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Gata Negra #06 - Volta ao crime 1/2

 Gata Negra #06 - Volta ao Crime 1/2

Parece que as coisas na vida de Felicia Hardy dificilmente mudam. O que está prestes a acontecer com nossa gatuna favorita?



Queens, Nova York

- E então, mamãe! Gostou dos presentes?

- Felicia, minha filha… Não precisava ter se preocupado!

- Afinal, são os presentes atrasados do Natal…

- Como conseguiu dinheiro para comprar essas coisas tão caras? Vou ser ríspida… Por acaso está roubando novamente?

- Mamãe! Não lê os jornais nem assiste aos noticiários? Estou trabalhando! Abri minha investigadora particular.

- E com esse trabalho está ganhando bem assim?

- Fique a senhora sabendo que já estou reconhecida no país inteiro. Até o FBI precisou dos meus serviços!

- Nenhuma recaída?

- Mamãe! Estou regenerada! Será que todas as pessoas vão sempre ligar a Gata Negra de antes à essa nova? 

- Ponha-se no meu lugar, Felicia. Seu pai era um ladrão. Você tornou-se uma. É muito difícil para mim…

- Não imagina o que passei desde que abri essa investigadora!

- Está arrependida?

- Não mesmo! Mas preciso de apoio!

- Minha filha… O que houve?

- Muitas coisas…

Felicia não se contenta e abraça a mãe. Seus olhos lacrimejam. Lydia, tenta ser o mais compreensível possível. Mas não é fácil aceitar que a filha seguiu os mesmos passos do pai. Mesmo sabendo que ela está regenerada.

- Desde que concretizei meu sonho, minha vida pessoal está horrível. Passei por situações nunca imaginadas. As pessoas não me deram credibilidade. Mas consegui provar do que sou capaz. Por causa de um trabalho, briguei com meu amigo… Fui alvo de vingança pessoal, e para piorar, fui rejeitada pelo meu grande amor…

- O Homem-Aranha outra vez… Ainda não entendeu que ele não lhe faz bem, Felicia?

- Mas o que posso fazer? Não mando nos meus sentimentos!

- Procure outra pessoa… Uma pessoa normal!

- Eu tento, mamãe. Mas o meu amor pelo Homem-Aranha é forte demais!

- Será que terei que interná-la novamente?

- Você não seria tão horrível para fazer isso…

- Prove que mudou!

- Basta ver as notícias! Eu sou uma detetive prestigiada em todo o país! Todos buscam a ajuda da Cat’s Eye para resolver problemas os quais a polícia, e até mesmo o FBI, não têm condições…

- Mas ainda mistura a profissão com o lado pessoal… Maldito Homem-Aranha que transformou a vida da minha filha! Maldito Walter que passou a “herança” criminosa para minha única filha…

- Eu vou continuar com meu trabalho, quer você queira, quer não! Estamos entendidas?

- Você sabe muito bem o que faz da vida. Eu dei ela para você. Faça bom proveito. Ou ainda acredita que tem sete delas?

- Não seja irônica, mamãe…

- Já vi que nunca mudarei seus pensamentos. 

- Eu não preciso desses cuidados…

- Ao menos herdou a minha ironia… Venha, vamos jantar!

À mesa, a conversa tentava fluir naturalmente, mas era como se uma barreira impedisse um entendimento entre as duas. Lydia nunca aceitou o fato da sua filha ser como o marido. Tinha medo de que acontecesse o mesmo com ela. Já Felicia, procurava ajuda, precisava conversar e receber, ao menos uma única vez, apoio e incentivo. Terminada a ceia, Felicia despediu-se da mãe e retornou para a ilha.

Cat’s Eye, mesma noite

“Eu não consigo entender mais nada… Minha mãe disse algumas coisas as quais deveria levar em consideração. Eu preciso tanto conversar com alguém… De uma certa forma, a minha idéia de ir falar com minha mãe não foi das melhores! John… Aranha… Por que as coisas sempre são assim?”

Os pensamentos de Felicia são interrompidos com os miados famintos de Ônix. Ela estava tão preocupada que acabou esquecendo de alimentar seu felino.

