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Gata Negra: Fugitiva #00 – Prelúdio

Começa agora a nova saga da maior ladra de Nova York! Nessa edição, o prelúdio pro especial “Fugitiva”!

Gata Negra: Fugitiva #00 – Prelúdio 


Central Parque, NY, 03:45pm

A tarde parecia ser uma daquelas de lembranças. Algo do tipo “ver sua vida passar como um flashback”, não apenas em pensamentos. E sim, daquela maneira única, quando nos vemos fazendo algo.  

Naquela tarde, no Central Parque, era o que acontecia com Felicia. Ali, sentada, olhando a exposição de um conhecido artista plástico, ela se via, ainda criança, se despedindo do pai que, segundo ele, estaria viajando a negócios.  

“Ele mentiu para mim…”

Sua mãe, Lydia, era cúmplice de toda enganação. Sabia que sua grande fortuna era proveniente de atos ilícitos. Walter Hardy era um famoso ladrão. Não existia peça, quadro, nada, que ele não pudesse roubar.  

“Ele… mentiu… uma vida inteira…”

Até que finalmente foi preso em um audacioso roubo a um museu europeu. Como consequência, foi deportado para os Estados Unidos, julgado e condenado. Mas não por isso a sua consagrada carreira criminosa já estava com os dias contados: ele estava com câncer.  

“Ele não pode me culpar…”

E quando Lydia lhe contou que seu pai havia morrido, ela viu seu fantástico mundo cor-de-rosa desabar a um negro horripilante. Só que como toda mentira, não durou muito. Felicia descobriu que seu pai estava preso. E doente.  

“Por quê, papai…?”

A partir de então, encantada com seus atos, tornou-se a Gata Negra. Seus genes herdados se misturaram a um poder latente, mutante, ainda desconhecido. E no dia da festa dos seus 16 anos, tirou o pai da prisão com a ajuda de alguns competentes bandidos: um perito em armas, outro em explosivos, um em segurança… mas essa é uma outra história!

“Não tente me convencer… a não ser como você…”

Ao libertar o pai, Felicia o levou para casa, não sem antes revelar seus dotes felinos, como virar o corpo em plena queda e cair em pé. Em sua mansão, ela mostrou quem realmente era. Walter pôs-se a chorar e pediu para que ela largasse dessa provável vida sem futuro. Mas como era um dos seus últimos dias de vida, ela o poupou de tal conversa e lhe trouxe sua amada esposa.

“Eu sou como você, papai. E sou feliz por isso…”

Nesta mesma noite, Walter Hardy morreu.  

E a maior ladra de Nova York, surgiu.

Bielorrússia

Era uma costumeira noite fria.

“Se eu seguisse os conselhos de minha mãe... a uma hora dessa... com certeza... eu estaria numa festa...”

Ruído de gancho disparado, saído do punho esquerdo.

“E nessa festa, com mais certeza ainda...”

Um corpo ao ar. Acrobacias. Impulsos.

“Eu estaria sendo apresentada a algum herdeiro da high society americana...”

Presa à parede grossa, a armação pontiaguda do gancho ameaça ceder.

“Imagina... noiva aos 21 anos! Que absurdo!”

O gancho é destravado. O corpo parece planar, até que um pé se enrosca numa barra. Um movimento circular. A segurança.

“Mas, como a mamãe não está aqui... eu vivo do meu jeito!”

Um novo salto. As mãos seguram firmemente o parapeito do antigo – e seguro – casarão.

“Aproveitando a dica pra roubar diamantes!”

Em pé. Corpo curvilíneo. Roupa negra com plumas brancas em locais estratégicos. Os cabelos, platinados, bailam com o gélido ar. Uma forte flexão nos dez dedos das mãos e cinco pares de cortadores de vidro surgem.

- Definitivamente, preciso de algo mais resistente e leve!

A mão esquerda no vidro. Um giro. Um buraco. Uma placa de metal como holografias é aproximada dos sensores nas barras laterais da janela. A outra mão destranca a passagem.

- Voilá! E aquele gato gordo ainda tem coragem de dizer que odeia segunda-feira...

Sim, era uma segunda-feira. Toda a nata do país estava andares abaixo de Felicia Hardy, a Gata Negra. Altos cargos, altas patentes, empresariado, religiosos... Todos estavam prestigiando recém-descobertas de czares: móveis, pinturas, escritos e... jóias! O que atraiu a maior ladra de Nova York foi outro detalhe: diamantes. Sim, o prédio em questão é a sede de um grande exportador de pedras preciosas. E, teoricamente, como pensava Felicia, a segurança do “depósito” não estaria tão... suicida – como ela chama – quanto no térreo.
Claro que ela não se esqueceu da segurança aérea, atiradores de elite nos telhados, para, assim, adentrar no andar-alvo.

Dentro, seus olhos verdes brilhavam como duas esmeraldas: inúmeras mesas, protegidas por redomas transparentes. Em cada uma, pedras, brincos, anéis, colares.

Felicia arregala os olhos e suas lentes de contato com intensificadores de luz clareavam o ambiente.
Seus delicados dedos passeavam pelas proteções; seu sorrido malicioso revelava que, em seus pensamentos, ela usava todos os objetos.

Seguia, enfeitiçada, pela sala, até que seu sentido a alertou: estava tudo muito fácil. Como todos sabem, quando a esmola é de mais, o santo desconfia...

Novamente ela pisca os olhos com força, arregala-os e as lentes iniciam o processo de aproximação.
Com o zoom acionado, ela busca câmeras, sensores de peso, saídas de laser.
Não encontrou nada.

Mão na cintura ao ver a porta de ferro. Chumbada. Um pequeno painel com dígitos.

Ela abaixa mais o zíper frontal do uniforme; até o umbigo. De dentro, retira um pequeno papel, dobrado. O abre e a sequência numérica surge, em caligrafia horrível.

Digita um a um.

Tensa com a excitação.

Um sinal.

Acesso permitido.

A luz verde segue piscando e a pesada porta é aberta.

Luzes nos rodapés se acendem. Nada mais acontece.

No centro, com iluminação direta, os diamantes.

A curtos passos, Felicia se aproxima. Alisa a mesa na escuridão.

Ao acionar as garras, o susto.

- Prefere ser detida ou deportada?

Respiração profunda. Olhos fechados. Pensando em como agir, brigar, fugir... ou reconhecer a voz.

- E então?
- Não tem outra opção? – questiona, ainda sem olhar para trás.
- É por isso que eu gosto de você, Gata Negra!

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