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Gata Negra #05 - Rosas e espinhos 3/3

Gata Negra #05 - Rosas e espinhos 3/3

Confira a eletrizante conclusão desse reencontro da Gata Negra e o Homem-Aranha!


Quanto tempo tinha se passado? Dez minutos? Quinze? Todas as esperanças estavam em seu conhecimento prévio da situação, mas e se... 

Os braços doíam. Considerou a preocupação um desperdício de energia. Evitou pensar na dor e concentrou-se em seu objetivo: salvar a vida de Felicia Hardy, a Gata Negra.

Para se vingar do Homem-Aranha, o Tarântula a envenenou com uma dose letal. O herói foi atraído para a armadilha do criminoso, mas não enfrentou maiores problemas para derrotá-lo. Agora, o Aracnídeo enfrentava uma corrida contra o tempo para salvar a Gata. Ele a carregava, enrolada num sobretudo, com um braço, usando o outro para se impulsionar com as teias.

O braço continuava a doer, mas tinha que evitar pensar nisso.

Rezou para que não lhe faltasse fluído de teia, rezou por Felicia e por tudo que significaram um para o outro.

O braço não parava de doer…

Chegou à Universidade Empire State. Entrou pela janela do laboratório de química, que conhecia tão bem. Acomodou Felicia em uma mesa e começou a misturar as substâncias que tornariam inócuo o veneno do Tarântula. Estava familiarizado com a fórmula. Abraçou-a e fez com que ela tomasse o antídoto.

Durante alguns segundos, que pareceram horas, o Homem-Aranha fechou os olhos e não teve coragem de abri-los. Ou mesmo respirar. Até que ouviu um suspiro, quase um miado:

- Uhng… Aran… Aranha?

- Você está bem, Felicia? 

- Um pouco tonta… Minhas costelas doem…

- Está tudo bem agora. O Tarântula queria… resolver velhas diferenças. 

- Antes de tudo, obrigada. Você, mais uma vez, salvando minha vida…

- Ei! Você já me ajudou antes, lembra? Nem precisa agradecer! 

- Sem comparações, ok? Mas, o que houve exatamente?  

- Ele envenenou você para me atingir. Disse que tinha pego minha "namorada".  

- Namorada? Gostei desse termo…! Desculpa, Aranha. Deve ser o efeito… E o padre Lopez? 

- Eu… Não sei. Pelo que o Tarântula disse, deve estar morto… Se ele estava a fim de pegar todos os envolvidos, o próximo da lista seria o Flash. 

- Flash Thompson… Tudo isso por sua culpa! Ainda é bem querido pelos inimigos, hein?

- Pelo jeito, pelas garotas também… Mas não se preocupe, o Tarântula nem mencionou o nome dele. 

- Aranha… Preciso respirar um pouco. Vamos dar uma volta? Como nos velhos tempos?

- Claro! Aonde você vai me levar?

- Poderia levá-lo para qualquer lugar… Porém, ainda estou fraca… Acho que você terá que me dar uma carona…

- Sem problema, Fel. É noite de Natal, vamos para o Empire State.

- Nem precisava comentar…

O Aranha a abraçou, uma mistura de zelo e ternura, ainda receando pelas lesões que ela tinha sofrido lutando com o Tarântula. Felicia era forte, mas, pelo menos até que o veneno do Tarântula se dissipasse completamente do seu corpo, o Aranha a trataria com cuidado. Ela não tinha mais os poderes da Gata Negra, parecia teimosia que ela ainda quisesse levar essa vida. 

Enquanto a carregava, o Aranha pôde sentir, mesmo através do sobretudo, o calor do corpo de Felicia. Uma lembrança agradável, de uma época mais simples. Um perfume de rosas e paixão que ela ainda carregava. E que, para ele, era inconfundível. Após alguns minutos, chegaram ao edifício Empire State, decorado para o Natal. Subiram até o ponto mais alto, de onde podiam ver toda a cidade.

- Aqui estamos! – disse o Aranha, acomodando-se ao lado dela.

- Hum… Natal… Que belo presente recebi nessa véspera.  

- Obrigado pela parte que me toca… 

- Falava do Tarântula… Você não é presente. É parte… 

- Hmm… É, eu… Hã… Bom te ver! Quando voltou a Nova York? 

- Como sempre fugindo, não é Aranha? Não tenha medo de mim! 

