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Gata Negra #04 - Rosas e espinhos 2/3

Gata Negra #04 - Rosas e Espinhos 2/3

Texto escrito e cedido gentilmente por Raul Kuk (ele escrevia as fanfics do Homem-Aranha, e como esta história foi um crossover, vocês devem ler para dar continuidade e entender a narrativa!).

Bar Grão de Café

- Então, senhor Parker... É aqui que o senhor traz todas as suas namoradas?

- Falando desse jeito – respondeu Peter – parece até que eu tenho um monte delas...

- Não ia ser um choque pra mim. Às vezes você é muito estranho, então, fico me perguntando onde foi parar esse cara adorável...

- Você não...

- Não o que?

- Você não acha mesmo que eu tenho outra, acha?

- Claro que acho!

- Tina! Qualé...?

- ... como aquele sinistro sr. Jameson – disse a dra. McGee, abraçando o namorado – Vamos lá, Peter... comece a falar! 

- Você pode colocar minha fidelidade em dúvida, mas essa piada do Jameson me deixou passado! Mulher má!

Os dois riram e escolheram uma mesa. Aquele era o lugar onde Peter costumava passar o tempo com seus antigos amigos, como Harry Osborn, Flash Thompson, Gwen Stacy e Mary Jane Watson.

Muitas boas lembranças. Algumas poucas não tão boas… Mas era véspera de Natal, e tudo que Peter Parker queria era passar uma noite agradável com sua namorada.

- Então, Tina…

- Então, Peter… Estou muito feliz por termos ficado juntos durante as últimas semanas. Nosso relacionamento está progredindo, você é um cara incrível… Mas ainda não nos conhecemos muito bem, não é verdade? Por exemplo, você me disse que já foi casado…

- Sim, com Mary Jane Watson…

- Sim, eu sei. A modelo. Mas o que aconteceu?

Peter deu um longo suspiro, pensando na melhor resposta. Tina era legal, mas parecia ser cedo demais para contar a ela sobre o Homem-Aranha. Então, era melhor ter cuidado ao falar sobre Mary Jane.

- Nós não estávamos bem. Eu tinha dois empregos, ela estava sempre viajando… Foi quando ela se envolveu num desastre aéreo e eu comecei a aceitar que era viúvo. Mas ela não tinha morrido. Algum tempo depois ela voltou para Nova York, mas as coisas já não eram as mesmas. Nós nos separamos para manter o que ainda tínhamos: a confiança. 

- Não entendi, Peter. Se confiavam tanto um no outro, por que não continuaram?

“Porque era difícil para ela aceitar que, uma noite dessas, eu podia não voltar vivo pra casa, ainda mais com gente como o Dr. Destino, Brainiac, Croc ou o Dr. Octopus à solta por aí, tentando me matar...”

- A gente precisava descobrir o que realmente queria. Estávamos numa encruzilhada e só tínhamos certeza de uma coisa: não queríamos mais brigar. Mas, é como dizem: para descobrir se alguém realmente te ama, deixe essa pessoa ir embora e escolher se ela quer voltar…

- Entendi – disse Tina, interrompendo Peter. Por um instante, ela teve medo que ele dissesse que ainda amava Mary Jane e estava esperando que ela voltasse. 

- Ela me marcou muito, quase tivemos uma filha. Mas antes dela teve a Betty (mas eu era muito imaturo), a Gwen (que faleceu de maneira violenta), a Felicia (que sempre foi independente demais para…)

- Paraaaa! Ou eu te estrangulo! Francamente, senhor Parker! Sua vida sentimental é mais agitada que a da Madonna!

- Hahahahaha! Corta essa, Tina! Foram épocas bem distintas da minha vida. 

- Hehehe… eu sei. Eu também fui casada, com o Jerry, como já te contei. Mas me separei quando os experimentos dele o transformaram num monstro. Nessa época eu conheci Wally West, o Flash. Ele ajudou meu marido, os dois se tornaram amigos… Mas as coisas entre eu e Wally não deram certo…

- Por que, Tina?

- Na vida da gente Peter, algumas pessoas são como cometas. Elas passam. Outras são como estrelas: sempre vão estar lá, em algum lugar do céu, brilhando, aconteça o que for… Esse era o Jerry. Nós voltamos. Infelizmente, ele faleceu e eu resolvi dar um novo rumo à minha vida. O Wally tem sua própria vida, está casado, é membro da LJA. Eu gosto dele, mas meio que perdemos contato…

E a conversa se esticou sobre amores, sobre a vida, trabalho, futebol, música, sorvete, passagens de trem, Superman, sanduíches do McDonald’s, reprises de Friends, facas Ginsu (foi uma surpresa: os dois já haviam comprado!), entrevistas do Sebastian Bach e monitores de computador.

Enfim, sobre nada. Coisa de gente apaixonada, você sabe.

Peter deixou Tina em seu apartamento, prometendo que almoçariam juntos no reveillon e ela conheceria a tia May. Trocaram um longo beijo, “Feliz Natal” e Peter resolveu ir se balançando para casa.

