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Elektra #10: Magatama - Deadpool??

Elektra #10: Magatama - Deadpool??

Um mercenário tagarela e uma ninja assassina. Um deserto frio. Uma fonte de água quente. Combinação fantástica pra esse primeiro crossover entre duas máquinas mortais! Confira logo que diabo Deadpool está fazendo com Elektra, caramba?! 

Por Pedro Caldeira e a ‘estonteante’ participação de Raul Kuk



Deserto de Góbi, fronteira natural entre o norte da China e o sul da Mongólia  

Ludibriada. Foi o que aconteceu com Elektra.   

Ela não imagina que Setsuko, a Deusa Japonesa do Sol, a está enviando para uma armadilha.   

Com os poderes recuperados, por causa do Magatama, Setsuko só não é capaz de derrotar a ninja de vez, porque não está no próprio território.   

Alguma força suprema a impede de usufruir todo seu poder.   

Mesmo assim ela conseguiu o que queria.   

Enviar Elektra ao destino final.   

E neste local de clima frio, com montanhas cobertas por neve, a ninja pensa estar prestes a concluir sua tarefa.   

Ela caminha lentamente, quase se arrastando. As armas sai nunca pareceram tão pesadas como agora.   

Mesmo se perguntando o motivo de estar no deserto de Góbi, indo na direção do país mongol, ela segue andando. Sedenta. Fraca.   

Ruínas Taosi

Novamente as plataformas semicirculares se movimentam. Mas dessa vez a de fora, a maior, gira em sentido anti-horário. A de dentro, a menor, em sentido oposto.   

No centro, entre as plataformas e os pilares, estão Setsuko e Xia Nai. Os dois acompanham calmamente o movimento da esfera de fogo que parece bailar no céu.   

O sol passa por entre todos os 12 buracos das 13 colunas.   

- Setsuko, o que pretende?   

- Descobrir o local exato do túmulo do Imperador Ch’in.   

- Através deste observatório? Eu pensei que ele não tivesse essa função.   

- Ch’in utilizou este aparato para vigiar as ações realizadas em Õ-ya-shima [1]. A partir de cada descoberta ele calculou o local exato para a construção do próprio túmulo.   

- Mas é sabido que o local onde ele foi enterrado está em Xian, afinal, lá estão os famosos guerreiros de terracota. Colocados para proteger a ida de Ch’in até a Grande Montanha.   

- Até hoje nunca encontraram nenhum vestígio. Por que, então, acreditar que a tumba deste Imperador está guardada lá?   

- Talvez porque nunca acharam outras pistas.   

- Ou talvez porque ela não esteja lá.   

Setsuko ergue os braços e segura o tesen [2]. Com leveza o abana. Novas pétalas de cerejeira caem ao seu redor. A luz quente como a solar irradia, ofuscando a visão de Xia Nai.   

- Ki ni yotte uo o motomu. [3]  

Os 13 pilares se movem, formando um outro formato, como se completassem as plataformas, ocupando o espaço vazio.   

Os raios solares passam por cada buraco das colunas, fazendo um desenho sem igual figura geométrica a que possa ser comprado.   

O destino final da rajada é o quimono lilás de Setsuko.   

As tatuagens que foram arrancadas da pele do Eleito, presas à vestimenta, voltam a brilhar.   

Inferno chinês 

A descida da última encarnação do Imperador Ch’in ao Inferno não foi tão simples.   

O Eleito ainda teme o que pode lhe acontecer.   

Ser julgado pelas deidades, ou nem isso; cair direto no mundo dos não-aventurados.   

Para entrar neste local incandescente é necessário passar por uma porta grande, escura, de ferro.    

Ao lado dela está um homem que fixa o olhar no gigante oriental.  

E o Eleito sabe muito bem que ele é.    

O Deus da Porta.   

- Abra logo!   

O homem não hesita e gira uma espécie de alavanca.   

Os pesados portões vão se abrindo lentamente.   

O gigante, impaciente, gritou para tentar mostrar que não está apreensivo.   

Mas quem vigia a porta tem a capacidade de sentir tudo que aquele que aqui chega, sofre. Pensa.   

A reencarnação de Ch’in respira. Força a musculatura, para demonstrar coragem. Faz uma expressão séria no rosto e cruza a porta.   

Deserto de Góbi

Elektra vê algo um pouco distante. Está cambaleando, as forças se esvaem lentamente. Está desidratando rapidamente, mesmo em meio ao intenso frio do Deserto de Góbi. Finalmente seus olhos revelam uma satisfação, mesmo correndo o risco de se tratar de uma miragem.   