- Eu sei, eu sei… Foi uma surpresa para mim. Eu não esperava te ver de novo. Depois de tudo que aconteceu… 

- Não esperava e não queria? Bom, vou retirar esse sobretudo… Quero sentar e aqui está um pouco molhado… 

Gata, calmamente, abre e tira o casaco. Deixa escorrer pelo braço, deslizando.  Dobra-o e faz de assento. Seu novo uniforme rapidamente é notado pelo Aranha. Ajeita as orelhas do top. O Aranha não pôde deixar de notar a sensualidade em cada poro da pele de Felicia. O uniforme novo da Gata Negra era sensual, hipnótico até. Mesmo com a máscara, era fácil notar que o Aracnídeo estava de boca aberta, deixando escapar um comentário:

- Uau… 

Felicia sorri maliciosamente.

- O que houve?

- Bela roupa! Não está com frio? 

- Frio? Caí em uma armadilha do Tarântula, fui envenenada, recebi o antídoto, encontrei você… Quer que eu esteja com frio?  

- Er… Tem razão! Eu… - quase adolescente, o Aranha diz baixinho, encabulado: Você está linda. 

- Precisava ouvir isso de alguém quando estreasse meu uniforme… Mas nunca imaginei que você seria o primeiro a ver… E a dizer que estou linda! 

- Ah, é… Eu… HRMMMM… - já totalmente desarmado, o Homem-Aranha limpou a garganta tentando ganhar tempo. Realmente, aquela mulher abalava a estrutura dele como nenhuma outra! - Escuta, você… chegou quando? 

- Aranha…

- Tá bom! Tá bom! – resignou-se, vencido.

- Quer mesmo falar sobre essas coisas?

Nesse instante, Felicia aproxima-se do Aranha e levanta sua máscara, deixando a boca e nariz expostos. 

- Eu… 

Felicia segura o pescoço do Aranha. Envolve-o com os braços e o beija ardentemente. 

- E então? Não vai dizer nada? 

- Deixa eu… recuperar o fôlego! Depois dessa, falo o que você quiser! 

- Você e seu senso de humor inseparável… Sentiu algo? 

- Se eu senti algo? Quer que eu faça uma relação em ordem alfabética do que eu senti? Ou posso dizer só o que está mais aparente? 

- Aranha, não estou brincando. Ainda o amo… Sabe… Quando eu soube pelo Tarântula que você viria, não aceitei a idéia de morrer… Eu tinha que te ver… Nem que fosse minha última ação. 

- Felicia, eu… Eu nem sei o que dizer. Depois de tanto tempo, você ainda mexe muito comigo. Obrigado por se importar. 

- Isso é pouco, Aranha. Quero ter você ao meu lado mais uma vez.  

- As coisas mudaram bastante, Fel. – confidenciou num suspiro.

- Sinto muita falta de quando agíamos juntos… Hoje estou com minha própria investigadora particular… Não devo nada a ninguém… Poderíamos ampliar os trabalhos… Mudaram? Ah, Mary Jane Parker… 

- Mary Jane WATSON. Nós nos separamos. 

- Mas… Isso é ótimo!! Queria dizer, péssimo… Como você está? 

- Ah, tudo bem. Isso… Já ficou para trás. Quer dizer, não foi legal, mas a gente superou. Não foi o que eu esperava que acontecesse.

- Está sozinho então…?

- Não…

- No fundo, sinto muito… Não o que??? 

- Não… Não estou sozinho… 

- Então… 

- Tem… Alguém… Com quem estou saindo… Olha, eu estou recomeçando. Você, melhor do que ninguém, pode entender isso. A MJ queria uma vida normal! Nada de Aranha, perseguições, caçadas noturnas. 

- Entender? Como? Eu amo você! Sabe muito bem disso e o que passei! Mas é desse lado que estou falando! Comigo você vai poder sempre ser o Aranha!

- Esse é exatamente o problema, Fel. O Aranha não tem problemas que não possa resolver dando uns murros em um maluco uniformizado. Ele não me preocupa.  Estou falando de Peter Parker. Da vida que eu quero ter.

Felicia sente o chão ruir. Imagina-se caindo, despencando do alto sem nenhuma possibilidade de se salvar.

- Mas… E eu? 

- Eu… Você… Nós… Nunca deixei de pensar em você! 

- Quer que eu seja uma aventura? 

- De jeito nenhum! Se tem uma pessoa que eu confio mais do que ninguém, é você! 

- Não entendo… Confia em mim, nunca me esqueceu… Mas não quer ter nada comigo…!

- Entende sim, Fel. A MJ não conseguia lidar com o Aranha. Você não consegue lidar com Peter Parker.

