Psylocke #1 - Das a wibe [1]
Bahamas, Caribe
Daquele grupo de turistas, ao menos uma pessoa não parecia estar empolgada com as explicações do guia, enquanto caminhava pela prateada areia.
- A oeste do mar de Sargaços, região do Atlântico em que é comum a alga Sargassum bacciferum, encontra-se o arquipélago das Bahamas, o primeiro território das Américas pisado pelos europeus...
O calor quente deixava sua pele grudenta e nem aqueles enormes óculos escuros Dulce e Gabana escondiam o tédio.
- As Bahamas constituem, desde 1973, a Comunidade das Bahamas, estado independente associado à Comunidade Britânica de Nações. Situado ao norte de Cuba e separado da costa dos EUA pelo estreito da Flórida, o arquipélago das Bahamas estende-se ao longo de 1.200km...
O laço do biquíni no pescoço já tinha sido desfeito, e agora apenas um vestido de tecido fino, com diversas estampas - protegia um busto que atraía diversos olhares.
- Compõe-se de 700 ilhas, das quais só 22 são habitadas, e cerca de 2.400 ilhotas, que somam uma superfície total de 13.939km2. As ilhas mais importantes são Nova Providência, a mais populosa e abriga Nassau, a capital do país, Andros, Grande Ábaco, Grande Bahama, Watling e Eleuthera.
“Calor.”
E um rabo-de-cavalo feito.
A mulher se afasta do grupo e se aproxima de um bar instalado à beira-mar. Senta em uma cadeira reclinável e logo é atendida por um garçom, um alto e forte negro.
- Em que posso ajudar?
- Algo refrescante com mediano teor de álcool. De preferência, algo com rum.
O garçom se afasta após sinalizar com a cabeça que o pedido viria o mais rápido possível.
As sandálias e o vestido estão sobre a areia. A mulher de cabelos escuros, que têm um leve reflexo roxo, deita de bruços na cadeira feita de sabicu, madeira dura e quase extinta, e põe-se a olhar o mar quase transparente.
“Há muito eu precisava disso.”
O garçom se aproxima e serve a bebida que tinha o copo enfeitado com frutas tropicais.
- Obrigada. O que uma garota britânica deve fazer pra se divertir aqui, nesse “arquipélago-irmão”?
O garçom, com camisa floral vermelha, bermuda branca e chinelos, sorri, se aproximando.
- Mergulho, cassino, esportes aquáticos…
- Interessante. Mas estou cansada desses divertimentos caribenhos vendidos em pacotes turísticos. Quero algo mais… nativo.
O garçom novamente sorri.
- Cavernas. Existem algumas liberadas para serem exploradas, inclusive na ilha de Cat.
- Quero as proibidas – interrompendo – Seja meu guia.
O homem reluta com gestos trêmulos.
- Ora, o que teme?
- Não, não é isso. É que seu sotaque é encantador.
- Então nos vemos aqui amanhã, pela manhã?
- Perfeito, senhorita.
Outros turistas se aproximam do local onde está o casal, em busca de cadeiras e atendimento.
- Eu sugiro frutos do mar – diz o homem, para tentar despistas qualquer pensamento indiscreto dos outros.
A mulher abaixa os óculos até o queixo e sorri, piscando o olho esquerdo. O garçom se assusta com o desenho num forte tom vermelho sobre este mesmo olho.
A mulher, agora em pé, amarra o laço do biquíni, coloca os óculos sobre a cadeira, desfaz o penteado e corre para o mar numa velocidade capaz de deixar muito atleta pra trás.
Um pulo.
Embaixo da água, apenas os peixes coloridos nadando por entre as pernas e braços da mulher.
Ela emerge bruscamente, jogando os cabelos pra trás, busca novo fôlego e mergulha novamente.
“Nadar é realmente uma delicia. Me sinto livre. E como eu posso enxergar tudo aqui nesse cintilante oceano, é como se…”
E então um grito, bolhas explodindo, saindo da própria boca, água entrando pelas narinas. Corpo se debatendo, lutando contra uma força que a puxa para o fundo.
Os olhos veem uma figura conhecida.
“Gomurr!”
E rapidamente aquele sufoco é transformado novamente na calmaria.
Em um banco de areia distante das ilhas maiores, a mulher respira, sentada com as pernas abertas e os braços esticados, apoiando o corpo.
Novamente a imagem carrancuda do velho homem chinês surge.
Uma mistura de telepatia e holograma.