Um oásis.   

Não o tipo de oásis que se imaginaria num primeiro momento. Nada de palmeiras e camelos. Apenas uma enorme formação rochosa, um pequeno lago e vegetação rasteira.   

Água quente.   

Mas era apenas isso que ela precisava no momento.   

Ela se ajoelha na beira do pequenino lago, enche a palma da mão direita com um pouco de água, para sorver tudo em seguida.   

Olhos fechados.   

Os sai estão ao lado, na posição certa para serem sacados caso haja necessidade.   

É surpreendida por um chute nas mãos, derrubando a água. Em seguida, ela ouve uma voz irritante, cantada, como alguém que está acostumado a falar na hora errada e dizer apenas o que não deve:  

- Como se eu fosse flor... Você me cheiraaaaaa! Como se eu fosse flor... Você me regaaaaaa! Olha, desculpa interromper seu drink... Mas ia ser um pecado se você bebesse água de qualquer lugar que não seja em mim, foufa!  

As mãos dela buscam os sai. Ela não sabe o que aquele imbecil está fazendo ali. Mas sabe que, entre os mercenários, a melhor coisa a fazer é silenciá-lo logo quando se está cara-a-cara com Deadpool.   

Ruínas de Taosi

Setsuko está ajoelhada, ainda terminando de absorver o impacto causado por tamanha força. Xia Nai acompanha, afastado, toda magia daquela poderosa deusa.   

- Observe, Xia Nai!   

O quimono de Setsuko sai, como se alguém o tirasse do corpo daquela mulher. Xia Nai acompanha tenso.   

As partes íntimas de Amaterasu estão cobertas pela luz solar, o que impede que qualquer pessoa possa ver ‘algo’.   

As tatuagens vão sendo descoladas do quimono.   

O sol ainda irradia com os feixes por entre as cavidades nos pilares.   

Os desenhos se mexem mais rapidamente.   

Um a um, eles vão se juntando.   

Como um quebra-cabeça.   

Cada peça encaixada sobe para o alto, onde espera que outras figuras se juntem a ela.   

Assim que todas as tatuagens se unem sobre o ar, o raio solar regressa, como se tivesse sendo tragado pela estrela maior. Instantaneamente o dia faz-se noite. Xia Nai corre ao encontro da deusa, que, se levantando, veste o quimono.   

Da mesma foram como sumiu, o sol retorna, mais quente e forte.   

- Setsuko! – Xia Nai a ajuda a se levantar puxado-a pelo braço.   

A deusa para, olhando para o alto.   

- Me diga, yajiuma [4], o que você vê?   

- Por Izunami... é... o... mapa... o mapa da China!   

Inferno chinês   

Após passar por todos os obstáculos, sem ter que parar em nenhum deles, o Eleito chega à sala do Juiz do Averno.   

A deidade máxima deste local indesejável está sentada em um trono de pedra. 

Ao lado deste assento há outros dois, do mesmo material, mas que estão desocupados.   

- Perdoe-me pela forma...   

- Cale-se, reencarnação. O fato de você ter sido agraciado com a fonte de um Imperador, não significa que você pode entrar e cruzar este ambiente da forma como fez.   

- Novamente imploro perdão, Juiz do Averno. O motivo tem urgência.   

- Dependendo do que se trate, decido se poupo a sua alma.   

- Venho em nome do meu Imperador Celeste, Ch’in.   

- Ch’in. Faz muito tempo que não recebo notícias dele.   

- Ele me enviou porque o mundo terrestre está um caos.   

- Era de se esperar. Desde que o Magatama sumiu de nossa responsabilidade, o vento do mundo se tornou instável.   

- A tendência é piorar, Juiz.   

- Conte-me tudo, reencarnação.   

- Amaterasu está na Terra em busca das Insígnias Imperiais do Japão.   

O Juízo do Averno se levanta.   

- Como isso é possível?   

- Ela reuniu a tropa de samurais solares, o Clã Kahama, para que pudesse descobrir onde estão os Três Tesouros Reais.   

- Maldição! Ela traiu um acordo milenar. Você sabe se ela conseguiu obter alguma das peças?   

- Não. Fui enviado pelo Augusto antes que se descobrisse algo.   

- Se o Magatama continuar perdido, será melhor. Mas ela não pode encontrar o Sabre... nem o Espelho.  

