Pular para o conteúdo principal

Batman: quase o peguei #02 - Delírio

Batman: quase o peguei #2 - Delírio

Em plena inauguração de um novo parque de diversões, Batman se depara com um casal de rosto pintado que está disposto a matar muita gente... Será que a loucura dos palhaços vencerá a sanidade do vigilante?


- Bruce Wayne! Quando falaram que estaria presente na inauguração do novo parque de diversões de Gotham City, quase não acreditei!
- Não poderia deixar de participar desse evento que vai ampliar a área de lazer da cidade, Prefeito.
- Veja quanta gente! Todos se distraindo nessa noite maravilhosa. Brinquedos cheios, a alegria estampada nas pessoas! A imprensa está toda aqui! E o Comissário Gordon fez questão de fazer, pessoalmente, a segurança!

Como sempre, Alfred sabe como deixar qualquer pessoa mais social. Será certo mesmo deixar a cidade desprotegida justamente na inauguração de um parque de diversões? O telefone celular toca…

- Com licença, senhores. Preciso atender.

Afaste-se. Caminhe. Bom que Alfred ligou. Coisas rotineiras, perguntas do tipo: se distrai? Mulheres bonitas? Essa é uma maneira de poder andar pela área que antes era um grotesco depósito de lixo. Não que negue a badalação, mas um protetor da cidade não pode se dar ao luxo de perder uma noite com distrações.

- Exato, Alfred. Nada de anormal, como previsto. Mas não pretendo demorar aqui. Tenho que fazer a ronda.
- Ao menos se delicie com uma maçã-do-amor, senhor.
- Espere, Alfred. Estou ouvindo tiros e gritos. Permaneça na linha.

É bom que não esteja acontecendo algo. O melhor é a ocultação pelas quinas, sombras. Olhar pelas beiradas. Há homens saindo da ‘Fun House’. Todos estão armados, com as caras pintadas de branco. Tiros são disparados. Muitos gritos.

***

- Biiiiiiiiiiiiiiiiiiingo! Vê só, pundizinho? Vamos bater o recorde de corpos caídos e ensangüentados!
- Não poupem munição! Mas não matem os políticos! Isso vai servir como uma… publicidade positiva! Hehehe!

***

- Alfred, mande o veículo aéreo. Vai inibir os seqüestradores. Avise também à polícia. Vou entrar em ação.
- Tome cuidado, senhor. Pelo que me consta, há muita gente inocente no parque…

Um lugar deserto e escuro. Ideal para a ‘preparação’. Também, para aguardar a nave que vai sobrevoar o parque. O piloto automático dará vôos rasantes. Vai anunciar a chegada. Tolos eles que não sabem que Batman já está aqui. Quem está fazendo isso?

***

- Por favoooooooooooooooooor! É só apertar um botão!
- O que vai ser para estrear?
- Hum… Roda-gigaaaaaaaante?
- Sim! Mas tente fazer com que ela ande! Vai ser emocionante ver as pessoas serem perseguidas por uma roda enorme! Hehehe!
- Ela corre e… aperta o botão!
- Que magnífica explosão! Ela vai rolar!
- Rola, rola, rolaaaaaaaaaaaaando!

Que potente estrondo. Algo muito grande foi detonado. Muitos gritos desesperados. A nave chegou. Manobras perigosas quase tocam a torre acima da Fun House. Já sabem que Batman está no parque. Hora da ação. Seja lá quem está por trás disso, não sabe o que o espera.

***

- Vejam só! Temos visitas! Não é que o morcego-que-se-acha-o-defensor-da-cidade resolveu aparecer?
- Arlequina, cuide do Comissário, do Prefeito e das outras autoridades. Não deixe que nada aconteça com nossos… hóspedes. Principalmente, Batman NÃO pode se aproximar.
- Deixa comigo, pundizinho. Com a Arlequina aqui não há problemas!
- Vou armar uma surpresa para meu amigão!
- Enquanto isso… posso detonar uns carrinhos do autopista?

