Elektra #12: Magatama - MEIYO

Elektra #12: Magatama - MEIYO

Elektra enfrenta o último samurai Kahama, mas ela precisa ser rápida! Isso porque Amaterasu, que encontrou a tumba do Imperador Ch’in, despertou os guerreiros silenciosos de terracota! Será que a deidade japonesa finalmente vai conseguir outra insígnia imperial? 

A imprensa internacional começa a dar destaque para as inúmeras catástrofes naturais que atingem a Ásia. Terremotos, maremotos, tsunamis, seca, além de fatores sociais, como doenças e guerras.   

Para os analistas que dão entrevistas nestes noticiários mundiais, a culpa é do aquecimento global, do descuido com a natureza, da ganância do homem que despreza as matérias-primas e a falta de preocupação com um futuro não tão distante.   

Na verdade, o que acontece é uma crise entre a Trindade Chinesa e a Tríade Japonesa.   

Um acordo eterno foi rompido e agora o planeta cai em desgraça por causa deste desequilíbrio – até mesmo – sobrenatural. Só que existe algo muito mais real do que podemos crer.   

Nas próximas linhas e edições de Elektra aqui no UNF, você vai compreender exatamente o que está acontecendo com o mundo.   

Cidade de Xian, China Central

Distante pouco mais de 35 km dessa que é considerada uma das principais cidades históricas do país, ergue-se o poderoso e deslumbrante exército de soldados em terracota do Imperador Ch’in.   

Setsuko e Xia Nai se aproximam das obras desse ser supersticioso, que acreditava na vida eterna do seu reino e dinastia, e por isso começou a construir o seu mausoléu logo após ascender ao trono. As obras prolongaram-se por 37 anos e chegaram a requisitar mais de 720 mil homens, a maior parte deles condenados e prisioneiros de guerras.   

A deusa japonesa e seu expoente analisam o túmulo, erguido a 115 metros de altura, rodeado por duas muralhas. A construção abriga ainda um palácio onde foi deposto o sarcófago de pedra do imperador, rodeado por objetos e estátuas em prata, jade, ouro e pedras preciosas de valor incalculável.   

Além das fossas militares, o complexo compreende centenas de outras galerias (onde foram sacrificados os artesãos que trabalharam na obra) que reproduzem o império terrestre de Ch’in.   

Palavras ao vento. A lua arde como se incandescesse nas trevas do céu chinês. Setsuko queima e seu corpo dá vida à deusa japonesa do sol. As mãos erguidas, o tesen abanando o ar.   

O chão treme e se abre.   

Xia Nai se esconde.   

O Orbe da Vida brilha e flutua perante Amaterasu.   

Novas palavras deferidas e um clarão rasga o horizonte.   

Caminho para Xian

Se recompondo dos dois últimos desafios, Elektra anda a passos curtos, em busca da tumba do imperador.   

O que há de tão importante lá que Amaterasu tanto anseia?   

Ultimamente sua vida se tornou um quebra-cabeça daquele de milhares de peças, que dificilmente se consegue terminar sem auxílio.   

Seu corpo balança ao sentir um forte tremor de terra. Suas armas sai são sacadas rapidamente. Posição de ataque.   

Um vulto se aproxima.   

Pelo contorno, ela reconhece:   

Um novo Kahama.   

Os passos pesados revelam sua altura e peso. E a arma que carrega consigo.   

- Arma Letal. Finalmente eu, o guerreiro Kahama da Honra, Credibilidade e Glória, vim ao seu encontro.   

A ninja sorri.   

MEIYO não era apenas o último dos samurais solares. Era o mais forte, experiente, e, curiosamente, jovem. Além do que seu rosto estava totalmente exposto, não havia o comum capacete timbrado. Apenas um rabo-de-cavalo contrastava com as proteções no peito, ombros, cintura e pernas, essas escondidas sobre uma larga espécie de saia.   

- O fato de seu poder ter aniquilado meus irmãos não me apavora. Pelo contrário. Faz com que o ódio que há em mim se transforme em força, para que eu a derrote.   