- Esta é a minha missão, Juiz. Ch’in garante que o Sabre nunca será retirado das suas mãos, porque sua tumba é secreta. E o Espelho está seguro aqui, no Inferno.   

- Como o Imperador é tolo! A tumba dele pode ser secreta, mas não é impossível de ser encontrada! Se Amaterasu estiver com o Orbe da Vida em mãos, ela poderá sim, achar o túmulo de Ch’in.   

- O que devo fazer então?   

- Rezar para Os Três Puros.   

- Os Três Puros?!   

***

Góbi

A ninja rapidamente assume uma postura agressiva, preparando-se para atacar como a aranha-armadeira. Os braços descrevem um arco no ar, delimitando seu perímetro de defesa enquanto empunha as sai, como um louva-a-deus. Ela inspira profundamente, a cólera preenchendo seu corpo. Com o canto dos olhos, ela observa cada movimento de seu oponente, Wade Wilson, o Mercenário Tagarela conhecido como Deadpool.   

Um cão sem honra, pensa ela. E é assim que ela pretende matá-lo: como um cão. Seus olhos só enxergam fúria, uma fúria rubra e incandescente, consumindo cada fibra do seu corpo, prestes a explodir numa torrente de violência. Ela observa o mercenário à sua frente, seguindo-o com os olhos:   

Postura confiante... Ele sofreu uma lesão no plexo solar recentemente. Isso afeta o equilíbrio e a linha de defesa. Os braços não são capazes de manter a guarda da postura por muito tempo. Ele é destro. Sabe que pode atacar bem rápido e se esquivar com igual velocidade. Ele não está empunhando as armas. Espera vencer no mano-a-mano. Ele não me conhece.

Ao mesmo tempo, Deadpool cuidava de analisar sua oponente:   

"Que coxas, meu Deus... Que coxas!"

Elektra atacou rapidamente, um bote com os sai visando os ombros de Deadpool. Obviamente, ele ia se valer do fato de estar descansado para tentar derrotá-la. A ninja precisava ser rápida e inclemente, não dando tempo a ele. Quanto antes ele caísse, melhor. Se o plano dele era derrotá-la pelo cansaço, teria uma surpresa.   

Ela ainda tinha um último fôlego guardado.   

O surpreendente foi que Deadpool sequer tentou se esquivar. Confiando na própria força, ele se manteve no lugar, esperando deter Elektra com a força bruta. Ele buscou golpear entre os sai, um soco no rosto, usando a força do impulso dela para aumentar o impacto. Ela deteve o avanço e girou sobre o próprio corpo, atravessando o pulso dele com uma sai e puxando-o para perto, tentando atingi-lo no plexo com a outra. Ele agarrou a garganta dela, tentando desequilibrá-la, mas ela recuou o golpe, abrindo o braço esquerdo do mercenário de ponta a ponta, banhando-se em seu sangue.   

O balé da morte dos dois tinha apenas começado, e o primeiro movimento durou menos de um segundo.   

O grito de Deadpool ecoou pelo deserto:   

- CARAAAAALHO, meu braço! Porra, você tá ficando doida, mulher!? Isso dói!   

- Não mais do que eu vou fazer com você quando terminar!   

- Roupas mínimas, comportamento agressivo... Já saquei, você curte sadomasoquismo.   

- Idiota...   

- Por mim, tudo bem, mas dedo no meu cu não vai enfiar...   

Ela atacou novamente, descuidada, a guarda aberta. A lesão nos braços de Deadpool deveria ser suficiente para deixá-lo fora de combate até que ela o decapitasse, mas ela não contava com o fator de cura do mercenário. Enquanto falava para ganhar tempo, sua fisiologia única reconstituiu os tendões do braço esquerdo e a musculatura do pulso direto. Ele atingiu Elektra com um golpe preciso, violento, na boca do estômago. Ela reagiu quebrando o tornozelo dele com um chute que ele não estava esperando. Elektra era bem mais forte do que aparentava. Enquanto caía no chão, ela ainda teve tempo de cortar seus olhos com a sai, cegando-o.   

Se não tivesse perdido o fôlego com o contra-ataque de Deadpool, certamente já o teria matado.   

Respirou fundo, recuperando a postura e concentrando-se na guarda. Não podia dar a ele a chance de se recuperar. Ainda estava caído, com a mão no tornozelo e rolando de dor no chão. Ela saltou sobre ele, pronta para deslocar seu pescoço com um chute. A dor, porém, era encenação. Deadpool sacou duas uzi e apontou na direção dela, que mal teve tempo de se esquivar. Ela caiu no chão, evitando os disparos, tentando não deixar que a areia cobrisse sua visão.   