- Eu… Quem é ela? 

- Uma cientista. Da UES. Christina McGee. Não é nada sério. Quer dizer…

- Cientista…

- É, Fel! Cientista! Tente me ver como alguém que tem um emprego normal…

- Do jeito que o Peter sempre quis. Nada como a Mary Jane, Gwen, eu…

O Aranha sentiu-se incomodado com a abordagem de Felicia. Era difícil para ele evitar o assunto, mas sabia que aquela situação entre eles tinha que ser resolvida.

- Você está simplificando demais as coisas.

- Simplificando? Você tem a mania de complicar sua própria vida.

- Complicar? Eu estou querendo separar! Separar o homem do Aranha! 

- Ela sabe que o Peter e o Aranha…? 

- De jeito nenhum! Quer dizer, não é que eu não confie nela…

- Mas vai contar, não é? 

- Bom… Talvez, quem sabe… Pode ser. 

- Pare para pensar, Aranha! Todas as vezes que você resolve contar para sua companheira sobre o Aranha/Peter, acontece algo… Com todas foi assim! Até comigo…

- Claro. Você nunca aceitou Peter Parker. Você nunca me chama de Peter. 

- Você é o Aranha. Sempre será assim para mim!  

- Nem eu me vejo desse jeito, Felicia! Eu tenho uma tia que não faz parte dessa vida… amigos que não fazem parte dessa vida… emprego… namorada… Não vou ser o Aranha pro resto da vida! 

- Nem para ficar comigo? 

- Fique com o Peter, Felicia. Só uma vez. 

- Você não quer… Não aceita. Pensando bem, não daria certo…

- Não é isso…

- Então é o que? Não há explicação! Você está envolvido com a cientista… Ou há algo que não quer me falar? 

- Eu não quero magoar você. 

- Já está fazendo com esse jogo. O que tem medo de dizer? 

- Não é um jogo! Seja coerente! 

- Seja sincero. 

Chegou o momento. Depois de ter perdido Mary Jane, Gwen e a própria Felicia uma vez… ele tinha que abrir mão do amor dela novamente. Sentiu-se um verme por desprezar o que ela tinha de melhor, mas sabia que era a única coisa sensata a ser feita:

- Me perdoe… 

- Pelo que? 

- Por não conseguir te ver mais… como eu via antes.

- O que está me dizendo? Será o que estou pensando? 

“Como é possível que ela não esteja entendendo?” O Aracnídeo arrancou a máscara. Sentia-se sufocado e, agora que tinha começado, precisava ir até o fim.

- Não pense bobagem. Você é a pessoa que eu mais confio no mundo, Fel.

Felicia aciona as unhas. Sente uma profunda dor cortando-lhe seu órgão mais vital. Sente seu coração despedaçar. Peter segura carinhosamente sua mão, mas ela vira o rosto. Não tem coragem de olhá-lo.

- Aranha… Como confia, se não tem coragem de dizer o que sente? 

Lágrimas escorrem dos olhos da gatuna. Ela parece não acreditar. A cada respiração, o líquido salgado vaza dos olhos, tristes, de Felicia.

- Porque eu tenho medo de quebrar essa confiança! Tenho medo que, depois dessa noite, não nos vejamos mais. Tenho medo que outro maluco como o Tarântula te ameace por minha causa…

- Se por acaso acha que direi ao mundo quem é o Homem-Aranha, pode ficar tranqüilo. E eu sei me cuidar…

- Eu sei. Mas se você precisar de mim… para qualquer coisa…

- Preciso do seu amor. Fique comigo. 

- Eu não posso… não seria justo. 

- Por que? O que aquela cientista tem que eu não tenho???

“Me perdoe, me perdoe, me perdoe...” – Peter não fazia idéia de que palavras pudessem ser tão duras, mas precisava dizer. Felicia precisava entender. Não tinha meio-termo, ele sabia o que tinha de fazer e, após uma longa pausa, conseguiu desatar o nó da garganta e desabafar:

- Eu não te amo…

- Não… Não me ama? 

- Ela tem Peter Parker. Se você for capaz de olhar para mim agora e ver apenas isso… Apenas Peter Parker… Olha para mim, Felicia.

- Ela tem o seu amor… E eu, apenas confiança… Não! Amo o Aranha! 

Peter solta a mão de Felicia. Foi tolice achar que ela entenderia tudo numa boa, quando nem ele mesmo se sentia à vontade com aquela situação. Gata tira a máscara. Seus olhos tremem, cheios de lágrimas.