Ônix, meu neném! Olha só o meu estado… Deixei-o faminto! Tome, beba esse leite. Está com um aspecto maravilhoso… Bem que você podia conversar comigo, hein? Mas não fala. E ainda por cima, está mais interessado no leite e na ração… 

Felicia vai até a janela. Cruza os braços e alisa os ombros. Sente-se só. Pergunta se realmente não seria bom tentar amar o Peter, ao invés do Homem-Aranha. Relembra de que ele está namorando uma cientista. Mulher pacata, sem aventuras. E se resolvesse aceitar esse compromisso, teria coragem de largar a vida de Gata Negra e tentar ser “normal”? Essa é uma das perguntas que Felicia não faz idéia das respostas.

“Preciso dormir. Não há nada melhor do que uma boa noite de sono, caso queira resolver algum problema. Acontece, que não tenho um problema. Tenho vários! Desde amorosos, que são os mais dolorosos, aos meus trabalhos e o risco que corro ao resolvê-los. Um estrela cadente! Deve ser impressão… Mas prefiro não arriscar. Vou fazer um pedido. Algo que quero muito…”

Ela não tinha certeza de ter visto essa estrela. O céu não estava propício para admirações. Havia algumas nuvens no céu. Poderia ela ter se confundido, já que estava com sono. Mesmo sem crer que poderia ser uma estrela, e que seu pedido pudesse ser realizado, não hesitou e o fez. Desejou com força. Com vontade. Ônix, saciado, observava Felicia. Saltou e parou na janela. Felicia sorriu, pegou-o e levou até uma ante-sala, onde se encontra um pequeno dormitório. Beijou o gato, desejou boa noite, tirou aquela pesada roupa, vestindo algo mais confortável, e caiu em um sono profundo. 

Pit’s Café, manhã seguinte 

Felicia resolve tomar o café no local, onde quase sempre o faz. A garçonete a olha. Um simples sinal e entende que Felicia quer o de sempre. Folheia o jornal do dia, tentando imaginar se em alguma daquelas matérias estará seu próximo trabalho. Junto com o café e acompanhamentos, a garçonete traz um bilhete. Felicia nada diz. Pega-o e lê.

“Pediu para, discretamente, olhar e procurar o remetente… Não há muitas pessoas aqui, agora. Quem enviou…”

Felicia busca calmamente a pessoa que enviou a mensagem. Repara em um homem muito forte e alto. Ele faz um sinal e ela compreende a chamada. Convida-o para sentar-se com ela. O homem, meio desconcertado, levanta e caminha, até chegar à mesa e sentar.

- Enviou-me este bilhete?

- Sim, Felicia Hardy. Chame-me de Touro, como a maioria das pessoas.

- Pois bem, o que posso fazer para ajudá-lo? Ou vai me dizer que simplesmente quer pagar meu café?

- Tenho coisa melhor para você, Felicia. Trabalho para um homem que quer seu trabalho, e pagará muito bem por isso!

- Finalmente uma boa notícia! Quem é o seu patrão?  

- Wilson Fisk. Lembra-se dele, correto?

- O… O Rei… O Rei do Crime! O que ele quer comigo?

Felicia parece não acreditar. O homem que controlava o submundo precisa de seus préstimos. Ele, uma vez, deu poderes para Felicia, querendo assim, vingar-se do Aranha. Assim, quando soube do feito da companheira, terminou um belo e aventureiro relacionamento. 

- Como eu disse, quer que faça um servicinho para ele…

- Eu preciso pensar! Não sei em quê posso ajudá-lo! 

- Saiba que o Rei paga muito bem quem o ajuda…

- Isso eu não posso negar… Mas da mesma forma que ele ajuda, atrapalha… E muito!

- Eu tenho pressa. Qual a sua resposta?

- Diga para ele, Touro, que vou pensar. O mais breve terei uma resposta.

- Espero que seja o mais breve mesmo.

- Isso soou como uma ameaça?

- Os homens do Rei do Crime não ameaçam. Agem.

- Como falei antes, avise ao seu chefe que em breve dou a resposta.

- Como quiser, Felicia. Com certeza, não irá se arrepender caso aceite. 

- Será?

- Eu pago a conta, não se preocupe. Lembranças do Wilson Fisk. Até mais tarde!