- Preciso de você – diz em tom não-amigável.
- Não.
- Você não pode me negar ajuda agora. Isso seria ingratidão. E a falta de gratidão não é digna de uma lady da família Braddock.
- Não, Gomurr. Não tenho mais nada para perder. Por isso não tenho mais motivos para lutar.
- Isso não é um pedido. Quando você precisou de mim eu estava lá, pronto. Mas agora não sou apenas eu quem precisa de ajuda. O mundo inteiro carece.
Psylocke senta em posição de lótus.
- Você deve isso a mim. Eu te falei que iria cobrar… mais cedo ou mais tarde.
- Gomurr… eu estou acabada!
- Volte para o Reino Unido.
A tatuagem no rosto dela brilha.
- Para quê?
- A Aurora Rubra foi roubada.
Psylocke grita. A energia púrpura explode em forma de shurikens, que destroem algumas pedras e a pouca vegetação do local.
- Pela Sociedade da Serpente.
- Como?
- Já disse, encontre-me na Inglaterra.
- Qual a diferença em me explicar aqui?
- Você precisa me pagar. E aqui você não vai se convencer.
- Vai ficar me cobrando a vida toda?
- Só quando necessário. Agora vá. Você tem muita coisa para fazer ao chegar ao Reino Unido.
A imagem do velho desfaz-se com uma pequena, mas forte onda, que novamente submerge a mutante para as límpidas águas caribenhas.
Ao buscar a superfície e respirar, descobre que já é noite. Ela caminha pela areia, até sua cadeira, coloca o vestido, os óculos sobre a cabeça como uma tiara para segurar o cabelo, e caminha até o bar.
“Inglaterra. Serpentes. Gomurr. Aurora Rubra. Warren…”
Um passo curto interrompido. A cabeça para cima. Um céu estrelado como nunca visto antes.
As luzes coloridas e ofuscantes e o barulho da música não impedem que ela busque, e encontre, o garçom.
Ele, segurando uma bandeja e caminhando pelo estabelecimento, nem percebe quando é puxado pelo braço e levado para um lado mais afastado do movimento.
- Vamos para a caverna agora porque eu vou voltar para a Inglaterra amanhã.
***
[1] Das a wibe: Expressão usada nas Bahamas, que significa “algo pra se pensar”.
Daquele grupo de turistas, ao menos uma pessoa não parecia estar empolgada com as explicações do guia, enquanto caminhava pela prateada areia.
- A oeste do mar de Sargaços, região do Atlântico em que é comum a alga Sargassum bacciferum, encontra-se o arquipélago das Bahamas, o primeiro território das Américas pisado pelos europeus...
O calor quente deixava sua pele grudenta e nem aqueles enormes óculos escuros Dulce e Gabana escondiam o tédio.
- As Bahamas constituem, desde 1973, a Comunidade das Bahamas, estado independente associado à Comunidade Britânica de Nações. Situado ao norte de Cuba e separado da costa dos EUA pelo estreito da Flórida, o arquipélago das Bahamas estende-se ao longo de 1.200km...
O laço do biquíni no pescoço já tinha sido desfeito, e agora apenas um vestido de tecido fino, com diversas estampas - protegia um busto que atraía diversos olhares.
- Compõe-se de 700 ilhas, das quais só 22 são habitadas, e cerca de 2.400 ilhotas, que somam uma superfície total de 13.939km2. As ilhas mais importantes são Nova Providência, a mais populosa e abriga Nassau, a capital do país, Andros, Grande Ábaco, Grande Bahama, Watling e Eleuthera.
“Calor.”
E um rabo-de-cavalo feito.
A mulher se afasta do grupo e se aproxima de um bar instalado à beira-mar. Senta em uma cadeira reclinável e logo é atendida por um garçom, um alto e forte negro.
- Em que posso ajudar?
- Algo refrescante com mediano teor de álcool. De preferência, algo com rum.
O garçom se afasta após sinalizar com a cabeça que o pedido viria o mais rápido possível.
As sandálias e o vestido estão sobre a areia. A mulher de cabelos escuros, que têm um leve reflexo roxo, deita de bruços na cadeira feita de sabicu, madeira dura e quase extinta, e põe-se a olhar o mar quase transparente.
“Há muito eu precisava disso.”
O garçom se aproxima e serve a bebida que tinha o copo enfeitado com frutas tropicais.
- Obrigada. O que uma garota britânica deve fazer pra se divertir aqui, nesse “arquipélago-irmão”?