Mas essa era a menor de suas preocupações. Deadpool tinha se recuperado e já estava de pé, saltando sobre ela e agarrando-a pela cintura. Ele era muito bom em <i>jiu-jitsu</i>, mas ia precisar de mais do que isso para imobilizá-la. Os dois rolaram no chão, cada um procurando a melhor forma de atacar. Mas, apesar do ataque, Deadpool não parecia muito disposto a agredi-la. Ele estava...   

Bolinando Elektra?!   

- O que você pensa que está fazendo!? – ela gritou, assim que recuperou a vantagem no ataque e parou em cima dele.   

- Olha, por mais que eu goste de ficar aqui com você, rolando atracado pelo deserto igual duas cobras na areia fria, você não precisa gritar comigo, principalmente se for pra eu esclarecer o óbvio. Você não achou mesmo que eu não ia tirar nem uma lasquinha dessa bunda sarada, né?   

- Seu idiota, você acha que isso é alguma brincadeira?!   

- Não, não! De jeito nenhum! Pegação no deserto pra mim é coisa séria, só uso camisinha de tripa de camelo reforçada e extra-grande. Bwehehehe...   

- Seu... Seu...   

- Agora, além de suadinha, você está à milanesa... Essa areia vai esfolar todo meu...   

Antes que Deadpool pudesse completar a frase, a ninja cravou os sai em seus ombros, destruindo nervos vitais que impediriam que ele continuasse a reagir.   

Estava derrotado e, em cima dele, Elektra o observava, com um sorriso maldoso.   

***

Ruínas de Taosi 

Setsuko e Xia Nai analisaram calmamente o mapa da China, formado pelas tatuagens do Eleito.   

Eles teriam todo o tempo do mundo, caso a deusa não tivesse um plano para terminar de executar.   

- Xia Nai, temos que ir para a Mongólia.   

- Mon-Mongólia?   

- Sim. Para lá que enviei Elektra. Lá ela vai descobrir seu verdadeiro destino. A forma como é chamada, Arma Letal, não vai ser usada por mais tempo.   

- O que faremos lá, Setsuko? E o que faremos com este mapa da China?   

- Com certeza vamos descobrir, através dele, a localidade exata da tumba de Ch’in. Lá estão os maiores segredos da humanidade.   

- E na Mongólia? Vamos atrás do que?   

- A pergunta correta seria ‘vamos atrás de quem?’.   

Deserto de Góbi 

A ninja caminhou lentamente para longe dele. Não havia honra em matá-lo. Não havia honra em perder um segundo sequer de seu tempo com ele. Afastou-se, procurando a fonte onde, minutos antes, tentara saciar sua sede.   

Mas a fonte já tinha secado.   

Ela escalou a pequena formação rochosa, esperando que, em seu tempo, o veio de água ainda estivesse vertendo. Mas ao chegar no topo das pedras, deparou-se com algo inesperado.   

Uma serpente morta, dentro da nascente, infectando a água do veio.   

Se tivesse bebido uma gota que fosse, fraca como estava, teria morrido em pouco tempo. Inadvertidamente, Deadpool salvara a vida dela. Ou será que...   

Ele sabia!? 

Próximo à nascente, uma mochila com etiquetas onde se lia “Noruega” e “Inglaterra”, e aquele símbolo que Deadpool tinha no cinto. Ele realmente tinha salvo Elektra, impedindo-a de beber a água envenenada. A ninja desceu as rochas e caminhou na direção dele.   

- Já tomou um banhozinho? Porque o futum de bacalhau é meio broxante...   

- Cale a boca...   

A ninja puxou os sai enquanto firmava o pé no pescoço do mercenário. Ele grunhiu, mas não pôde gritar. A voz dele estava irritando Elektra de uma maneira que ela não imaginava ser possível. Ainda assim, devia desculpas a ele:   

- Você salvou minha vida.   

- Também preparo um sushi que você não ia acreditar...   

- Por que fez isso?   

- Salvar você? Digamos que, um dia, eu posso precisar de você. Uma mão lava a outra, sabe como é. E quero que você tenha boas lembranças desse nosso primeiro encontro. Ou talvez, talvez, eu não seja o que dizem por aí.   

- Apesar de você ser um cretino, estou em débito com você.   

- Ei, relaxa. Tem água na minha mochila, uns isotônicos e deve ter ainda meia garrafa de vodka. Fique à vontade.   

