Batman: quase o peguei #01 - Desejo
Misteriosos assassinatos estão acontecendo em Gotham City. O Cavaleiro das Trevas precisa descobrir – e deter – quem está envenenando importantes pessoas da alta sociedade. Nem que para isso, precise visitar antigos amigos em Arkham...
- Vai perder mais uma noite de sono, senhor Bruce?
- Quando escolhi essa vida já estava preparado até para esse tipo de situação, Alfred.
- O “passeio” tem alguma ligação com as mortes por envenenamento?
- Sim… elas foram estranhas. Nenhuma das três vítimas tem quaisquer ligações… Não acho um ponto de referência.
- Apenas que foram envenenadas em uma festa…
- Exato, e por isso qualquer um pode ser o criminoso. Desde o garçom até o anfitrião. Nada me surpreende.
- Deseja que faça uma busca dos mais perigosos vilões? Ativos ou não?
- Faça-o, Alfred. E mantenha-me informado.
Tinha tudo para o evento de caridade ter sido um sucesso. Quase toda a elite de Gotham estava presente. No momento em que as doações eram recolhidas, foi servido o champanhe. Três convidados foram “sorteados” com as taças que continham o veneno dissolvido à bebida. Vestígios pelo chão, pistas que passam despercebidas.
- Alfred, o atual relatório do Comissário Gordon afirma que uma das vítimas foi encontrada no banheiro, mas a taça não estava lá, correto?
- Exatamente, senhor Bruce. E ela ainda não foi encontrada.
Cada canto dos banheiros era minuciosamente revistado. O cheio da morte ainda incomodava. Uma pessoa está tomando champanhe envenenado. Sente algo estranho, um enjôo. Vai, logicamente, ao banheiro. O sintoma inicial é a paralisação de alguns músculos. A morte é instantânea. Ela não chegou ao banheiro com a taça. No corredor há alguns cinzeiros e latas de lixo. Pessoas com boa educação se preocupariam em não deixar a taça em qualquer lugar. Mesmo morrendo. Tem algo aqui.
- Não há registro desse veneno em lugar algum. Provavelmente criado em laboratório.
- Será que…
- Três suspeitos, Alfred. Assim como o número de vítimas.
- Preparo algo para o senhor comer? Afinal, a noite vai ser longa.
- Hoje não. O computador fará alguns testes para um possível antídoto.
- Vai sair novamente?
- Asilo Arkham…
- Os três suspeitos estão detidos?
- Hoje verei a número um.
- É melhor ir prevenido, senhor Bruce. Nunca se sabe o que acontece quando se aproxima dela.
Os suspeitos são alguns dos mais perigosos inimigos. Todos são loucos e inconseqüentes. Têm idéias absurdas. E no fundo nunca sabem o que querem. Autopromoção, reconhecimento, diversão? A chuva não cessa no caminho para o Asilo. Clima favorável para uma visita inusitada a uma lunática.
- Senti seu odor de longe, Batman. Ninguém exala tanto atrativo quanto você.
- Não fique de costas, Hera Venenosa. Vire-se.
A sexualidade transpira nos poros daquela mulher. Um olhar de canto, um discreto movimento nos lábios faz com que o mais centrado dos homens sinta um desejo incontrolável de possuí-la.
- Literalmente, é um prazer revê-lo.
- Por que matou os convidados na festa beneficente?
- Do que está falando?
- Por que os matou? O que quer com isso?
- Queria que você viesse até aqui para que eu pudesse te sentir… Conhece o prazer? Me tome, Batman. Seja meu e ficará imune ao meu veneno e juntos reinaremos o mundo!
- Quero o antídoto desse veneno, Hera.
Ela é o prazer, o êxtase, o clímax. O pecado em forma de mulher. Cada curva, cada detalhe. Mantenha-se concentrado.
- Estou sendo sincera. E você sabe. Como poderia fazer isso daqui de Arkham? Assuma que veio me ver… ter… Deixe-me fazer com que sinta suas veias se abrindo para que a adrenalina corra…
Não encoste no vidro. Não feche os olhos. Não morda os lábios.