- Me perdoe, Felicia…  

- Não me peça isso…

- Felicia, eu… Entende agora? Eu não queria que fosse assim…

- Teria sido melhor se o efeito do veneno tivesse…

- Não diz isso! Eu preferia ir no seu lugar! 

- Isso é uma piada? E deixaria sua tia, a namorada, a vida de Peter?  

- Mas não ia deixar minha melhor amiga na mão. É o que ela faria por mim. 

- Conta outra, Aranha! Sabe, quando você disse que o Tarântula me chamou de sua namorada, fiquei muito feliz… Esperançosa! Amiga? Não posso ser apenas amiga do homem que amo… Ao menos, agora…

- Eu não posso te pedir para deixar de ser a Gata Negra e ter uma vida normal. 

- Mesmo se pedisse, não faria. Eu não faria…

- Por que? A Gata é mais importante que a mulher? 

- A Gata é o que me move! Você sempre soube disso! E a Gata e Felicia amam o mesmo homem. Não tenho segredos, sabem que sou Gata Negra. Não escondo nada! Até meu amor por você foi motivo de matérias nos jornais e a causa da minha internação…

- Você não pode colocar o Aranha no centro de todos os seus problemas, Felicia! 

- Quer saber de uma coisa? 

- Fala…

Felicia parece não resistir, ou parece algo que seus sentimentos desconhece. Puxa a cabeça de Peter e o beija novamente. Mais demorado. Mais amável. Parecia ser uma despedida. 

- Vá embora!

- Mas…

- Preciso pensar, PETER PARKER! 

- Mas eu… quer dizer, nós…

- Vai comprar o presente para a sua namorada…

- Felicia…

Ela parece ter encontrado o desespero. Vira de costas e abaixa a cabeça. Suas mãos, trêmulas, não param de arrumar os cabelos. Não consegue esconder seu nervosismo, sua intranqiilidade.

- Por favor… Se precisar, sabe onde me encontrar… Mas vá embora, por favor…!

Ele coloca a máscara de novo. Não tem coragem de dizer mais nada, tem medo de piorar as coisas. Tem medo da reação dela. E, acima de tudo, tem medo de ceder. Quando ele parte, Felicia ouve o som do lançador de teias.

- Aranha…

Assim que vê o Aranha saltar do terraço e iniciar seu retorno para casa, Felicia chora, cada vez mais. Aos prantos se encontra.

“Ele se foi… E junto, a esperança de reatar… Ele está namorando Christina, uma cientista. Perfeita, já que ele quer dar prioridade ao Peter, e não ao Aranha. Nossa relação sempre foi conturbada. O que me atraiu foi o mistério, a aventura contida no Aranha. Não sei se Peter é o que imagino. Por outro lado, não deixarei de ser a Gata Negra. Por causa de ninguém! Nem mesmo para ter o seu amor. Se fizer, onde ficará o meu amor próprio? O sonho que concretizei ao abrir minha investigadora? Deus, por que teve que ser assim? Estou confusa. Não sei se devo desistir desse amor… Se devo ocupar minha mente com meus trabalhos… Se devo tentar outro relacionamento… De uma certa forma, estou feliz. Passei algum tempo ao lado do Aranha… Pude senti-lo novamente. Como era maravilhoso quando o acompanhava na caça a algum criminoso… Quando cruzávamos o céu, balançando por entre os edifícios… Nossa briga ao contar que havia recuperado meus poderes através do Rei do Crime… A separação. Eu o amo ainda, Aranha. Como está frio… Voltou a nevar… Feliz Natal Felicia. Você pode até não ter recebido como presente o amor do Aranha. Mesmo com as descobertas que tive sobre sua vida pessoal, pude ter o prazer de vê-lo. Pude tirar algum proveito… Preciso sair daqui…”

Central Park

Após saltar e se balançar por Manhattan, Felicia vestiu o sobretudo e iniciou uma caminhada pelo parque. Via as pessoas brindando o Natal. As crianças brincando com a neve. Corais cantando músicas natalinas. Percebeu o quão frio é o inverno e solitária a sua vida. Mas ela poderia dizer que é feliz. Mesmo sem o amor do Homem-Aranha, ela tinha uma vida. Um trabalho como detetive particular. Seu próprio escritório. O espírito da aventura percorrendo-lhe as veias. A vontade de progredir. O sonho de reaver seus poderes, mesmo sem saber como. E como sempre, a esperança de reencontrar e assumir, mais uma vez, seu amor pelo Homem-Aranha.

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