***

Coringa. O insano. Sua mente perturbada e doentia piora a cada fuga de Arkham. Como pode ter um pensamento de conteúdo impenetrável e incompreensível psicologicamente? Não há argumentos contra ele. Apenas o conflito. Ele correu para o outro lado do parque. Capangas se aproximam. Rostos pintados de branco, bocas, de vermelho. O contato físico não atrai como a caçada, a descoberta. Arremesse batarangues, bombas, gases. Proteção com a capa. Uma barreira que impede os mais ousados. Um cuspidor de fogo. Pensamento rápido. A expiração não dura mais do que um minuto. Ele precisa de fôlego. Nessa hora… Descanse em paz. Um bom rastro de capangas para a polícia, prontos para a prisão. Coringa. Lá está ele.

- Isso é o mais rápido que consegue correr para alcançar o príncipe palhaço do crime, Batman???
- Você ainda não aprendeu, Coringa?!
- O quê? Que o crime não compensa? Hehehe! Que o bem sempre vence o mal?
- Não. De que você é doente e essas idéias delirantes só fazem com que minha vontade de deter você aumente.
- Fique sabendo, Batman, que essas idéias delirantes só servem para fazer com que meu ódio por você aumente cada vez mais! E falando em delírio, sabia que, etimologicamente, delírio significa ‘de: fora’, e ‘lhos: trilhos’? Ou seja, “sair dos trilhos”? Ainda não entendeu meu latim? Olhe para a montanha-russa. Como é bonito o descarrilamento!

Um carrinho da montanha-russa está preste a cair da ponta mais alta do percurso. Isso não pode acontecer.

- Seu senso de herói vai ter que trabalhar como sempre, Batman! Ou você me prende, ou aquele carrinho com crianças e seus papais e mamães vai desabar no chão! Hehehe!

Salvar inocentes sempre esteve em primeiro lugar. Coringa não vai conseguir ir longe. Ele se preocupa mais em atingir do que em fugir. Mas dessa vez sua loucura nunca esteve tão…

- Voe, morcego! Hehehe! Salve aqueles que o consideram um bandido! Hehehe!

O salto desse lugar alto, unido ao gancho e a abertura da capa, para planar, são suficientes para alcançar o brinquedo. Tem que dar tempo. Chegue antes que o carrinho caia. Não deixe que a risada do Coringa o desconcentre. Vai dar tempo. Ele experimenta sua convicção doentia sem se preocupar, de forma alguma, com outros pontos de vista, interesses, juízos e vidas. Não deu tempo. O carrinho está caindo. As crianças… NÃO! Isso foi o bastante. Ele não vai explodir mais nada. Pense. Provavelmente, os detonadores estão ligados à caixa de energia.

- Alfred!
- Sim, senhor Bruce?
- Preciso que me guie até o gerador do parque.
- Senhor, o atentado está sendo transmitido pela televisão. Se o Coringa queria aparecer, ele conseguiu.
- Interfira na transmissão. As pessoas não precisam saber o que está acontecendo aqui. E a localização?
- Está vendo a Casa dos Espelhos? Atrás dela.
- Alfred, e a polícia?
- Interceptei o rádio e já está a caminho. Dessa vez é a força especial que vai invadir o parque.
- Primeiro, tenho que acabar com a energia, para que nenhum outro brinquedo seja alvo dos explosivos. Depois, cuidarei do Coringa. Os agentes precisam ter cuidado ao adentrar no parque. O Comissário Gordon e o Prefeito estão como reféns. Vou encerrar o diálogo. Encontrei o que queria.

Provavelmente, assim que o gerador parar de funcionar não só a luz do parque vai acabar, assim como não haverá condução elétrica para ativar os detonadores. Antes de tudo, um excesso de energia para tentar causar um curto-circuito. As luzes piscam, sinal de que a força está baixando. Mas não seria bom facilitar as coisas para o Coringa. Ele pode ter mais cartas na manga. Bomba instalada. Três minutos.

***

- Aonde pensa que vai, orelhudo?

Arlequina, a psicóloga que enlouqueceu enquanto tratava o Coringa. Cega, outra doente que não mede as conseqüências e é repleta de idéias falsas. Enfrentá-la seria perda de tempo. Mas ela pode saber onde está quem é procurado.

- Com orelhas tão grandes não escutou a minha pergunta? Aonde pensa que vai?
- Para a casa da alegria.
- Isso é alguma piada? Só quem pode fazê-las sou eu! Sr. C vai gostar do morcego empalhado que levarei de presente!

