Gata Negra #03 - Rosas e Espinhos 1/3
Mensagens enigmáticas e um reencontro muito aguardado. É hora de a Gata Negra colocar as garras de fora!
Central Park
“Mesmo numa cidade como Nova York, não há nada melhor do que andar pelo parque para tentar aliviar os pensamentos… Natal! Espero não ter nenhum caso para resolver hoje, a véspera, e amanhã. Tive trabalhos sucessivos e desgastantes… Preciso de férias. Mas ainda tenho que descobrir quem enviou as rosas e o e-mail. Ainda sinto pelo ocorrido em ChinaTown. Será mesmo que não teria sido melhor ter ativado o localizador? John… Pensei que tudo poderia ter sido diferente entre a gente… Mas é aquela velha história. Creio que nunca daríamos certo. Bom, mesmo com muita neve, tenho que me exercitar, tenho que manter a forma…”
Felicia corre pelo Central Park. As roupas pesadas ajudam a espantar o frio. A congelar os sentimentos abalados. Depois do caso em ChinaTown, Felicia recebeu outros para resolver. Mesmo machucada e triste, realizava-os. Mesmo sabendo que muita coisa perdeu no Templo, buscava forças para cumprir o que era combinado. Estava mesmo disposta a mudar. O tempo piorou e ela teve que interromper sua caminhada.
“24 de dezembro. Acho melhor ir para a Cat’s Eye. No caminho, comprarei presentes e enfeitarei o escritório. Acho que seria bom pegar meu gato, Ônix, na casa da minha mãe e levá-lo para morar, novamente, comigo.”
Cat’s Eye, tarde
“Seja bem-vindo, Ônix. Esse é o seu novo lar…”
Felicia solta o felino, que logo resolve conhecer sua nova morada. Coloca as sacolas e pega um café. Olha através da janela. Neve. Relembra que precisa mudar. Então, porque não começar pelo uniforme? E é o que faz. Pega-o. Prende na parede e tenta imaginar algo para alterar. Olha e busca a máscara.
“Preciso mudar isso também… Ou apenas deixar com um ar mais perigoso. Todos sabem que Felicia Hardy é a Gata Negra. Então, por que não inovar no visual? Posso ser mais valorizada…”
Felicia termina a máscara. Experimenta. Sorri satisfeita com o resultado. Pega o uniforme. Olha calmamente. Segura a tesoura e inicia os primeiros cortes. Agora são duas peças sem ligações. A calça está bem abaixo da cintura. Um tomara-que-caia com orelhas de gato em cada lado, na ponta (leve semelhança com a máscara); uma discreta ligação pela lateral até o final dos bíceps. Daí até o cotovelo, o couro preto. No início do antebraço, as plumas. As luvas continuam brancas. Enfim, as cores não mudaram. Seus olhos brilham. Sente um frio correr pela espinha. Mas, quando vai experimentar, o telefone da Cat’s Eye toca.
- Señorita Hardy?
- Sim, é ela. Em que posso ajudar?
- Preciso de sua ayuda.
- Algum trabalho para mim?
- Sí, e é muito importante. Poderia se encontrar comigo, hoje à noite?
- Hoje à noite? Bem, é véspera de Natal…
- É um trabalho onde usted será muito bem recompensada…
- Quem é você?
- Vá ao galpão desativado, no porto. Número 17. Esteja lá pontualmente dez horas de la noche.
- Diga o seu nome!
- No puedo. Estou me arriscado muito. Tenho que ser discreto e sigiloso. Posso contar com a sua ajuda?
- Sim… Estarei lá. Pode aguardar.
- Hasta pronto, señorita Hardy.
- Espere! Foi você quem enviou as rosas e o e-mail? Responda! Droga. Desligou…
“Isso deve ser alguma piada… Eu pedi tanto para que não houvesse trabalho para esses dias… Tenho quase certeza de que ele é o meu admirador. Sotaque espanhol. Enviou as rosas e o e-mail. Mas por que não quis responder? Bom, ainda tenho muito tempo para o “encontro”. Vou experimentar o novo uniforme e fazer os últimos retoques.”
Felicia veste-o calmamente. Está nervosa. Ainda não sabe se ficou como queria. Ao menos em seu corpo. Ônix surge e a observa. Acompanha cada movimento. As botas foram as últimas peças a serem colocadas. A nova Gata salta. Cai em cima da mesa, fazendo pequenos estragos em objetos pessoais. Estica os braços. Passa a mão por entre os cabelos. Ajeita as orelhas da parte superior do uniforme, fazendo com que fiquem na direção vertical dos ombros. Leve flexionada nas unhas. Ônix espanta-se com a velocidade de Felicia ao pular para pegar a máscara. Ela olha para o felino e sorri. Coloca os dois lados e para frente ao espelho. Descobre que ficou muito melhor do que o imaginado. Mas é lembrada de um fato. Está frio lá fora. É Natal e o inverno é forte. Mas ela parece não se incomodar com a nova descoberta. Inicia um alongamento. Adapta o gancho à nova roupa. Está perfeita. Ônix continua paralisado. Felicia, satisfeita.
