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Elektra #11: Magatama - Genghis Khan

Elektra #11: Magatama - Genghis Khan

Elektra se depara com a pior ameaça que ela já ousou enfrentar em toda a sua vida! Mas, para sair vitoriosa, vai precisar de ajuda! E mais: Setsuko descobre a localização do túmulo do Imperador Ch’in! 


Pradaria Ordos, Mongólia

O homem que desce as escadarias brancas do acesso principal à construção usa a roupa com a qual foi enterrado.   

O Rei Guerreiro.   

Setsuko se aproxima, em chamas.   

- Você, caudilho mongol, vai matar a Arma Letal porque Amaterasu ordena.   

- Por isso me acordou do sono eterno?   

- Eu, deidade solar japonesa, vou destruir a China e recuperar o tesouro do meu país. Você foi o escolhido para contribuir, Genghis Khãn.   

A Tumba de Genghis Khãn fica a 300 quilômetros de Huhehout, capital da Região Autônoma da Mongólia Interior.   

Após duas vezes de ampliação e reforma, ela, formada por 3 palácios em forma de yurta enfileirados é agora grandiosa e característica. Coloca-se no pavilhão central uma estátua de Genghis Khãn de mármore que mede 5 metros, apoiada num enorme mapa feito de materiais especiais. E em outros pavilhões, exibem-se sarcófagos de Genghis e de suas três mulheres, bem como as coisas deixadas pelo e para os defuntos.   

O “guerreiro perfeito” passa os dedos por entre os compridos bigodes.   

- Que ganharei em troca?   

- O que sempre sonhou.   

Góbi

Uma caminhada cansativa e lenta. Por sorte, sua pouca e leve roupa vermelha, e suas técnicas ninja a ajudaram contra as temperaturas. 

Para onde está indo, ela não sabe. Só tem certeza de que está sendo atraída, como um imã, para algum lugar no interior da Mongólia.   

Ainda não compreende qual a relação entre a China, o Japão e agora o país mongol. Nem o que há de comum entre eles e por que ela faz parte disso.   

Elektra para e cerra os olhos. Ao longe, vê, atrás de uma colina, um brilho diferente. Respiração profunda, e ela inicia uma corrida.   

Chinatown, NY

Em frente a uma pintura de uma montanha, o guerreiro remanescente de Mu Fa saca um instrumento musical.   

- Suba ao Céu, Imperador – e começa a tocar o yueh ch’in. [1]

Pradaria Ordos, Mongólia

Setsuko e Xia Nai vão para o outro lado da tumba.   

- O mapa, Xia Nai? O que ele diz mais?   

- Estou tentando buscar um símbolo, algo que remeta à localização de alguma grandiosidade.   

- Não tenho muito tempo. Só o poder do Magatama não me é suficiente.   

- Mas estou tentando. É muita coisa e meus olhos...   

- Tôdai moto kurashi. [2] 

Tumba de Genghis Khãn 

Elektra se depara com a construção.   

Encantada.   

Ao redor, oferendas de diversas tribos mongóis enfeitam mais ainda aquela espécie de santuário, palácio.   

Ela caminha na direção da entrada principal, mas antes de subir o primeiro degrau da escada que dá acesso à Tumba, um grito a interrompe.   

Em sinal de respeito ela abaixa a cabeça.   

- Curve-se diante do Rei dos meng-ku ta-ta. [3] 

A ninja se recusa e quebra o protocolo, erguendo o olhar e encarando aquele que está parado frente aos portões.   

Ela sente algo fantástico lhe correndo o corpo através das veias.   

Genghis Khãn.   

- Eu, o filho de Yesugei Ba’atur, ordeno que me reverencie.   

Elektra continua impressionada. Seus olhos brilham. Seus punhos ardem.   

- Nunca!   

Genghis Khãn desce a escadaria lentamente, já portando sua espada única, mais grossa do que uma katana.   

- Os que não devem vassalagem a mim, devem morrer!   

Os braços fortes de Genghis investem rapidamente contra Elektra. Mais rapidamente ela saca os sai e defende o golpe. Os rostos dos dois ficam próximos um do outro.   

- Aliados de Ch’in devem morrer!   

Genghis empurra Elektra e novamente desfere um ataque horizontal, na tentativa de acertar-lhe a cintura. A assassina esquiva, curvando-se para frente e estirando os braços. Os sai ferem os ombros do mongol. Segurando a espada com as duas mãos, ele não sente a dor e se vira para ela.   