- … por seu corpo e… Batman? Fugiu, mas vai voltar…
***
- 98%. Como foi o encontro com ela? Tenso?
A palavra certa não seria essa. Talvez por Hera Venenosa ser o que é. Talvez por ter a vida amorosa um pouco esquecida, ignorada, seja tão suscetível a ela.
- Concluído, Alfred.
- Analisei os estudos enviados pelo Comissário Gordon. As três vítimas foram infectadas por diferentes tipos de veneno.
- A mesma base sofreu alterações?
- Ainda é cedo para a conclusão. Por que não toma um bom banho gelado e vai dormir?
Dormir. A bem da verdade é que não há como ter sono não por causa dessas mortes que não foram desvendadas. E sim porque ela perturba.
***
O dia já nasceu. Muitas perguntas, poucas respostas.
- O senhor vai ficar no computador até a noite?
- Tem algo nesses venenos. Uma semelhança.
- Hera Venenosa não pode ajudar?
- Não por enquanto. À noite voltarei ao Asilo ver os dois outros suspeitos.
Dia longo e cansativo. Voltar a Arkham e não rever aquela mulher é difícil. A tentação é muita. Controlar os instintos. É o que resta a fazer.
- Levante-se Coringa.
- Batmaaaaaaan!? Finalmente descobriram que você é o louco criminoso e te prenderam?
- O que sabe sobre as mortes por envenenamento?
- Apenas o que leio no jornal. Não quer entrar e bater um papo com o velho amigo? Hehehehe! Posso te ensinar a jogar poker. Mexe-mexe? Mau-mau? Buraco?
Ser repugnante. O Espantalho é o último suspeito da lista dos criminosos perigosos que podiam agir desse modo.
- Vá embora daqui, seu MONSTRO! Não me aterrorize!
Perdido nos próprios medos. Não ele. Quem?
- O que houve, Alfred?
- Seis pessoas estão intoxicadas no Teatro Central.
- Hoje é a abertura da nova temporada das peças, correto?
- O senhor deveria estar lá, sendo social. Afinal, as Empresas Wayne patrocinam o evento…
- Estou a caminho. E antes que pergunte, o Coringa e o Espantalho estão descartados também. Envie os resultados dos testes para o Comissário.
Há algo sim de errado. Três suspeitos, nenhum deles. Alguém à solta fez esse serviço, claro. Uma maneira de se comparar aos mais perigosos personagens dessa cidade? Envenenar as pessoas para se promover? Se fosse apenas isso, haveria mais pistas. Vítimas de diferentes sexos, funções, idades. Apenas uma coisa em comum: membros da alta sociedade de Gotham.
- Comissário?
- Batman!! Não me assuste! Por que não entra pela porta, como qualquer um faz?
- Onde estão as vítimas.
- Quase mortas. Precisamos de um antídoto.
- Tenha certeza de que estou me empenhando nisso. Mandei alguns resultados, vai receber em breve.
- Quem está fazendo isso?
- Vou pegar quem quer que seja. Comissário Gordon, posso levar as amostras recolhidas agora?
- Claro. Aqui estão as seis taças com algum conteúdo ainda. Preciso que você analise isso e me responda urgentemente, Pode ser? Batman? Odeio quando faz isso…
Muitas pessoas já morreram. Isso está passando dos limites. Vai ser mais um longo dia de pesquisa. Mas não será desperdiçado sem uma boa companhia.
- Alfred, prepare o terreno porque vou levar Hera Venenosa para aí.
- Senhor… não é arriscado?
- Sim. Estou indo buscá-la também porque tem algo de errado com ela.
- Certamente ela o ajudará. Mas o que pode estar errado?
- Hera está numa cela. Mas falta alguma coisa naquele lugar.
- E o que seria?
- Ela sempre faz questão de ter uma planta.
Pode ser que seja coisa da imaginação abalada por aquela voz e aqueles movimentos. Pode ser que a planta não tenha chegado. Ou ter passado despercebido pelos olhos, que só se importavam com o corpo, o desejo.