Ruído de metal saindo de outro objeto resistente.   

O daisho. [1]

Uma espada em cada mão.   

Um sai em cada mão.   

Xian, mausoléu de Ch’in

O chão, aberto, revela as mais de oito mil estátuas de soldados e cavalos em tamanho natural e mais de cem carros de combate, dispostos em regimentos de infantaria, cavalaria e arqueiros, sem esquecer o Estado-Maior de generais e oficiais que comandavam o exército silencioso.   

Cada função, defensiva ou ofensiva, correspondia a um tipo de vestuário ou armadura; uma lança, arbaleta...   

O corpo de Amaterasu ainda está envolto em chamas.   

Aos poucos, se ouve passos.   

Marchas.   

Eles ganharam vida.   

Xia Nai, escondido, vibra com a conquista da deusa. Ele se sente responsável por fazer com que ela tenha encontrado o que tanto buscava. Inclusive, acredita que será recompensado quando Amaterasu pegar o objeto.   

A deusa sorri acompanhando os movimentos da tropa, que vem em sua direção.   

Os arqueiros se agacham e sacam as armas. Disparos.   

O que antes era achado uma espécie de salve para a deusa, tornou-se um ataque dos guerreiros de terracota.   

Amaterasu olha furiosamente para Xia Nai, em busca de respostas.   

Desnecessário. Não seria fácil uma deusa japonesa domar um exército de um imperador chinês, em pleno território dele.   

As flechas queimam e derretem ao se aproximar da deidade.   

A cavalaria recebe a ordem e parte pra cima, dividida em seções, tentando encurralá-la.   

O fogo se alastra pela vegetação rasteira, indo de encontro aos cavaleiros.   

Segundo arqueólogos, há uma estimativa de que estas estátuas foram cozidas a uma temperatura entre 950 e 1050 graus centígrados, e a sua qualidade e resistência parecem revelar bem o nível tecnológico da cerâmica chinesa, há mais de 2000 anos.   

O poder de Amaterasu é mais quente do que isso.   

Caminho para Xian

Mais experiente. Assim Elektra acreditava estar depois dos últimos confrontos, especialmente contra Genghis Khãn. [2]   

Não eram mais ataques impensados, inspirados na sede de sangue. Havia técnica, respiração, observação.   

Finalmente seus princípios ninja estavam sendo colocados à prova. Justamente contra um samurai.   

Ela é uma Men T’u Mi Te. [3]  

Os estrondos vindos de uma região perto de onde os dois oponentes estavam não incomodavam.   

Tanto que em frações de segundos, os dois investiram. Um contra o outro. Dois sais. Uma katana e uma wakizashi.   

Golpes certeiros.   

Os ombros de Elektra sangravam. Os antebraços de MEIYO, também.   

Novos ataques. As lâminas das espadas miravam o pescoço da ninja. As pontas dos sai, o tórax do samurai.   

Um novo choque entre os metais. Um sai no chão. Junto com a wakizashi.   

- Boa técnica, ninja.   

- Se acha que me supera, vamos nos desfazer das armas.   

- Se refere ao “kumiuchi”? [4]

Elektra larga o sai.   

O guerreiro sorri e crava sua katana no chão.   

“A matança nua”.   

Pela guarda que cada um monta, o outro sabe qual elemento vai usar no combate.   

Fogo e madeira.   

MEIYO grita.   

Elektra ataca.   

Elemento Fogo. Guiado pelo principio do Ikken Hiatsu, ou “vitória com um soco”. Atacar o inimigo rápido e profundamente, pra anular qualquer contra-ataque.   

A ninja atinge o ombro do inimigo e empurra a mão dele pra cima, para agarrar o rosto dele. Em seguida dá socos com a outra mão.   

Mas, aproveitando que a técnica da Madeira se baseia no elemento surpresa, MEIYO pega Elektra desperta, que tentava acertar seu abdome com o joelho, e seguir com o golpe até a aniquilação.   

