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Elektra #06: Magatama - GI

 Elektra #06: Magatama - GI

Elektra se depara com um inimigo que muito lhe lembra o passado. Isso será um ponto a favor? Ou uma grade desvantagem? E Setsuko segue na tentativa de descobrir onde estão outras insígnias imperiais japonesas!

China

Seguindo a dica impressa na mão – quebrada – da estátua do Buda dentro do Pequeno Templo e a luz piscando do lado de fora, Elektra chega à Tianamen. Ou seja, à Praça da Paz Celestial.   

Este local dá acesso à Cidade Proibida através de três portões: o central para o Imperador, o direito para a Imperatriz e o esquerdo para quem tivesse direito de acesso.   

A ninja segue o caminho do meio.   

Passa por um eixo norte-sul ao longo do qual acontecem vários pátios com muros e portas, onde ficavam a guarda, empregados, mantimentos, nessa chegada ao Palácio.   

Finalmente ela chega ao acesso do destino por uma porta monumental após um fosso de 12 metros [1] com as escadarias de mármore branco, que chega à sala do trono.   

Nessas escadarias está o samurai solar, segurando um shakujo yari. [2]  

Elektra saca os sais depois de limpá-los rapidamente na roupa vermelha.   

- Eu sou GI, Guerreiro Kahama da Justiça, Retidão e Integridade. Pelas vidas dos meus irmãos não permitirei que cruze esta porta e tenha acesso ao Templo do Céu.   

- Não preciso da sua permissão, guerreiro.   

- Sua ousadia será o seu fim. Ou acredita que o Magatama que possui pode te livrar do seu destino, que é a morte?   

Após iniciar a corrida, Elektra para – encantada – no degrau mais abaixo da escadaria e o encara.   

Ela busca mirar os olhos do oponente, mas uma sombra toma a face do samurai.   

Seu olhar desce pela armadura, braço, até chegar à arma que ele carrega.   

Só assim ela confirma suas suspeitas: este guerreiro Kahama é cego.   

Só assim ela abaixa a cabeça, por relembrar do seu grande amor.   

Demolidor.   

Rapidamente a vida da ninja passa diante dos olhos dela.   

Seu coração dói.   

Suas mãos apertam as armas brancas com mais força.   

Elektra ergue a cabeça e sobe mais um degrau.   

- Não pense que vou facilitar sua morte por você ser cego. Eu… já passei por essa situação.   

Estrada que liga Henan à Xangai, China 

O antigo veículo que transportava Xia Nai e Fei não é dos mais cômodos, mas foi a única maneira que eles encontraram para ser discretos. Tanta preocupação se deve ao fato de Xia Nai estar com um tesouro japonês nas mãos.   

- O que você acha dessa iniciativa, Xia Nai?   

- Uma tremenda perda de tempo, Fei. Historiadores japoneses e chineses nunca vão conseguir resolver as divergências sobre o passado entre os dois países, particularmente a respeito da ocupação nipônica na China, entre os anos de 1931 e 1945.   

- Mas Xia Nai, essa pode ser uma forma de melhorar as relações bilaterais, consideradas tensas durante o mandato do ex-primeiro-ministro Junichiro Koizumi.   

- Só que o atual premiê, Naoto Kan, não tem punho, Fei. Vai ser um desafio perdido.   

- Sabemos que a História é bem complicada.   

O motorista do veículo perde a direção, mas logo volta para a estrada.   

Fei e Xia Nai se olham assustados.   

- Fei, os chineses criticam o que consideram livros escolares japoneses revisionistas, já que, segundo Pequim, os textos minimizam intencionalmente a ação do exército imperial nipônico.   

- É…  

- Os japoneses, por sua parte, criticam o que chamam de versão simplista e marxista e sistematicamente anti-japonesa dos historiadores chineses.   

- A eterna disputa entre o Céu e o Sol…  

- A eterna, Fei. A eterna…  

Praça da Paz Celestial

Os sais e o shakujo yari disputam espaço entre os brancos degraus de mármore.   

Elektra, mais abaixo, absorve o impulso e tenta reverter o impacto, para ganhar alguma vantagem.   

Em vão.   

Ela é arremessada para o piso gelado da Praça.   