“O que será que o Rei do Crime quer comigo? Mas, ele estava sumido por um bom tempo… Será que está disposto a reassumir o poder do crime em Nova York mais uma vez? Se for, será uma árdua tarefa… Já existem outros chefes brigando pelo comando… Mas o Rei do Crime é o Rei do Crime… Sabe muito bem o que fazer! Isso se ele já não estiver, mandando, mais uma vez, no mundo do crime e eu nem sabia… Bom, mesmo assim, preciso pensar. É um risco enorme ajudar um homem como Wilson Fisk. Tenho que ser cautelosa…”

Felicia termina o café e a leitura do jornal. Despede-se da sempre simpática garçonete e sai do Café. Caminha pensativa. Quer entender por quê o Rei precisa de sua ajuda. Ele tem os melhores homens da cidade. Gente capacitada. Mas ela não acredita que seja uma cilada. Ou uma maneira de atingir o Aranha. Se afirmou que precisava dela, deve haver um grande motivo. E ela iria descobrir isso em breve. Mais breve do que ela poderia imaginar. Enquanto caminha, se encontra com um casal: Peter Parker e Christina McGee. Felicia sente as pernas tremerem. Uma fina dor no coração. Pára e os cumprimenta:

- Peter Parker! Quanto tempo, hein?

- Felicia Hardy! Como está? 

- Muito bem… Não vai me apresentar à sua amiga?

- Er… Essa é Christina McGee… Minha… Hã… 

- Namorada! Prazer em conhecê-la, Felicia. 

- Encantada… E então, Peter? 

- Como vai o trabalho na Cat’s Eye? Tina é…

- Cientista! - interrompe Felicia.

- Como sabe que sou cientista?

- Você tem cara de cientista… E além do mais, namora o Peter! Tinha que ser alguém parecido com ele…

- Felicia… - Peter leva a mão ao rosto, já pensando no pior. 

- Tina, será que poderia nos dar um minuto? Precisava falar com Peter em particular…

- Claro! Mas não demorem! Afinal, tenho horários.

- Com licença, Tina…

Felicia está chocada. Nunca imaginou que poderia encontrar o Peter andando, de mãos dadas, com a namorada. Já o Peter, não conseguia esconder a expressão de nervosismo e irritação.

- Espero que o que tenha para me falar seja muito importante. E não gostei do modo como tratou Tina!

- Tina…?! Eu tentei ser o mais simpática possível…

- O que quer?

- O que sabe sobre o Rei do Crime? Ele está de volta na cidade… Sabe de alguma coisa?

- Felicia, aconteça o que for, fique longe dele. Wilson Fisk não é boa companhia. É só ele aparecer, e problemas o acompanham!

- Diga! O que sabe dele!

- Você sabe o que eu penso a respeito disso. Olha, a gente conversa depois. Tenho um horário e a Tina está me esperando.

- Não tem tempo para mim? É importante!

- Eu entro em contato. Cuide-se, Felicia.

Peter corre e abraça a amada. Felicia, triste, observa. Eles se despedem e somem meio à multidão. Ela parece não acreditar… Pergunta-se se realmente não pode tentar viver “normalmente” com seu grande amor. Sente até um pouco de inveja, pois não é ela quem está de mãos dadas, andando, ao seu lado. Fica mais confusa ainda, até mesmo porque o Peter não ajudou em nada. Apenas alertou. Coisa que ela já sabia. A presença do Rei não é um bom sinal.

Cat’s Eye, tarde

“Muito bem… Consegui dar uma organizada nesse escritório… Ônix poderia deixar de ser bagunceiro… A proposta do Rei deixou-me nervosa. Se eu aceitar, receberei um ótimo dinheiro. Se não aceitar, corro o rosco de ser boicotada. Ele é bem capaz de fazer isso. Faz coisas piores com pessoas que negam ajuda ou atrapalham… Que sensação incômoda. E ainda por cima, tive aquele “encontro” inesperado. Por que essas coisas só acontecem comigo?

Assim que conclui os pensamentos, a Cat’s Eye recebe visita. Felicia não sabe, ainda quem está lá fora. Mas sente-se bem, por saber que é alguém que precisa de sua ajuda. Ajeita a saia, arruma os cabelos e vai abrir a porta. Tamanha surpresa, ao conferir que o Rei do Crime, em pessoa, está parado, esperando um convite para entrar.   