- Hera Venenosa, você vem comigo.
- Sabia que viria me buscar, Batman. Vou te dar o verdadeiro prazer…
Entrar na cela e manter a expressão séria não é fácil. Ela caminha a curtos passos, insinuando-se. Realmente não tem uma planta. O nervosismo aumenta, o suor escorre pela testa. Respiração profunda. Não há o cheiro dos feromônios. Não há o feitiço que faz os homens se tornarem escravos, objetos. Não há a real Hera Venenosa.
- Alfred, estou indo para aí.
- Está nervoso. Ela o acompanha?
- Foi um truque. Hera não estava em Arkham, e sim um clone que derreteu ao meu lado.
- Decepcionado?
- Vou pegá-la.
Expressão perigosa. Conter-se para não cometer uma loucura, um suicídio, ao encontrá-la. Decepcionado.
- Desculpe interromper seus pensamentos, no mínimo cheios de pecado, mas o senhor precisa voltar para analisar as novas amostras e enviá-las ao Comissário Gordon.
- Correto, Alfred. O que há na minha agenda para amanhã à noite?
Outra festa. Mais uma oferecida pelas Empresas Wayne. Não há desculpas para faltar. Muitos convidados devem estar receosos em comparecer, mas o Comissário agiu bem. Anunciou para a população quem estava descobrindo um possível antídoto. Felizmente vai haver o encontro tão esperado. Felizmente?
- Linda festa, Bruce. A decoração está excepcional.
- Obrigado, Lara. Está se divertindo?
- Muito. Espero muito mais para essa noite…
- Bruce Wayne! Esbanjando dinheiro como sempre!
- Frank “king” Moore. Como está?
Pessoas arrogantes e fúteis. Um dos motivos para não comparecer a esse tipo de cerimônia. Interesseiros. Ser Batman é uma vantagem. Uma desculpa para não perder noites intensas, correndo perigo com esses convidados.
- Alfred, cuidados especiais com o champanhe?
- Sim, senhor. Escolhi a dedo quem serve a bebida.
- Em um daqueles seus processos?
- Certamente…
- Procure se divertir, hoje é sua folga.
- Como o senhor, ao entrar para essa vida já estava preparado para esse tipo de situação. Vou observar tudo.
Um grande homem. Fiel, atencioso, preocupado. O que aconteceria sem a presença dele? Nada. Alfred é o apoio, a base. Sem ele não haveria forças para continuar lutando, tentando melhorar o mundo.
- Senhor Bruce, tem uma moça passando mal.
- Não! Lara! Alfred, chame uma ambulância, o Comissário e bloqueie todas as saídas. Ela deve estar aqui. Eu vou achá-la.
Nunca se deve beber em serviço. Isso é regra. Ainda mais quando se é o anfitrião. Dá para ver duas mulheres andando preocupadas, em direção à saída, enquanto outros passam mal.
- Senhor Bruce, está me ouvindo?
- Sim, Alfred. Achei as mulheres. Hera deve estar por perto. Ao meu comando, apague as luzes por dez segundos.
- Encontro o senhor na batcaverna.
- Apague as luzes, Alfred.
Quando se está na própria casa, sabe-se onde fica cada móvel, objeto. Uma vantagem. Quando se segue duas pessoas, sabe-se o que fazer. Uma, você amarra e deixa num local visível para as autoridades. A outra, você, propositalmente, deixa fugir. E a segue para encontrar quem quer.
- Como me seguiu?
- Leve-me até Hera venenosa.
- Nunca!
Gás lacrimejante. Geralmente usado para dissipar grandes multidões. Não foi uma bela escolha. Rápida proteção. A resposta é dada com uma bomba de luz. É fácil notar que está cega. Ao menos nesses poucos minutos. Amarrá-la é o certo. O esconderijo de Hera. Previsível.
- Alfred, como estão os convidados?
- Consegui um antídoto provisório usando os resultados dos testes das nove amostras, senhor.
- Encontrei ela.
- Tome cuidado, senhor. Mas seja rápido, não sei quanto tempo de vida eles ainda têm. Está no parque?