“Ficou maravilhoso! Só falta eu conseguir meus poderes novamente para alcançar a felicidade extrema. Como poderia realizar esse sonho? Ah… Em uma outra ocasião, Fel. Agora, vou tirar esse uniforme… É muito mais fácil do que o antigo… Preciso de um banho. Depois, peço uma comida chinesa… Não! Melhor pedir uma pizza e ir ao encontro desse “Latinlover” que precisa dos meus préstimos…!”
Porto de Manhattan, noite
A Gata Negra aproxima-se do galpão de número 17. Está bastante frio. Ela veio com seu novo uniforme, mas não esqueceu de vestir um sobretudo, preto, para se sentir mais esquentada, mesmo com todo o calor que corria pelas veias ao saber que teria um caso para resolver.
“Não pensei que na estreia do uniforme teria que deixá-lo escondido… Até que é charmoso… Mas sinto algo de estranho. Uma sensação boa, porque descobri que meu admirador é o próprio que precisa do meu serviço. Mas também sinto que há algo de estranho. Por que marcar um encontro num galpão abandonado do porto de Manhattan?”
Mesmo desconfiada, Gata Negra caminha pelo porto. Não há muita iluminação no cais. O barulho do mar a deixa atenta a qualquer ruído desconhecido. Com os seus quase silenciosos passos, percebe uma movimentação em uma pequena embarcação. Sorri maliciosamente. Acha que deve intervir. Pode ser um contrabando. Pode ser apenas pescadores. Mas neva muito e o mar não está propício para pescarias. Gata Negra corre em direção ao pequeno barco. Sua visão noturna descobre um desembarque de caixotes. Amplia a imagem, mas não há nada o que possa identificar, apenas que três homens tiram a mercadoria do barco.
“Hum… Contrabando! Acho que vou dar um susto neles. O admirador-contratante não deve se importar com o meu atraso. Será por uma causa justa…! Vamos Fel, é hora da diversão!”
Gata corre e pára no exato momento em que os homens carregam as caixas para deixá-las no cais. Eles tremem com o que vêem. Gata não abre o sobre-tudo para mostrar seu novo uniforme. Acha que não vale a pena estreia-lo com esses homens. Mas ao acionar suas garras, um breve reflexo de luz fez-se na escuridão. Gritos. Os três comparsas atiraram-se ao mar e nadaram sem direção. A Gata ri, ironicamente. Chega ao barco e abre um dos caixotes. Susto. Enfeites de Natal. Bolas de vidro, imagens de gesso… Risos! Ela cometeu um erro. Assim achava, até uma das imagens de Papai Noel escorregar de sua mão e cair, partindo-se em duas partes iguais.
“Mas que descuido! Era uma bela imagem… Que é isso? Um pacote? Mas… Tráfico de drogas! Então eles estavam revendendo os entorpecentes em plenos enfeites de Natal… Que coisa feia, rapazes! Mas, o que farei com essas mercadorias? Hum… Acabo de ter uma idéia…!”
Gata Negra coloca todas as caixas novamente no barco e amarra, como estava antes. Aciona as unhas e entra no barco. Arranha o chão da embarcação mas descobre que é muito espesso. Realmente ela precisa de unhas novas. Cortadores de vidro não são muito úteis… Fica então de pé. Arregaça a manga do comprido sobre-tudo. Recorda de ChinaTown, ao disparar o gancho para o chão. Após perfurar, ela abaixa a manga e sai do barco. A água invade a embarcação, e em poucos minutos, está afundando. Gata arruma os cabelos e observa até confirmar que o barco está submerso. Lembra que está atrasada para o encontro e corre, para o galpão de número 17.
Galpão 17
Silêncio mortal que vez ou outra é quebrado pelas águas do mar. A porta está entreaberta. Gata coloca a mão e empurra, calmamente. Observa o galpão e constata que realmente está desativado. Ao entrar, sua visão noturna a deixa capacitada para qualquer problema eventual. Seus olhos fazem uma busca pelo local. O odor dos peixes rapidamente invade suas narinas. Ela pára e abaixa a cabeça. Seus olhos, ainda abertos, percebem uma luz radiada de uma parte ainda não analisada.
- E então? Vamos ficar nessa brincadeira de esconder? Apareça! Mostre-me quem é você e o que quer que eu faça!
- Espere um minuto, señorita Hardy. Já estou descendo.
Ela vê que realmente há uma escada e que um vulto se prepara para descer.
- Quero que saiba que terá que pagar bem. Hoje é véspera de Natal. Não deveria trabalhar, e sim ficar com a minha família…!
- Família? Não pensei que se preocupasse con su madre…
- O que você sabe sobre a minha vida pessoal? Vamos, apareça e acabe com esse mistério.
- Seu maior problema é a pressa, señorita. A pressa…
Gata Negra caminha em direção da estranha luz, tentando imaginar quem é a pessoa e como sabe da sua vida.