- Vai me deixar esperando, Felicia Hardy?

- Rei… Wilson Fisk! Entre…

- Já conhece meu secretário, Touro, não?

- Tive o prazer. Mas e então, qual o motivo dessa ilustre visita?

Wilson Fisk acomoda-se no escritório. Saca um charuto, que é acendido rapidamente por Touro. Felicia, não hesita e pede uma melhor explicação da oferta, do trabalho.

- Sem mais ironias, Felicia. Tenho uma proposta irrecusável para fazer…

- Não posso dar uma resposta sem saber o terei que fazer e o que receberei…

- Quero que você roube uns documentos do escritório de um velho conhecido…

- Roubar? Não, Rei. Não sou mais uma ladra.

- Hehehe! Como não? A mais perigosa gatuna de Nova York está regenerada? 

- As pessoas mudam…

- Só que você ainda não mudou. Sei que o sente quando invade algum lugar… Sei a vontade de roubar qualquer coisa…

- Eu estou tentando mudar. E não é uma tarefa muito difícil…

- Pegue esses documentos que me interessam e eu te darei uma coisa que quer muito.

- Que quero muito?

- Sim. Terá o seu poder de azar e outras coisas se fizer esse trabalho.

Felicia não parece acreditar. Por um segundo, relembra da estrela cadente. Não sabe se foi coincidência, delírio… Seus olhos brilham. Um sorriso faz-se em sua face. O Rei percebe. Traga longamente e solta a fumaça, que rapidamente espalha-se pelo ar.

- E então? 

- Não sei. Preciso pensar.

- Não tenho muito tempo.

- À noite darei a resposta. Ficamos assim?

- Como quiser. Mas não se acostume. À noite quero uma resposta. E não aceito um não como resposta.

- Sem problemas, Rei.

- Então, conversamos detalhadamente mais tarde. Passe bem, Gata Negra.

- Igualmente, Wilson Fisk.

O Rei e seu secretário saem do escritório. Felicia, parva, bebe um copo com água. Inúmeras lembranças invadem seus pensamentos.

“Se eu aceitar esse trabalho, terei meu poder de volta… Isso é o que mais quero! Mas, por outro lado, terei que roubar. E tinha prometido que não mais faria isso. Prometi para meu pai ser uma pessoa decente… Para o Aranha, que faria o bem! Eu sei o que aconteceu quando lhe contei que o Rei havia me dado o poder… Foi o fim do nosso amor. Ele não aceitava a idéia de ter sido ajudada por um de seus piores inimigos… Será mesmo que valerá a pena? Que documentos são esses que fazem o Rei do Crime tremer? Não acredito que tudo isso está acontecendo comigo! Não posso ficar sem meu poder de azar por causa do Aranha! Ele não está mais comigo, deixou bem claro que não me via como antes… Que não me ama mais! Mas papai… Aquela carta… Nela estava bem claro que ele tinha se arrependido de roubar. Pode ser que esse trabalho para o Rei não seja considerado exatamente um roubo… Ah, não sei! Cada dia que passa, mais confusa fico. Mais dilemas tenho que enfrentar… Será que vai valer a pena?”

Ilha da Liberdade, ocaso

Felicia sempre gostou de admirar a Estátua da Liberdade. Não que represente algo esplendoroso, e sim, passa tranqüilidade. Na Ilha, pode ver o pôr do sol de uma maneira privilegiada. Incomoda-se apenas com os visitantes que fazem questão de conversar alto. Outros preferem deitar à grama e sentir a energia emanada daquele lugar. Felicia está dividida entre conseguir o que quer, ou seja, o poder de azar, ou ir contra seus princípios e promessas. 

- E então, Felicia?

- Como…?

- Já tem a resposta?

Era o desastrado secretário do Rei. Seu tamanho parece assustar aos outros que visitam a Estátua. Felicia não esconde sua insatisfação. Desliza suavemente a mão pelo corpo. 

- Está me seguindo?

- Estou seguindo ordens do Rei.