Uma plantação de orquídeas selvagem num lugar afastado do centro de Gotham. Dá para ver que tem alguém na estufa principal. Uma, duas pessoas, no máximo. Ela ama as flores. Não haveria outro lugar mais escondido. O parque já não é tão discreto; o primeiro lugar onde a procuraria. Não quis ser encontrada e muito menos ficar longe do que tanto protege.
- Onde será que aquelas idiotas estão? Já deveriam ter voltado. Esse novo clone está melhor que o primeiro…
Tom de voz meloso. Não ouça.
- Se fossem homens os contratados, já estariam de volta. É, mas também, mortos.
Ignore a risada dela.
- Acho que suas amigas estão com problemas, Hera Venenosa.
- Batman!! Você como sempre querendo atrapalhar meus planos. Por quê não fazemos algo diferente hoje?
Ela não lhe toca o peito com os dedos. Ela não brinca com o símbolo estampado.
- Acabou, Hera. Dê-me o antídoto.
Será que valeu a pena ter retirado aqueles dedos macios?
- Acabou para você, Batman. Não vou deixar que interfira nos meus planos. Conheça o clone dois. E esse sabe brigar…
Mesmo se tratando de uma cópia, é difícil desferir golpes quando os pensamentos estão longe. Outro lugar, outros atos.
- Isso é excitante! Estou lutando com Batman!
Não preste atenção. Não a acompanhe com os olhos, seguindo-a, vendo-a sentar. É normal esse desejo. Apenas o seu cheiro é alucinante. Ela está sorrindo. Não olhe àquela boca.
- Por que não me enfrenta no lugar dessa aberração?
- Se eu for, você sabe o que faremos. Mas tenho que ir. Divirta-se com minha sósia.
- Eu quero os antídotos.
- Venha pegar.
Não provoque. Um homem atordoado não é responsável pelos atos. Concentre-se.
- Tchauzinho, Batman.
- Não vou deixar que escape!
- O que…? Não!
Arremessar o clone nos aparelhos é a única saída. Quem sabe a explosão…
- Você causou um incêndio. Minhas plantas queimam!
Não apenas as plantas queimam...
- Vai pagar caro!
Ela está correndo. E anuncia um beijo. Nunca diga ao seu oponente o que vai fazer.
- Morra, Batman!
Fina dor. Ela injetou algo. Não houve o – desejado – beijo. Ela está nua no inferno. Ao meu lado. Tudo é irreal.
- Não quer o antídoto? Te dei mais um motivo para conseguí-lo.
O braço esquerdo não move. O cheiro do pecado está perdendo para a fumaça. Raro momento de lucidez. Pegue-a.
- A cura!
- Como?
- Muitos já morreram, Hera. Isso não pode continuar.
- Mas vai! Enquanto esses ricos se preocupam apenas com luxo, gastando fortunas com futilidades, as plantas estão morrendo! Eu me preocupo com o futuro do planeta e me taxam de louca?
O problema é como quer resolver as coisas.
- O fogo está aumentando. Passe os antídotos!
- NUNCA!
Foi necessário. Não há como não notar a forma como está deitada, desacordada. Mais loucuras. Procure agir com a consciência. Não se aproveite. Tudo indica a morte. A mulher. O local. Reúna forças e a carregue. Antes, enrole-a com a capa. Cuide dela. Os perigosos lábios estão muito próximos. A tentação é grande. O calor das chamas e a fumaça. Desperte.
- Como estão Lara e os outros?
- Graças ao senhor, fora de perigo.
- Hera criou um veneno e alterou as moléculas de cada um. Como uma gripe, Alfred, que nunca é igual à outra. Mas agora ela está detida.
- Não é outro clone?
- Não.
- Quanta convicção… esse olhar vago…
Não há como esquecer ela. Um toque… Como pode existir uma mulher que faça qualquer homem perder a cabeça, e se tornar objeto, aceitando a morte para ter o prazer dela? Ninguém está livre depois de olhar aquela mulher.