Nesse instante a luta é de metal. Cada golpe é abafado e o trincar se escuta de longe.   

Elektra alterna as defesas com as armas brancas com ataques baixos, usando os pés, para quebrar ossos das penas do imperador, especialmente a canela.   

Em vão. Ele é forte. Conquistou, em 1215, o Império Ch’in (ao norte) e até 1226 estendeu o poderio pela Ásia Central até o Golfo Pérsico, as margens do Indo e o Azerbaijão, ao sul da Rússia.   

Apesar da leveza e agilidade, Elektra defende mais do que ataca. Genghis Khãn não para um segundo, para não dar tempo de uma reação.   

A espada tem um caminho certo: o coração da ninja, mas fica travado entre as duas armas sai. Dois segundos de força disputando quebrar o utensílio do outro. Sem pestanejar, Elektra pula e gira o corpo em parafuso, tentando destruir, ou apenas derrubar, a espada mongol de leve brilho azul.   

Os três pedaços de metal voam. Enquanto estavam no ar, os dois rivais trocaram socos em pontos estratégicos. Quando as armas desceram, caíram nas mãos dos donos.   

Novamente o trincar.   

Um sai voa longe ao ser arrancado pela espada mongol.   

Genghis continua atacando, andando, fazendo com que Elektra recue. Apenas um sai não é o suficiente.   

O mongol acerta o peito de Elektra com o cabo da espada e em seguida uma cotovelada nas costelas. Ela coloca a mão no local ao sentir o duro golpe. A posição de defesa não impediu que o conquistador lhe arrancasse o outro sai, ao puxá-la pelo punho, e lhe acertasse um soco na testa.   

- Mongol quer dizer invencível, Arma Letal. Só não pensei que a sua derrota fosse rápida – diz, enquanto a segura pelos cabelos.   

Elektra mexe as mãos rapidamente, tentando atingir algum ponto importante do braço dele. Tendões, talvez.   

- Muito me admira estar perdendo para um homem que quase dominou o mundo, mas que morreu ao cair do cavalo enquanto caçava.   

Genghis Khãn acerta o cabo da espada na boca de Elektra.   

Sangue.    

- Sua cabeça ficará exposta na entrada do meu palácio.   

O Imperador Mongol mira a afiada lâmina no pescoço da ninja.   

******

Setsuko não ouve mais o bater das armas. Alguém morreu, pensa ela. Mas antes de saber quem venceu, ela é interrompida por Xia Nai.   

- Descobri!   

- Do que se trata?   

- Estava na cara!   

- O que, Xia Nai? Fale antes que te mate!   

- A localização da tumba de Ch’in. Ela está em Xian.   

Tumba de Genghis Khãn 

O Imperador segura a ninja pelos seus longos cabelos negros. O sangue escorria de sua boca vermelha. Ele então olha para o céu, onde sua espada está levantada, reluzindo o fulgor do astro rei.   

O brilho é intenso. A fúria com que a espada é baixada em direção ao pescoço de Elektra também.   

Genghis Khãn não consegue acreditar. O que era para ser um corte macio para abruptamente. À sua frente, um jovem guerreiro vestido com uma pele cobrindo sua cintura e ventre, e botas de pele de urso também.   

O guerreiro de bronze o fita intensamente. Seus longos cabelos, escuros como a noite, estão molhados. Em suas mãos, o cabo do machado protege o pescoço da ninja da decapitação.   

Ele aproveita o espanto do Imperador com sua chegada e força o machado para cima, a fim de afastá-lo da mulher.   

Khãn dá alguns passos para trás com o ímpeto do empurrão dado pela nova peça que se aninha ao jogo. Quem era esse guerreiro e de onde ele apareceu?   

- Curve-se diante do Rei dos meng-ku ta-ta.     

O guerreiro nada responde. Ele olha para Elektra e retorna a olhar para seu adversário.   

- Que Crom me amaldiçoe se eu permitir que faça algum mal a essa mulher.   

Dizendo isso, o guerreiro ergue seu machado e desfere um golpe visando a cabeça de Khãn, que se defende erguendo sua espada para aparar o golpe. Mas é detido a muito custo. A força desse guerreiro rivaliza com a sua.   

Será que finalmente Khãn achou um guerreiro à sua altura? Ele sorri e despe-se de suas vestimentas superiores, a fim de ficar mais livre, assim como o guerreiro à sua frente.   