Ela pegou um taco de basebol. Parece pesado para seu corpo frágil, mas ela sabe manejá-lo muito bem. Seus olhos irradiam uma loucura diferente da de todos os lunáticos enfrentados. Ela faz isso por amor. Um amor inconseqüente. Nem imagina que o Coringa apenas a usa para tentar concluir seus planos. Cada investida do taco é estudada. Afoita, descontrolada. Segure os braços dela. Atinja-a com a cabeça. Ela parece tonta e senta ao chão. As mãos sobre a cabeça. Guizos, sinos. Ela sorri. É melhor colocar algemas. Ainda pode causar problemas.

- Quem apagou a luz? Ficou tudo escuro de repente… Acho que vou…

A bomba foi ativada e o gerador explodiu. Nenhum brinquedo pode ir pelos ares agora. As luzes de emergência foram ligadas. Já era esperado. O verde se espalha, como clarões, por todo o parque. Tiros e gritos. O que Coringa ainda planeja? Uma busca.

***

- Não se esqueçam: temos reféns e feridos lá dentro. Muito cuidado com a invasão. De acordo com a denúncia anônima, nossos alvos estão pintados de palhaços. Procurem o Comissário e o Prefeito. A entrada vai ser dentro de dez minutos. Todos a postos.

***

Ele ainda ri. A gargalhada irrita. Pelo chão, ele faz questão de deixar uma trilha com as pessoas mortas, envenenadas com o gás do riso. A primeira vista, parece que morreram felizes. Ouça-o. Feche os olhos e o imagine correndo pelo parque. Pequenas explosões. Os capangas saíram da Fun House. Muito lógico para ele.

- Hei! Isso aqui ficou escuro! Baaaaaaaaatman! Sei que está em algum lugar! Vamos brinquedos, explodam! Droga! Inteligente de sua parte destruir o que dava energia para a ativação das bombas. Mas acha que isso foi suficiente? Quer um charuto? Esse é dos bons… Hehehe!

Terraço da Fun House. Já era de se esperar. Há uma escada que dá acesso até lá. Assim, ele não escutará os ruídos do gancho ou de outro utensílio. Antes de surgir, observe. Ele está arremessando charutos que explodem ao tocar em algo. Armas letais.

- Coringa.
- Meu amigão! Que demora! Como tem passado? Fuma comigo? Hehehe! Lembrei! Heróis não sabem curtir a vida! Hehehe!
- Sua insanidade passou dos limites. Entregue-se.
- Eu? Você não faz meu tipo! Hehehe! Além do mais, estou muito jovem para ceder ao amor! Hehehe!
- Você não tem escolhas. Não pode mais ferir as pessoas.
- Quem disse?

Ganhar tempo. A polícia está invadindo o local e troca tiros com os capangas.

- Que foi, Batman? Vai aceitar meu charuto? Tome! Hehehe!

Ele está arremessando vários seguidos. Quer manter uma distância segura porque sabe que em uma briga corporal ele leva desvantagem. Uma aproximação. Como?

- Bem que vivem dizendo que o fumo mata! Hehehe! Tenho que concordar com os cardiologistas. Mas você sabia que conheço muitos médicos que fumam? Hehehe!

Não permita que ele o irrite. Ao que parece, o estoque de charutos-bomba terminou. Salte. Ele ainda tira algo de um dos bolsos. Cartas. Elas brilham. São laminas afiadas que ele joga. Proteção com a capa. Algumas ficam presas, outras se perdem pelo ar.

- E então? Aceita um carteado? Hehehe!

Próximo o suficiente para desferir golpes em lugares estratégicos. Ele apenas grita, desolado, e recebe os socos. Cada tentativa de sacar algo é frustrada. Alguém se aproxima. É bom ter cuidado. Está vindo pela escada de ferro. Sons de atritos. Há alguma coisa sendo carregada.

- Seu morcego anabolizado! Não permitirei que machuque meu pundizinho!

Arlequina conseguiu se livrar das algemas. No mínimo, mãos falsas. Ela corre com o taco pronta para o golpe. Uma maneira de deter os dois de uma só vez.

- Aaaahhhh, Batman! Vai pagar caro por ter ferido o Sr. C!
- Não, Arle! Não tente bater nele assim!