O garçom, com camisa floral vermelha, bermuda branca e chinelos, sorri, se aproximando.
- Mergulho, cassino, esportes aquáticos…
- Interessante. Mas estou cansada desses divertimentos caribenhos vendidos em pacotes turísticos. Quero algo mais… nativo.
O garçom novamente sorri.
- Cavernas. Existem algumas liberadas para serem exploradas, inclusive na ilha de Cat.
- Quero as proibidas – interrompendo – Seja meu guia.
O homem reluta com gestos trêmulos.
- Ora, o que teme?
- Não, não é isso. É que seu sotaque é encantador.
- Então nos vemos aqui amanhã, pela manhã?
- Perfeito, senhorita.
Outros turistas se aproximam do local onde está o casal, em busca de cadeiras e atendimento.
- Eu sugiro frutos do mar – diz o homem, para tentar despistas qualquer pensamento indiscreto dos outros.
A mulher abaixa os óculos até o queixo e sorri, piscando o olho esquerdo. O garçom se assusta com o desenho num forte tom vermelho sobre este mesmo olho.
A mulher, agora em pé, amarra o laço do biquíni, coloca os óculos sobre a cadeira, desfaz o penteado e corre para o mar numa velocidade capaz de deixar muito atleta pra trás.
Um pulo.
Embaixo da água, apenas os peixes coloridos nadando por entre as pernas e braços da mulher.
Ela emerge bruscamente, jogando os cabelos pra trás, busca novo fôlego e mergulha novamente.
“Nadar é realmente uma delicia. Me sinto livre. E como eu posso enxergar tudo aqui nesse cintilante oceano, é como se…”
E então um grito, bolhas explodindo, saindo da própria boca, água entrando pelas narinas. Corpo se debatendo, lutando contra uma força que a puxa para o fundo.
Os olhos veem uma figura conhecida.
“Gomurr!”
E rapidamente aquele sufoco é transformado novamente na calmaria.
Em um banco de areia distante das ilhas maiores, a mulher respira, sentada com as pernas abertas e os braços esticados, apoiando o corpo.
Novamente a imagem carrancuda do velho homem chinês surge.
Uma mistura de telepatia e holograma.
- Preciso de você – diz em tom não-amigável.
- Não.
- Você não pode me negar ajuda agora. Isso seria ingratidão. E a falta de gratidão não é digna de uma lady da família Braddock.
- Não, Gomurr. Não tenho mais nada para perder. Por isso não tenho mais motivos para lutar.
- Isso não é um pedido. Quando você precisou de mim eu estava lá, pronto. Mas agora não sou apenas eu quem precisa de ajuda. O mundo inteiro carece.
Psylocke senta em posição de lótus.
- Você deve isso a mim. Eu te falei que iria cobrar… mais cedo ou mais tarde.
- Gomurr… eu estou acabada!
- Volte para o Reino Unido.
A tatuagem no rosto dela brilha.
- Para quê?
- A Aurora Rubra foi roubada.
Psylocke grita. A energia púrpura explode em forma de shurikens, que destroem algumas pedras e a pouca vegetação do local.
- Pela Sociedade da Serpente.
- Como?
- Já disse, encontre-me na Inglaterra.
- Qual a diferença em me explicar aqui?
- Você precisa me pagar. E aqui você não vai se convencer.
- Vai ficar me cobrando a vida toda?
- Só quando necessário. Agora vá. Você tem muita coisa para fazer ao chegar ao Reino Unido.
A imagem do velho desfaz-se com uma pequena, mas forte onda, que novamente submerge a mutante para as límpidas águas caribenhas.
Ao buscar a superfície e respirar, descobre que já é noite. Ela caminha pela areia, até sua cadeira, coloca o vestido, os óculos sobre a cabeça como uma tiara para segurar o cabelo, e caminha até o bar.
“Inglaterra. Serpentes. Gomurr. Aurora Rubra. Warren…”
Um passo curto interrompido. A cabeça para cima. Um céu estrelado como nunca visto antes.
As luzes coloridas e ofuscantes e o barulho da música não impedem que ela busque, e encontre, o garçom.
Ele, segurando uma bandeja e caminhando pelo estabelecimento, nem percebe quando é puxado pelo braço e levado para um lado mais afastado do movimento.
- Vamos para a caverna agora porque eu vou voltar para a Inglaterra amanhã.
***
[1] Das a wibe: Expressão usada nas Bahamas, que significa “algo pra se pensar”.
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