Batman: quase o peguei #07 - Destino
O coração batendo forte, uma noite de Gotham City como cenário... E um encontro avassalador. Dessa vez, Batman caiu...
Poderia ser uma noite qualquer. Uma ronda qualquer. Mas não. O céu está limpo e uma grande lua ilumina os terraços dos prédios por onde passo. Com as sombras, lembranças. Poderia ser “tudo… qualquer”. Mas não. Há algo. Uma sensação de…
- Saudosismo, senhor Bruce?
Pensamentos interrompidos. Na hora certa?
- Não, Alfred.
- Como não, senhor? A noite está linda, o céu aberto e iluminado. Fora a grande lua dourada!
- Isso não me emociona, Alfred.
- É o que o senhor diz. Sua alma está mexida. Talvez pelo encontro de noites atrás.
- Não fale bobagens.
- Poucas vezes vi o senhor tão pensativo.
- Não tem nada a ver com Selina Kyle, Alfred.
- Eu não estava me referindo a ela…
Ele estava certo. O último encontro com a Mulher-Gato havia deixado sequelas. Não o ferimento causado por suas afiadas garras. Mas sim, pela primeira – e intensa – noite de amor. Sob a mesma noite estrelada. Sob o mesmo luar. Dourado…
- Eu me senti atraído por ela.
- Isso é uma reação saudável, senhor. Isso é algo único... Os outros oponentes nunca conseguiriam provocar isso...
- Alfred, o que ela poderia roubar?
- Está pensando em detê-la, ou vê-la?
- Não importa. Existe alguma joia a qual poderia lhe interessar?
- Vou fazer um esquema das possíveis “vítimas materiais”.
- Quanto humor.
- Não pude evitar, senhor.
- Aguardo contato.
Continuar a ronda. Longos saltos. O gancho trava em uma construção qualquer e o destino é o Museu de Gotham. Para aparar a queda livre, a capa aberta. A sensação de ela estar ali é permanente. Mas nenhum movimento suspeito. Não aqui no Museu. Talvez no lugar do último encontro... Quem sabe, ao menos, uma pista...
***
Aqui, a única testemunha daquela noite. Com exceção dos astros. Aqui, o coração palpitou. Bateu mais forte. Movimentos lentos, sensação de segurança. Aqui, as máscaras não existiam. Apenas duas pessoas e o amor. A mão segurando firme o rosto delicado. Os arranhões pelas costas. O corpo mais junto. O calor. Movimentos acelerados. Sorrisos. Suor. Abraços. Beijos. Sorvendo. Sentindo. Movimentos rápidos, suspiros. Palavras doces. Gemidos. Êxtase. Corpos cansados, parados.
- Senhor Bruce?
Não, Alfred. Outra vez, não.
- O senhor me escuta?
- Prossiga.
- Há um leilão, onde será vendida uma joia…
- Pode ser essa?
- Provavelmente.
- Que objeto?
- Uma imagem de Bastet, uma deusa do Egito.
- A que tem a cabeça de um felino...
- Exatamente. Avaliada em 500 mil dólares. Isso pro lance inicial.
- Que horas a peça será leiloada?
- Em 30 minutos.
- Passe as coordenadas. Pode ser uma chance.
- De detê-la, ou encontrá-la?
- Não posso cair em tentação. É inadmissível me sentir atraído por uma ladra.
- Isso pode ser sinônimo de humanidade, alivio. Afinal, tantas noites mal-dormidas, e na primeira oportunidade o senhor...
- Não. Pode acabar me prejudicando.
***
Novamente os batimentos cardíacos acelerados. O suor. O corpo quente. Mulher-Gato tornou-se famosa, também, por sempre roubar algo que lembrasse os animais, especialmente, os felinos. A sua história de vida continua um mistério. Assim como a de muita gente. Acredito que também tenha sofrido, por isso decidiu esconder tanto medo, raiva, vingança, atrás de uma máscara preta. Como alguém que conheço muito bem... Essa peça egípcia e as informações de Alfred… não são pistas concretas, mas se tornam uma real possibilidade para um encontro... Não. Uma detenção.
- Então, senhor?
- Alfred, está me deixando nervoso neste papel de “consciência”.
- Tal qual um grilo falante?
- Pior. Preciso me concentrar.
- Algum sinal dela?
- Não. Mas sei que irá aparecer.
- Como tem tanta certeza?
Destino.
- Não importa, Alfred.
- Tudo bem, senhor. Mas, por favor, me mantenha informado.
Olhos fixos ao redor da grande casa de penhor, onde está sendo realizado o leilão. Ainda nenhum movimento suspeito. Muito menos, alguns que só ela consegue fazer. O corpo curvilíneo e a graciosidade única. Os longos cabelos... Ela não vem? Ela tem que vir. Melhor dar uma volta pelo quarteirão. Quem sabe de um outro ângulo…
***
- E agora a nossa maior relíquia. A estátua de Bastet, a deusa egípcia com cabeça de felino. Toda em ouro, com diamantes, esmeraldas e rubis cravados, foi encontrada em recentes escavações na Ilha de Elefantina, à beira do rio Nilo, em um templo de animais. O lance inicial é de 500 mil dólares.