- O que você veio fazer aqui?   

- Loooonga história. Muito tempo atrás, o imperador Gengiva de Cão...

- Gengis Khãn.

- Foi o  que eu disse. Então, ele estava passando por aqui, teve sede e foi beber água. Nessa mesma fonte que você encontrou. Só que ela é amaldiçoada, uma armadilha para os viajantes. Não que eu acredite nessas baboseiras. Só que o falcão dele impediu que ele tomasse a água e, num ataque de fúria, Gengis Khãn matou o bicho. Quando percebeu que o falcão estava tentando salvá-lo, ele fez uma estátua de ouro do falcão. Em uma asa, ele escreveu “Mesmo quando um amigo faz algo que você não gosta, ele continua sendo seu amigo”. Na outra, escreveu “Qualquer ação motivada pela fúria está condenada ao fracasso”.   

- Aprendi essa dura lição hoje.   

- Eu acho isso tudo uma baboseira do nível dos livros do Paulo Coelho. Mas, enfim, eu precisava achar essa porra de estátua do falcão. Ela não está aqui. Hora de seguir em frente.   

- Vai desistir de sua busca?   

- Meu tempo é curto. Tenho outras coisas pra buscar ainda. Sabe, sou mercenário, mas meu segundo emprego é jornalista. Então, ainda há muitos outros tesouros pra encontrar.   

- Você quer o falcão apenas pelo dinheiro? Depois dessa história que você me contou, o falcão é apenas “um tesouro” para você?   

- Se você me perguntasse isso um ano atrás, eu diria que sim. Mas descobri que tenho uma filha, o destino da humanidade depende dela, blá, blá, blá. Ou eu aprendo a lição que essa porra de falcão tem pra me ensinar e me torno um bom pai pra ela, ou ela destrói a humanidade no futuro.   

- Eu... aprendi uma importante lição hoje.   

- Legal. Se quiser ter filhos, me procure. Ainda tenho outros lugares pra visitar, sítios arqueológicos pra destruir e bugigangas pra encontrar. Pode ficar com a água.   

Apertando um botão em seu cinto, Deadpool desapareceu, deixando Elektra sozinha na imensidão do deserto de Góbi. O mercenário salvara sua vida. Um dia, ela ia retribuir o favor.   

Pradaria Ordos, Mongólia 

Uma construção pomposa.   

Estátuas, enfeites, homenagens, oferendas.   

Setsuko e Xia Nai estão parados, em frente à porta principal da edificação.   

- Xia Nai, você precisa desvendar o que diz o mapa. Tome – o desenho formado pelas tatuagens se forma no ar e plana para um lugar afastado da construção – Faça valer seu esforço em ser meu servo e será recompensado.   

O pesquisador se afasta da deusa, olhando para cima, até chegar a um local seguro, onde possa analisar o desenho.   

Novas pétalas de cerejeira e raios de sol. A forma da mulher muda. A roupa, os cabelos. Ela se transforma em deusa. Levita, em pé, na frente da porta.   

- As virtudes de um inimigo morto penetram no recém-nascido.   

O chão treme. A edificação treme.   

- Quando Yesugei Ba’atur, seu pai, o viu nascendo, foi exatamente isso o que ele disse. E o nome lhe dado foi o mesmo do último grande inimigo que matou.   

Xia Nai tenta se concentrar na leitura do mapa, mas seus olhos teimam em admirar a Deusa do Sol em ação.   

- Temudjin, erga-se. Volte do mundo dos mortos. Interrompa seu sono eterno! É uma ordem!   

Com os braços erguidos, Amaterasu grita.   

A construção é tomada por pétalas e feixes.   

A porta principal é aberta.   

Uma poeira tão densa quanto nevoeiro é expelida para fora.   

Uma sombra se faz na entrada, a poucos metros da deidade japonesa.   

- Quem ousa despertar o Chefe Oceânico do descanso da pós-vida?   

- Eu. Amaterasu, Deusa Japonesa do Sol. A quem você, agora, deve lealdade.   

******

Notas do autor 

[1] Õ-ya-shima – As Oito Ilhas (outra denominação dada ao Japão).   

[2] Tesen - leque de metal. Mais detalhes sobre ele na edição no 05 de Elektra.   

[3] Ki ni yotte uo o motomu – Procurar um peixe em cima da árvore (ou: Não se alcança o objetivo sem os meios adequados).   

[4] Yajiuma – Espectador, curioso, bisbilhoteiro.

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