Batman: quase o peguei #05 - Dúvida
Um vilão consegue colocar à prova tudo aquilo em que Batman acredita. Agora, o Cavaleiro das Trevas precisa provar que vale a pena seguir a vida que escolheu!
- Sr. Bruce?
- Alfred...
- Pensamentos perdidos e a tentativa de encontrá-los através das janelas?
- Você sabe que gosto de ficar olhando daqui quando algo me incomoda.
- E o que perturba seus pensamento, senhor?
- Questões, Alfred. Mas não queria compartilhá-las com você. Ao menos por agora.
- Que tal um vinho, senhor?
- Não sei, Alfred…
Não aconteceu nada... ou está como está...
- Desculpa interrompê-lo, senhor. Sirva-se.
- Alfred, eu estava pensando sobre meus atos.
- Isso é que está incomodando?
- Provavelmente. O que houve com as luzes dos jardins da mansão?
- Elas estavam acesas, senhor. Mas posso verificar se algo...
- As luzes internas também apagaram. Verifique os interruptores e me encontre na caverna.
***
- Senhor, a energia deve ter caído. Os geradores já foram acionados e parece que tudo está bem.
- Não, Alfred. Gotham está escura.
- Um blackout, talvez?
- Vou sair para confirmar se foi apenas uma queda brusca de energia.
- Quer algum equipamento especial?
- Deixe os veículos prontos e vamos nos falando com o comunicador. Talvez eu não demore muito.
Talvez. Uma dúvida. Mais uma. Não, não deve ser uma crise, muito menos de identidade, mas sim, confirmar se ser ou não um vigilante é necessário. Todos os prédios estão com as luzes apagadas. Talvez tenha sido um blackout. Mas o que o gerou?
- Senhor, tentei fazer contato com a Companhia de Energia Elétrica de Gotham e não consegui resultado.
- Estranho.
- Todos devem estar tentando solucionar o problema.
- E não deixariam alguém para dar satisfações às autoridades? Estou indo para lá. Mantenha-me informado caso note algo suspeito.
A ronda pelas ruas é mais eficiente quando se quer descobrir o que pode ter causado esse apagão. Dos prédios mais altos, visão mais... luzes acesas...melhor ir para lá...
- Alfred.
- Senhor!?
- Há algumas luzes no prédio da emissora de TV, ao sul.
- Sim, vou verificar.
- Não há nada neles. Estão vazios e sem sinais de invasão ou algo do gênero.
- O computador apresentou que esse prédio tem outras janelas iluminadas.
- Envie a nave.
- Já está a caminho.
- O que mais no edifício? Sequência de luzes?
- O espaço entre as janelas iluminadas varia. Ora afastadas, ora bem próximas...
- Quantos andares?
- No mínimo sete.
- A nave chegou.
Ao entrar e ficar mais afastado é possível ver que as luzes formam algo. Mas, será que os pensamentos não estão corretos, ao ser afirmado que nessas situações a ronda seria melhor sem veículos? Não é hora dessas indagações. O que essas luzes significam?
- Senhor…
- Descobri, Alfred. As janelas iluminadas são uma mensagem.
- Consegui apenas prever uma letra...
- Está escrito “boa noite, Batman”.
- Um convite bem interessante.
- É ele, Alfred. Estou indo para a Cia. Elétrica.
- Mas ele quem, senhor?
- Sua própria pergunta responde.
***
O único lugar onde poderiam selecionar as luzes que ficariam acesas para deixar uma mensagem é aqui. Mas parece tudo normal. Não. Nada está normal quando um lunático causa um blackout na cidade. Uma TV ligada.
- Por aqui está tudo certo, chefe. Ninguém apareceu mas o telefone não parou de tocar. O quê? Os seguranças? Tão mortos. Me dê mais cinco minutos e apago a frase do edifício. Sim, chefe. <br><br>
- Você gosta do escuro?
- Quem taí?
- E das criaturas quem vivem nele?
O Charada facilitou muito. De certo que ele sempre faz questão de facilitar as coisas para que sejam desvendadas. Ele sempre quer um encontro. A TV está transmitindo a fachada do prédio, de onde dá para ler perfeitamente a mensagem. Ele não está aqui. Então, aonde? O que é isso?
- Alfred, avise ao Comissário Gordon que ele precisa vir até a Cia. Elétrica. Tem homens mortos aqui.
- Encontrou o Charada?
- Não. Mas algo que vai me levar a ele.
- O que seria?
- A máxima cartesiana “penso, logo existo”, em um bilhete que achei aqui.
- E como isso o ajudará?
- Confirme se a exposição Século das Luzes ainda está no museu.
- Sim. Termina daqui a três dias.
- Então, lá o encontrarei.
***
<i>A nave já está em um local estratégico. Pelo que parece, o Comissário ainda não chegou à Cia., já que Gotham continua no escuro. Não há movimento suspeito no museu, mas Charada está lá.
- Senhor, fiz uma busca e o computador indicou que mesmo que a luz volte, o museu não será iluminado de novo. Charada deve ter bloqueado os canais de energia.
- Estou entrando. Há pouca iluminação. Guie-me até a ala da exposição.
- O senhor está bem perto, basta descer um nível.
- Muito estranho, Alfred.
À esquerda, senhor.
Nos falamos depois.
***
O corredor para a exposição está escuro. Mas o teto se ilumina. As paredes e o piso também. Cores fortes, néon, luzes fluorescentes. Muito previsível para o plano. Alfred não vai mais ajudar por causa dos… hologramas.
- Boa noite, Batman!