- Três metros. Já fui melhor – diz o Kahama.   

A ninja salta na direção do guerreiro, com os braços estirados. As pontas das armas brancas, afiadas, são interceptadas pelo bastão.   

Uma nova queda, só que dessa vez a ninja bate o lombar em um degrau.   

Sentada com o troco torto, a ninja tenta raciocinar.   

O guerreiro continua na escada, com os braços baixos.   

Os olhos dela fecham.   

Apenas se escutam as batidas do coração e a respiração ofegante.   

Uma viagem pelos pensamentos.   

Cozinha do Inferno.   

Um cego e o amor.   

Sonhos destruídos.   

A cabeça de Elektra bate no chão.   

GI desce os degraus e recupera a arma arremessada, com uma mancha de sangue.   

Elektra abre os olhos e vê o calçado do samurai solar.   

- Você está cansada, Arma Letal. Se entregue à dor e morra.   

Girando e rolando o corpo, a assassina põe força nos braços e fica de pé.   

- Ainda não! – e chuta o oponente, que se defende com o bastão.   

O guerreiro acerta outro golpe com o bastão. Um hematoma logo surge na coxa direita da ninja.   

Dando duas cambalhotas seguidas, Elektra se afasta e se levanta.   

Ela enfim se convence de que está cansada.   

Enfrentar e derrotar 47 samurais-sem-donos de uma única vez [3] e dois guerreiros do Clã Kahama é desgastante. A assassina precisa reunir forças, o que não é fácil, já que o oponente não lhe dá trégua.   

Um sai voa longe.   

Irritada, Elektra se desfaz da outra arma branca. Abre as mãos, separando os dedos.   

E ataca.   

GI não consegue acertar o golpe e tem o bastão preso pelo polegar e o indicador da mulher de cabelos pretos. Aos poucos ela consegue baixar a arma e a guarda do oponente, para, na sequência, acertar um soco no rosto.   

Sangue nos nós da mão direita.   

O Kahama limpa o sangue que vaza pelo queixo.   

- Nunca me tiraram sangue. Vou ignorar a vontade de te fazer sofrer para te matar de vez.   

Uma sequência de giros no bastão. A cada volta concluída, um suspiro profundo da ninja, que recebia e absorvia o ataque.   

Abrindo os braços, GI sorri e sua boca foge da sombra que cobre o rosto. Os dentes manchados de vermelho. Ele aperta um botão e a ponta de uma lança salta por uma extremidade da arma.   

Elektra já viu algo semelhante. Era vermelho... Os sais da ninja chocaram-se diversas vezes com o bastão do Homem Sem Medo.   

Forças. Já sabe de onde pode tirar a força para derrotar o guerreiro solar.   

Chinatown, NYC 

Batidas repentinas num velho gongo de ouro.   

O barulho abafa os gritos de Setsuko.  

Ora os gritos são orações, ora os gritos são expressões de fracasso.   

Setsuko tenta desvendar quais significados existem nas tatuagens retiradas do corpo do Eleito, a reencarnação de Ch’in, o Imperador chinês.   

As grafias, desenhos e formas geométricas se misturam, se afastam e se aproximam, mas nada revelam. Nem o animal que se destaca nas cores dá respostas à reencarnação da deusa do Sol do Japão.   

- Amaldiçoado seja você, Eleito! Eu sei que o caminho para a tumba e Ch’in está tatuado em seu corpo! Eu exijo que me diga!   

A busca incessante de Setsuko é retardada com o Eleito morto. Se ainda estivesse presente, seria mais fácil arrancar as palavras dele, e assim saber o destino das insígnias imperiais japonesas.   

Mas o poder de Setsuko não pode agir de diversas formas com chineses. Inclusive, ela não pode trazer um chinês do mundo dos mortos.   

- Estou farta! Meus poucos poderes estão diminuindo mais… Preciso descansar!   

O corpo sem alma do líder espiritual chinês ainda flutua sobre o próprio tumulo, mas para de arder. As tatuagens não se movem mais. O barulho do gongo não mais ecoa.   

- Preciso recuperar o Magatama, o Sabre e o Espelho para me tornar Amaterasu outra vez…  

Nesse instante três tatuagens brilham, como se tivessem vida própria e se manifestassem ao serem citadas.   