- 550!
- 600!
- UM!
- A senhora de chapéu ofereceu um milhão?
- Não… UM centavo!
***
Barulho de vidro quebrado. E vem da Casa de Penhor. É ela. Tem que ser. Não pode ser outro lunático. Não hoje. Não com esses pensamentos. Não com esse sentimento. Saltar e planar. Seu corpo envolto pela escuridão é visível. Até ele ser refletido pela lua. Seu uniforme. Sua cintura. Seus gestos. Ela não parece fugir. Como se desse tempo para que possa ser… alcançada… por um possível… vigilante. Disparar o gancho e se aproximar. Ela já descobriu e viu quem a persegue. Suas acrobacias ao ar livre são fantásticas. Seu equilíbrio. Suas pernas. Seu sorriso. Seus cabelos ao vento. Ela está indo para lá. Previsível. O local do último encontro.
***
Estranho. Ela foi seguida. Ela está aqui. Mas onde? Será que a vontade de um novo encontro, num já conhecido local, era tanta que…
- Procurando por mim?
- Selina!
Mantenha o tom de voz firme. Não se exalte.
- Eu sabia que a gente iria se encontrar de novo. Hoje. No mesmo lugar. Talvez por causa do céu aberto… da lua dourada…
- Você precisa ser detida.
- Não vai fazer isso comigo.
- Me dê apenas uma razão.
- Hum… Não é o que você quer fazer.
Não mesmo.
- Mas é o quer preciso.
- Por quê?
Ela está se aproximando. Ignore os sentimentos. Mantenha a calma. Por que ela sempre consegue desarmar quem quer? Seria o seu cheiro? Olhar? Expressões?
- Vamos, Batman, por quê?
Ela retirou a máscara. Não encare o lindo par de olhos verdes. Os cabelos negros cobrindo-lhe parte da face.
- Porque… é o correto.
- Não! Olhe à nossa volta, onde estamos! Olhe o céu! É o mesmo da outra vez, Batman!
- Você é uma ladra.
- E você um herói que usa táticas suspeitas. Não temos diferenças. Além do mais, usamos roupas escuras, temáticas, saímos à noite… e nos desejamos.
Ela salta, suas unhas, ativadas, ameaçam me ferir. Segure os punhos dela. Ela aproxima o rosto. Sua respiração... A respiração quente... dos dois...
- Selina...
O beijo. O inevitável beijo. Como evitar que ela se aproximasse e desse o beijo? Com ele, tudo outra vez. Os batimentos cardíacos alterados. Respiração ofegante. Movimentos lentos. Sensação de segurança. Agora as máscaras não existem. Apenas duas pessoas e o amor. A mão segurando firme o rosto delicado. O corpo, mais junto. O calor. Movimentos acelerados. Sorrisos. Suor. Abraços. Beijos. Sorvendo. Sentindo. Corpos colados, que tornaram-se apenas um. Ao menos ali; naquele instante. Movimentos rápidos. Suspiros. Palavras doces. Gemidos. Êxtase. Corpos cansados. Parados. Silêncio.
- Fique comigo, Bruce.
- Como…?
- Fique comigo. Vamos ter uma vida normal.
- Eu não posso.
- Por quê?
- Nós somos extremos, Selina.
- Não! Nós podemos ser o que quisermos!
- Eu sei… mas eu não posso.
- Vamos, Bruce. Uma nova vida. Uma vida normal!
- Não conseguiríamos deixar de ser o que somos.
- Podemos tentar!
- Não daria certo.
- Como tem tanta certeza disso?
Nunca haverá tanta certeza. Por mais que seja esta a vontade, nunca haverá. Nunca.
- Selina, eu prometi que tomaria conta desta cidade, e que não deixaria ninguém, nenhum criminoso, em liberdade. Eu combato a violência… protejo este lugar.
- Você não largaria isso nem por uma vida normal?
- Não.
- Você não pode ser assim. Onde estão seus sentimentos?
Esmagados. Desde o dia em que vi meus pais serem assassinados.
- Você não entende, Selina? Isso é impossível.
- Mas eu…
- Você o quê? Gostaria de tentar?
- Também.
- Também?
- Sim, gostaria de tentar, Bruce. Porque…
- Porque…
- Eu te amo.
Não diga o mesmo. Ao menos não em voz alta. Apenas sussurre em seu ouvido.
- Bruce…
- Eu tenho que ir, Selina. Vou devolver a peça.
- Tudo bem. Foi apenas um plano para tê-lo comigo de novo. A gente se encontra outra vez?
- Espero que do mesmo lado.
- E quando isso vai acontecer?… Bruce?… Bruce?… Ah, Batman, eu quase o peguei…
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