Manhattan

“As coisas estão caminhando bem entre mim e a Tina. Talvez seja hora de passarmos mais tempo juntos ou… Não, bobagem. Enquanto eu não contar a ela sobre o Aranha, seria como dar um passo maior que as pernas. Eu não sei se… Opa! O que é aquilo?”

Vários andares abaixo, Gordo, Mintira e Cepacol abriam uma caixa de enlatados, num beco qualquer de Manhattan. O Homem-Aranha apareceu na frente deles, pendurado de cabeça para baixo:

- Ora, ora, ora…

- “...meus pilantras favoritos!” – concluíram os três. – Cai fora, Aranha. A gente ganhou isso do supermercado. Está com a validade vencida. – concluiu Cepacol.

- Que recepção mais fria! Assim fico chateado… Mas, diz aí… qual o negócio? Agiotagem? Extorsão? Golpe do vigário?

- Quantas vezes temos que repetir? – mandou Mintira. – Não fizemos nada de errado. Se não acredita, vai perguntar pro dono do supermercado…

- Aranha, Aranha… – disse Cepacol. – Nós somo o menor dos seus problemas…

- Calaboca, Cepa! Isso vai nos causar problemas…

- Qualé, Gordo? O Aranha ia descobrir de qualquer jeito…

- Descobrir o que, canalhas?

- O Tarântula tá de volta, Aranha. Ele passou os últimos dias caçando você, mas não te achou. Ele está furioso por ter sido preso da última vez que vocês brigaram. Acho que ele não vai poupar reféns dessa vez…

- Hmmm… o Tarântula, hein? Que história é essa de reféns? Me contem tudo, ou quebro os dedos de vocês.

- Qualé, Aranha? Tá pensando que é o Batman? Conta pra ele, Cepa.

- Falou, Mintira. O Tarântula não conseguiu te localizar, então resolveu ir atrás de um padre. Acho que o nome é Lopez. Ele disse que ia matar o padre como um aviso, pra você saber que seria o próximo.

- Sei, sei… – disse o Aranha, disfarçando o nervosismo. E onde ele está?

- Sei lá meu! Ele não quer ninguém por perto quando te pegar. Ele está furioso de verdade. Talvez esteja no galpão 17 do porto, perto dos prédios onde vocês brigaram da última vez. Aquele lugar está abandonado, seria um bom esconderijo. E o Tarântula sempre é visto naquelas imediações.

- Hmmm… Ok, pilantras. Vou me lembrar de sua cooperação. Fiquem longe de encrencas e não se preocupem com o Tarântula.

- Ok – disse o Gordo. – Mas tem uma coisa: o tal padre desapareceu depois que o Tarântula disse que ia pegá-lo…

Cais do porto, Manhattan

Depois de tudo que aconteceu nas últimas semanas, o Tarântula parecia peixe pequeno. Mas, se a vida do padre Lopez estava em perigo, a melhor coisa a fazer era investigar. E o Tarântula não ficou conhecido por falsas promessas. 

Enquanto observava o galpão 17, o Aranha se perguntava se realmente podia confiar nos pilantras. Afinal, se a dica fosse falsa, estava perdendo tempo e com uma vida em jogo. Mas o Tarântula devia estar reservando alguma surpresa. Afinal, da última vez, ele usou de chantagem para atrair o Aranha, antes de pensar em matar quem quer que fosse. Tudo bem que ele estava sendo manipulado pelo Camaleão, mas era um inimigo muito astuto. (*)

- Peixe pequeno? Conta outra.

O galpão 17 não estava mesmo vazio. Algumas luzes acesas nos fundos indicavam isso. Lentamente, o Aracnídeo rastejou por uma parede, até poder espiar por uma janela. Lá dentro, ele viu uma pequena sala, com uma TV ligada, uma geladeira e um sofá. No sofá, alguém dormia, coberto por um sobre-tudo. Será que o Tarântula seria tão descuidado assim? Parecia uma armadilha e não estava a fim de dar moleza. Resolveu dar a volta.

“Meu sentido de Aranha não estava me avisando de nenhum perigo… Mas, se o Tarântula está mesmo a fim de me matar, vou tentar localizar o padre Lopez primeiro e colocá-lo em segurança. Depois eu pego o…”

Sentido de Aranha. Instintivamente, o herói salta para longe das vigas em que se apoiava. O que seria? Vigas podres? Ou algo mais mortífero? Sem tempo a perder, o Aracnídeo arrancou algumas telhas do galpão. No local em que seu sentido de Aranha disparara havia um sensor de movimento. O sentido de Aranha continuava em alerta. Isso só podia significar que…

- Cheguei a pensar que não viria, Araña!

O herói sequer se virou, esquivando-se rapidamente do golpe do Tarântula. As pontas em suas botas tanto podiam conter tranquilizante como veneno. E o Aranha não estava nem um pouco a fim de descobrir qual era a substância…

- Por que demorou? Sabe como foi difícil encontrar o convidado ideal para nuestra festa?

- Deixe o padre Lopez fora disso, Tarântula, e eu prometo que não quebro sua cara!