O solar avança com o pé direito atravessando a linha da ação e o coloca perto do tornozelo de Elektra, para impedi-la de avançar. Em seguida, abaixa o seu braço direito sobre o braço direito dela, agarrando-lhe firmemente o antebraço com ambas as mãos. A ninja pensa que o samurai cometeu um erro e vira as costas, para tentar dar um “abraço de urso”. Assim ela foi derrubada, pelo próprio impulso, ao pisar mal e torcer o tornozelo.   

MEIYO avança com o quadril e a joga em suas costas, segurando com firmeza. A ninja segue sem equilíbrio. Ele faz movimentos rápidos com ambas as pernas, de diante pra trás, como se fosse cair de barriga pra baixo. Elektra é lançada ao ar.   

Ao cair, o Kahama pula sobre o próprio ombro direito, deixando Elektra embaixo dele, que amortece a queda do inimigo. Ela tomba de costas e, com o impacto, o ar é expelido dos pulmões. Todo o peso do samurai é levado pra comprimir o peito dela, esmagando a caixa torácica. Aproveitando a vantagem da chave-de-braço já feita, MEIYO coloca o cotovelo dela sobre o próprio antebraço direito estendido, e lhe quebra o braço.   

- Agora você morre, Arma Letal! Nem sempre o Fogo destrói a Madeira!   

Com a respiração quase nula, a ninja responde:   

- Quem... diz isso...  diz por... porque... é perito em... em apenas... um princípio!   

Aproveitando que está atrás do inimigo, Elektra pousa um braço no abdome do oponente, segurando o braço que fora quebrado. Ela aperta a barriga dele, para também lhe tirar o ar, e estende o polegar direito, atingindo o plexo solar do adversário. Simultaneamente, Elektra dobra o joelho direito e atinge o joelho do inimigo por trás. Tendões. Dor.   

Quando MEIYO dobrou o joelho, Elektra o puxou pra trás, no lado esquerdo, segurando-o pela cintura, para impedir que ele avance com o pé esquerdo e escape. Agora ele quem está embaixo, de bruços.   

Eis o simbolismo de puxar o inimigo para debaixo da água.   

- Eu... subestimei você... Arma Letal.   

- Confiar numa só técnica não é eficaz. Eu domino todas as artes corpo a corpo.   

- Por isso... você é... você é a Arma Letal.   

- Quer morrer agora? – o braço quebrado dói tanto que lágrimas rolam pelo rosto da ninja.   

- Antes... quero dizer... que você herdou... de todos os guerreiros Kahama que matou... suas dádivas e armas. [5]   

Estalo.   

MEIYO jaz, e ao seu lado surgem as armas que os samurais solares usaram. O corpo da ninja flutua é recebido por uma forte luz clara.   

Além de Men T’u Mi Te, Elektra agora é Men T’u Shen Mi. [6]

Xian, mausoléu de Ch’in  

Como lama, barro, lava. Não se sabe exatamente o resultado deste material fundido com o poder solar de Amaterasu.   

Arqueiros, cavaleiros, tropas. Nada resistiu ao poder divino.   

Inclusive os remanescentes, que teimavam em defender o túmulo do imperador Ch’in.   

Apenas mil guerreiros estavam de pé.   

Amaterasu andava sobre brasa, disparado labaredas contra aqueles que defendiam o maior de todos os segredos chineses. Onde está guardado outro tesouro imperial japonês. A espada. Ou, a lendária Kusanagi.   

O Magatama brilha incandescente ao tempo em que Setsuko se aproxima da tumba, que, aos poucos, vai ruindo como areia numa ampulheta.   

Um novo grito e a construção explode.   

Ao baixar a poeira não se vê nada no enorme fosso que estava demonstrado no mapa conseguido através das tatuagens do Eleito.   

A deusa se vira para Xia Nai e um raio solar o traga para perto dela.   

- Onde está, maldito chinês! Diga!   

- Amaterasu... é o que tem no mapa!   

Um general de terracota, à espreita, se aproxima do casal.   