- Um magnífico plano dela, se me permite.
- Por que esses lunáticos não usam a inteligência para fazer o bem?
- Assim, o senhor perderia o cargo de protetor e defensor, senhor Bruce.
- Quando escolhi essa vida já estava preparado até para esse tipo de situação, Alfred.
- O “passeio” tem alguma ligação com as mortes por envenenamento?
- Sim… elas foram estranhas. Nenhuma das três vítimas tem quaisquer ligações… Não acho um ponto de referência.
- Apenas que foram envenenadas em uma festa…
- Exato, e por isso qualquer um pode ser o criminoso. Desde o garçom até o anfitrião. Nada me surpreende.
- Deseja que faça uma busca dos mais perigosos vilões? Ativos ou não?
- Faça-o, Alfred. E mantenha-me informado.
Tinha tudo para o evento de caridade ter sido um sucesso. Quase toda a elite de Gotham estava presente. No momento em que as doações eram recolhidas, foi servido o champanhe. Três convidados foram “sorteados” com as taças que continham o veneno dissolvido à bebida. Vestígios pelo chão, pistas que passam despercebidas.
- Alfred, o atual relatório do Comissário Gordon afirma que uma das vítimas foi encontrada no banheiro, mas a taça não estava lá, correto?
- Exatamente, senhor Bruce. E ela ainda não foi encontrada.
Cada canto dos banheiros era minuciosamente revistado. O cheio da morte ainda incomodava. Uma pessoa está tomando champanhe envenenado. Sente algo estranho, um enjôo. Vai, logicamente, ao banheiro. O sintoma inicial é a paralisação de alguns músculos. A morte é instantânea. Ela não chegou ao banheiro com a taça. No corredor há alguns cinzeiros e latas de lixo. Pessoas com boa educação se preocupariam em não deixar a taça em qualquer lugar. Mesmo morrendo. Tem algo aqui.
- Não há registro desse veneno em lugar algum. Provavelmente criado em laboratório.
- Será que…
- Três suspeitos, Alfred. Assim como o número de vítimas.
- Preparo algo para o senhor comer? Afinal, a noite vai ser longa.
- Hoje não. O computador fará alguns testes para um possível antídoto.
- Vai sair novamente?
- Asilo Arkham…
- Os três suspeitos estão detidos?
- Hoje verei a número um.
- É melhor ir prevenido, senhor Bruce. Nunca se sabe o que acontece quando se aproxima dela.
Os suspeitos são alguns dos mais perigosos inimigos. Todos são loucos e inconseqüentes. Têm idéias absurdas. E no fundo nunca sabem o que querem. Autopromoção, reconhecimento, diversão? A chuva não cessa no caminho para o Asilo. Clima favorável para uma visita inusitada a uma lunática.
- Senti seu odor de longe, Batman. Ninguém exala tanto atrativo quanto você.
- Não fique de costas, Hera Venenosa. Vire-se.
A sexualidade transpira nos poros daquela mulher. Um olhar de canto, um discreto movimento nos lábios faz com que o mais centrado dos homens sinta um desejo incontrolável de possuí-la.
- Literalmente, é um prazer revê-lo.
- Por que matou os convidados na festa beneficente?
- Do que está falando?
- Por que os matou? O que quer com isso?
- Queria que você viesse até aqui para que eu pudesse te sentir… Conhece o prazer? Me tome, Batman. Seja meu e ficará imune ao meu veneno e juntos reinaremos o mundo!
- Quero o antídoto desse veneno, Hera.
Ela é o prazer, o êxtase, o clímax. O pecado em forma de mulher. Cada curva, cada detalhe. Mantenha-se concentrado.
- Estou sendo sincera. E você sabe. Como poderia fazer isso daqui de Arkham? Assuma que veio me ver… ter… Deixe-me fazer com que sinta suas veias se abrindo para que a adrenalina corra…
Não encoste no vidro. Não feche os olhos. Não morda os lábios.
- … por seu corpo e… Batman? Fugiu, mas vai voltar…
***
- 98%. Como foi o encontro com ela? Tenso?
