar, Felicia!
- Não quero mais mentiras. O recado está dado. Retire-se, por favor!
- Mas…
- Por favor.
- Devolva-me o dinheiro.
- Alguma piada? Saia, antes que eu mesma a ponha para fora.
Jennifer não tem o que dizer. Sabe que errou, e muito, com Felicia. Não se pode desperdiçar uma amizade como a dela. E de nada adiantaria querer se explicar. Felicia já sabe de tudo. Sabe que enganou até a Justiça. Retira-se, cabisbaixa, acompanhada por Ônix. Assim que a porta é fechada, Felicia se joga ao chão e abraça Ônix. Ambos parecem querer contar tudo o que aconteceu. A brincadeira não dura muito, já que alguém está lá fora, no mínimo, precisando dos trabalhos da Gata Negra. Felicia vai até a porta e a abre, não se contendo:
- Srta. O’Nell, já deixei bem claro! Não quero que volte a me procurar! Nunca mais!
Ledo engano. Ao abrir a porta, não viu ninguém. Saiu do escritório, mas nada encontrou. Ao entrar novamente, sentiu algo em seu pé. Agachou-se e pegou uma caixa preta. Ao bater a porta, notou que algo a impedia de fechá-la completamente. Um pé “atrapalhava”.
- Não vai me convidar para entrar, Fel?
Um enorme susto. Inúmeras pessoas passaram na mente de Felicia até que descobrisse quem era na verdade.
- John…? O que faz aqui?
- Não pude me despedir em South Beach, então achei melhor procurá-la aqui. Está nervosa por causa da psicóloga?
- Um pouco chateada!
- Não vai abrir a caixa?
- Claro…
Assim que levantou a tampa, o rosto de Felicia parecia ter sido iluminado pelo brilho da joia. Um anel de diamantes.
- Isso deve ter sido muito caro, John…
- O dinheiro não tem valor quando se vai presentear e pedir algo…
- Como assim?
- Felicia, quer se casar comigo?
- Não acredito que esteja me pedindo isso!
- E então?
- John… Não posso dar a resposta agora!
- Por que?
- Muitas coisas envolvem nossa vidas. Sou uma detetive, você, um agente do FBI. E antes que fale besteiras, não é nada relacionado ao Aranha. Será que vamos conseguir conciliar um relacionamento? Você sabe o quão procurada sou… Tanto para trabalhar, como sendo alvo de lunáticos…
- Creio que poderei conviver com isso…
- Flash Thompson disse o mesmo, mas não aguentou a pressão.
- Fel…
- Posso responder em breve?
- Prometa-me que vai pensar.
- Sim, lógico que irei pensar, John. Eis uma coisa que faço muito… pensar!
- Alguma previsão?
- John, você sabe que não trabalho sob pressão…
- Desculpe-me, Fel. Estou ansioso.
- Controle-se. Eu prometo que o mais breve darei uma resposta.
- Pense com carinho.
- Claro…
John aproxima-se de Felicia. Ela já imagina o que acontecerá. Novamente, ele a segura pela cintura e a beija. Felicia retribui com muito carinho. Vão caminhando, abraçados e se beijando, até a porta do escritório. Ônix parece envergonhado com a cena dos amantes.
- Não se esqueça, Fel. Eu a amo.
- Eu entro em contato, John… Com uma resposta.
- Espero que seja a qual estou pensando…
E Felicia fecha a porta. Joga-se ao chão e seu fiel escudeiro, Ônix, faz o mesmo movimento. Felicia coloca o gato sobre sua barriga e sorri agradecimentos. Ônix parece não entender, ou continua envergonhado… Coloca o anel no dedo e admira.
- Olha como brilha, Ônix! Ele me ama! E eu acho que… Ah, o que acho não importa! Tenho muito carinho por John… Mas será que ele suportará a minha vida como Gata Negra? Isso é uma coisa de que não abro mão. Nunca deixarei de ser Gata Negra. Nem mesmo por amor… Será que esse pensamento meu não é um pouco egoísta? O que será que o Aranha vai falar quando souber que John me pediu em casamento? E quem disse que ele precisa saber? Seria uma boa… Adoraria ver aquela face aracnídea morrendo de ciúmes… Se bem que ele está com a cientista… Ah, não vou aceitar ou negar o pedido por causa de ninguém. Se eu acho que será bom para minha vida, aceitarei. Caso contrário…
Sem sombra de dúvidas, o poder do azar trouxe problemas para Felicia. Problemas fáceis de serem resolvidos. Ao menos assim ela pensa. Problemas complicados para serem resolvidos. Ao menos assim ela prefere. Mas uma coisa é inegável. Esse poder funciona. Ao menos a própria “dona” não está na sua maré de sorte…
Comentários
Postar um comentário