Uma tem um formato semi-circular, outra de uma espada e a outra de um círculo cruzado por uma linha.   

- O Eleito sabia onde os símbolos imperiais estão escondidos!   

Todas as tatuagens extraídas do corpo do Imperador Celeste se ligam e formam um grande desenho.   

- Este… este desenho é… o mapa… da China!   

Praça da Paz Celestial

Novamente ao chão, Elektra, que se deixou derrubar para se aproximar das armas, alcança os sais e levanta.   

Um grito e um ataque.   

Cada investida é defendida. De ambos os lados.   

A ninja agora lutava de olhos fechados. Apenas a sensação era o que a guiava.   

Mesmo assim Elektra conseguia “ver” o oponente.   

Conseguiu prever o ataque.   

Como o Demolidor fazia.   

Para Elektra, agora era como se ela estivesse brincando com “este” homem sem medo.   

As investidas com os sais eram alternadas com poderosos chutes.   

As investidas com o shakujo yari eram alternadas com potentes socos.   

Os degraus do branco mármore voltaram a ser palco do combate.   

GI investia, Elektra saltava um degrau acima e contra-atacava, obrigando o oponente a subir também.   

Então o ataque certeiro. Sangue escorre pelo braço esquerdo da ninja. Os sais são largados e ela cai de joelhos perante o inimigo. A ponta da lança é retirada do ombro da assassina, que agora está de olho aberto.   

- Uma bela luta, mulher. Você foi mais longe do que qualquer outro nem sonhou. Vou manter minha palavra e tirar sua alma sem sofrimento.   

GI mira o coração de Elektra e ataca. A ninja segura a lança entre as palmas das mãos. O guerreiro, acima alguns degraus, aproveita a lei da física para ter vantagem. A ninja impede de ter o peito perfurado, apesar de toda dor no ombro.   

Ela procura pelos olhos do rival, mas só vê trevas.   

Foi o que viu quando olhou o Demolidor pela última vez.   

Os joelhos dela ralam nos degraus e doem.   

A ponta do metal gelado é sentida em meio ao suor e ao sangue.   

Um grito aterrorizador.   

Elektra empurra a arma do Kahama para cima, recupera os sais que estavam no degrau de baixo e, ainda ajoelhada, segurando as armas com as pontas voltadas para dentro, empurra o oponente, que acaba deitando na escadaria.   

De pé, ela o olha.   

Agacha, e com o joelho sobre o tórax do samurai, crava os dois sais nos olhos dele.   

Apoiada nesta posição desagradável, ela abaixa a cabeça e chora. As lágrimas se misturam com o sangue.   

As portas pesadas do Templo do Céu se abrem.   

- Posso estar cansada… mas sou muito mais teimosa.   

Ela pega o shakujo yari e o arremessa na escuridão interna do Templo.   

- Apesar de tudo… foi por você, Matt… obrigada.   

Caminho de Henan para Xangai 

O Orbe da Vida brilha.   

- Isso é normal, Xia Nai?   

- Não… isso é um péssimo sinal.   

- O que significa?   

- Segundo a lenda, quando as insígnias brilham é porque o Sol está irradiando mais. Ou seja, estão tentando localizá-los.   

- Então alguém sabe que o Magatama está com a gente?   

- Não sabem onde o Magatama está, mas esse é o sinal… como se fosse um localizador. Por isso precisamos chegar logo a Xangai.   

- Vai então fechar negócio comigo?   

- Não sei. A minha única certeza é de que vamos obter pistas sobre os outros símbolos. Isso porque sete tumbas da dinastia Ming, entre 1368 e 1644 foram encontradas por acaso no centro da cidade.   

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Notas:

[1] Este é o mesmo cenário marcante do filme O último Imperador, com as três escadarias de mármore branco chegando à sala do trono, de onde reinou, por 47 anos, a famosa Imperatriz Ch’ing.   

[2] Shakujo Yari – É uma lança disfarçada como bastão. Um botão secreto faz com que a ponta de uma lança salta de sua extremidade inferior. Quando a ponta estiver recolhida, pode ser usada como um bastão.   

[3] Os 47 Samurais foram derrotados de vez na edição #03 de Elektra!

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