Batman: quase o peguei #06 - Esperança
No aniversário de morte dos pais de Bruce Wayne, uma onda de frio atinge Gotham City. Seria o cenário para a dor do Cavaleiro das Trevas? Ou apenas mais um plano de algum inimigo?
Pelo menos uma vez por ano essa data incomoda. Incomoda no sentido de revelar um sentimento angustiante: a perda. Amanhã é o dia de prestar homenagens àqueles que souberam ensinar o que é certo. Há muito tempo esse único dia em um ano custa para chegar. Da mesma maneira como custa para passar.
- Alfred!
A água tornou-se fria de repente. Será que o corpo está sofrendo junto com a alma? Será que essa dor está tomando todos os sentidos?
- Sim, senhor. O banho não está ao seu agrado?
- O que houve com o aquecedor? A água estava quente e... E agora, gelada!
- Pelo que presumo está tudo sob controle.
- Está ficando insuportavelmente congelante. Tudo o que eu precisava era de um banho gelado pós-ronda…
- Se me permite, amanhã bem cedo resolvo esse problema, senhor.
Pode ser impressão. Pode ser que realmente esteja mais frio. Não somente os sentimentos. Como também o corpo... Sofrendo as consequências.
***
- Bom dia, Sr. Bruce. Teve uma boa noite de sono?
- Tentei, Alfred. Está frio ou é impressão minha?
- Antes de lhe passar os jornais do dia, gostaria de lembrar que hoje é o...
- Eu já sei. Não precisa me dizer.
- Perdão, senhor... Os jornais. Todos com a mesma manchete. Todos se referindo ao repentino frio que atingiu Gotham nesta madrugada.
Seria coincidência?
- O que o serviço de meteorologia informou?
- Ainda não se manifestou, senhor. Mas deve ser mais uma daquelas frentes frias, resultado do efeito estufa.
- Prepare o carro, Alfred. Vou ao cemitério.
***
- Eu sempre jurei que um dia traria você de volta, Nora. Nem que para isso acabasse com quantas vidas fossem necessárias. Mas existe um limite. Uma hora em que desistimos dos sonhos, desistimos do amor... da vida. Eu tentei. Você é testemunha, meu amor. Quantas vidas eu tirei, quantos combates travei. Quantas lágrimas de fracasso. Eu jurei jamais desistir, Nora. Por isso está na hora de que todos sofram. Na hora de que todos passem pelo que passei durante todos esses anos. Tantas tentativas... Tantas frustrações... Teremos o nosso mundo branco sempre desejado. Ah, Nora... eu a amo...
***
Alfred não precisa acompanhar nestas horas. Ele sabe que é um momento singular e particular. As palavras não deviam sumir... Será mesmo que o silêncio é o melhor nessa ocasião? Não. Mãe... Pai... Ainda os sinto. A cada lufada do gélido frio. Cada inimigo derrubado e cada vida salva é em agradecimento a vocês. A vocês, que foram pacientes. Todas as ações são consequências do que lhes aconteceu. Aquela noite fria... que era aquecida com o calor daquele mágico sentimento... amor... Outros não devem passar por esta dor, por causa de lunáticos fantasiados... como eu... mas que estão do lado errado. Do lado errado do que vocês me ensinaram. Eu queria que vocês ainda estivessem aqui.
- Senhor Bruce, me perdoe, mas está nevando forte. É melhor que voltemos para casa.
- Concordo, Alfred. Deixe-me apenas colocar essas flores. Eram as preferidas da minha mãe.
- Sr. Bruce... tenha certeza de uma coisa: eles estão muito orgulhosos do senhor.
***
- Senhor, aqui estão os dados meteorológicos e as respectivas análises.
- Muito bem... O que temos aqui...
Alterações climáticas repentinas... Frente fria passando apenas sobre essa região... onde Gotham se encontra. Estranho. Nenhum fenômeno de tamanha proporção aconteceria em menos de 12 horas. Isso parece ser... artificial.
- Vou sair, Alfred.
- Mas senhor... Está nevando muito. E o senhor nunca agiu no dia de aniversário da morte dos seus pais.
- É necessário, Alfred. Eu sei o que está acontecendo em Gotham. E isso tem que parar.
***
Os locais previsíveis para o Senhor Frio montar um novo laboratório foram descartados. Tudo o que remetesse ao frio foi vistoriado. Onde, então? Mas será mesmo ato de Victor Fries? Não estaria confundindo... imaginando suspeitos para continuar a vingança contra o crime? Prendê-lo não seria pretexto para me fazer sentir responsável?
- Sr. Bruce.
- Prossiga, Alfred.
- Há um registro... Não percebe o quão rarefeito está o ar para nossa latitude?
- Sim, estou cansando rápido demais.