- Pois avise para ele que não gosto de sofrer pressões. Se disse que à noite daria a resposta, é porque somente à noite a darei.

- Mesmo assim, tenho que ficar de olho. O Rei não pode correr o risco de ser traído…

- Acha mesmo que faria isso? Tenho uma ética. Sou como um padre que segreda todas as confissões. Não saio por aí falando quem me procura e o que quer que eu faça. 

- É por isso que o Rei a admira, Felicia. 

- Não preciso de elogios, Touro. Agora, pode me deixar sozinha? Preciso de um tempo…

- Como quiser, mas saiba que não só eu estarei de olho em você.

- Quer me dizer que há outros homens do Rei me seguindo?

- Isso são negócios, Felicia. Negócios. 

- Mas não o meu modo de trabalho. Exijo privacidade. Já disse que só darei a resposta à noite. Não precisa toda essa desconfiança…

- Os gatos são traiçoeiros, correto?

- E Wilson Fisk? Não é uma das pessoas mais confiáveis…

- Vou deixá-la, Felicia. Mas não se esqueça, à noite terá que dar a resposta.

- Não se preocupe. Cumpro os meus compromissos.

Touro vai embora, e com ele mais dois homens. Felicia percebe e volta a contemplar a Estátua. Nota cada detalhe. Não consegue raciocinar como queria. Tudo lembra a promessa, as perdas, o poder de azar. Como dito antes: é só o Rei aparecer, que com ele, surgem os problemas…

Restaurante Chanterelle, noite 

“John… Aqui que começou nosso desentendimento… Você e a proposta daquele trabalho para o FBI… ChinaTown… Não sei se poderia lhe confidenciar essa proposta do Rei, mas com certeza, sua companhia faria com que me sentisse muito melhor! Não gosto de jantar sozinha… Estou tão frágil. O Aranha me dispensou. Não sei como anda minha situação com John… Peter e Tina… Sou uma pessoa muito difícil. Ou fácil demais por saber o que quero.”

À mesa, Felicia parece brincar com o copo onde contém o prosecco escolhido. Vê nos outros lugares, casais, amigos, reuniões. Não sabe se está com fome, não sabe se voltou a esse restaurante para ter a sensação de que está acompanhada… Sente uma pesada mão tocar-lhe os ombros. Por um instante, imagina ser John ou Peter. Ao virar, descobre o engano. Touro, novamente, com mais dois homens. 

- Já é noite, Felicia. O Rei espera sua reposta.

- Sentem-se. Não quero que desconfiem.

Após o “convite”, os três homens à mando de Wilson Fisk, o Rei do Crime, sentam-se e são servidos da bebida.

- Já decidi, Touro.

- Qual a resposta?

- Antes… Estava me seguindo novamente, não é?

- Você não é confiável. Além do mais, não tínhamos marcado um local para o encontro com a finalidade de dar a resposta.

Felicia sorri maliciosa e perigosamente. Passa a mão na nuca e arruma os cabelos. Os três não conseguem parar de olhar e de imaginar, intimamente, com maiores desejos.   

- Eu aceito!

- Já esperávamos por isso!

- Só que quero saber de tudo, detalhadamente.

- Não se preocupe. Isso o Rei fará questão de fazer, pessoalmente.

- Touro, o Rei disse que daria meu poder de volta e outras coisas mais… Quais são essas coisas?

- A curiosidade matou o gato…

- Sim, mas poderia adiantar-me algo?

- Não quer que seja surpresa?

- Odeio surpresas!

- Não tenho ordens para comentar sobre qualquer assunto do Rei.

- Isso é que é um empregado fiel…

- Ele está à sua espera.

- Eu estou com fome. Acha que vim para esse restaurante com o intuito de te encontrar?

“Não de encontrar os homens do Rei do Crime. E sim, companhias melhores…”

- Faça o pedido, coma-o e em seguida partiremos ao encontro do Sr. Fisk. Peça o que quiser. Será oferecido pelo Rei.

- Só espero que não abata a conta do meu ordenado…

- Não receberá dinheiro… 

- Onde ele está? 