- Então quer dizer que descobriu algo que não podia, meteu-se em confusão e precisa de mim para ajudar, não é?
- De uma certa forma, sim. Preciso me vingar de una persona que me prejudicou muito.
- Acha que a vingança é o melhor a ser feito, senhor?
- ¿Como no? Mudou os seus valores, señorita? Esqueceu muito rápido do que aconteceu em ChinaTown…
- Como você sabe do que aconteceu lá? Quem é você? Apareça!
E chega na luz. Está saindo de uma fenda. Ao agachar para identificar, descobre que é uma rosa. Seus pensamentos ficam misturados. Não sabe como ele descobriu os acontecidos em ChinaTown e a razão daquela flor estar ali. Gata segura a rosa. Nesse instante, sente uma dor horrível nas costas. A flor murcha. Ela apoia as mãos no chão. Grito apavorante. Vira a cabeça e descobre que Tarântula a faz cair em uma armadilha.
“Estou tonta… O que será que o Tarântula fez comigo? No exato momento em que senti a pontada nas costas, a flor murchou… Que estranho… Minhas pernas estão formigando…”
- Usted demorou, Gata Negra. Pensei que tivesse desistido do trabalho…
A Gata Negra não desiste de nada. Você deveria sabe, Tarântula. O que quer de mim? O que fez em mim?
- Quero me vingar do Hombre-Araña, e por isso, vou matar todas as pessoas próximas à ele. Começando por você, Gata.
- Você é louco!
- No soy loco, apenas tenho a necessidade de me vingar. Ele atrapalhou meus planos… Lembra do Padre Lopez?
- Vagamente…
- Ele será a segunda pessoa que matarei para me vingar do Araña.
- Por que eu? Não tenho mais nada com o Aranha…
- Mas tiveram. Y una cosa muito forte. Só não acreditei como se deixou levar por uma conversa como a minha… Vou explicar a frase… No caminho do amor havia uma rosa e um espinho. Quer dizer, exatamente, entre o seu amor havia a rosa, ou seja, o Araña… E o espinho… Yo! O Tarântula! Essa foi a única maneira que achei para te atrair. Mas nunca estive convencido de que cairia… Como é idiota! Imagino seus pensamentos ao receber as flores e o susto ao vê-las morrerem… E é isso que vai acontecer com você, Gata Negra. O que injetei foi veneno letal. Infelizmente não tem muito tempo de vida!
- Eu posso até morrer, mas levarei você comigo…
Gata salta em direção do Tarântula com as unhas ativadas. Ele consegue esquivar, mas não do giro seguido por um chute, que lhe acertou o rosto. Tarântula ri e afirma que ela pode fazer o que quiser, mas não aguentará por muito tempo, pois em breve o veneno fará efeito. Ela parece não escutar e investe novamente contra o oponente. Enquanto arranha o tórax de Tarântula, grita, afirma que o plano não dará certo. O inimigo tenta correr, mas a Gata o persegue, seguindo o rastro de sangue deixado pelos cortes no corpo. Tarântula resolve enfrentá-la, mesmo preferindo que ela morra pelo veneno. Gata pensa em usar o sobretudo para deixá-lo atrapalhado, mas na hora em que ia tirar, o Tarântula acerta um chute em sua costela. Ela cai, de bruços. Tarântula a levanta pelo casaco.
- Desista, Gata Negra! Não adianta lutar! Quanto mais esforço fizer, mais rápido é o efeito do veneno! Eres una mujer muito bonita. Será um grande desperdício ter que matá-la!
Gata Negra dispara o gancho, amarrando as pernas do oponente. Puxa, mas ela acaba caindo sobre ele, que a empurra. Está cada vez mais tonta, mas não desiste. Salta e agarra o pescoço de Tarântula. Ele parece sufocar. Encosta as unhas e ameaça cortar sua veia principal. Tarântula apenas ri.
- Está na hora de morrer. Porém, vou deixar o veneno fazer isso. Mas caso descubra o antídoto, o que acho improvável, sobreviverá. Em breve o Araña chegará e presenciará a morte de sua ex-amante, hehehe,!
Tarântula consegue se livrar das garras e joga Gata para onde a flor estava. Ela levanta, furiosa. Não consegue mais andar. Sente o corpo paralisar.
“Ele disse que o Aranha está vindo… Não posso morrer! Tenho que vê-lo, nem que seja a última coisa que faça… Estou tonta, meus olhos pesam como chumbo. Minha respiração está… Quase não consigo respirar. Não estou sentindo meus braços e pernas. Que diabos está acontecendo?”
- Não adianta lutar contra o veneno, Gata Negra. A primeira parte da minha vingança foi concluída. O Hombre-Araña sucumbirá sobre os meus pés e assim poderei me vingar!
Gata Negra não resiste e cai, desmaiada. O Tarântula se aproxima. Ajeita o sobretudo da gatuna e a leva para a parte superior do galpão, restando esperar o Aracnídeo, para concluir sua vingança.
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