Segure o palhaço pela gola da blusa. Olhe nos seus olhos. Veja toda a insanidade escorrendo pela face. Arlequina está pronta para o ataque. Gire o corpo. Ela atingiu a cabeça do Coringa com o taco de basebol. Largue-o.

- Pundizinhoooo! Não! Batman, o que você fez?
- Você o desacordou, Arlequina. A culpa foi sua.
- Nãaaaaaaaaaaaao! Pundizinho, perdoe-me! Acorde!

Ela não vai ousar outro confronto. Agora cuida do seu amado. Ela ajoelhou. Muitos doentes têm uma perda da capacidade de reagir emocionalmente às circunstâncias, ficando indiferente e sem expressão afetiva. Mas no caso de Arlequina, ela apresenta reações afetivas que são incongruentes, inadequadas em relação ao contexto em que se encontra, tornando-se pueril e se comportando de maneira excêntrica. Um embrulho para a polícia que parece ter controlado a situação.

- Alfred?
- Senhor…
- Leve de volta a aeronave. Bruce Wayne vai reencontrar as autoridades.
- Conseguiu detê-los?
- Sim. Sem dúvidas, foram feitos um para o outro. Mas para viverem em Arkham.
- Seu senso de humor está ativo! Vejo que foi bom ter ido à inauguração do parque, não?
- Correto, Alfred. Em breve estou em casa.
- Vou preparar o jantar. E falando nisso, amanhã o senhor tem uma videoconferência com investidores de Nova York.

Negócios. Sempre dividido por eles. Ou os de Bruce Wayne, ou os de Batman. Não se sabe se há um predileto. Mas agora é o homem de negócios que precisa aparecer e se mostrar bem para as autoridades. Um pouco de terra no terno, no rosto. Precisa parecer que estava fugindo e escondido.

- Comissário Gordon? Prefeito? Como estão todos?
- Por Deus, senhor Wayne! Onde estava? Por que está tão sujo?
- Desculpem-me por preocupá-los, mas assim que atendi ao telefonema, ouvi os tiros e resolvi procurar um lugar seguro para me proteger e acionar a polícia.
- Se não fosse pela chegada da força especial e do Batman, não sei o que estaria acontecendo com a gente até agora.
- Não precisa se preocupar, Comissário. Estão todos bem?
- Sim. O Coringa resolveu aprontar. Aquele louco matou muitos inocentes. E só não foi pior por causa da chegada de Batman.
- Ali está o vilão. E quem é a moça que o acompanha?
- Arlequina, a namorada dele. Era uma psicóloga e…
- Já imagino o resto, Comissário. Eles vão para o Asilo?
- Sim. Arkham é o melhor lar para esses doentes agora.
- O Coringa queria o quê, exatamente?
- Senhor Wayne, ele tem idéias morbidamente falseadas que não são acessíveis à correção por meio de argumentos…
- Interessante. Assim como essas idéias delirantes são representações inexatas que se formaram não por uma insuficiência da lógica, mas por uma necessidade interior.
- Claro. E não há necessidades interiores senão afetivas.
- Está sugerindo que…
- Isso mesmo, senhor Wayne. Ele repudia Batman. O espírito humano sempre desenvolveu ou adotou crenças bem elaboradas para satisfazer as necessidades íntimas…
- E a construção dessas crenças fantasiosas serve como proteção contra a ansiedade e a insegurança.
- Não se interessaria em tratar o Coringa? Hehehe!
- Obrigado, Comissário. Mas já tenho muito trabalho com minhas empresas.
- Desculpe pela piada inoportuna, senhor Wayne.
- Preciso voltar para a mansão. Tenha uma boa noite, Comissário.

E concluindo a conversa com Gordon, todos nós tendemos a desenvolver ficções reconfortantes úteis para proporcionar apoio e segurança à nossa personalidade.

Comentários

  1. Rapaz, tu escreve Batman também? Vou ler isso qualquer hora...

    ResponderExcluir
  2. mwhahahaha! escrevo.. projeto antigo, uma espécie de especial... ainda vou postar as outras edições! saludos!

    ResponderExcluir
  3. Thank you for posting such a useful, impressive and a wicked article./Wow.. looking good!

    Gerador De Linha Laser

    ResponderExcluir

Postar um comentário