- Padre Lopez? Hahahahahaha! É tarde demais para aquele verme, Araña! Ele já está morto! E agora vou matar você e a pessoa responsável por minha última derrota! Ninguém vai me pegar pelas costas dessa vez!

- Do que você…

Os golpes eram rápidos e impiedosos. Conversar seria uma perda de tempo. O Aranha continuava se esquivando, com saltos e acrobacias, na tentativa de cansar o Tarântula. O problema é que, pelo seu porte físico, o Tarântula tinha um grande alcance e sabia usar as pernas muito bem. Se o Aranha se descuidasse, não teria uma segunda chance. Mas que história é essa de pegar o Tarântula pelas costas?

- Morra!

- Papel! Ah, perdi…

- Continue rindo, Araña! Este será nosso último encontro!

- Por que? Vai voltar pro Paraguai?

- Eu não sou paraguaio, idiota! Ahora fique quieto e morra!

- Ah, mas não mesmo! Arrumei um emprego de Papai Noel numa loja muito bacana e, sabe como é… Emprego não cai do céu hoje em dia. Tudo bem que eu vou ter que usar uma fantasia vermelha ridícula…

- Cale-se!

- …mas e daí? Eu já uso uma! Tudo bem que a minha é maneira, o ícone pop de uma geração. Segundo a enciclopédia Stan Lee, pelo menos. Mas muita gente tenta me imitar…

- ¡Hijo de perro!

- … o Deadpool, por exemplo… também usa roupa vermelha de mau-gosto! E tem o Flash…

- Vou arrancar sua cabeça!

- … o Carnificina… o Demolidor…

- Palhaço!

- Lembra quando tinha Superman azul e vermelho? Era como os MM’s. Ele se uniam para procurar o Superman amarelo, o roxo, o marrom… 

- ARGHHHHHHHH!!!!!!!

- Relaxa, cara! Vai acabar com uma úlcera…

E se o leitor acha que esse diálogo se passou num clima puramente verbal, não se iluda. Enquanto discutiam, os dois permaneciam empenhados: o Tarântula, em matar o herói. E o Homem-Aranha, em distraí-lo para pegá-lo com um golpe decisivo. Mas o assassino não parecia disposto a colaborar:

- Enquanto você fala, Araña, sua namorada está morrendo!

- Minha…

O Tarântula se lançou ao ataque ainda mais determinado. Suas palavras tiveram um impacto muito grande sobre o Aracnídeo. Como ele poderia saber sobre Tina? Então o Tarântula sabia que Peter Parker era o Aranha! Mas, se ele sabia, como teve tanto trabalho para localiza-lo? Enquanto divagava, o Aranha acabou sendo atingido por um soco, caindo sobre uma pilha de caixotes.

- Acabaram suas piadas, Araña? – disse o Tarântula, aproximando-se.

- Na verdade – respondeu o Aranha – eu tenho mais uma. Mas só conto se você disser qual é seu plano para dominar o mundo, enquanto me coloca numa engenhoca que pretende me matar…

- Americano idiota. Prepare-se para o golpe fatal…

Com um pedaço de madeira arrancado de um dos caixotes, o Aranha bloqueou o chute do Tarântula, inutilizando seu ferrão, que ficou preso. Rapidamente, o Aracnídeo deu um salto para trás, ficando em posição de ataque. E seu ataque foi:

- Surpresa! Você também usa roupa vermelha! Plagiador! Brega! Cretino! Babaca!

O Aranha disparou algumas bolas de teia, atingindo os olhos do Tarântula, que se debatia violentamente para evitar aproximação. Sua técnica de luta era formidável: não havia como o Aranha se aproximar.

Exceto por cima. 

O herói soltou um fio de teia que prendeu o Tarântula pelo pescoço e o puxou até o teto:

- Agora, prometa que nunca mais vai usar vermelho…

E o soltou de cara no chão. Rapidamente, fez um casulo de teia que iria garantir que o Tarântula ficaria seguro até a polícia chegar. Mas ainda precisava acertar um detalhe: segundo o Tarântula, o padre Lopez estava morto. Quem era, então, o refém que ele chamou de “namorada” do Aracnídeo?

Subiu os degraus até o lance superior e foi para a sala onde tinha visto alguém dormindo. Entrou cuidadosamente. A TV ainda estava ligada. Alguns controles, provavelmente dos sensores de movimento, estavam em cima de uma mesa mais afastada. Aproximou-se do sofá. Quem quer que fosse, podia estar com a vida em risco. O Sentido de Aranha não indicava perigo. O Homem-Aranha prendeu a respiração e viu quem estava enrolada no sobretudo:

- Felicia! Deus do céu, não pode ser!

A respiração da Gata Negra estava fraca, assim como o pulso. Sua pele estava pálida. O efeito do veneno do Tarântula a mataria em pouco instantes, a menos que um antídoto fosse produzido.

Haveria tempo?

(*) Você pode conferir com detalhes como foi essa luta em Homem-Aranha Anual #4 (Maio, 1994)

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