Ambos se encaram. Estudam-se. Ladeando pelo local onde se encontram, não arriscam ao segundo ataque.   

Dessa vez é Khãn que parte para o ataque, girando sua espada de modo horizontal, visando a cintura do guerreiro. Com a lâmina do machado ele bloqueia o ataque e com seu cabo atinge o rosto de Khãn.   

Mas nenhum sangue é derramado. A batida não fora forte o suficiente. Khãn investe com a espada novamente, de cima, pelos lados e estocando, mas o guerreiro é hábil e se esquiva de todos os golpes.   

O machado não é seu ideal de luta, mas vai ter que servir no momento.   

Ele gira o machado sobre a cabeça para adquirir velocidade e baixa o giro para atingir Khãn na cintura que, vendo a velocidade desferida, dá um pulo para trás. Ele sabia que não teria como parar esse golpe. Aproveitando que o machado passa no vazio, ele avança na tentativa de pegar o guerreiro desprevenido, o que deu certo, parcialmente.   

Quando o guerreiro passou com seu machado ele investiu tentando acertar a cintura do mesmo, que sabendo dessa falha no seu ataque, sempre a torcia para frente, para deslocar-se do campo de visão do seu adversário. Em seguida, liberando seu braço esquerdo do machado, atingiu o lateral do rosto de Khãn com seu cotovelo, o arremessando ao chão como um saco de batatas.   

Mas essa tática tinha seu preço. Seu flanco fora ferido.   

Ambos sangraram.   

Ambos tiveram a certeza que ali, a sua frente, estavam alguém à sua altura.   

- Quem é você, guerreiro, que consegue rivalizar com a perícia de Genghis Khãn?   

- Minha mãe me chamava de querido. Meu pai, de filho. Amigos do meu pai me chamavam de Filho inquieto de Corin. Agora me chamam de Amra, O Leão. [4] Você pode me chamar de Morte.  

Khãn reconhece o dialeto utilizado por Conan. É Khitanês antigo, que deu origem à língua mongólica e ao mandarim.   

Elektra, se revitalizando, não entende nada que ele fala, apesar de reconhecer a raiz da língua. Ela consegue entender as perguntas de Khãn, mas não as repostas do seu adversário. Quem é ele e de onde ele veio, são as perguntas que rondam sua mente. Até que ela se surpreende pela pergunta de Khãn.   

- De que época você veio?   

- Antes de nós existia a Atlântida do Rei Kull. Isso é muito antes dessa época de agora.   

Khan sabe disso. Nas histórias de sua infância, um guerreiro era lembrado como o maior de sua época, e foi o que fez Khan conquistar o mundo. Kull era seu nome e Khãn se julgava sua reencarnação.   

Tudo isso se passara em poucos minutos, apesar da tensão que permeava o ambiente dar a impressão que eram horas.   

Elektra se recobrava da luta com Khãn. Do pesadelo de estar pendurada pelos cabelos em suas mãos e sendo salva da morte certa pelo estranho que estava falando em dialeto antigo. Ela recupera suas armas e se posta ao lado do guerreiro. Conan a fita fundo nos olhos e uma lágrima escorre do seu rosto, quando ele balbucia um nome.   

- Bêlit.   

Em sua mente ele sabia que isso não aconteceria novamente. Dessa vez sua amada sairia viva. Com ódio no olhar, ele dá um passo à frente e encara Khãn, que sustenta seu olhar.   

Elektra também se vira para o mongol e ataca. A espada dele rechaça novamente seu ataque, mas abre a brecha para novo ataque de Conan que o atinge de raspão no braço, arrancando pele e sangue, mas nada além disso. Ainda poderia ser empunhada a espada.   

O Rei Guerreiro se move lateralmente, de modo a deixar Conan entre ele e a mulher. E ataca com fúria.  

E a espada risca o ar, visando o meio dos olhos de Conan que sustenta o golpe com o cabo do machado. Khãn força para baixo até a espada chegar a poucos centímetros da face do Cimério. Elektra corre pelo lado para ajudar o guerreiro, que nesse momento força o corpo para o lado de modo que Khãn, com a força que estava fazendo, se desequilibrasse.   

Cada golpe retinia pelas encostas próximas ao mausoléu. O fulgor dos ataques era proveniente de fúrias contidas e liberadas a cada ato.   