A palavra certa não seria essa. Talvez por Hera Venenosa ser o que é. Talvez por ter a vida amorosa um pouco esquecida, ignorada, seja tão suscetível a ela.
- Concluído, Alfred.
- Analisei os estudos enviados pelo Comissário Gordon. As três vítimas foram infectadas por diferentes tipos de veneno.
- A mesma base sofreu alterações?
- Ainda é cedo para a conclusão. Por que não toma um bom banho gelado e vai dormir?
Dormir. A bem da verdade é que não há como ter sono não por causa dessas mortes que não foram desvendadas. E sim porque ela perturba.
***
O dia já nasceu. Muitas perguntas, poucas respostas.
- O senhor vai ficar no computador até a noite?
- Tem algo nesses venenos. Uma semelhança.
- Hera Venenosa não pode ajudar?
- Não por enquanto. À noite voltarei ao Asilo ver os dois outros suspeitos.
Dia longo e cansativo. Voltar a Arkham e não rever aquela mulher é difícil. A tentação é muita. Controlar os instintos. É o que resta a fazer.
- Levante-se Coringa.
- Batmaaaaaaan!? Finalmente descobriram que você é o louco criminoso e te prenderam?
- O que sabe sobre as mortes por envenenamento?
- Apenas o que leio no jornal. Não quer entrar e bater um papo com o velho amigo? Hehehehe! Posso te ensinar a jogar poker. Mexe-mexe? Mau-mau? Buraco?
Ser repugnante. O Espantalho é o último suspeito da lista dos criminosos perigosos que podiam agir desse modo.
- Vá embora daqui, seu MONSTRO! Não me aterrorize!
Perdido nos próprios medos. Não ele. Quem?
- O que houve, Alfred?
- Seis pessoas estão intoxicadas no Teatro Central.
- Hoje é a abertura da nova temporada das peças, correto?
- O senhor deveria estar lá, sendo social. Afinal, as Empresas Wayne patrocinam o evento…
- Estou a caminho. E antes que pergunte, o Coringa e o Espantalho estão descartados também. Envie os resultados dos testes para o Comissário.
Há algo sim de errado. Três suspeitos, nenhum deles. Alguém à solta fez esse serviço, claro. Uma maneira de se comparar aos mais perigosos personagens dessa cidade? Envenenar as pessoas para se promover? Se fosse apenas isso, haveria mais pistas. Vítimas de diferentes sexos, funções, idades. Apenas uma coisa em comum: membros da alta sociedade de Gotham.
- Comissário?
- Batman!! Não me assuste! Por que não entra pela porta, como qualquer um faz?
- Onde estão as vítimas.
- Quase mortas. Precisamos de um antídoto.
- Tenha certeza de que estou me empenhando nisso. Mandei alguns resultados, vai receber em breve.
- Quem está fazendo isso?
- Vou pegar quem quer que seja. Comissário Gordon, posso levar as amostras recolhidas agora?
- Claro. Aqui estão as seis taças com algum conteúdo ainda. Preciso que você analise isso e me responda urgentemente, Pode ser? Batman? Odeio quando faz isso…
Muitas pessoas já morreram. Isso está passando dos limites. Vai ser mais um longo dia de pesquisa. Mas não será desperdiçado sem uma boa companhia.
- Alfred, prepare o terreno porque vou levar Hera Venenosa para aí.
- Senhor… não é arriscado?
- Sim. Estou indo buscá-la também porque tem algo de errado com ela.
- Certamente ela o ajudará. Mas o que pode estar errado?
- Hera está numa cela. Mas falta alguma coisa naquele lugar.
- E o que seria?
- Ela sempre faz questão de ter uma planta.
Pode ser que seja coisa da imaginação abalada por aquela voz e aqueles movimentos. Pode ser que a planta não tenha chegado. Ou ter passado despercebido pelos olhos, que só se importavam com o corpo, o desejo.
- Hera Venenosa, você vem comigo.