- Não vê que não é aqui? Não há nada além de terra batida!   

O pesquisador volta a analisar o mapa.   

- Me dê o Magatama, divindade.   

O orbe flutua e para nas mãos de Xia Nai.   

Ele mexe nas peças, envolve os desenhos no tesouro japonês... e sorri.   

- Amaterasu, para que lado os guerreiros estavam virados no mausoléu que encontramos?   

- De costas. No caso, virados de frente para quem chegasse até aqui.   

- Esse foi o meu erro, me perdoe. Eles estavam de frente pro local onde está a tumba.   

- Xia Nai...?   

- Sim, deusa. Ch’in colocou o exército para vigiar a tumba, só que não esta tumba, que é falsa. A direção para onde os soldados olham é a correta.   

- Pra que ele faria isso?   

- Enganar. O maior medo do imperador era que sua tumba fosse descoberta. Então, ele colocou um falso mausoléu e os guerreiros como se saíssem do túmulo. Na verdade, essa tropa está indo para o túmulo.

- O que tem naquela direção?   

- A província de Shensi... Claro! A Zona Proibida, onde estão as pirâmides chinesas!   

O general de terracota salta sobre Xia Nai, e o mata, arrancando-lhe a cabeça. Setsuko recupera o mapa e o Magatama, e explode a estátua.   

- Arigato por me poupar trabalho, guerreiro.   

Cidade de Xian

Seguindo o rastro de destruição, Elektra chegou à tumba de Ch’in. Sentiu uma energia estranha.   

Ela lê o que tem escrito na Katana herdada por Meiyo.   

“Não me atrevo a avançar uma polegada, mas preferiria recuar um pé”. [7]   

Não é estranha a energia e dor ao ver relíquias culturais destruídas.   

E sim alivio, porque sabe que Amaterasu ainda não descobriu o local exato.   

Mas a ninja sabe para onde deve ir.   

E sabe que está pronta.   

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Notas do autor:

[1] Daisho – Um samurai recebe sempre um par de armas, formado por uma Katana e uma Wakizashi. Katana tem uma lamina levemente curvada ‘pra dentro’ e um punho longo, o que permite que a usem com uma ou duas mãos. A arte da confecção desta espada é rara e difícil, levam-se horas para se achar a temperatura correta da lamina. Quando feita corretamente, é leve, bem balanceada, forte, flexível e resistente. Suas laminas são comumente decoradas com orações, nomes, ou motivos diversos. Wakizashi é similar à Katana, entretanto, menor.   

[2] Elektra contra Genghis Khãn? Confira a edições 11 da ninja, aqui no UNF!   

[3] Men T’u Mi Te – Discípula dos Segredos  

[4] Kumiuchi – Técnicas de combate sem armas, dividida em Cinco Elementos (água, fogo, ar, terra e madeira), baseados não apenas na cosmologia tibetana, japonesa ou chinesa, mas também nos cinco tipos básicos do ataque, como está exposto na Arte da Guerra, de Sun Tzu.   

[5] Elektra herdou as dádivas e as armas, se tornando perita nelas. (1 - Rei) Daikyu / Etiqueta, Cortesia e Civilidade; (2 - Makoto) Tonfas / Sinceridade, Honestidade e Realidade; (3 - Gi) Shakujo Yari / Justiça, Retidão e Integridade; (4 - Chuugi) Shurikens grandes e pequenas / Lealdade, Fidelidade e Devoção; (5 - Yuuki) Kau Sin Ke / Valor, Coragem e Bravura; (6 - Jin) Lajatang / Humanidade, Misericórdia e Benevolência; (7 - Meiyo) Katana e Wakizashi / Honra, Credibilidade e Gloria.   

[6] Men T’u Shen Mi – Discípula dos Mistérios  

[7] “Não me atrevo a avançar uma polegada, mas preferiria recuar um pé” – Os que seguem os caminhos do Principio da Madeira são guiados pelo sábio Lao Tsu, a quem pertence esse pensamento.