- O pior é que os hospitais estão cheios de gente... congelando! Os aquecedores não funcionam e a temperatura está caindo muito depressa.
- Alfred, acredito que seja uma nova investida do Senhor Frio. Procure algo que possa ser responsável pela onda de frio.
O frio. Em algumas ocasiões, necessário. Mas desta forma... Pessoas estão morrendo. Os olhos ardem. O que Victor está pensando? O que ele pretende fazer?
***
- Nora... Eu sei que quem tem algo porque viver é capaz de suportar qualquer “como”. Mas a esperança foi congelada... junto com o meu coração. Eu estou desistindo de você... do amor. Por isso vou levar todos para o inferno de gelo, Nora.
***
- Senhor...
- Alfred.
- Captei sinais... ondas invisíveis cobrindo o céu de Gotham.
- Ondas?
- Sim. Elas estão abaixando a temperatura na cidade. Estamos a 30º negativos. E a tendência é cair mais e mais...
- E a população?
- Muitos estão morrendo de maneira inusitada. Congelados na banheira, presos em estalactites, que antes eram uma ducha!
- O nível da neve também está muito alto. Preciso deter o Senhor Frio. Alfred, descubra de onde essas ondas estão vindo.
Nevasca. Os flocos de neve esbranquiçando a cidade cinza. O sentimento de solidão invade. A sensação de impotência por ainda não ajudar aqueles que prometi. O frio congela os ossos, os movimentos ficam mais lentos. O coração diminui. Não apenas pela temperatura. O sentimento de perda. Um dia triste. Um dia frio.
- Sr. Bruce! Descobri!
- Onde, Alfred?
- No porto de Gotham. Parece que Victor Fries está se aproveitando do mar para expandir as ondas congelantes.
- Hum... Ele quer congelar todos, novamente. Um outro surto.
- Apresse-se senhor. Até eu estou começando a petrificar.
***
Aqui está mais frio. As partículas da água do mar estão subindo de encontro a um feixe de luz que sai daquele galpão. O mar está... congelado! Isso prova tamanha potência da arma. Hora de Invadir.
***
- Veja, meu amor! Muitos agora estão como você! Presos à água gelada... em estado sólido, verdade. Mas presos à água. Como você...
- Um belo plano, Victor.
- Batman! Fique fora disso!
- Dar o mesmo destino de Nora a quem não tem ligação com seus problemas, Fries, não vai trazê-la de volta.
- Por isso mesmo, Batman. Todos vão sofrer com a dor da perda. Com o fim da esperança! >
Ele saca a pequena arma de raios congelantes. Os tiros saem mais fortes. O cansaço é inevitável; falta oxigênio. Está muito frio.
- Até você, Batman, que luta por algo... Você nunca perdeu?
Não é hora de as lembranças surgirem...
- Como você pôde desistir de Nora assim? Desistir do amor?
- Cale-se, Batman. Você não entende a dor da perda.
A perna. Um raio a atingiu. Procure algo para arremessar e derrubar a arma das mãos de Fries. Um batarangue. Não. Melhor dois.
- Maldito! Mas isso não vai resolver, Batman. Sua perna está congelada, não preciso da arma. Além de que a cidade também está virando um enorme iceberg.
- Sim, Victor. Você parece ter vencido.
- Pareço? Eu venci, Batman. Eu te peguei. Mesmo perdendo a esperança... eu te peguei. Eu ganhei!
- Sim... Mas olha para Nora. O liquido... o processo de criogenia... Está virando gelo!
A TV exibe imagens de pessoas congeladas nas casas e nas ruas, tubulações empedrando e estourando. Embarcações encalhadas no mar de gelo. No mesmo instante a água está se solidificando. É a hora.
- Não, Nora!
- A potência está tão alta que congela tudo. Inclusive o liquido que suporta o corpo de Nora. Ela vai morrer.
- Não! Batman... me ajude!
- Você desistiu da esperança, Fries. Tem que pagar o preço…
- Por favor... Não vou suportar ver quem amo morrer.
Eu suportei.
- Batman! Me ajude a reverter o processo. Por favor!
Reverter o processo não é difícil, mesmo com a perna ainda congelada. Os olhos de Victor refletem o desespero. A perda da esperança foi seu maior erro.
- Está funcionando, Batman! Ela está viva novamente! Seus olhos... por um instante eu os vi abrir e me mirar.
- Descongele a cidade.
- Desculpe pela perna.
- Você já sabe o que vai lhe acontecer, não é?
- Sim, Batman. Eu lhe agradeço, de qualquer forma.
- Nunca se esqueça, Senhor Frio... de que a esperança se adquire. Chegamos à ela através da verdade, pagando o preço de repetidos esforços e de uma longa paciência. Para encontrar a esperança é necessário ir além do desespero. Quando chegamos ao fim da noite, encontramos a aurora.
Nunca desisti de vocês.
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