- Sabia que viria me buscar, Batman. Vou te dar o verdadeiro prazer…
Entrar na cela e manter a expressão séria não é fácil. Ela caminha a curtos passos, insinuando-se. Realmente não tem uma planta. O nervosismo aumenta, o suor escorre pela testa. Respiração profunda. Não há o cheiro dos feromônios. Não há o feitiço que faz os homens se tornarem escravos, objetos. Não há a real Hera Venenosa.
- Alfred, estou indo para aí.
- Está nervoso. Ela o acompanha?
- Foi um truque. Hera não estava em Arkham, e sim um clone que derreteu ao meu lado.
- Decepcionado?
- Vou pegá-la.
Expressão perigosa. Conter-se para não cometer uma loucura, um suicídio, ao encontrá-la. Decepcionado.
- Desculpe interromper seus pensamentos, no mínimo cheios de pecado, mas o senhor precisa voltar para analisar as novas amostras e enviá-las ao Comissário Gordon.
- Correto, Alfred. O que há na minha agenda para amanhã à noite?
Outra festa. Mais uma oferecida pelas Empresas Wayne. Não há desculpas para faltar. Muitos convidados devem estar receosos em comparecer, mas o Comissário agiu bem. Anunciou para a população quem estava descobrindo um possível antídoto. Felizmente vai haver o encontro tão esperado. Felizmente?
- Linda festa, Bruce. A decoração está excepcional.
- Obrigado, Lara. Está se divertindo?
- Muito. Espero muito mais para essa noite…
- Bruce Wayne! Esbanjando dinheiro como sempre!
- Frank “king” Moore. Como está?
Pessoas arrogantes e fúteis. Um dos motivos para não comparecer a esse tipo de cerimônia. Interesseiros. Ser Batman é uma vantagem. Uma desculpa para não perder noites intensas, correndo perigo com esses convidados.
- Alfred, cuidados especiais com o champanhe?
- Sim, senhor. Escolhi a dedo quem serve a bebida.
- Em um daqueles seus processos?
- Certamente…
- Procure se divertir, hoje é sua folga.
- Como o senhor, ao entrar para essa vida já estava preparado para esse tipo de situação. Vou observar tudo.
Um grande homem. Fiel, atencioso, preocupado. O que aconteceria sem a presença dele? Nada. Alfred é o apoio, a base. Sem ele não haveria forças para continuar lutando, tentando melhorar o mundo.
- Senhor Bruce, tem uma moça passando mal.
- Não! Lara! Alfred, chame uma ambulância, o Comissário e bloqueie todas as saídas. Ela deve estar aqui. Eu vou achá-la.
Nunca se deve beber em serviço. Isso é regra. Ainda mais quando se é o anfitrião. Dá para ver duas mulheres andando preocupadas, em direção à saída, enquanto outros passam mal.
- Senhor Bruce, está me ouvindo?
- Sim, Alfred. Achei as mulheres. Hera deve estar por perto. Ao meu comando, apague as luzes por dez segundos.
- Encontro o senhor na batcaverna.
- Apague as luzes, Alfred.
Quando se está na própria casa, sabe-se onde fica cada móvel, objeto. Uma vantagem. Quando se segue duas pessoas, sabe-se o que fazer. Uma, você amarra e deixa num local visível para as autoridades. A outra, você, propositalmente, deixa fugir. E a segue para encontrar quem quer.
- Como me seguiu?
- Leve-me até Hera venenosa.
- Nunca!
Gás lacrimejante. Geralmente usado para dissipar grandes multidões. Não foi uma bela escolha. Rápida proteção. A resposta é dada com uma bomba de luz. É fácil notar que está cega. Ao menos nesses poucos minutos. Amarrá-la é o certo. O esconderijo de Hera. Previsível.
- Alfred, como estão os convidados?
- Consegui um antídoto provisório usando os resultados dos testes das nove amostras, senhor.
- Encontrei ela.
- Tome cuidado, senhor. Mas seja rápido, não sei quanto tempo de vida eles ainda têm. Está no parque?