- Charada.
- Você chegou muito rápido.
- Poderia ter planejado algo melhor…
- Elogie meu magnífico plano para te pegar!
- Como a cidade no breu e o museu iluminado com luzes high tech?
- De qualquer forma, bem-vindo ao labirinto ilusionista. Ou seria iluminista?
- O que veio roubar?
- Alguns quadros dessa época, que registram a razão, a ciência e o respeito pela humanidade.
- Três coisas que você não tem, Charada.
- Aproveite e tente se divertir, Batman.
- Por que não aparece e me enfrenta?
- Já que insiste…
Lá está ele. Saque um batarangue e arremesse. Assim que ele cair… COMO?
- Hehehe! Gostou da brincadeira? Estava querendo me derrubar… mas por quê achou que seria fácil?
- Um holograma. Já devia ter desconfiado da sua covardia.
- Batman, preciso levar umas lembranças. Até breve!
Não há muito o que fazer, a não ser caçá-lo nesses corredores de luzes que, muitas vezes, incomodam. Cada passo as cores mudam, passagens se abrem e outras somem. Pare e ouça. Tente se concentrar. Risos. Vários tons de voz. Se disparar o gancho pode haver alguma chance. Talvez. Novamente a palavra. A dúvida.
- Olha lá o Morcego, parceiro. Atire nele e o chefe nos fará ricos!
- Metam bala!!
Como saber se não são hologramas também? Se não há a certeza, por que não conferir pessoalmente?
- Ele está vindo para cá! Continuem atirando!
Quatro capangas. Três disparam e um apenas dá ordens. O batarangue não funcionou com o holograma de Charada, mas esses são reais. Eles têm sombras. Sangue escorrem por suas mãos. Soque-os e dispare a rede. Falta um, que corre. As luzes ainda mudam a cada passo. Ele virou à esquerda. Uma parede?! Não. Atravesse-a.
- Parece que você não soube se esconder muito bem, Charada.
- Inteligente como sempre. Mas qual é o Charada verdadeiro?
Oito hologramas. As luzes mudam aleatoriamente, o que confunde a busca pelo verdadeiro. O capanga e um bastão não parece um oponente à minha altura. Desacordado.
- E então, Batman? O que pretende fazer?
- Vou detê-lo agora.
- Você não aprende, não é? Vejo pontos de interrogação sobrevoando sua cabeça.
- Esses mesmos pontos me trouxeram a você. Usar o iluminismo e o blackout para tentar ter sucesso no plano…
- Como descobriu?
- Aquela frase deixada na Cia. Elétrica e a exposição iluminada no museu. Enigma é o seu forte. Pena que sempre acabo com suas brincadeiras.
- Você ainda não estragou meus prazeres, Batman. Eu queria te trazer aqui para pôr a outra parte do plano em prática.
- Nem tente.
- Não duvide, Batman. Ou acredita que a dúvida é um pensamento, uma alternância entre o sim e o não?
- Onde quer chegar?
- Na sua certeza.
- Andou lendo René Descartes?
- Ele foi um dos percussores do Iluminismo…
- Quer discutir os métodos deste racionalista?
- Apenas quero saber por quê você se tornou o que é. O que o fez perder a vida, tentando consertar o mundo; ou apenas parte dele. Quero saber se isso é o que você quer, Batman.
- Por que um homem não pode aproveitar a própria vida da maneira como eu vivo?
- O que você ganha com isso? Quem reconhece seu trabalho? Se é que podemos chamar isso de trabalho… Você não tem vida, cretino. Ser esse herói que você acredita ser não é o que você realmente quer… ser.
- Charada, a dúvida só é possível quando sabemos que algo é…
- Está satisfeito com a sua vida?
- Chega de perguntas.
Não desconcentre. Os hologramas. As dúvidas sobre a vida estão de volta. Raciocine. Qual é o verdadeiro Charada? Será mesmo que vale a pena passar o resto da vida salvando pessoas? As luzes…
- Abandone esse posto de mocinho, Batman. Admita que está confuso.
- Você esqueceu de duas coisas muito importantes, charada.
- Ah, é? E o que seriam?
- A primeira, que o homem NUNCA está em dúvida; ele apenas passa por ela.
- Ora, ora…
- E a segunda…
- Estou curioso, Batman!!
- Hologramas não suam.
***
- Tudo voltou ao normal, senhor Bruce?
- Sim, Alfred. Gotham está iluminada, outra vez.
- E aqueles seus pensamentos?
- Tive a certeza de uma coisa sobre eles.
- Isso está ligado ao plano de Charada?
- Ele não sabia ao certo o que queria comigo. Talvez seu plano fosse para tentar me confundir sobre minha vida como Batman.
- E ele conseguiu?
- Nós falamos sobre dúvidas e ele usou muitos pensamentos de Descartes.
- Século XVII… o século das luzes, portanto, o Iluminismo.
- Por isso todo esse apagão, frases cartesianas e situações que nos levaram ao que ele queria.
- Repetirei a minha pergunta, senhor: ele conseguiu?
- Responderei usando uma frase de Descartes.
- Mais apropriado não há, correto?
- Descartes queria mostrar que deve haver pelo menos uma coisa da qual não se pode duvidar. Ou seja, ele queria chegar numa certeza e mostrar que realmente há no que se possa acreditar e não ter dúvida a respeito. E eu alcancei essa certeza, Alfred.
- Para comemorar, o que o senhor acha de tomar, agora, aquele vinho?
- Sem dúvidas, Alfred. Sem dúvidas…
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