- Num escritório fachada em Wall Street, esperando a gatinha, com uma bola de lã na mão…

Wall Street, duas horas depois

Felicia, Touro e os dois homens entram na grande sala, onde se encontra o Rei, sentado à uma grande mesa. Acende um charuto. Touro oferece algum drinque, mas Felicia nega. Wilson Fisk ordena que o dois homens se retirem. Após o cumprimento da ordem, Touro fica parado em frente a porta.

- E então, Rei? Qual o trabalho?

- Como havia dito antes. Quero que pegue uns documentos.

- Documentos?

- Tenha calma! Esses documentos são umas provas que podem me colocar na cadeia…

- Finalmente conseguiram algo contra você, hein?

- Não por muito tempo. Assim que você as pegar e trazer de volta, serei “limpo” novamente.

- Imagino… Mas, por que escolheu à mim, já que tem muitos homens capacitados para realizar esse serviço?

- Felicia, não tenho obrigação de revelar nada, mas vou comentar. Você tem uma firma de investigação particular… Ninguém imaginará que a tão prestigiada detetive seria capaz de roubar novamente… Ainda mais, para o Rei do Crime!

- Não considero isso um roubo. E vamos para o que realmente me interessa. O que ganharei com isso?

- Como disse antes, darei umas coisas a mais… Novas garras. Não mais cortadores de vidro. Feitas de um material extremamente resistente. Colocamos, simpaticamente, o nome de Adamantium 5. 

- Adamantium 5?

- Sim… Também um novo par de lentes, com mais recursos. Além da visão noturna e níveis de aproximações, agora poderá detectar se há pessoas no local com o sensor de calor… E inúmeras outras opções que com o tempo, descobrirá.    

- Novas lentes… Mas…

- Tenha calma, Felicia. Enquanto não recebe seu poder de azar e de movimentos sobre-humanos, usará esses brincos que controlarão seu equilíbrio. 

- Tinha experimentado esses brincos uma vez que pedi ao Armador…

- Armador? Ele é um amador, isso sim! O que darei é a última novidade em tecnologia. Claro que é de uso exclusivo seu. Os projetos já foram destruídos. 

- Entendo… Nada mais falta?

- O principal. Assim que você entregar os documentos, receberá o poder de azar, agilidade, reflexos, essas coisas de que gatos gostam tanto…

- Muito bem. O que tenho que fazer?

- Aqui, pegue esse disquete. Nele contém todas as informações de segurança utilizadas no prédio, no andar e, principalmente, na sala daquele cretino.

- Não se preocupe, Wilson Fisk. A Cat’s Eye resolverá o seu “problema”. 

- Você tem 48 horas para entregar esses documentos para mim. Caso contrário…

- Não se preocupe. Prazo é questao de honra para mim. Quem sabe até mesmo antes entrego essas provas… Tenha um bom dia, Rei do Crime.

- Igualmente, Felicia Hardy.

Ao se levantar, Touro acompanha Felicia até o elevador. Um pouco distante, os outros dois homens a observam. Felicia entra e rapidamente já está fora do edifício. Olha para o céu e sorri. Tem a impressão de ter visto, outra vez, a estrela cadente. 

Cat’s Eye, madrugada

“O que será que estou fazendo… Arrisquei meu nome e o da Cat’s Eye por causa de poder! Eu estava indo tão bem sem ele… Se bem que com a chegada do poder do azar, terei muito mais capacidade e poderei aceitar casos mais perigosos.”

Felicia senta-se e liga o computador. Inicia, na Internet, uma busca sobre algo ligado ao Rei, utilizando o nome do advogado que pode acabar com o seu “reinado”. Coloca um cd. Música para alegrar o ambiente. Ônix corre e senta no colo de Felicia. Ela brinca com o felino, apertando suas orelhas. Volta à busca, mas com a mesma expressão de quando encontrou Peter e Christina. 

“Ônix… Meu único companheiro. Que será que o Aranha estará fazendo agora? E John? Essa droga de Internet! Não acho nada e ainda por cima, essa conexão está lenta…” 

Tem alguém lá fora. Felicia estranha, pelo simples fato de já passar das 3 horas da manhã. Calça as luvas e as aciona. As unhas rapidamente surgem. Vai até a porta e pergunta quem está. Nenhuma resposta. Respira fundo e a abre bruscamente. Não há ninguém, mas uma caixa. Felicia estranha. Pensa que pode ser engano, ou quiçá, uma bomba. Sente o coração acelerar. Ônix corre e salta, caindo em cima da encomenda. Só então Felicia percebe que não há perigo.