Mas a luta estava próxima do seu fim e ambos sabiam disso. Era impossível manter a força dos golpes sem esgotar o corpo de ambos. O ataque e a defesa era imbuída de extrema força física.   

Novamente a troca de golpes põe Conan e Khãn com a face frente a frente. Gotas de suor escorrem das faces. Elektra nem pensa em intervir. A luta à sua frente parece ser algo que vem de muito tempo e muitas vidas atrás para que ela interfira. Isso é algo que eles devem resolver sem interferência para que, nesse momento, possa ter o último final.   

A luta final.   

Conan força a cabeça pra frente e choca no nariz do Imperador, quebrando-o e fazendo jorrar sangue.   

A luta estava no seu clímax.   

Ambos arfavam do cansaço, mas em nenhum momento seus golpes estavam mais fracos. Pelo contrário, cada vez que os braços se moviam era com mais velocidade e com mais força.   

Ambos eram dignos do momento.   

Momento que se aproximava do fim.   

Conan puxa seu machado para perto do peito e ergue acima da cabeça.   

Khãn já vê que ele tentará novamente o golpe aéreo e se prepara para defender.   

Conan dá dois passos à frente e desfere o golpe.   

Khãn ergue sua espada para aparar o machado acima da sua cabeça.   

A espada se parte.   

A cabeça se parte.   

O machado afunda pelo o tronco de Khãn, passando direto pelo seu ventre.   

Seu corpo cai para ambos os lados. Uma metade para cada lado.   

O Separador de Homens [5] fizera seu trabalho.   

Coberto de sangue do adversário, Conan olha para a linda morena ao seu lado, que sem entender o porquê, se aproxima do seu salvador.   

Ele a abraça e a beija à boca. Quando ela começa a corresponder, ao se desarmar, apenas abraça uma névoa que está no ar.   

Sem tempo para pensar. 

Sem tempo para agradecer sua vida.   

Não importa como o homem veio e lhe salvou, nem como ele foi embora.   

Mesmo assim, em seu íntimo, algo dizia que essa dívida havia sido paga. Era o guerreiro quem devia algo para alguém.   

Uma vida.   

Nem o beijo.   

O beijo.   

“...”  

Elektra não gosta de dever favores. Ela costuma pagar. Salvando o credor.   

Ou o matando.   

Ou dando algo que ele queira muito, como o que acaba de acontecer. Elektra adentrou à Tumba e lá pousa, em ouro, um falcão.   

A ninja admira calmamente, usando até mesmo os sai, que lhe guiam, ao raspar a ave. 

E como fez ao salvar Genghis Khãn de morrer se bebesse de uma água envenenada - segundo a lenda - o falcão ajuda a ninja, indicando o local para onde ela deve ir.   

******

Notas do autor

[1] Yueh ch’in – Viola lunar; um antigo instrumento chinês. Tem forma redonda e achatada, corpo de madeira. Na China, onde os instrumentos são classificados em 8 categorias, de acordo com o material de que são feitos, a viola lunar pertence à classe ‘seda’ (instrumento da classe culta). Suas 4 cordas desse material são afinadas em pares uníssonos, tendo entre elas um intervalo da 5ª, e tangem-se com um plectro. No interior do corpo há uma chapa fina de metal que aumenta a sua ressonância.   

[2] Tôdai moto kurashi – Não enxergamos bem a parte abaixo do castiçal que não é alcançada pela luz. Por extensão, tudo aquilo muito próximo de nós dificulta a percepção ou compreensão.   

[3] Meng-ku ta-ta – Como são chamados os mongóis, em língua nativa. Também deriva mong, mengu, mongu.   

[4] Amra, o Leão é o codinome que foi dado ao Conan durante a saga com Bêlit, a rainha bucaneira. Nesse momento, a saga do Guerreiro de Bronze está em Venarium, onde ele está tendo seu primeiro contato com Vandal Savage. Mais no futuro, ao final da Saga de Bêlit, veremos como Conan é enviado ao futuro par ajudar Elektra e sua repercussão naquele tempo.   

[5] O Separador de Homens é o nome dado ao machado de Conan. Em muitas histórias ele será mostrado, mas poucos homens terão a honra de serem mortos por ele. No decorrer das histórias de Conan será mostrado inclusive algumas propriedade mágicas do mesmo, o que salvará Conan de algumas situações onde magia será necessária para combater magia.

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