Uma plantação de orquídeas selvagem num lugar afastado do centro de Gotham. Dá para ver que tem alguém na estufa principal. Uma, duas pessoas, no máximo. Ela ama as flores. Não haveria outro lugar mais escondido. O parque já não é tão discreto; o primeiro lugar onde a procuraria. Não quis ser encontrada e muito menos ficar longe do que tanto protege.
- Onde será que aquelas idiotas estão? Já deveriam ter voltado. Esse novo clone está melhor que o primeiro…
Tom de voz meloso. Não ouça.
- Se fossem homens os contratados, já estariam de volta. É, mas também, mortos.
Ignore a risada dela.
- Acho que suas amigas estão com problemas, Hera Venenosa.
- Batman!! Você como sempre querendo atrapalhar meus planos. Por quê não fazemos algo diferente hoje?
Ela não lhe toca o peito com os dedos. Ela não brinca com o símbolo estampado.
- Acabou, Hera. Dê-me o antídoto.
Será que valeu a pena ter retirado aqueles dedos macios?
- Acabou para você, Batman. Não vou deixar que interfira nos meus planos. Conheça o clone dois. E esse sabe brigar…
Mesmo se tratando de uma cópia, é difícil desferir golpes quando os pensamentos estão longe. Outro lugar, outros atos.
- Isso é excitante! Estou lutando com Batman!
Não preste atenção. Não a acompanhe com os olhos, seguindo-a, vendo-a sentar. É normal esse desejo. Apenas o seu cheiro é alucinante. Ela está sorrindo. Não olhe àquela boca.
- Por que não me enfrenta no lugar dessa aberração?
- Se eu for, você sabe o que faremos. Mas tenho que ir. Divirta-se com minha sósia.
- Eu quero os antídotos.
- Venha pegar.
Não provoque. Um homem atordoado não é responsável pelos atos. Concentre-se.
- Tchauzinho, Batman.
- Não vou deixar que escape!
- O que…? Não!
Arremessar o clone nos aparelhos é a única saída. Quem sabe a explosão…
- Você causou um incêndio. Minhas plantas queimam!
Não apenas as plantas queimam...
- Vai pagar caro!
Ela está correndo. E anuncia um beijo. Nunca diga ao seu oponente o que vai fazer.
- Morra, Batman!
Fina dor. Ela injetou algo. Não houve o – desejado – beijo. Ela está nua no inferno. Ao meu lado. Tudo é irreal.
- Não quer o antídoto? Te dei mais um motivo para conseguí-lo.
O braço esquerdo não move. O cheiro do pecado está perdendo para a fumaça. Raro momento de lucidez. Pegue-a.
- A cura!
- Como?
- Muitos já morreram, Hera. Isso não pode continuar.
- Mas vai! Enquanto esses ricos se preocupam apenas com luxo, gastando fortunas com futilidades, as plantas estão morrendo! Eu me preocupo com o futuro do planeta e me taxam de louca?
O problema é como quer resolver as coisas.
- O fogo está aumentando. Passe os antídotos!
- NUNCA!
Foi necessário. Não há como não notar a forma como está deitada, desacordada. Mais loucuras. Procure agir com a consciência. Não se aproveite. Tudo indica a morte. A mulher. O local. Reúna forças e a carregue. Antes, enrole-a com a capa. Cuide dela. Os perigosos lábios estão muito próximos. A tentação é grande. O calor das chamas e a fumaça. Desperte.
- Como estão Lara e os outros?
- Graças ao senhor, fora de perigo.
- Hera criou um veneno e alterou as moléculas de cada um. Como uma gripe, Alfred, que nunca é igual à outra. Mas agora ela está detida.
- Não é outro clone?
- Não.
- Quanta convicção… esse olhar vago…
Não há como esquecer ela. Um toque… Como pode existir uma mulher que faça qualquer homem perder a cabeça, e se tornar objeto, aceitando a morte para ter o prazer dela? Ninguém está livre depois de olhar aquela mulher.
- Um magnífico plano dela, se me permite.
- Por que esses lunáticos não usam a inteligência para fazer o bem?
- Assim, o senhor perderia o cargo de protetor e defensor, senhor Bruce.
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