“Muito bem… Hora de descobrir o que há nessa caixa… Não é nada que deve temer, já que Ônix provou… Uhng… Deve ter muita coisa aqui dentro…!”

Felicia leva a caixa e a deixa sobre a mesa. Com as garras, abre lentamente, descolando as partes, para que não estrague o conteúdo. Mesmo sem imaginar o há dentro. 

“Não acredito! Quatro caixas menores. Vou começar pela menor de todas.” 

Felicia abre a pequena caixa. Uma grande surpresa. O par de brincos. Compacto e cintilante. Formato oval, muito discretos. Quase imperceptíveis. Felicia vibra, radiante. Terá mais tranqüilidade ao caminhar pelos cabos e fios telefônicos. 

“A primeira caixa, grande surpresa. Vejamos o que me aguarda essa, de médio porte!”

Era mais parecido com um estojo. Tinha a cor prata, como a primeira. Parecia que era a cor padrão dessa encomenda recebida. Abre e percebe que há líquidos. As novas lentes de contato! Ao lado, um papel, um manual. Uma rápida lida e descobre que, em cada função da lente, uma cor diferente. Exemplo? Visão noturna, os olhos de gato, desenhados, como na antiga, ficam verdes. Felicia dá pulos de alegria. Percebe que vai valer a pena. 

“Muito bem, Felicia Hardy. A terceira caixa. Cheguei até a pensar que não receberia esses “aperitivos”! Ledo engano…”

Após aberta, gritos ecoam pelo escritório. Até ônix pareceu se assustar com tamanha felicidade. Arranca as velhas luvas e calça as novas. Força os dedos levemente, e as unhas, mais rápido e com o mínimo ruído, são acionadas. Nota que as unhas têm um brilho diferente. Procura algo pela Cat’s Eye, com a finalidade de testá-la. A única coisa que acha é um prato de bronze, usado como peso de papel. Mas muda de idéia. Prefere não arriscar.

“Terei oportunidade para ver do que esse tal de Adamantium 5 é capaz de fazer… Mas ainda há algo aqui dentro… Uma carta! Vejamos… “Felicia, faça bom proveito de seus novos utensílios. Faça bem o seu trabalho e receberá o pagamento… Seu pode de volta! Só mais uma coisa… você ficou maravilhosamente linda no novo uniforme… Vejo você em breve, Wilson Fisk, o Rei do Crime.”. Mas como ele é cara-de-pau! Realmente cometi o engano de não cobrar a primeira parte do pagamento… Tenho que fazer ajustes no uniforme, já que praticamente arranquei as luvas… Ele sabe do meu novo uniforme. Ele estava me seguindo há muito tempo. Desde até mesmo quando reencontrei o Aranha… Aranha! O que será que vai dizer quando souber que fiz um serviço para o Rei e ganhei meu poder e outras coisas dele… Nem quero imaginar! Papai… Espero que me perdoe! Mas… Ah, deixa. Melhor eu estudar o sistema de segurança do escritório do homem que pode arruinar o Rei… Hum, acabei de ter uma idéia… Não Felicia. Não está pensando em pegar os documentos, fazer cópias, receber os poderes e entregá-las para as autoridades? Ahahaha! Felicia, você realmente não existe.”

“Vamos lá! Quarta e última caixa. É a mais pesada…”

Abre e descobre um gancho. Mais robusto, mais resistente. Pelo que vê, consegue perfurar e ficar preso com mais segurança… Diverte-se até achando e comentando com Ônix que o Rei do Crime está apaixonado… Felicia volta ao computador. Insere o disquete e começa a estudar o local. Câmeras, troca dos seguranças, alarmes, e, principalmente, o cofre, onde, possivelmente, estarão as provas. 

“Nunca recebi tantos “presentes”. Amanhã à noite irei no escritório, localizado ao Sul de Manhattan resolver esse trabalho. Estrearei meus novos “apetrechos”, o uniforme com a mudança por causa das novas luvas e gancho.

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